André Lara Resende herdou do pai, Otto, o dom da palavra, o prazer do convívio, a clareza de raciocínio e o foco no que importa. E aprimorou essas qualidades ao longo da vida. Este livro é um exemplo dessas virtudes - como também o haviam sido Os limites do possível e Bolhas e pêndulos.
Há três tipos de escritores, notou Schopenhauer: os que escrevem sem pensar, os que pensam enquanto escrevem e os que pensaram muito antes de escrever. André é, claramente, da terceira estirpe. Por isso, todos os treze artigos aqui reunidos têm alguns eixos comuns, que não derivam apenas de um passageiro interesse do autor no momento em que os escreveu.
Alguns são imprescindíveis para o debate público do momento no Brasil, como “O mal-estar contemporâneo” e os artigos da seção Para repensar o Estado. Outros são muito relevantes para entender o atual debate no mundo e seu significado para o Brasil, como os da primeira seção, As fortunas do crescimento. Há um belo texto inédito, “Em busca do heroísmo genuíno”, e dois substanciosos artigos - “Desenvolvimento como liberdade, cidadania e espírito público” e “Vida pública, capitalismo de massa e os desafios da modernidade” - que fundamentam a posição do autor sobre o indispensável repensar sobre o Estado e a necessidade de revalorização da vida pública - ambos necessários tanto no Brasil como no mundo.
O leitor que se debruçar sobre estes textos, na ordem que lhe aprouver, verá que este livro passa, com galhardia, no teste de Harold Bloom para uma obra que valha a pena: aquela que o leitor sente que de alguma forma lhe diz respeito; que lhe pode ser útil; que lhe ajuda a entender melhor sua circunstância e o mundo em que vive. E, por fim, que constitua prazerosa leitura, como este Devagar e simples que o leitor tem em mãos. - Pedro Malan
André Pinheiro de Lara Resende nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1951, filho do jornalista e escritor Oto Lara Resende e de Helena Pinheiro Guimarães. Seu avô materno, Israel Pinheiro, foi revolucionário de 1930, constituinte de 1946, deputado federal por Minas Gerais entre 1946 e 1956, prefeito do Distrito Federal de 1960 a 1961, e governador de Minas Gerais de 1966-1971. Seu tio materno, Israel Pinheiro Filho, foi deputado federal por Minas Gerais entre 1967 e 1971. Formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 1973, fez o mestrado em economia na Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, concluindo o curso em 1975. Posteriormente, em 1979, obteve o título de Phd em economia pelo Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, ainda em 1979 passou a lecionar no Departamento de Economia da PUC-Rio, instituição à qual ficaria ligado até 1988. Paralelamente às suas atividades docentes, em 1980 tornou-se sócio e diretor administrativo do Banco de Investimentos Garantia, aí permanecendo até 1985. De 1984 a 1985, foi também diretor externo da Companhia Ferro Brasileiro, cargo que voltaria a ocupar entre 1987 e 1990. Nos primeiros anos da década de 1980, juntamente com o seu colega de graduação na PUC-Rio, Pérsio Arida, interveio na discussão do processo de transição do regime militar para a democracia, em um momento em que ganhava espaço a proposta de pacto social do governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, que viria a ser o candidato da oposição à presidência da República, por eleições indiretas, na suecessão do general João Batista Figueiredo. Preocupado com a superação da crise econômico-financeira que o país atravessava, divulgou, em conjunto com Arida, ideias que viriam a configurar o eixo do artigo “Inertial inflation and monetary reform in Brazil”, publicado pelos dois economistas em 1985 na coletânea organizada por J. Williamson, Inflation and indexation: Argentina, Brazil and Israel (Boston, MIT Press). Indo contra a tradição liberal-monetarista, Lara Resende e Arida explicavam a crise como resultado de uma inflação de tipo inercial. Nessa perspectiva, os êxitos obtidos no combate à inflação eram neutralizados por uma “memória inflacionária” responsável pela incorporação, quando da revisão dos contratos, das taxas mais elevadas observadas no período anterior. Para sustar esse ciclo, eles conceberam um plano, conhecido por “Larida”, que previa a adoção de uma moeda indexada — a OTN (Obrigação do Tesouro Nacional) —, que circularia em paralelo ao cruzeiro e, por ser uma moeda forte, acabaria se sobrepondo à moeda oficial, eliminando-se, assim, o fator de propagação inflacionária. A indexação total da economia conduziria, portanto, à sua desindexação definitiva Integrante do Conselho de Administração do Banco Central em 1985 e 1986, respondendo pelas questões relativas à dívida pública e ao mercado aberto, André Lara Resende foi um dos responsáveis – ao lado de Arida, Edmar Bacha, e dos ministros do Planejamento, João Sayad, e da Fazenda, Dilson Funaro, entre outros – pela elaboração do Plano Cruzado, durante o governo do presidente José Sarney (1985-1990). Esse plano de estabilização econômica anunciado por Sarney em 28 de fevereiro de 1986, inspirava-se na tese de Lara Resende e Arida da inflação inercial, combinada à proposta de “choque heterodoxo”, de autoria do economista Francisco Lopes. Sua meta principal era interromper um processo inflacionário galopante, que havia atingido, naquele mês, a taxa anual de 250%. O plano previa a criação de um novo padrão monetário, o cruzado, de valor mil vezes maior que o do cruzeiro, então abolido, a extinção da correção monetária, a estabilização cambial e o congelamento de preços e salários. Inicialmente bem-sucedido, uma vez que os índices inflacionários caíram consideravelmente, o Plano Cruzado acabou se
André Lara Resende, além de um economista brilhante, mostra-se um escritor de alto nível. O livro é uma coletânea dos seus ensaios e que, mais do que abordar a economia, nos presenteia com uma excelente discussão filosófica. Por exemplo, achei fantástico o capítulo “em busca do heroísmo genuíno”. Não seria exagero dizer que apenas essa parte já vale a compra do livro. Como "coletânea", alguns trechos de opiniões se repetem nos capítulos, mas isso não diminui a importância da obra e, talvez, até ajude a reforçar alguns conceitos.
Coletânea de ensaios de rara qualidade de um dos maiores economistas brasileiros sobre temas diversos como: politica economica pos-crise, papel do estado, limitacoes da racionalidade economica, mobilidade urbana, existencialismo e outras questoes filosoficas.
Meritos para o alto nivel dos ensaios, para relevancia dos temas e para toda a boa argumentacao apresentada. Por outro lado, a seleçao dos ensaios não me pareceu muito adequada, seja pela diversidade de temas que guardam fraca relaçao entre si, seja pela sobreposicao e repeticao das mesmas ideias entre os ensaios (ponto que o proprio autor apontou no prefacio como falho nessa coletanea).