Escrito em 1929, "O Mendel dos Livros" narra a história de um espantoso alfarrabista que passa os dias sentado na mesma mesa de um dos cafés de Viena. Com a sua memória enciclopédica e a generosa disponibilidade, este judeu russo é admirado pelo dono do café Gluck e pela clientela culta que recorre aos seus serviços. No entanto, em 1915, em plena Primeira Guerra Mundial, quando o Império Austro-Húngaro e a Rússia se encontravam em campos opostos, Jakob Mendel é enviado para um campo de prisioneiros, injustamente acusado de colaborar com os inimigos da Áustria.
"A Viagem ao Passado" mostra-nos como uma relação amorosa pode ser interrompida e até desfeita pelas contingências da guerra, um tema que Zweig abordou sob diversas formas.
Stefan Zweig was one of the world's most famous writers during the 1920s and 1930s, especially in the U.S., South America, and Europe. He produced novels, plays, biographies, and journalist pieces. Among his most famous works are Beware of Pity, Letter from an Unknown Woman, and Mary, Queen of Scotland and the Isles. He and his second wife committed suicide in 1942. Zweig studied in Austria, France, and Germany before settling in Salzburg in 1913. In 1934, driven into exile by the Nazis, he emigrated to England and then, in 1940, to Brazil by way of New York. Finding only growing loneliness and disillusionment in their new surroundings, he and his second wife committed suicide. Zweig's interest in psychology and the teachings of Sigmund Freud led to his most characteristic work, the subtle portrayal of character. Zweig's essays include studies of Honoré de Balzac, Charles Dickens, and Fyodor Dostoevsky (Drei Meister, 1920; Three Masters) and of Friedrich Hölderlin, Heinrich von Kleist, and Friedrich Nietzsche (Der Kampf mit dem Dämon, 1925; Master Builders). He achieved popularity with Sternstunden der Menschheit (1928; The Tide of Fortune), five historical portraits in miniature. He wrote full-scale, intuitive rather than objective, biographies of the French statesman Joseph Fouché (1929), Mary Stuart (1935), and others. His stories include those in Verwirrung der Gefühle (1925; Conflicts). He also wrote a psychological novel, Ungeduld des Herzens (1938; Beware of Pity), and translated works of Charles Baudelaire, Paul Verlaine, and Emile Verhaeren. Most recently, his works provided the inspiration for 2014 film The Grand Budapest Hotel.
Estou cada vez mais convencida de que este autor é um Mestre em contar histórias curtas e que deixam uma marca indelével no leitor.
2 novelas magistrais, que, de formas distintas, nos mostram o quão uma guerra pode desmoronar a vida de um alfarrabista e de um jovem secretário pessoal.
BELÍSSIMO!!!!
Obrigada, Paulinha, por mais um empréstimo delicioso!
16/01/24 Primeira leitura do ano concluida! Quando começo uma leitura de Stefan Zweig sei, à partida, que vou embevecer com a sua escrita e, consequentemente, gostar do seu conteúdo. Quer queiramos, quer não, o autor até pode recorrer a um vocabulário simples, mas a elegância da sintaxe com a qual ele reveste as suas obras, só prova que o simples e acessível, pode ser absolutamente encantador. Zweig emprega determinados elementos comuns nos dois contos, a passagem do tempo é um deles e a guerra, que nos é apresentada como pano de fundo em alguns momentos da obra, é outro. O amor, seja pela literatura ou pelas pessoas, também não está esquecido, pelo contrário, é um constituinte fundamental que mobiliza toda a narrativa. Gostei muito, é sempre com muita satisfação que leio o património literário que Stefan Zweig nos deixou.
Zweig has never disappointed me so far. This text is a masterpiece. Short, masterful. A place: a café in Vienna. A time: a little before and after the First World War. And an exceptional character: Mendel, a second-hand bookseller capable of finding you any book, a second-hand bookseller with a fabulous memory, a second-hand bookseller who lives only for and by his books to the point of not seeing the reality of the world around him, a reality that will drag him down, a reality that will destroy him. We follow this endearing character and feel that the story will not be cheerful, yet we hope. Zweig is impressive. In just a few pages, he paints a picture of a place, a time, and a character, and we are completely immersed. He could have written a novel, but made it into a short story. But what a short story! Not for a moment does it feel too short. We are completely taken by the story, its characters, and this world. Indeed, it is a poignant text in just a few pages. What an achievement! What a success! I can only advise you to meet this second-hand bookseller, Mendel.
Five Stars.
A Viagem ao Passado
Does love resist everything, especially separation? This love is the main argument of this short story, skillfully crafted by Zweig, a master of scrutinizing and then revealing the irrational and powerful forces in passionate love. I give it four stars for a charming, gripping story and a magnificent portrait of a tormented woman. However, I prefer "24 Hours in the Life of a Woman," an even more original and edgy work with more accomplished psychological suspense.
Gosto da escrita de Zweig e senti-me cativada pela história de Jakob Mendel. Já A Viagem ao Passado não me conquistou, achei um romance banal e irritou-me que não tivesse um final - na minha opinião, nem um "final aberto" se pode chamar... (as 3 estrelas são apenas à conta da escrita).
São dois contos distintos reunidos neste pequeno livro. Mendel ama desmesuradamente os livros e Luís apaixona-se por uma mulher. A Guerra intromete-se nos sentimentos e gestos de ambos. Depois da brutalidade do conflito tentam recuperar os momentos e o tempo roubados. Duas histórias de perda e reencontro contadas com uma sensibilidade refinada.
O nome Mendel dos Livros já me era familiar. Nunca pensei, porém, que fosse uma estória tão impactante e envolvente. O mesmo posso dizer de «A viagem ao passado», conto/novela que nos mantém agarrados até ao fim e que é daquelas narrativas que parece impossível de abandonarmos.
Dois contos de Stefan Zweig onde a guerra austro-húngara, ainda que forma suave e quase indirecta, se assume como o ponto de ruptura.
O Mendel dos livros - 4*. É fascinante a simplicidade e a naturalidade da escrita de Zweig para contar uma história simples. Um simples acaso ou um pensamento leva-nos á narrativa onde tantas vezes o ponto de partida do narrador desemboca em outros protagonistas e quase outros narradores.
A viagem ao passado -4*. Que pena minha este final aberto!!! Merecia mais um pouco!
Como pensamento (meu) sobre o conto digo: o que muda não são as dificuldades, ou a distância ou o tempo ou até a necessidade de viver cada dia. O que muda são os sonhos; sonhar em demasia quebra-nos a vontade, a sã loucura do amor e no fim sobra-nos apenas o passado: o passado feito de sonhos.
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Este livro reúne dois contos do escritor austríaco Stefan Zweig. Mais uma vez posso constatar que ele é um mestre na arte de escrever contos. O tema recorrente das duas histórias é a guerra e suas consequências.
O Mendel dos Livros - 4,5 A viagem ao passado - 3,5
Em "O Mendel dos Livros", Zweig lamenta a erosão da tolerância, consequência da onda nacionalista que ocorreu durante a primeira guerra mundial. Jakob Mendel, um alfarrabista de origem russa mas que mora em Viena há vários anos é usado como o exemplo deste fenômeno. Um pessoa inofensiva e perfeitamente adaptada a Áustria é tratada como inimigo do país devido aos seus contatos de trabalho. O foco quase monomaníaco de Mendel na sua profissão o torna tão alheiio a realidade que isto acaba por ser usado contra ele.
Já em "A Viagem ao Passado", a guerra serve para distanciar duas pessoas apaixonadas: Ludwig e a mulher do seu patrão, que vivem um amor proibido. Por uma infeliz coincidência, Ludwig foi transferido para o México para tratar de negócios e a previsão era de que ele ficasse por lá durante dois anos. Durante este período, os amantes trocaram correspondencias e juras de amor, até o dia em que a guerra eclode na Europa, interrompe o contato entre eles e a separação de dois anos torna-se uma separação de dez anos. Depois de seguirem as suas vidas, os protagonistas conseguem se reunir e resolvem fazer uma viagem de trem, só que o efeito da distância e da ausência acaba por ser brutal. A vida segue e por mais que a tentemos, as coisas nunca voltam a ser como antigamente. A forma como Zweig descreve este "desconforto" entre os dois é incrível e muito palpável. Eu só achei que Zweig poderia ter escrito um final melhor para o conto.
Lido com tranquilidade no dia em que Portugal e Espanha pararam devido à falha de energia. Foi uma boa companhia.
Duas histórias de vidas interrompidas por causa da guerra. Uma interrupção sem retorno. Uma forma de, através dos dias de gentes simples, trazer o quanto a guerra destrói e separa. Na primeira história uma mente com uma memória brilhante quebrada pelos anos de encarceramento e mau trato. A segunda um amor não concretizado, que permanece intocado na fantasia mas que, no reencontro, não resiste à realidade.
“Dans le vieux parc solitaire et glacé Deux spectres cherchent le passé
Aquelas palavras eram um aviso: não seriam os dois aquelas sombras que procuravam o passado e dirigiam surdas perguntas a um outrora que já não existia, porque nem ele nem ela eram os mesmos”.
Uma paixão interrompida pela guerra, separada pela distância e quebrada pelo tempo. Um desejado reencontro nove anos depois, mas muito diferente do sonhado.
Tudo revivido numa carruagem de comboio e contado em pouco mais de 40 páginas #stefanzweig #aviagemaopassado
"Mas, a pouco e pouco, este mundo, recuperado da sua própria demência, sabe que de todas as atrocidades e abusos criminosos desta guerra nenhum foi mais absurdo, infundado e portanto menos desculpável do ponto de vista moral do que a detenção e internamento atrás de arame farpado de civis inocentes já fora da idade de serem chamados a prestar o serviço militar, pessoas que durante muitos anos viveram num país estrangeiro como uma pátria e que, por acreditarem no direito de hospitalidade, sagrado até para os tungues e os araucanos, perderam a oportunidade de escapar a tempo ... um crime contra a civilização gratuitamente cometido na França, na Alemanha e na Inglaterra, em cada torrão desta nossa Europa que perdeu por completo a razão."
"... os livros só se escrevem para, depois de deixarmos de respirar, unir os homens e defender-nos perante o inexorável reverso de toda a existência: a transitoriedade e o esquecimento."