Carioca, casado, 31 anos, um filho de 3, o autor deste romance não ficcional é um ex-soldado da PM que está preso desde 2009. Misturando sua vivência pessoal à de outros colegas de farda – com alguns toques de ficção para preservar a identidade dos verdadeiros atores – ele conta aqui a dramática trajetória do soldado Rafael. O jovem entra para a carreira na PM acreditando em sua missão de defender os bons e prender os maus. Dia a dia, porém, vai sendo corrompido pela convivência com policiais mais antigos e graduados, que lhe ensinam a cartilha da degradação: como mentir, achacar, furtar, roubar, torturar, destruir e esconder os rastros de todos esses crimes. Numa narrativa forte, visceral, em que às vezes chegamos a sentir o cheiro da pólvora, Rodrigo Nogueira conseguiu criar, em sua estreia como romancista, um livro impactante, que faz despertar corações e mentes. Depois de lê-lo, com certeza você vai achar A elite da tropa (e o filme nele inspirado) um conto de fadas.
Visceral, real, intenso, engraçado e sem heróis ou vilões
O livro superou e muito minhas expectativas. Achei melhor que o livro ‘O Dono do Morro: Um homem e a batalha pelo Rio’, de Misha Glenny. E ainda diria que é mais detalhado e intenso que o próprio Tropa de Elite. Detalhe: estou falando do documentário pouco conhecido: Notícias de uma Guerra Particular de 1999. Mas por quê?
Pelo motivo de ser extremamente detalhando. Não só nas descrições ‘físicas’ dos atos, mas emocionais também. Pode-se dizer que o autor exagera um pouco nos questionamentos éticos e morais. Mas não se esqueça que o autor, além de não ser um escritor profissional, é o mesmo que praticou aqueles mesmos crimes. Se não os praticou, conviveu anos com pessoas que os fizeram e para ele contaram em detalhes. Não é algo que a pessoa assista na TV – que é cheia de censuras e profissionais preocupados com a audiência. Aqui a coisa ‘corre solta’.
As estórias contadas são viscerais, reais, intensas e até engraçadas. Uma tragicomédia por certo. Aliás, o autor, preso, apesar de se sentir injustiçado (ele explica o porquê) prepara o livro com um sarcasmo irresistível. Ainda mais para quem é do Rio de Janeiro, como eu, e compreende diversas gírias e raciocínios típicos dos cariocas.
Recomendo este livro para quem queira entender mais, não só do Rio de Janeiro, mas do próprio país. Só me veio à cabeça a música, Rio 40º Graus, da Fernanda Abreu, e em especial a parte que diz: “Capital do sangue quente, Do Brasil, Capital do sangue quente, Do melhor e do pior, Do Brasil.” Sim, a cidade 'maravilhosa' tem o pior e o melhor desta terra um dia chamada de Brasilis.
Por fim, um entendimento de que não há heróis ou vilões, mas vítimas. Pois mesmo aqueles que ‘se dão bem’, sendo desde o ‘fogueteiro’ da favela, policial que ganhou um ‘arrego’, o playboy que se acha o máximo por poder se livrar de uma infração por direção alcoolizada até o deputado federal que se elegeu com currais eleitorais em conluio com traficantes são perdedores. Todos são medíocres e pobres de espírito. Uma sociedade com sérios desvios de personalidade como Vianna Moog muito bem analisou em seu livro: 'Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas'.
Bem, pelo menos essa é a minha opinião. Discorda, concorda? Deixa um comentário.
Boa leitura.
Obs: Uma pergunta que pode ser recorrente: mas como, no meio de uma realidade tão absurdamente corrupta e violenta, ter certeza que tudo que o ex-policial disse foi verdade?
1) Verifiquei várias passagens que ele descreve com o que saiu na imprensa. Bate. E o mais interessante é que o que ele conta faz sentido e completa as manchetes simplistas dos jornais; 2) Usei o google maps para verificar os locais descritos pelo autor, como sendo bons pra emboscada, boca de fumo, pontos de tiro e etc. Todos bateram; e 3) Por último, destaco também que algumas passagens são bem detalhadas; enquanto em outras, o autor omite o local, a favela ou bairro. Na verdade, ele entrega de forma discreta, usando uma sigla ou menção que passa batido se você não estiver prestando atenção. E nesse aspecto os moradores do Rio que conhecem os bairros possuem uma vantagem enorme para conferir se o que é descrito é ‘passível’ de verdade. Já que o que aconteceu e acontece diariamente nesses ‘submundos’ (novamente Fernanda Abreu), só os frequentadores saberão.
Tem alguns julgamentos absurdos, tipo a parte q ele diz q "qd o pm entra na corporação ele não entra pensando em extorquir, sequestrar ng. No máximo dar uma tiros em bandido afinal eh disso q as crianças brincam." Oi? Então eu jogo GTA pq tenho um desejo incubado de roubar carros e atropelar prostitutas?
A visão simplista de que usuário sustenta o tráfico também incomoda. Por que não levantar o debate da legalização ao invés de jogar toda a culpa de um sistema podre nas costas do usuário?
Mas no geral são relatos viscerais e aterradores de como o jogo é viciado e não há perspectiva de mudança.
É assustador perceber que a justiça, as pessoas, todo um sistema que deveria existir para servir à população possa ser utilizado pra propagar tanto mal e benefício de poucos.
Livro muito interessante, com uma perspectiva de alguém que viveu a situação. Mudou minha forma de enxergar a sociedade, foi didático ao mostrar a evolução no crime e ao mesmo tempo com uma narrativa envolvente que te faz se emocionar com a personagem principal, ri, chorei e fiquei aflita em vários pontos da história. Triste ver o final, mas espero que na medida do possível, o ex-policial e sua família estejam bem!
Algumas incorreções nas notas, sobretudo na descrição de personagens e eventos clássicos greco-romanos. Uma escrita um pouco desorganizada com a ação a avançar e recuar em termos cronológicos de modo pouco rigoroso ou mesmo confuso. O conteúdo é muito importante! Apresenta uma visão de uma corrupção total e transversal à totalidade da sociedade do Rio de Janeiro. O crime, a corrupção e a ignorância e os esquemas são apresentados muito para além do âmbito da policia militar, dando uma ideia clara de afetar a totalidade da sociedade e ter origens em todas as classes, estratos, profissões níveis culturais e académicos. As imperfeições ao nível da escrita parecem-me justificados pelo fato de se tratar de uma obra autobiográfica escrita e não por um escritor profissional. Em conclusão, é uma obra que vale a pena ser lida, e, que deveria dar origem a bastantes análises e cogitações.
Livro obrigatório para os que se interessam por segurança pública
Se você gostou de Elite da Tropa 1 e 2, este livro é a continuação natural. Ele expõem o lado mais realista, cruel e hipócrita das instituições de segurança.
Enquanto Tropa de Elite humanizou os elementos do BOPE, aqui você encontra um relato mais “pé no chão” do que são os “Monstros” da PM (e outras instituições), como são criados, o que comem…
Só quem já passou por algo parecido entende a crueza e a verdade do depoimento do livro, mas mesmo quem desconhece um “CFAP” da vida vai ter uma compreensão melhor do “sistema”.
Chocante, impossível parar de ler. Triste apenas em saber dos rumos atuais do autor, que, talvez, tenha de fato se tornado um personagem mitológico de seu livro.
Muito bom livro, mostra como o dia-a-dia de um PM é influenciado pelo sistema e como de um certo ponto de vista tudo redireciona para um trabalho miserável e falho, desde o salário, passando pela maneira de incentivos até o modo que a hierarquia é regida para não haver questionamento.
Apesar de um pouco tendencioso é incisivo ao contextualizar como nascem os monstros em ambos os lados da guerra .
O livro que precedeu a duologia Tropa de Elite e que também possui uma sequência chamada Elite da Tropa.
Diferente dos outros trabalhos, Como Nascem os Monstros é um relato que toma algumas liberdades narrativas para detalhar a PM do Rio de Janeiro em fins do século XX e início do XXI.
A narrativa é bem crua, o que fica evidencia o autor como alguém mais acostumado a falar do que a escrever - talvez tenha sido escolha da editora manter essa característica. Há também uma boa quantidade de menções e recortes de notícias e fatos da época que Nogueira usa ora para situar o leitor, ora para justificar algum acontecimento.
Não há detalhes escabrosos, assim os sádicos de plantão podem ficar afastados.
Na verdade não sei porque tirei uma estrela, acho que foi pelas partes em que o autor tirava o foco do personagem principal e contava outras histórias paralelas e isso aconteceu muito. De resto, a história foi muito bem elaborada e bem escrita, já tinha lido outros livros sobre a PM do Rio e mesmo assim me surpreendi com algumas coisas daqui. Um ótimo livro pra quem gosta de estudar segurança pública!!!