Poucos autores estrearam tão bem na literatura como fez José J. Veiga com Os cavalinhos de Platiplanto, em 1959, quando foi saudado pela crítica por sua prosa de características bastante singulares. Ao trazer reminiscências da infância, os doze contos do livro apresentam ao leitor um universo que mescla o embate entre os sonhos de seus personagens e a realidade do cotidiano.
Nesse sentido, o conto que dá título ao livro serve como síntese da obra, como aponta o escritor Silviano Santiago no prefácio desta edição. Para ele, a obra “consegue equilibrar a violência que domina o mundo real com a nostalgia do paraíso que se perdeu, somando à saudade do passado a realização do desejo”.
As dificuldades da vida adulta percorrem todo o universo narrativo do livro, como em “Entre irmãos”, selecionado entre Os cem melhores contos brasileiros do século, da editora Objetiva, em que dois rapazes confinados numa sala percebem que são irmãos e não conseguem diminuir o clima de desconforto e estranheza até o ambiente se tornar absolutamente sufocante.
José J. Veiga tem o seu lugar garantido entre os melhores contistas brasileiros, como irá atestar o leitor ao folhear as páginas dessas breves narrativas, que junto com o romance A hora dos ruminantes marcam o início do projeto de reedição da obra completa do autor pela Companhia das Letras.
Nasceu no dia 2 de fevereiro de 1915, em Corumbá de Goiás. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Faculdade Nacional de Direito. Foi comentarista na BBC de Londres e trabalhou como jornalista d’O Globo e da Tribuna da Imprensa, entre outros veículos. Aos 44 anos, estreou na literatura com Os cavalinhos de Platiplanto. Seus livros foram traduzidos para diversos países, entre eles Portugal, Espanha, Estados Unidos e Inglaterra, e pelo conjunto da obra ganhou o prêmio Machado de Assis, outorgado pela Academia Brasileira de Letras.
Nunca tinha lido nada de José J. Veiga e decidi começar pelo livro de contos mais famoso dele. Peguei o exemplar na biblioteca onde trabalho e a edição que li é de 1974.
Achei a escrita de Veiga extremamente envolvente sendo daquelas que você começa a entrar na história do conto e quando vê está emocionada pelos acontecimentos ou com raiva pelo que aconteceu.
Os contos, em sua maioria, se passam em um mundo de infância onde o filtro é a mente infantil então os fatos narrados se tornam ainda mais graves e sensíveis.
Meus favoritos foram "A usina atrás do morro" e "Roupa no coradouro". Agora estou bastante ansiosa para ler outras coisas dele e descobrir mais sobre suas histórias.
Excelente livro de contos! A prosa de J. J. Veiga é cristalina, ao passo que o enredo de seus contos é pautado no absurdo do cotidiano, misterioso, não dando respostas para as perguntas levantadas. Um escritor infelizmente esquecido, que fora muito adorado nos tempos de meu pai.
Os contos que mais me impressionaram foram "A usina atrás do morro", "A invernada do sossego" e "a espingarda do rei da Síria".
O melhor do J. J. Veiga nem são as ilhas imaginárias, os cavalinhos de Platiplanto e outros elementos da fantasia que invadem e vencem a vida. A beleza brota da empatia que o leitor passa a cultivar com esses personagens indefesos e ingênuos (a maioria delas crianças) quando são forçados tomar consciência da realidade diante da dureza da vida na roça.
Histórias curiosas, algumas até excêntricas, de pessoas enfiadas nos confins dos sertões e seus problemas. A inocência dos narradores (a maioria deles, crianças) deixa as narrativas divertidas e inesperadas. Ótima leitura.
Adoro a escrita de José J. Veiga, fiquei envolvida com a maioria dos contos, que são, em sua maioria, curtos. O elemento do realismo mágico está presente em todas as história, que são narradas em primeira pessoa por crianças, trazendo um olhar inocente e fantástico, ambientadas em cidadezinhas fictícias do interior brasileiro com poucos habitantes. Existem, também, pequenas referências a elementos político-sociais de forma sutil, fazendo críticas a regimes autoritários, como o nazismo. Considero José J. Veiga um dos grandes escritores da literatura nacional, é uma pena que ele não seja tão popular.