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Presos que menstruam: A brutal vida das mulheres - tratadas como homens - nas prisões brasileiras

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Grande reportagem sobre o cotidiano das prisões femininas no Brasil, um tabu neste país, Nana Queiroz alcança o que é esperado do futuro do jornalismo: ao ouvir e dar voz às presas (e às famílias delas), desde os episódios que as levaram à cadeia até o cotidiano no cárcere, a autora costura e ilumina o mais completo e ambicioso panorama da vida de uma presidiária brasileira. Um livro obrigatório à compreensão de que não se pode falar da miséria do sistema carcerário brasileiro sem incorporar e discutir sua porção invisível.

Presos que menstruam, trabalho que inaugura mais um campo de investigação não idealizado sobre a feminilidade, é reportagem que cumpre o que promete desde a pancada do título: os nós da sociedade brasileira não deixarão de existir por simples ocultação – senão apenas com enfrentamento.

294 pages, Paperback

First published June 30, 2015

34 people are currently reading
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Nana Queiroz

4 books7 followers

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5 stars
349 (43%)
4 stars
330 (40%)
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112 (13%)
2 stars
13 (1%)
1 star
4 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 80 reviews
Profile Image for Aline.
37 reviews152 followers
April 30, 2018
Que livro complicado. A relevância indiscutível do objeto, a gravidade dos fatos denunciados e o esforço da autora em dar voz a um grupo muito marginalizado tendem a dignificar a obra, mas suas falhas são notáveis demais e acabam jogando contra.
Primeiro, porque o tratamento do tema não é exatamente jornalístico. A autora se permitiu usar recursos retóricos e linguísticos mais próximos da crônica, quando não do romance, do que exatamente do jornalismo. Há floreios em excesso. As fontes de pesquisa são poucas, então o aparato teórico perde espaço para a voz da autora, suas próprias ideias e impressões. Não é errado ou incomum o jornalista se deixar afetar pela história que conta, admitir sua implicação naquele testemunho. Histórias de violência e solidão cobram nossa empatia e o jornalista é tão humano quanto o sujeito de sua matéria, mas uma distância mínima é necessária ao menos na hora de traduzir a experiência para o relato, inclusive para que o objeto principal, o personagem da matéria, não tenha que dividir o palco com a subjetividade do escritor. E, neste livro, a presença da autora é forte demais, suas angústias e impressões disputam espaço com as histórias das mulheres, histórias que poderiam praticamente se contar sozinhas, que têm potência e drama o bastante, por si só, sem precisar de apelações.
A compaixão da autora é nítida, mas em várias passagens se confunde com condescendência. As metáforas usadas para explicar o comportamento e os sentimentos de algumas mulheres muitas vezes as comparam com animais ou crianças. Algumas delas parecem vistas sob um olhar de exotismo. Não há padronização no tratamento das variantes linguísticas das mulheres retratadas, então algumas falas são transcritas com "erros" fonéticos ("homi", "muié") sem que isso tenha nenhuma utilidade senão salientar a falta de instrução e a distância entre aquela mulher e a autora, muito mais articulada, e mesmo os leitores. E nem todas as mulheres são tratadas assim, o que levanta a pergunta de qual terá sido o critério para a escolha de quais entrevistados teriam sua fala transcrita literalmente, com as marcas de oralidade típicas a qualquer falante, instruído ou não, e quais não. Quais falas foram editadas, tiveram sua sintaxe corrigida, seu sentido esclarecido? E por que umas e não outras? Escrever sobre alguém confere ao jornalista o poder de decidir sob quais códigos a fala de alguém será reproduzida, e isso é uma posição de bastante poder. É preciso alguma sensibilidade para tomar as decisões editoriais nesse quesito.
Aliás, é disso que o livro mais carece: um bom tratamento editorial. A experiência da autora é única e rica, e ela poderia ter se beneficiado com um editor mais criterioso, que exigisse mais rigor na confecção do texto, inclusive por respeito àquelas que visa retratar.
A história das mulheres encarceradas no Brasil é um assunto muito sério, urgente, que merece o máximo de atenção e grandes obras que discutam a misoginia do sistema. Uma pena, pois "Presos que menstruam" poderia estar à altura.
Profile Image for Juliana.
8 reviews
February 14, 2016
Orange is the New Black parece cadeia de luxo perto das cadeias brasileiras. Aqui, elas cumprem as suas penas com juros. O livro é dividido em relatos e, em cada um, descobrimos mulheres presas nas mais diversas condições sociais, com os seus crimes e os tipos de penas que cumprem, as suas rotinas atrás das grades ou até, a dureza da realidade que vem depois de terem passado pelas celas.

Essencialmente jornalísticos, estes relatos femininos mostram que ser presidiária no Brasil é sinônimo de ter muita resiliência e perserverança, independente da pena, de ser heterossexual ou homossexual, muito bonita ou muito feia - principalmente pelo sistema carcerário, que oferece tão pouca estrutura. Faltam espaços para visitas íntimas, atendimento psicológico/psiquiátrico com antidepressivos, mas principalmente faltam companheiros, cuidados... entendimento geral.

A questão da homossexualidade, mais aprofundada no final do livro, vai um pouco além dos relatos das páginas anteriores. Oferece uma visão mais crítica sobre ser lésbica na cadeia e às vezes parece ser à parte - reflexo de um assunto amplamente mais pesquisado pela autora, já publicado em diversos jornais e revistas na sua atuação como colunista.
Profile Image for Jessica Cordeiro.
2 reviews8 followers
January 22, 2016
Esse livro foi um tapa na minha cara. Importantíssimo para que eu pudesse desconstruir um pouco mais ideias preconceituosas e pouco empáticas sobre quem está por trás desses muros altos das penitenciárias e é invisível. Reiterou meus pensamentos acerca do que é ser mulher, ser pobre, ser mãe, ser abusada, não ter acesso à educação, etc. Além do mais, me desafiou a entender que quem comete crimes - do tráfico de drogas ao assassinato do próprio filho - não vem de Marte e nem faz parte de uma espécie diferente; é ser humano e às vezes mais próximo do que imaginamos. Quem comete os crimes violentos vêm, porém, de uma realidade tão estranha à nossa, que tais ações se tornam possíveis e reais. Foram várias as vezes que eu baixei o livro, incrédula, me colocando no lugar das personagens. É preciso cautela para não enxergá-las como vítimas nem como merecedoras do tratamento sub-humano que recebem. Acabo essa leitura muito mais informada, tolerante e, claro, descrente no sistema.
Profile Image for Lais Luzano.
4 reviews1 follower
November 5, 2020
que livro!!! indico para todos, muitas das coisas que descobri lendo o livro não fazia ideia que acontecia dentro das prisões femininas. uma aula!
Profile Image for Deise Capuzzo.
28 reviews20 followers
June 24, 2017
Ainda to digerindo tudo o que este livro me fez sentir mas vou tentar escrever uma resenha minimamente coerente.

O livro foi um trabalho feito pela jornalista Nana Queiroz (que, depois, pesquisando eu descobri ser uma das mulheres que criou o movimento "Eu não mereço ser estuprada: pontos pra ela) depois de interessar pelo tema das prisões brasileiras femininas e perceber o quanto, pelo menos na época em que ela pesquisou/escreveu, as mulheres presas e suas realidades são um tema basicamente esquecido e invisível dentro da sociedade.

Uma das coisas que eu mais gostei foi o fato dela ter tentado abordar esse cotidiano contendo variados pontos de vista, de diferentes prisões, de mulheres com tipos de crime diferentes, de ponto de vista de família, de gente que vai visitar, de ativistas, diretores de cadeia e por ai vai. Com certeza a perspectiva amplia muito dessa maneira e foi muito instrutivo.

O livro é um daqueles meio paradoxais: ele é ruim de ler, te faz mal, dá dor no estomago porque a realidade destas mulheres é sofrida e horrível; apesar disso, a escrita da Nana é ótima, super fluida e você meio que não quer largar o livro por que oh-está-tão-interessante (e você se sente culpado por achar tudo isso tão interessante/curioso, do alto da sua bolhinha de felicidade.. enfim).

A Nana além de ajudar os meros mortais que não fizeram Direito e não entende um bocado de coisa colocando ali um aporte teórico, pesquisou tratados internacionais dos quais o Brasil é signatario e que tratam de temas que envolvem esse assunto e também colocou várias notas interessantes pra situar o leitor.

Com certeza é uma leitura que te faz questionar o nosso sistema e se a maneira como ele está estruturado faz algum sentido, traz os resultados esperados - a resposta é não - e te faz perguntar por que e a interesse de quem as coisas foram feitas dessa forma (como eu tenho esse costume de fazer isso uma vez por dia pelo menos, só piorou no caso). Além disso, com certeza me ajudou a colocar coisas em perspectiva: a Nana em momento algum coloca essas presas como 'óh-coitadinhas-tão-vítimas' (inclusive, ela mesma escreve sobre como as próprias presas não querem que ela as descreva assim), ela só te ajuda a montar um quadro mais real e concreto de como e porque pessoas 'desviam' da lei. Eu não sou pessoa, nem de longe e de maneira alguma, de achar que 'bandido bom é bandido morto' maso livro também te ajuda a se colocar no lugar de algumas dessas pessoas e tentar pensar qual seria a sua reação se você tivesse a vida de alguma delas ali (e também continua te - ou me, pelo menos - fazendo pensar sobre os meus próprios privilégios).

Enfim, vale a leitura. Muito. Leiam. O livro é super importante e muito bem escrito. Um excelente trabalho que te deixa pensativo muito tempo depois...
Profile Image for Stephanie.
627 reviews41 followers
April 8, 2017
Muito bom! A narrativa "romantizada" ajuda bastante na fluidez mas os capítulos intercalados não foram uma boa escolha. Mas gostei bastante da leitura.
Profile Image for Fernando Paladini.
Author 4 books12 followers
December 23, 2023
5/5 pelo tema, originalidade e importância histórica.
4/5 pela execução e escrita da obra.

É um livro muito bom para se situar no universo das mulheres presidiárias, compreender suas realidades e entender como o sistema prisional, de justiça e policial brasileiro é extremamente injusto.

Recomendo muito para qualquer pessoa que gostaria de, pelo menos entender, na realidade, o que é estar preso no Brasil.

Se você já leu Drauzio Varella ou outras obras que comumente falam sobre a vida na prisão, como em algumas ficções do Dostoiévski, também recomendo muito este livro.
Profile Image for Ana Viana.
84 reviews
July 24, 2020
todo mundo deveria ler esse livro pelo menos uma vez na vida
Profile Image for Viviane Cordeiro.
120 reviews15 followers
August 17, 2015
É difícil ser mulher neste país - talvez não apenas aqui, mas como Brasileira eu sinto na pele as dificuldades impostas pela sociedade à nós mulheres. Se a vida já é difícil e tumultuada para nós que estamos "livres" (creio que não existe a necessidade de explicar o porque das aspas, correto?), quiça para aquelas que estão atrás das grades?
Nana Queiroz fez um trabalho incrível e extremamente delicado neste livro ao abordar o dia a dia das mulheres que hoje cumprem pena nas prisões brasileiras. Narrando a história de várias mulheres nos quatro cantos do universo prisional brasileiro, Nana nos mostra uma faceta até então desconhecida (ou poderíamos dizer esquecida?) destas mulheres: num país machista e patriarcal, quando um homem é preso sua esposa vai visitá-lo constantemente e no caso de muitas, sua vida passa a girar ao redor daquela penitenciária; já quando uma mulher encontra-se em regime fechado, pouco mais de 2% dos maridos a visitam. Por que? Que marido quer levar nas costas a cruz de uma mulher na prisão? Pouco tempo depois ele já tem outra ocupando seu lugar. É vida que segue para ele e vida estagnada pra ela.
O tratamento despendido à elas nas prisões também é chocante: idosas, grávidas, jovens, não importa. Todas sofrem de abusos e maus tratos, independente do crime que cometeram. Mulas de droga, traficante, assassinas, sequestradoras, ou até mesmo uma garota apaixonada que simplesmente não consegue enxergar os delitos do amante e o segue cegamente, todas estas mulheres foram jogadas no mesmo caldeirão fervente da humilhação.
Existe até um capítulo a parte para o chamado 'Efeito Suzane': como que Suzane von Richthofen conseguiu ganhar tantos admiradores no presídio, transformando-se em uma espécie de superstar do Tremembé? Como ela conseguiu deixar até um promotor encantado, ato que inclusive valeria sua carreira?
Com uma escrita altamente pessoal, Nana Queiroz não apenas digere o dia a dia mas também nos apresenta as histórias que levaram cada uma das detentas até aquele lugar e posteriormente entra em detalhes sobre os crimes de cada uma e ao futuro que elas tem a frente. Não se trata de uma humanização ou demonização daquelas que vivem atras das grades, haja visto que cada um de nós temos uma história que nos molda para a vida, e muitas vezes estas histórias definem o nosso futuro.
Espero não ser a única neste país que acredita que todos devem e precisam pagar suas contas perante ao Estado, mas que, ao menos, sejam pagas com o minimo de dignidade, para que um dia possam retornar reabilitadas para a "sociedade livre".
Profile Image for Natália Abreu.
18 reviews1 follower
February 23, 2019
Ninguém é perfeito...nem eu, nem você. Com certeza nenhuma das mulheres cujas vidas (ou fragmentos de uma vida) estão neste livro são. Coloquei minha vida, minha liberdade, meus privilégios em perspectiva lendo. Eu ri, chorei (emocionada ou angustiada), me encantei e me compadeci com (quase) todas as histórias de (quase) todas as mulheres. “Não sabia se era amor, se era medo, se era a surpresa de descobrir que, afinal, alguém a amava” - quem imaginaria ler isso em um livro sobre as vidas dentro de um presídio?

É um livro de relatos, a autora dá voz as mulheres e não aos crimes, que são pano de fundo. Ela não quer só mostrar o quão falido e decadente é o sistema, quer mostrar que existem pessoas lá e essas pessoas são como nós - serem humanos que cometem erros. Ela procura dignificar as mulheres quando decide não ler os processos antes de conhecê-las e, após ler, coloca em xeque nossa empatia.

Sim, existem vítimas de um governo que não dá a mínima pra grande parte da sociedade. Existem também algumas que você espera que fiquem lá pra sempre (tamanha a crueldade de seus crimes) e em ambos os casos a Nana acaba te fazendo pensar. Esse pequeno livro muda a gente.
Profile Image for Luma Dionísio.
148 reviews
February 13, 2020
"Os crimes cometidos por mulheres são, sim, menos violentos; mas é mais violenta a realidade que as leva até eles."

Esse livro é uma viagem para um mundo do qual não temos a mínima ideia. Algumas produções americanas até se passam dentro de presídios, porém em contextos e países diferentes. A realidade é outra aqui.

Em diversos momentos eu interrompi a leitura por sentir vontade de chorar copiosamente por pessoas que eu nunca conheci, mas cuja realidade sempre foi muito diferente da minha e que, quase de forma inevitável, as guiou para caminhos escuros.

É comum pensarmos em presídios como locais que abrigam bandidos. A gente só costuma esquecer que esses presos são pessoas. Humanos. É comum ignorarmos isso e creio que seja o principal motivo para as coisas serem tão ruins e terem pouco sinal de melhora dentro dos presídios: ninguém se importa o suficiente. O problema não é só estrutural.

Livro fácil de ler e mais um da lista "todos deveriam ler"

"A ninguém importava Gardênia ou o bebê que carregava. Eles eram o resto do prato daquela sociedade. O que ninguém quis comer. E seu filho já nascia como sobra."
Profile Image for Beatriz Sadler.
106 reviews
July 4, 2021
LEIAM
(Tá disponível no Kindle Unlimited)

Acho que só não dei 5 estrelas porque o fato de ter muitas personagens e os capítulos irem e voltarem pra elas me deixou um pouco confusa, e também não deu pra entender tão rapidamente de quem o capítulo se tratava, o que me fez não me prender tanto em algumas histórias. De resto, tudo perfeito, apesar de ser uma leitura dolorosa.
Profile Image for Isabela Boechat.
7 reviews
March 21, 2019
Livro incrível. Retrata fielmente o dia a dia das mulheres presas no Brasil, além de ser comovente e ao mesmo tempo um relato sensível! Fiquei encantada com a leitura!
Profile Image for Lucille.
1,358 reviews20 followers
November 2, 2022
uma leitura mais do que necessária, a delicadeza e a sutileza q a autora aborda a vida destas mulheres, o modo q ela demonstra a empatia pelas dms se expondo a precariedade do sistema carcerário
Profile Image for Guilherme Morais.
19 reviews
November 27, 2019
Excelente livro. É de uma sensibilidade muito alta contando o drama de algumas presas num sistema carcerário precário e cheio de preconceitos. A autora parece não só observar o drama como atuar em favor das presas.

A divisão do livro de forma esparsa não me agradou. Preferia os capítulos concentrado na história de cada uma mesmo.
Profile Image for Fran.
128 reviews9 followers
June 23, 2016
1st read: 26.09.15 | 2nd read: 22.06.16

Usei o livro da Nana Queiroz como referência de escrita para o meu trabalho de conclusão de curso (TCC), que também foi um livro-reportagem, no ano passado. Após diversas notícias na mídia sobre as histórias nele contidas, resolvi comprá-lo e não poderia ter acertado mais na escolha: além de uma grande inspiração para o meu trabalho, o livro me abriu os olhos para muitas questões e aflorou uma grande sensibilidade em mim para o tema.

Para quem acha que irá se deparar com algo na linha "Orange Is The New Black", cheio de glamour, sinto informar que a realidade é outra. Nana, aqui, traz um relato sincero sobre o que é a vida das mulheres nas penitenciárias femininas no Brasil, trazendo suas histórias de vida antes, durante e depois do cárcere. O que podemos observar aqui, e que é exatamente igual às características das personagens da série, é que a maioria das mulheres que se envolvem, de fato, com o crime o fazem por falta de escolhas - muitas são pobres, sem estudo e com poucos chances de melhores remunerações trabalhistas. Outras, se envolveram por amor, amizades e escolhas erradas. Nana não tenta tomar lados e nem fazê-las de vítima. Mostra o que, de fato, são aquelas mulheres.

A autora intercala as personagens, o que torna o livro mais "leve" e a leitura flui melhor. Através desses relatos e das pesquisas realizadas podemos notar que a realidade da mulher presa é um tanto diferente da dos homens, mas ainda sim, muito igual. O que fica claro aqui é que o abandono faz parte da vida dessas mulheres - abandono do Estado, da sociedade, da justiça e da família, principalmente. Quando presa, a mulher é esquecida.

Em dado momento, Nana percebe que está se deixando levar e esquecendo um pouco de seu lado jornalista. Neste ponto, o livro me conquistou de vez. Ela, então, vai atrás dos inquéritos de algumas presas e confronta com suas versões, deixando à critério do leitor a conclusão de uma história que não é nada bonita.

Vale a leitura. Um "tapa na cara" que se faz, extremamente, necessário.
Profile Image for deb.
22 reviews1 follower
April 30, 2021
Confesso que tenho certa dificuldade em avaliar livros, tanto pela triste automaticidade que desenvolvi em minhas leituras, o que me afasta de pausas para avaliar o que é escrito; tanto pelo envolvimento que crio com cada obra. Eis a tentativa.
A experiência de ler Presos Que Menstruam é peculiar. É tocante, chorei muito e me contorci enquanto lia, mas notei que isso vinha muito também da escrita escolhida: um tanto romântica, carregada com emoção. Enquanto esse fator não me incomoda pessoalmente - na verdade, compreendo muito que a autora tem carinho pelas entrevistadas e pela experiência de seus anos de pesquisa - é difícil ver esse texto como apenas uma obra jornalística. Não quero criticar mais do que essa observação porque não tenho (ainda) a formação como jornalista para, de fato, entender o propósito da forma de escrita escolhida por Nana.
Independente disso, o tema é extremamente relevante e os depoimentos aqui deveriam ser conhecidos por todos os brasileiros. Me convenceu, mais uma vez, que é crucial a mudança no sistema penal desse país. Estarei para sempre marcado pelas descrições das condições precárias da infraestrutura que abriga essas detentas, e o abuso sofrido pelas mesmas. Honestamente, o termo “violência policial” se tornou um pleonasmo aos meus ouvidos.
Profile Image for Gustavo Amaral.
35 reviews1 follower
January 28, 2023
"Safira passou a levantar todos os dias às 5h da manhã para empacotar as sacolas de compras da classe média. Embrulhava todos os dias coisas que tinha desejo de comer, biscoitos que adoraria levar para o filho"

"A sociedade baiana parecia ter mais disposição para acreditar na versão de fazendeiros que já foram surpreendidos fazendo uso de trabalho escravo e cometendo crimes ambientais do que na deles"

"Ele se diz ateu. Alega que não pode acreditar num Deus que só tenha lhe dado a opção de perder na vida"

"Muitas audiências depois, uma assistente social foi à casa dos pais de Camila avaliar se os meninos viviam bem. De cara, o pequeno Diego olhou para ela e perguntou
-- A sua mãe tá presa?
-- Não
-- E seu pai, é morto?
-- Também não
-- Então o que você tá fazendo aqui, se não sabe o que a gente sente?
Ele tinha 5 anos."

"Pesquisadores estimam que por volta de 85% das mulheres encarceradas sejam mães. Quando detidas, seus filhos são distribuídos entre parentes e instituições. Só 19,5% dos pais assumem a guarda das crianças. Os avós maternos cuidam dos filhos em 39,9% dos casos, e 2,2% deles vão para orfanatos, 1,6% acabam presos e 0,9%, internos de reformatórios juvenis"

"Quando um homem é preso, comumente sua família continua em casa, aguardando seu regresso. Quando uma mulher é presa, a história corriqueira é: ela perde o marido e a casa, os filhos são distribuídos entre familiares e abrigos. Enquanto o homem volta para um mundo que já o espera, ela sai e tem que reconstruir seu mundo"

"A ninguém importava Gardênia ou o bebê que carregava. Eles eram o resto do prato daquela sociedade. O que ninguém quis comer. E seu filho já nascia como sobra"

"Uma tese em voga entre ativistas da área é a de que a emancipação da mulher como chefe da casa, sem a equiparação de seus salários com os masculinos, tem aumentado a pressão financeira sobre elas e levado mais mulheres ao crime no decorrer dos anos”

“Os delitos mais comuns entre mulheres são aqueles que podem funcionar como complemento de renda”

“Os crimes cometidos por mulheres são, sim, menos violentos; mas é mais violenta a realidade que as leva até eles”
Profile Image for Monique Pereira.
52 reviews
November 20, 2023
Esse livro é um confronto. Seu título provocativo, não é apenas uma figura de linguagem para chocar; é uma janela para a realidade brutal enfrentada por mulheres no sistema carcerário brasileiro... um soco no estômago da consciência coletiva.

A leitura não deixa espaço para a indiferença, e exige um olhar mais atento para as nuances muitas vezes esquecidas da vida atrás das barras de uma prisão, e nos leva por uma jornada desconfortável, através de vidas dilaceradas, desafiando-nos a confrontar os dilemas desconcertantes da ineficiência de um sistema que parece estar apenas pautado na perpetuação do sofrimento.

As histórias das mulheres contidas aqui, frequentemente encarceradas não apenas por atos criminosos, mas por tramas intricadas de circunstâncias socioeconômicas e familiares, nos desafiam a questionar nossos preconceitos. E perceber que, desde muito cedo, muitas dessas mulheres estão envolvidas em um labirinto de desigualdades brutais, revelando que as narrativas por trás das grades são mais complexas do que a retórica simplista que muitas vezes domina o debate público.

Ao virar cada página, a ironia dessa situação nos atinge como um soco: a expectativa de encontrar a justiça, a talvez alguma redenção, esbarra na dura realidade das mulheres que, muitas vezes, saem da prisão apenas para encontrar um mundo que não mais as espera. Para encontrar uma sociedade quebrada que não oferece apoio, mas sim mais desafios cruéis.

Se a autora pretendia desenvolver uma denúncia jornalística factual, ela se perde devido ao seu evidente envolvimento emocional. No entanto, me parece que a singularidade da sua experiência não desejava mesmo revelar apenas um olhar crítico, mas sim profundamente humano, e buscava envolver o leitor sem recorrer a somente dados, estatísticas e teorias, mas na realidade marginalizada que se esconde por trás das barras das vidas de cada presa. Se o objetivo foi esse, acho que ela acertou. E, obviamente, nada dessas abordagem humanista exime essas mulheres de seus crimes, mas nos desafia, sim, a indagar por uma justiça que, de fato, reconheça a humanidade em todos nós.
Profile Image for Julia Boechat Machado.
77 reviews60 followers
August 9, 2017
Dostoiévski disse que podemos medir o estado de civilização de uma sociedade por meio de suas prisões. Se usarmos esse critério, chegaremos à conclusão de que não há civilização por aqui.
Qualquer um que não seja completamente alienado sabe que no Brasil a tortura sempre existiu (e nunca foi punida) e que as prisões são buracos onde pessoas são jogadas sem a mínima infra-estrutura ou condições que permitem que ela saia com possibilidades de uma vida melhor. Mas podem não saber, como eu não sabia, o alcance disso. Ver a autora perguntar para um grupo de mulheres quantas foram presas grávidas (metade) e quantas foram torturadas grávidas, espancadas, negadas assistência médica (todas) é chocante.
Muitas pessoas comparam esse livro com a série Orange is the New Black, já que fala de prisões femininas. A semelhança não para por aí, já que vemos em ambos um pequeno número de presas que foram para a cadeia por crimes violentos e uma quase totalidade que está lá por uma pequena quantidade de drogas. O que mostra onde a "guerra contra as drogas" nos trouxe. E em ambos há comentários semelhantes sobre as diferenças entre prisões femininas e masculinas são ressaltadas: mulheres são menos passivas, vão em cima até da tropa de choque.
Há direitos que temos aqui, (na teoria e raramente na prática) como o de manter os bebês com as mães até os seis meses de idade, que eles não tem lá. E eles podem nos servir para mostrar porque esse processo de privatização de prisões, que está começando no Brasil, é extrememente perigoso para a sociedade.
Por outro lado, lá elas tem condições de higiene e acesso a trabalho que fariam de Litchfield uma prisão modelo se fosse no Brasil, mesmo com todos os seus problemas.
Dito isso, o livro não é bem escrito. Ele é confuso, fragmentado, com uma linguagem cheia de clichês, e poderia ser bem melhor se ela desse voz às entrevistadas, se não romantizasse tanto suas trajetórias. Mas ainda vale a pena.
Profile Image for Rita Reis.
11 reviews
April 13, 2020
Nana Queiroz fez um trabalho lindo e, acima de tudo, extremamente humano em "Presos que menstruam". O livro nos conta histórias de diversas mulheres presas por diversos motivos, o que mostra a realidade nas prisões brasileiras: o recorte social das detentas é, em sua maioria, de mulheres pretas, de baixa renda, e que entraram na criminalidade por falta de opção, influência de parceiros ou por precisarem manter a família. A realidade dos fatos é dura e conta muito bem a trajetória dessas detentas que são tratadas de formas desumanas na cadeia. Torturas físicas e psicológicas, meses sem receber visita, orientação sexual esquecida dentro das celas, além da falta de intervenção do Estado para fazer com que os Direitos Humanos valham de alguma coisa para quem está preso. O profissionalismo de Nana neste livro é incrível, e me fez pensar no valor do jornalismo e no impacto que ele teve na vida dessas pessoas, uma vez que a jornalista esteve diversas vezes em várias penitenciárias do país para fazer sua construção literária. Vale ressaltar, também, que o livro é cheio de dados e citações de outras pesquisas, sendo um ótimo material para quem deseja fazer uma pesquisa acadêmica na área, por exemplo.
Presos que menstruam é um livro incrível e que desperta um olhar humanizado em cima de mulheres que são diariamente tratadas como homens dentro das celas brasileiras. Recomendo muito a leitura!
Profile Image for Inês Alves.
150 reviews1 follower
Read
August 20, 2021
Livro de temática muito importante e ainda pouco conhecida por mim. Eu sabia que o sistema carcerário brasileiro era de péssima qualidade, mas essas histórias me fizeram perceber que a realidade é ainda mais difícil do que minha imaginação.
Muito importante não só ouvir essas mulheres como entender que direitos humanos são para todos, não só para quem a gente gosta ou quem é legal conosco. Se as pessoas que estão na prisão são de fato más, nada está sendo feito para que elas deixem de ser assim.
O livro traz informações bem interessantes sobre os presídios femininos de diferentes partes do país e me fez ter vontade de ler mais sobre o tema.
A organização dos capítulos alternando entre as diferentes personagens é um pouco confusa, mas acredito que seria maçante se feito de outro jeito (contando a história da mesma personagem toda de uma vez).
Minha maior questão com o livro é que falta um olhar mais atento e aprofundado a questão de raça, porque sabemos bem qual é a cor da maioria das pessoas presas.
É uma ótima leitura inicial sobre o tema do encarceramento.
Profile Image for Deanívea Félix.
9 reviews1 follower
August 30, 2020
A primeira impressão foi amarga, já que logo no início sou surpreendida pela maneira como a autora fala do relacionamento de uma menina de 14 com um homem 13 anos mais velho de maneira romantizada, quando na verdade se trata de uma relação pedófila. Essa parte me deixou com um pé atrás, mas a má impressão foi se dissolvendo com os relatos marcantes e reais que foram trazidos ao longo do livro. O sistema penitenciário, em especial o brasileiro, me desperta muito interesse, gosto de ler sobre o assunto desde que me deparei com a trilogia do Dr. Dráuzio Varella e a reflexão da autora estadunidense Angela Davis em 'Estarão as prisões obsoletas?'. Esse livro, em específico não traz muita inovação ou reflexões, apenas contos, mas é bem escrito e possui capítulos interessantes, como o da penitenciária de Tremembé, onde estão presas "famosas" como Susane Von Richthofen.
Profile Image for Maria Fernanda.
9 reviews
January 6, 2022
"Com sua arma, se vingava do mundo que a fez pobre, que a fez frágil, que a fez mulher. Quem era fraca agora?"
Tive que ler esse livro pra faculdade e confesso que esperava algo mais "light". É um verdadeiro soco no estômago. Apesar de algumas passagens que senti uma transferência de responsabilidade na interpretação dos textos e da complexidade do tema, a autora conseguiu levar muito bem a(s) narrativa(s) e criou um verdadeiro compilado de perfis muito bem concluídos e passagens de tirar o fôlego dos pulmões e lágrimas dos olhos. Me impressionou também a habilidade da Nana em lidar com essas mulheres de forma absolutamente humana, como mulher, esposa e filha, não só como jornalista ou escritora. Acho que por isso elas se sentiram tão a vontade para fornecer os detalhes que ela precisava para deixar a obra final ainda mais intimista e sensível. Parabéns, Nana!
Profile Image for Natasha Schiebel brotto.
70 reviews8 followers
March 28, 2019
Presos que menstruam mexeu bastante comigo – apesar de não ter gostado muito da forma como as histórias são apresentadas (preferia que cada personagem tivesse um capítulo inteiro dedicado a si, não vários "soltos").

O fato de autora se envolver de verdade com as personagens, o que algumas pessoas consideram um problema (por ela ser jornalista), pra mim é um ponto forte do livro. A visível emoção de Nana Queiroz ao conhecer as presas, suas histórias e seus familiares, fez com que eu me emocionasse também. Terminei a leitura com o coração apertado (a última frase é de matar), com o desejo de recomendar o livro a todos aqueles que entendem o quão importante é buscarmos conhecer realidades completamente diferentes das nossas e refletindo muito sobre o que vivem especialmente as mulheres negras e que moram nas periferias do Brasil..
Displaying 1 - 30 of 80 reviews

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