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Jóquei

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O escritor é alguém que presta atenção ao mundo, disse Susan Sontag. O poeta talvez seja alguém que, ao prestar atenção, se espanta com o mundo e, sobretudo, consegue fazer a linguagem se espantar com ele - e dar saltos. Pois este Jóquei dá muitos saltos, a todo instante. São poemas em prosa, conversas por telefone, cartas para crianças, explosões de ternura. Passeando pelas ruas do Rio de Janeiro, perseguindo carros de bombeiro pelo Brooklyn ou contemplando ondas gigantes de um balcão, sopra deste livro - como disse o crítico Gustavo Rubim, saudando sua primeira edição (Lisboa, Tinta-da-China, 2014) - um "vento de pura selvageria".

152 pages, Paperback

First published May 1, 2014

83 people are currently reading
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About the author

Matilde Campilho

9 books181 followers
Matilde Campilho nasceu em Lisboa em 1982. No ano de 2010 foi viver para o Brasil, e desde então mora entre o Rio de Janeiro e Lisboa. Publicou poemas nos jornais brasileiros A Folha de São Paulo e O Globo, assim como em algumas revistas online.

Jóquei é o seu primeiro livro.

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74 (5%)
1 star
16 (1%)
Displaying 1 - 30 of 162 reviews
Profile Image for Tobias Carvalho.
Author 7 books271 followers
June 7, 2016
Não sou de choro fácil a não ser quando descubro qualquer coisa muito interessante sobre ácido desoxirribonucleico.
Profile Image for João Carlos.
670 reviews315 followers
August 16, 2015
“Jóquei” (2014) livro de estreia da poetisa portuguesa Matilde Campilho (n. 1982), nascida em Lisboa e que em 2010 foi viver para o Rio de Janeiro.
A edição da Tinta da China é absolutamente primorosa, a coordenação da colecção é de Pedro Mexia e os elogios em inúmeras críticas literárias são “assustadoramente” bons, repletos de superlativos, deixando antever a excelência literária, uma estreia prodigiosa.
Nas 144 páginas que compõem o livro nunca me consegui “enquadrar” na escrita de Matilde Campilho; um conjunto de poemas, alguns em verso e outros em prosa, numa escrita mista entre o português do Brasil e o português de Portugal, numa ambiguidade e numa sonoridade que me causou estranheza, num experimentalismo, que pode ser criativo e inovador, mas que não compreendi ou apreendi, nem no conteúdo, no contexto ou na forma.
Uma verdadeira desilusão.

Alguns exemplos (os mais curtos) da minha incompreensão literária:

“O Último Poema do Último Príncipe”
Era capaz de atravessar a cidade em bicicleta só para te ver dançar.
E isso
Diz muito sobre minha caixa torácica.


“Coqueiral”
A saudade é um batimento que rebenta assim
vinte e oito vezes desde meu ombro tatuado
de desastre até à rosa pendurada em sua boca

E o amor, neste caso específico, é um mergulho
destemido que deriva quase sempre de uma nota
climática apenas para convergir no osso frontal
do crânio do rei da ilusão – terno é o seu rosto

Senhor, os ossinhos do mundo são de mel e ouro.


“Rua do Alecrim”
Uma menina desenha uma estrela de cinco pontas
a esferográfica Bic na palma da mão de outra menina.
Chove, e mesmo assim o desenho não sangra:
é preciso muito mais do que certas condições
climatéricas para que o amor escorra.

Assisto a toda a cena e penso que esta visão,
real ou inventada,
é muito pior de que a verdade a bofetadas.


“Sagetrieb”
Inverno que queres matar-me ao chapadão
encher-me a cabeça de domingos
e alinhar meu olho aos escaparates
desenhados pelo maldito imperador
que abandonou os sorvetes e os 5 sóis
Vais ver se eu não dou cabo te ti primeiro
Profile Image for Maria.
28 reviews5 followers
June 15, 2015

E portanto veja bem
hoje se eu pudesse
eu voltava à cidade
Só para me sentar
sobre a pedra austral
e ficar assistindo às explosões
dos bambolês polifônicos
entre os dedos de uma mulher
Hoje se eu pudesse
eu voltava à cidade
Só para beijar
a cidade na boca.

Profile Image for Alexandra Machado.
62 reviews15 followers
May 11, 2017
http://gira-livros.blogs.sapo.pt/opin...

Não fiquei particularmente fascinada com a poesia de Matilde Campilho. Senti muita dificuldade em compreender o que pretende transmitir com o que escreve o que invalida, à partida, uma conexão mais profunda com Jóquei, ainda assim, gostei bastante de algumas coisas.

Curiosamente, a parte que mais gostei era prosa poética: Notícias escrevinhadas na beira da estrada que começa da seguinte forma: Não sou de choro fácil a não ser quando descubro qualquer coisa muito interessante sobre ácido desoxirribonucleico.

Os meus poemas preferidos foram Principado Extinto, demasiado longo para colocar aqui, e o que deixo abaixo:

Two-lane blacktop

Aprenderei a amar as casas
quando entender que as casas
são feitas de gente
que foi feita por gente
e que contém em si a possibilidade
de fazer gente.
Profile Image for Rosa Ramôa.
1,570 reviews85 followers
July 13, 2015
ATÉ AS RUÍNAS PODEMOS AMAR NESTE LUGAR

Lembro-me muito bem do tal cantor basco
que costumava celebrar a chuva no verão
Não ligava quase nada para as conspirações
que recorrentemente se faziam ouvir
debaixo das arcadas noturnas da cidade
naquela época do intermezzo lunar
Foi já depois do fascismo, um pouco antes
da democracia enfaixada em magnólias
O cantor, as arcadas, o perfume e os disparos
me ensinaram que se deve aproveitar a época
de transição para destrinçar o brilho
As revoluções sempre foram o lugar certo
para a descoberta do sossego:
talvez porque nenhuma casa é segura
talvez porque nenhum corpo é seguro
ou talvez porque depois de encarar uma arma
finalmente possa ser possível entender
as múltiplas possibilidades de uma arma.

[Jóquei, Tinta da China, 2014]
Profile Image for Ritinha.
712 reviews136 followers
August 25, 2021
Décadas de risota à custa do Roberto Leal, de ridicularização dos «avecs».
Eis o destino de quem não arma ao pingarelho nem tem amigos nos lugares certos.
Profile Image for Vivianne Moureau.
7 reviews2 followers
Read
February 10, 2019
Poemas portugueses feitos num tempo em que Matilde esteve no Rio. Uma mescla de uma literatura portuguesa mais pesada e forte com o clima de Copacabana e as sutilezas emocionais de uma vivência "carioca". É de uma sensibilidade extrema e o trabalho com a linguagem é intuitivo, mas também acertado objetivamente. Foi para mim, um acontecimento. Ainda o leio quando sinto saudade da sensação que o livro sempre me traz, uma saudade de algo que eu não sei, e que talvez nunca tenha.
Profile Image for Alice.
15 reviews7 followers
January 20, 2020
É de uma simplicidade bonita, talvez não necessariamente excessivamente poética, talvez não evidentemente poética seja uma descrição melhor. Mas tem uma poesia louca embutida, e eu não trocava (por) nada.
Profile Image for misael.
387 reviews32 followers
October 15, 2024
É, um homem guarda poemas porque sabe que em qualquer momento vai ter que fazer-se à corrida: subitamente tudo arde e então a única possibilidade é o desvio.

ou

E portanto veja bem
hoje se eu pudesse
eu voltava à cidade
Só para me sentar
sobre a pedra austral
e ficar assistindo às explosões
dos bambolês polifônicos
entre os dedos de uma mulher
Hoje se eu pudesse
eu voltava à cidade
Só para beijar
a cidade na boca.
Profile Image for Catarina Carvalho.
85 reviews8 followers
November 21, 2022
Estava tão compenetrada nesta leitura que nem dei por estar a passar a Avenida. Valeu a pena encontrar-me nos Restauradores, embalada n'"O Último Poema do Último Príncipe". A vida por vezes é magia, ou poesia - ainda não sei diferenciar.

Obrigada Ritinha ❤️
Profile Image for Helena Romera.
54 reviews16 followers
February 5, 2017
dos livros preferidos que vou querer voltar a ler sempre. li cada um dos textos e poemas bem devagar, tentando pegar tudo que vinha, porque era realmente muito o que cada texto me fazia sentir. meus poemas preferidos da Matilde não estão nesse livro, mas descobri outros textos tão bons quanto
Profile Image for Mariana Moro.
46 reviews
January 11, 2021
a sensação de se apaixonar pela poeta mais linda do mundo é incrível e terrível ao mesmo tempo e eu ainda não sei se recomendo.
(mas a leitura foi boa demais, eu indico sem hesitar)
(mas o risco de morrer de amores por matilde é alto - fica por sua conta e risco)
Profile Image for Ana Vedovato.
37 reviews1 follower
August 31, 2021
Reler Jóquei, de quando em quando, para lembrar que a vida lá fora é boa, que todo vazio é falta de gente, que tudo tudo passa, até os mais horripilantes temores, tudo, só o amor não
Profile Image for Gabriel De Melo Borba Ferreira.
46 reviews23 followers
April 7, 2023
"Parece que a primavera do mundo é um trabalho em progresso
mas o caminho até lá está sendo todo feito entre as veredas
e entre os galhos de fogo de um gigante inverno"
Profile Image for Mari Cestari.
54 reviews
October 6, 2025
eu queria poder grifar esse livro inteiro!!!!!!! o jeito como ela é uma grande nerd e uma grande fã do amor, eu queria tatuar versos desse livro na minha testa. outra coisa que eu achei muito apaixonante é que mesmo se tratando de um livro de poesia, as personagens são muito vívidas!!
Profile Image for Solange Cunha.
278 reviews44 followers
January 9, 2021
Livro delicioso. Poemas moderninhos, meio prosa, profundo por vezes, engraçado em outras. Queria tomar uma cerveja com a Matilde e observar a vida passar em uma tarde de sol.
Profile Image for Sara Nazaré.
2 reviews1 follower
July 19, 2020
No coração ficam:

Príncipe no roseiral
Brincando com os dentes do tubarão
Panteão nacional
O último poema do último príncipe
Conversa de fim de tarde depois de três anos no exílio
Estação do trem
Até as ruínas podemos amar neste lugar
A primeira hora em que o filho do sol brincou com chumbinhos
Sagetrieb
Vendaval
Profile Image for Ana Paulino.
83 reviews11 followers
January 30, 2021
“Jóquei” é um livro que se dança. Um livro que balança dentro de nós. Não nos ritma para bater o pé, não – a meio de um poema, Matilde Campilho faz-nos badalar o torso, dos ombros às ancas. Só nos apercebemos quando as letras do livro já balançam em sentido oposto, porque é assim que dança o par ideal, sempre no sentido oposto, como um espelho, não para chocar, mas sim para complementar.

Matilde Campilho é uma escritora portuguesa e “Jóquei” é o seu primeiro livro editado depois de muitos poemas publicados em jornais e revistas, e tal como Matilde, a sua linguagem atravessa o Atlântico e funde-se num sotaque único entre Portugal e o Brasil e nas raízes que se constroem ao redor das que já estão sedimentadas.

Será que se pode dizer que um livro “é fofinho”? Se se puder, aliás, eu arrisco-me a fazê-lo, Matilde Campilho escreveu um livro fofinho que se situa entre o desconhecido, o amor, a memória e o trajecto, numa poesia prosaica (ou numa prosa poética?) em que não há narradores nem narrados, mas sim lugares, momentos, música, poetas, até Mahler num serrote. Atravessamos estradas de Lisboa a Brooklin, visitamos a rua em que Billy Roi nasceu. Encontramos muita beleza pelo caminho, mas não nos livramos de desilusões e de uns bons chapadões.

“Jóquei”, tem um pé no samba e outro na bossa nova, circula no meio do Atlântico e faz-nos sorrir e virar cada folha de alma, mais ou menos, cheia. Embora nem todos os poemas tenham o mesmo impacto, como acontece com tantos outros livros de poesia, terminamos este livro com uma sensação de preenchimento e de boa energia, uma energia pacífica e enternecedora. Quem acha que não tem uma boa relação com a poesia, não deve colocar de lado este livro pois ele é muito mais do que a sua estrutura em versos soltos.

Já com o seu segundo livro publicado, “Flecha”, também pela Tinta da China, Matilde Campilho parece-me ser uma voz bastante promissora no panorama da literatura nacional. E que voz, rouca, com misturas de sotaques e cujo discurso transparece uma busca pela por si, pela vida, pelo outro, pelo belo… e o que pode ela fazer com isso se não devolver-nos desta forma tão bonita e especial?

Profile Image for Alice Gonçalves.
70 reviews18 followers
April 27, 2017
Existe uma forma poética que deseja respirar simplicidade, sutileza, ternura, e que vê essas qualidades em usos curiosos mas tipificados da linguagem: diz-se, por exemplo, que "você e eu a gente é feito de matéria/escorregadia, i.e., manteiga, azeite, geleia/e espanto" ou que "os ossinhos do mundo são de mel e ouro". Não é mal, não é de todo mal, mas cansa: cansa essa coisa que parece existir para ser evidentemente poética, que se faz como uma moeda de troca poética. Se a poesia sempre se escreve numa língua estrangeira, "Jóquei" às vezes escorrega num sotaque meio macarrônico, chatinho mesmo. Não é um problema incomum; ele aparece em muitas das poesias em verso dito livre, ou nessa prosa dita poética. Matilde Campilho é melhor do que a média, e tem momentos genuinamente bonitos em seus poemas, mas não é esse tipo de poesia que me causa aquilo que ela mesma chama, tão apropriadamente, de "espanto".
Profile Image for Vicente.
75 reviews39 followers
February 6, 2021
Não é "o acontecimento literário da década" nem tão pouco "um acontecimento precioso na língua portuguesa", como por vezes tem sido descrito, mas é um livro relativamente bem conseguido, que alterna alguns poemas promissores com textos menos conseguidos e que nada acrescentam. É um pouco como se Beckett quisesse escrever poesia e a levasse ao limite - para mim, não funciona.
Tinha grandes expectativas, e no livro inteiro salvam-se somente 5 ou 6 poemas que, esses sim, são muito bons.
Profile Image for Sofia Dias.
50 reviews5 followers
September 10, 2024
acho que o que me atrai tanto na escrita dela é, no fundo, não ter a certeza do que tudo significa. sinto, através da pontuação, da escolha de palavras e da construção frásica, que a Matilde está a comunicar com um destinatário específico, que não sou eu e que compreende absolutamente tudo o que ela lhe está a dirigir. eu adoro ser testemunha de segredos apalavrados, de intimidades tímidas e de romances passados, mas mal digeridos. é assim que me sinto a lê-la. ler os poemas é uma experiência tão sensível e bonita. às vezes, apetece-me chorar ao pensar na quantidade de amor que tenho por certos livros/autores. à matilde, chorava rios. juro.
Profile Image for Yumi Kaioh.
55 reviews21 followers
June 26, 2021
Muitos poemas têm expressões lindas e animais e cores e esvoaçamentos, mas terminam de forma estranha e pequena. De forma pe-que-ni-na. Há poemas que exigem outro final, como "Paz, Palavra útil", que é lindíssimo mas que, no seu final, atinge um tom menor, uma coisa estranha e que se desfaz, cortando o ritmo e a grandeza do conteúdo, das palavras escolhidas a dedo pela sensibilidade desta poeta. No entanto, a maioria dos poemas e dos fragmentos vêm-me falando ao ouvido, amaciando o meu pêlo, a minha língua, a minha doce visão de mulher envelhecendo nos fins de tarde em Barroselas, terra perdida entre um monte e Santa Luzia, Viana do Castelo, Portugal. Alumiando tudo, além do sol forte das sextas-feiras e de alguma neblina aos domingos, está este livro, uma oferenda de coração cheio de um amigo, escolhida por mim, de mim, para mim, para você, para nós.

Voltarei a este livro como se mergulhasse num mar de altas temperaturas, localizado num lugar do mundo paradisíaco e injusto para os criados de praia que nos servirão bebidas alcóolicas em copos graciosos e altos. Mas mergulho e mergulharei nele como quem se afunda nas palavras "baleia", "jaguar", "tigre", "verde", "cangote", "menino", "rapariga" ou na obsessão da Matilde - ou Mathilde, nome que me encantou hoje ao pesquisar sobre a biografia de Eric Rohmer, afinal era a sua mãe e estará presente, decerto, em tudo o que ele fez, pois assim são as mães, bisbilhotando tudo em nós e nos nossos afazeres de dentro ou de fora - por santos: santo António, Santo Agostinho, são Mateus... Este livro traz-nos tanta coisa, tanta memória, tanta viagem: tantas imagens bonitas e azuis e amarelas e de sol nas têmporas e de pestanas caídas na face dos nossos amados e desportistas e barulho e festa e tudo aquilo de que sentimos falta.

Aqui fica um dos poemas de que gostei, apesar de o seu final ficar aquém daquilo que esperava. Chama-se "Tenho planos para uma confissão" :

Foi em novembro de dois mil e tal
em Ipanema
Fazia frio e não devia
Chovia como era previsto
E algumas dessas coisas
nos confundiam
Eu era demasiado novo para o desterro
Um pouco velho já para certas aventuras
Dormia algumas horas por noite
num quartinho de esquina
Onde guardava os 7 livros, uma hamaca
vermelha & branca e a pequena caixa
de madeira onde ia depositando a diário
as lascas que sobravam da escultura
Eu ia esculpindo um novo genoma
Com mãos encharcadas de água de coco

Meu rosto não se transformava
mas a paisagem sim
Uma vez por semana cruzava a rua
de saquinho plástico pendurado no braço
e levava a roupa na lavandaria
Maria meu velho tesouro
não me acompanhava mais
Os canaviais, as abóbadas do Arkansas,
as feridas no rosto e os recibos de pensões
iam caindo no caminho como balas de açúcar
O desenho daquele rastro no chão
apontaria certamente ao palácio lunar
Era nisso que pensava
quando não pensava em nada
Foi no novembro de Ipanema
quando me acertei com a meditação

Comia duas bananas por dia
Um suco de acerola
E de vez em quando um sanduíche
A vida nunca foi tão pacífica
Desistira finalmente dos troféus
Guardando para mim apenas a bandeirola
da Federación Uruguaya de Esgrima
Porque sempre suspeitei
que aprenderíamos muito
fixando os espaços
entre as listras azuis e brancas

Meus amigos iam se retirando como lascas
Eu ia aproximando o rosto das orquídeas
atadas nas árvores pelos porteiros de Ipanema
Tomava o café da manhã no mercado
enquanto lia o jornal da cidade
Havia um forte cheiro de mar sujo
Que subia sempre a 3 quadras
até chegar na avenida
As manhãs eram todas de ouro
E à passagem de cada uma delas
eu atava uma nova pulseira em meu braço
Foi um poeta quem me disse
Que os gémeos se distinguem pelas cores
das fitas amarradas em seus pulsos
Eu queria distinguir-me de mim mesmo
Como um urso que fareja as moedas
entre os cachos de erva

Havia uma artéria que ligava todas as coisas
desde a Praia de Botafogo até o Centro da Cidade
O atravessamento do Aterro
nas cavalitas de um ônibus bêbado
foi durante muito tempo
A única salvação possível

Certa manhã, entre as colunas
de fogo que de vez em quando
se levantavam no terror das esquinas,
apareceu o rosto doce de Antonio
Fotografei-o com minha câmera descartável
E essa imagem desfocada é a pagela
que trago dobrada em meu bolso até hoje

Aqueles foram meus pleitos literários
entre o mar e a cidade
E, como disse o santo na fotografia,
na verdade fui feliz.
Profile Image for Margarida Abreu.
35 reviews
April 14, 2022
Jóquei e júbilo podiam ser a mesma palavra
Não são
Não são nem serão
Mas podiam ter sido
E foram
Porque eu não lhes faço distinção

Quem é que nesta vida
Alguma vez se viu prevenido
Para um vómito que vem do fígado
Para uma estalada na cara
Ou para a tão grande deceção de assistir a uma promessa quebrada

Que importa o tamanho do erro
E o quanto se erra
Se é sabido que errar é humano
E desumano é não aceitar a fragilidade da sua própria condição
Mesmo o que não está certo, mas é humano
Que quase tudo o que é humano é justo
E sendo a morte o contrário de justiça
Continua a ser a maior e mais profunda garantia da humanidade

Matilde diz que alguém disse que já nada pode começar no mundo
E supôs que isso quisesse dizer continuidade
Eu cá acho
Que há milhares de coisas que começam e acabam todos os dias
...
Profile Image for Sofia.
11 reviews
January 12, 2023
Pra mim, foi um livro de leitura arrastada. Queria que acabasse. Que eu me lembre, um poema inteiro salvou a minha experiência, junto com alguns versos espalhados pela obra. Talvez eu tenha entrado com expectativas demais; por isso não se deve acreditar em nomes. Talvez seja uma poesia contemporânea demais e eu ainda não saiba lidar com isso. Várias vezes, fui tomada por desconforto, porque tinha a sensação de que as palavras eram colocadas de maneira vaga, uma atrás da outra, sem qualquer critério. Foi diferente de quando a “falta de sentido” faz sentido. Foi incômodo, várias vezes sem graça e vazio.
Não quero que pareça um ataque pessoal. É que foi sofrido pra mim, mesmo. Pensei que ia ser uma leitura mais revigorante, uma escrita que eu pudesse chamar de amada ou adorada. Paciência.
Profile Image for Jujuba.
154 reviews
January 10, 2022
(3,5)

"Poderia escrever teu nome/70 vezes seguidas/ Mas isso não espantaria/ a saudade que sinto/ de dizer o teu nome/ entre sal e dentes [...]" [p. 65]

"[...] Pra onde você vai eu não sei/ Na verdade não me importa mais/ Porque no caminho do post-mortem/ Aconteceu que dei de caras com a vida" [p. 119]

Confesso que absorver a poética de Matilde foi um processo lento e por vezes difícil. Sentimentos, descrições e referências são derramados ao longo dessas páginas: as palavras simplesmente despencam. Quem sabe que novas compreensões e olhares as releituras desse livro poderão me trazer...
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