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Em Teu Ventre

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«Mãe, atravessas a vida e a morte como a verdade atravessa o tempo, como os nomes atravessam aquilo que nomeiam.»

A partir de um ponto de vista inteiramente novo, 'Em Teu Ventre' apresenta o retrato de um dos episódios mais marcantes do século XX português: as aparições de Nossa Senhora a três crianças, entre Maio e Outubro de 1917.

Através de uma narrativa que cruza a rigorosa dimensão histórica com a riqueza de personagens surpreendentes, esta é também uma reflexão acerca de Portugal e de alguns dos seus traços mais subtis e profundos. A partir das mães presentes nesta história, a questão da maternidade é apresentada em múltiplas dimensões, nomeadamente na constatação da importância única que estas ocupam na vida dos filhos.

O sereno prodígio destas páginas, atravessado por inúmeros instantes de assombro e de milagre, confere a Em Teu Ventre um lugar que permanecerá na memória dos leitores por muito tempo.

168 pages, Paperback

Published October 23, 2015

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About the author

José Luís Peixoto

98 books2,164 followers

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37 (5%)
1 star
9 (1%)
Displaying 1 - 30 of 82 reviews
Profile Image for Claudia.
345 reviews207 followers
November 17, 2015
Em Teu Ventre, a novela editada recentemente de José Luís Peixoto, retrata uma dos episódios mais marcantes do século XX em Portugal, as aparições de Nossa Senhora. Essas aparições não são descritas no livro, fica o aviso. É descrito o ambiente vivido naquela altura, entre o período de Maio a Outubro no ano de 1917. O autor fundamentou a história em factos históricos. Todas as personagens existiram, os nomes são verdadeiros. Fé é uma questão pessoal, é escolha sua acreditar ou não.
A história é contada de forma desfragmentada, sendo dada voz as várias personagens. Mães (inclusive Nossa Senhora), Deus (narrado de uma forma bastante particular), Natureza. Temos também um narrador na terceira pessoa. A voz do narrador muda constantemente.
Um livro sobre mães, relações de mães e filhos, esperança e fé. Li-o num ambiente onde nasceu o meu primeiro filho, o que tornou a leitura especial. Li-o com um toque de delicadeza que é necessário ter enquanto a história é exposta aos nossos olhos. José Luís Peixoto torna especial quem o lê.
A ruralidade expressa nesta história dá voz aos rostos melancólicos do nosso País. Portugal vive em cima de uma mancha de esperança, fé e medo. Caminhamos entre dúvidas e vontade em acreditar.
“ (Todas as pessoas têm direito a descanso, menos as mães. Para cada tarefa, profissão ou encargo há direito a uma folga, menos paras as mães. Se alguma mãe demonstrar a mínima fadiga de ser mãe, haverá logo uma besta, ignorante de limpar baba e de parir, que se oferecerá para a pôr em causa. Não é mãe, não sabe ser mãe, não foi feita para ser mãe, dirá. Mas, se todas as pessoas têm direito a descanso, será que as mães não são pessoas? A culpa é nossa. Sim, a culpa é das mães. Deixámos que fossem os filhos a definir-nos). “
Não é maravilhoso este excerto?
O autor conquista-me gradualmente, sendo este o meu livro preferido. Emocionou-me, fez-me reler várias passagens e permitiu-me uma tristeza melancólica tão própria da gente da minha terra.
Cinco estrelas.
Profile Image for Susana.
541 reviews178 followers
March 12, 2020
Gostei desta primeira experiência com José Luís Peixoto, mas faltou-me qualquer coisa...

Este livro é essencialmente uma homenagem à figura materna, aliás como se depreende do título. A narrativa principal baseia-se na história das aparições de Nossa Senhora, mãe de Jesus, a três pastorinhos durante o ano de 1917, mais concretamente no dia 13 de cada mês entre Maio e Outubro. O narrador centra-se em Lúcia, a mais velha dos três, com 10 anos na altura, salientando a relação desta com a mãe e os sentimentos conflituosos desta.

Entremeados nesta história, aparecem uns versículos, supostamente escritos por Deus/Jesus, em que o papel da mãe é enaltecido de diversas formas. Para além disso, surgem de vez em quando alguns parágrafos entre parêntesis onde toma voz a mãe do autor - ou assim eu percebi.

Fiquei algo desiludida com o final, estava à espera da descrição do "milagre" prometido por Nossa Senhora a Lúcia e supostamente presenciado por milhares de pessoas (entre as quais se encontrava a minha avó paterna, que contava ter visto "o sol a andar à roda, parecia que ia cair").

Duma forma geral, gostei de ter lido este livro.
Profile Image for João Barradas.
275 reviews31 followers
February 1, 2021
As mitocôndrias, organelos fulcrais para a produção da energia vital, são heranças maternas milenares, que carregamos e nos sustentam. De geração em geração, elas são renovadas mas as suas funções mantém-se desde a primeira mulher. Há, portanto, uma constância quanto à génese da vida: ela reveste-se de uma aura feminina - não fosse ela própria um substantivo desse género.

Como prova deste poder, que alicerça sociedades, pairam por esse Mundo vários testemunhos de avistamentos da Virgem Maria - a própria Mãe de Cristo. Uma delas, neste país dos brandos costumes, à beira do precipício, com uma mentalidade fortemente religiosa, num estado dito laico e interesseiro. A partir de dados históricos, o autor reconta as conturbadas vivências de três cachopos (o que eu gostei de relembrar esta palavra!), a quem Maria presentou com aparições, nos dias 13, de maio a outubro de 1917.

Tratando-se de Peixoto, deveríamos adivinhar que o simples não o é assim tanto. Às cenas de aldeia de um Portugal tacanho (tão presentes nas suas e nas minhas memórias), somam-se meandros peculiares e irrequietos: um evangelho, com capítulos e versículos próprios, escrito segunda a versão da Mater salvadora, que, entre parábolas e missivas, vai transmitindo edificantes ensinamentos e aguerridas indirectas; um conjunto de parênteses, azucrinantes, que desenvolvem a relação alvoraçada entre uma mãe eventual e um filho em potência, pejada de reprimendas e emendas.

Sem fechar possíveis críticas sociais - a ludibriação dos elementos mais jovens, em honra dos bens materiais -, o destaque é claro: a virgem, a mãe, a filha. O papel feminino é finamente dissecado em camadas. As escrituras aludem que "no íncio, era o verbo"... No entanto, o íncio começou no ventre de uma mulher, que não se conteve e dela eclodiram as várias civilizações (civilizadas!?).
Profile Image for Maria.
1,035 reviews112 followers
January 15, 2016
Em Teu Ventre é um livro sobre as Aparições de Fátima. Contudo, se pensa, à partida, que o autor vai tecer considerações sobre o milagre, desengane-se. José Luís Peixoto distancia-se da polémica em torno das aparições de Nossa Senhora a três crianças (ele não gosta de lhes chamar pastorinhos) e faz apenas, e com mestria, o retrato da época, na Cova de Iria.
Fui à apresentação do livro, em Aveiro, com o livro lido e tive vontade de o ler novamente. Tenho de o ler novamente. Há sempre coisas que ficam por ler. A escrita de Peixoto é toda ela poesia. E a poesia lê-se e relê-se e sente-se.

Opinião completa: http://marcadordelivros.blogspot.pt/2...
Profile Image for Ana.
754 reviews174 followers
June 7, 2016
Reconciliei-me com José Luís Peixoto. Andava de candeias às avessas com o autor desde que li Nenhum olhar em 2011 e me afoguei numa tristeza contagiosa que me puxou para mundos dos quais prefiro estar distante. Cinco anos depois José Luís Peixoto voltou a entrar cá em casa sobretudo por insistência do maridinho que estava curioso por ler a sua última publicação – a novela Em teu ventre.
Não sou crente. Não acredito em nada do que está relacionado com os milagres de Fátima. Mas não fico indiferente à devoção daqueles que sim, acreditam. Nem consigo evitar o arrepio e a sensação de apaziguamento que se instalam em mim nas poucas vezes que ponho os pés numa igreja ou no santuário de Fátima. Sendo assim, entrei na leitura de Em teu ventre dividida, com a credulidade que me caracteriza e um punhado de curiosidade em comprovar como abordaria o autor um tema tão controverso e sensível.
Contudo, e tal como o título deixa entrever, esta novela não é apenas sobre o milagre de Fátima. Penetra no ventre feminino e traz-nos as vozes das mães – da mãe de Lúcia, uma mulher do povo, simples, religiosa mas que questiona veementemente as visões da filha e ao mesmo tempo a tenta proteger da horda de gente que lhe invade o pátio, a casa e a vida para que a sua filha milagreira lhes traga luz, saúde e paz nos dias vindouros; de uma mãe anónima que se dirige a seu filho e lhe aponta a sua desilusão, lhe questiona os atos, a desatenção e o consequente sofrimento que a sua falta de carinho, de uma palavra lhe provocam; de um Deus que só posso apelidar de feminino e que, como voz divina, de entidade suprema, relembra que nos deu vida, que “Tudo começa e tudo termina pela esperança, que quando uma mãe chora, o mundo inteiro chora com ela e que até em tudo o que fez pôs um pouco da sua progenitora.
A nível gráfico é fácil distinguirmos as três vertentes que compõem Em teu ventre. Em registo quase poético, como se versos fossem, encontramos a voz dessa entidade suprema. Entre parênteses, como se apenas fosse uma informação adicional, pouco importante, deparámo-nos com as palavras da mãe sofrida, desiludida, questionadora e que as dirige a um filho desconhecido. Finalmente, em texto corrido vamos acompanhando o dia-a-dia de Lúcia e dos outros pastorinhos, desde as aparições de maio até às de outubro.
Todas estas vertentes da novela entranham-se-nos porque o estilo do autor assim o “exige”. A linguagem absolutamente lírica, intensa, encantatória e arrepiante que transvasa da escrita de Peixoto é magistral e foi o que permitiu a minha reconciliação com o autor. Por outro lado, como mãe ser-me-ia impossível não identificar-me com passagens muito maternais, umbilicais. Por fim, a personagem de Lúcia, que não é mais do que uma criança (como é bem vincado ao longo da obra) está tão bem construída como tal, que todos comungamos com o peso que as aparições trouxeram à sua vida, todos sentimos a necessidade de a amparar, de a proteger e ainda de a perdoar quando ela mais não faz do que agir como uma menina de dez anos esmagada por uma responsabilidade com o tamanho e o peso de milhares de fervorosos devotos da religião católica.
Concluindo, é com um sorriso nos lábios e o prazer especial da reconciliação ainda presente que recomendo esta obra de Peixoto a todos aqueles que se derretem e buscam incessantemente submergir-se na magia das palavras.

NOTA – 08/10
Profile Image for Célia Loureiro.
Author 30 books961 followers
November 29, 2015
Na realidade 2,5. Estou por dentro do assunto "Fátima", que leva anualmente 6 milhões de turistas à cidadezinha homónima. O autor foi muito low profile, acho evidente que se afastou de uma tomada de posição. Deixa a porta aberta para que quem acredita considere que é tudo verdade, e para que quem apenas considere tudo um negócio fique com a sua ideia. O que, na minha opinião, dá algum interesse ao livro é o retrato do Portugal rural (a imagem dos piolhos a serem catados e da extrema pobreza em que se vivia). Também o assunto "maternidade" tem laivos de beleza nesta obra, a mãe que ama mas precisa de punir, mãe que condena mas que ainda assim protege a cria. De resto há inúmeras coisas por mencionar - onde está o aviso, de Maio de 1916, do suposto Anjo de Portugal? Onde está o Anjo a ensiná-los a rezar? E a Virgem a falar dos Mistérios? A Virgem a exigir (e não a "concordar") a construção de uma capela em sua honra? Onde estão os media que fotografaram as 70 mil pessoas que ali se reuniram a 13 de Outubro de 1917? O aviso de que, em breve, Jacinta e Francisco se reuniriam com a Nossa Senhora no Céu? A teoria de que apenas um dos dois irmãos viu a Virgem, enquanto outro apenas a ouviu, sendo que Lúcia viu e ouviu a Virgem? Na minha óptica, o livro apenas vem aprofundar o mistério, porque as fontes são tantas, e tão díspares... Falta que se escreva ainda um grande livro sobre o assunto.
Profile Image for Isa | Mil Histórias.
279 reviews136 followers
July 7, 2016
Depois de ter lido Morreste-me e Dentro do Segredo decidi que queria ler todos os livros de José Luís Peixoto. Dois livros diferentes, mas muito bem escritos que se tornaram um dos meus livros preferidos de sempre.

Mas não senti o mesmo em relação a esta história. Senti alguma confusão. Não por não estar a perceber a história propriamente dita, mas por não estar a receber a mensagem que o autor provavelmente queria.

Contudo, gostei da forma como o autor abordou o tema da maternidade, o ser mãe: as emoções, os pensamentos, os sentimentos, as dúvidas. Aquilo que sentimos e pensamos enquanto mães e por vezes (ou mesmo nunca) as expressamos por palavras, pelas mais diversas razões.

José Luís Peixoto é um mestre da escrita. Isso é um facto. Escreve de uma forma que nos toca, que nos comove e agarra. É isso que sinto e penso. Mas este livro não me agarrou.

Vou continuar a acompanhar e a ler os livros deste autor, pois continua a ser um dos meus preferidos.

Boas leituras.
Profile Image for Cláudia.
433 reviews38 followers
May 8, 2018
Nunca imaginei que José Luís Peixoto fosse escrever uma novela sobre este assunto, mas ainda bem que o fez. Numas breves 163 páginas, o autor fala sobre as aparições de Fátima que ocorreram em 1913. Ao contrário do que se possa pensar, não existe uma opinião a favor nem contra, apenas a narração de como a população daquela zona e época lidou com o assunto.
Tenho de comentar a escrita do autor, é por causa dela que JLP é dos meus escritores preferidos. Existem alturas do livro em que a beleza das palavras tomam conta de tudo o resto, o que é curioso porque, em frases tão simples, existem tantos sentimentos e significados que nós, leitores, só podemos estar gratos por existirem escritores a manusear tão bem a língua portuguesa.
Profile Image for Cristiana de Sousa.
305 reviews23 followers
May 23, 2016
Este foi o meu primeiro contacto com a escrita do autor e fiquei agradavelmente surpreendida. Não estava a contar gostar tanto e ficar tao emocionalmente agarrada às personagens. A forma como o autor escolhe as palavras para nos descrever situações, por vezes banais é bastante única e singular. A maior parte das vezes as palavras são escolhidas de forma quase poética. E isso agradou-me bastante. Não é fácil dar um cunho pessoal a uma estória que se inspira nos três pastorinhos. Mas o Peixoto conseguiu alcançar isso mesmo. Apesar de ter preferido que o autor demonstra-se para que lado a sua opinião pende mais (as aparições serão verdadeiras ou não?), percebo que tenha optado por deixar que seja o leitor a fazer a sua própria interpretação, do que realmente aconteceu com os três pastorinhos. Fiquei sem duvida, rendida à sua escrita e quero muito continuar a ler mais a sua obra.
Profile Image for Margarida Sequeira.
69 reviews9 followers
May 22, 2025
Quem decide o que é verdade ou não quando é o coração e a fé que falam.
Não serão as leis do coração as que ditam mais?
E que peso pode ter a verdade?
E porque o peso ficou todo sobre os ombros de uma criança de dez anos?Até onde vai a ambição ou o desespero humano?

Que belo retrato do Portugal rural e católico daquele tempo!
José Luís Peixoto escreve poesia e pinta quadros por palavras, um texto de uma beleza incontestável é sempre muito bom ler Peixoto, as suas palavras desinquietam, ao mesmo tempo que confortam, a sua escrita é simples mas simultaneamente arte.
Profile Image for Márcia Balsas.
Author 5 books107 followers
January 12, 2016
Fui a uma das apresentações deste livro antes de o ler. Tive receio de ter ficado a saber demais, ou de partir para a leitura influenciada pelas dicas do autor, perdendo margem de descoberta. Sinceramente, acho que fiquei a ganhar. A apresentação foi muito clara, José Luís Peixoto partilhou algumas das suas intenções na escrita deste livro, assim como alguns detalhes da estrutura que receio que me pudessem escapar. Já tinha o livro. Já tinha (muita) vontade de o ler. As palavras do autor fizeram-me abrir a primeira página.
A escrita de José Luís Peixoto encanta-me sempre, se calhar encanta-me cada vez mais. Revejo-me numa espécie de honestidade nas suas palavras, como se não tivesse medo de se dar, de se mostrar, sempre um pouco mais em cada livro.
Não que fiquemos a saber se ele acredita ou não nas Aparições de Fátima depois de ler Em Teu Ventre. Mas este livro também não é sobre as Aparições. É sobre as Mães, segundo o próprio. Eu não sei se é só sobre as Mães. Há uma frase que não me largou durante toda a leitura do livro. Passava as páginas e pensava recorrentemente “é só uma criança”. Refiro-me a Lúcia, a personagem real que vive nestas páginas como uma possibilidade do que pode ter sido. Convenceu-me de que pode mesmo ter sido assim, e tenho para mim que isso já diz muito a favor do livro.
A narrativa é perfeita. Não me vou alongar neste ponto pois vou acabar a tecer os mesmos elogios de sempre. Perfeita mas não linear. Na verdade é interrompida várias vezes. Há uma espécie de voz de consciência que se vai atravessando no caminho, uma voz zangada, por vezes desiludida. Eu reconheci aquelas frases de mãe desiludida que nos ficam na cabeça anos a fio, e depois, vindas do nada, atravessam-se na nossa mente e recordam-nos os erros e as dores de cabeça que lhes demos. É uma coisa recorrente e real porque não controlamos este tipo de pensamentos, e a forma como surge no texto, no momento certo, é um tiro certeiro que nos faz sentir coisas esquecidas, parar para pensar e, muitas vezes, sair do livro e recordar. Uma ideia que funciona muito bem.
Ao mesmo tempo, e talvez para equilibrar esta voz da mãe “malvada”, há uma voz divina que surge em frases perfeitas. É a primeira voz deste livro. É, possivelmente, a voz que as Mães querem ser. Mas depois há aquele pormenor de as Mães serem humanas, e é difícil conciliar a perfeição com essa característica plena de falhas.
Talvez me esteja a deter demasiado tempo na forma, deixando de lado o conteúdo, mas o conteúdo é uma história conhecida enriquecida com palavras que a fazem uma versão credível. A forma foi o que mais me fez pensar. O que mais me agradou. O que mais me encantou. É a forma que permite que o leitor participe neste livro. Se identifique. Pense.
Adorei! Recomendo muito!
Profile Image for Ema.
814 reviews84 followers
February 25, 2019
Contextualizando a minha leitura, cresci numa educação católica, frequentei a catequese, ouvi (passo a expressão) lengalengas de catequistas e padres, fui à missa, fui a Fátima algumas vezes e acreditei que as aparições realmente aconteceram e que tudo se passou como me contaram e ainda fazem acreditar que é verdade. Com 16 anos afastei-me de tudo isto, quando comecei a construir um pensamento crítico e me apercebi de tudo o que eu queriam que fosse e fizesse com base num livro escrito sei lá por quem, coisas que não fazia sentido algum. Portanto, esta leitura foi feita, posso dizer assim, por uma ex-católica, que acredita que haja alguma explicação científica para as aparições (ou isso, ou foi tudo um complô de mentiras).

Este livro não nos conta a história das aparições de Fátima e dos três pastorinhos, não nos dá qualquer possível explicação nem defende um ponto de vista e, embora a princípio tenha sido falta disso, estes aspectos não fazem falta para apreciar a história que o autor nos quis contar (pelo menos, eu não senti). O que se passou entre este livro e eu é que não se trata de um tema que me prenda, por isso eu já sabia que não o iria adorar. Mas retrata, de certa forma, um período da minha vida (do qual não me arrependo, bem pelo contrário, fez a pessoa que sou hoje) e retrata também o meio rural (de onde vim e com o qual continuo a ter muito contacto). Aliados à escrita maravilhosa do autor e à sua sensibilidade para escrever sobre temas menos comuns, temos aqui um grande livro. Não sei quais são as crenças do autor, nem têm nada que entrar na equação, mas gostei bastante do respeito da narrativa por esta fé. Embora não seja religiosa, respeito quem acredite e em quem reja a sua vida pela igreja católica (ou qualquer outra).

As minhas partes menos favoritas são as em que deus fala, sinceramente, disseram-me muito pouco. Mas gostei bastante de seguir Lúcia e as suas angústias, a incapacidade de uma criança de lidar com algo que lhe foi imposto (algo até que nem compreende), com a fama e a perseguição das pessoas que ficam loucas com tudo aquilo. E adorei os pequenos monólogos de uma mãe a falar para um filho, em que expõe uma relação algo conturbada, de uma ligação que não se quebra, por mais defeitos e desilusões que se ponham no seu caminho.

(Acrescento só que senti muita tristeza ao ler o livro, pelas personagens, mas também pelo ambiente, e foi assim que me senti em toda a minha infância sempre que estava na catequese, sempre que entrava numa igreja, sempre que me obrigavam a fazer qualquer coisa ligada à religião... espero que os católicos sintam mais alegria na fé do que eu senti. Por isso, posso dizer que me identifiquei bastante com o livro, embora não lhe consiga dar mais que três estrelas. E depois de uma reflexão tão grande, nem faz muito sentido, mas vamos seguir caminho.)
Profile Image for João Duarte.
140 reviews4 followers
December 31, 2015
José Luís Peixoto é extraordinário.

"Em teu ventre" é a mais recente obra deste escritor, e tem como pano de fundo as aparições de Nossa Senhora a três crianças de Fátima, em 1917. E "ter como pano de fundo" é a expressão exata, dado que este livro não pretende fazer um resumo histórico, e muito menos clamar pela veracidade ou impossibilidade das aparições.

De facto, o autor conseguiu um ponto de equilíbrio que parece fácil de tão fluido, mas que não o é: a época das aparições é utilizada, mais que para falar de Deus e de santos, para mostrar o Portugal pobre de pão e de tudo de 1917. E está tudo lá: o trabalho árduo no campo, as duas ou três pessoas com posses e cultura, a angústia de uma guerra que só acabaria no ano seguinte; um Portugal rural espelhado na magnífica frase "A Nossa Senhora já foi a Lisboa?".

"Em teu ventre", porém, não se limita ao retrato do Portugal rural de há um século. Em menos de 200 páginas, José Luís Peixoto fez um autêntico hino às mães, e temos direito a que a história se cruze com comentários de várias mães (a dele, a de Lúcia, mães "genéricas", a mãe de Deus!). E, para rematar tudo, o livro inclui diversas passagens escritas pelo próprio Deus, com um arranjo gráfico "bíblico" e com ideias sempre a propósito.

Esta obra só é pequena no tamanho; em tudo o resto somos conquistados de um modo crescente e surpreendente até ao final do livro.

José Luís Peixoto é extraordinário, e isso é tão bom!

Profile Image for Sofia.
1,034 reviews129 followers
January 7, 2016
"Uma pessoa é uma máquina de coisas a acontecer, possibilidades multiplicadas por possibilidades em todos os instantes do seu tempo."

Em teu ventre é sobre as relações mãe/filha, embora à primeira vista sejamos levados a pensar que será sobre a questão das aparições de Fátima.
O livro, ou melhor, a novela (neste caso acho importante distinguir o género) é um pouco diferente dos outros livros do JLP e, na minha mais sincera opinião, foi de todos o que gostei menos de ler. Penso que talvez seja por ser novela, eu, leitora, queria mais e fiquei com a sensação de que é um livro incompleto.
No entanto, para compensar, temos momentos brilhantes:
"O medo é a lembrança de uma dor do passado. A vontade é a crença num sonho do futuro. Não são as palavras que distorcem o mundo, é a maneira como entendemos o tempo, somos nós."
Profile Image for Manuela Barradas.
39 reviews13 followers
December 2, 2015
"As palavras são dedos que tentam apanhar uma migalha, fazem a forma de beliscá-la, mas deixam-na lá, como se fossem inúteis."

"Uma mentira, fina como um cabelo, perturba para sempre a ordem do mundo."

"São negras as brisas que atravessam a noite."

"Mas repara em tantas vidas que prosperam sem uma letra, repara também em quantos sabem ler e nunca chegam a passar de imbecis."

"Não são as palavras que distorcem o mundo, é o medo e a vontade. As palavras são corpos transparentes, à espera de uma cor. O medo é a lembrança de uma dor do passado. A vontade é a crença num sonho do futuro. Não são as palavras que distorcem o mundo, é a maneira como entendemos o tempo, somos nós."

"Cansa-te seja do que for, mas nunca te canses de ti porque, em toda a lonjura deste mundo, só tu podes ser essa pessoa que és e, se faltares, não há quem te possa substituir."
Profile Image for Rita.
163 reviews
April 13, 2016
É uma leitura que vou certamente guardar na minha memória mas também no meu coração. O melhor aviso que posso fazer a quem ainda não leu o livro é que se mentalizem de que este não é um livro sobre as aparições de Nossa Senhora, mas sim o livro em que a acção decorre durante as aparições. Se acreditam ou não que aquelas três crianças estavam a contar a verdade, isso é convosco, mas leiam, vale a pena.

"Entre o infinito do céu
e o infinito da terra, existe
o teu infinito, igualmente
desmedido e ilimitado.

Mãe, o tempo não é capaz
de conter-te."

Opinião no blog:
http://clarocomoaagua.blogs.sapo.pt/o...
Profile Image for Tiago Rocha.
54 reviews
October 29, 2015
Entre o infinito do céu
e o infinito da terra, existe
o teu infinito, igualmente
desmedido e ilimitado.

Mãe, o tempo não é capaz
de conter-te.
Profile Image for Rita.
480 reviews64 followers
June 18, 2016
Não vou dizer muita coisa sobre o livro porque quero fazer um vídeo de opinião.
Gostei bastante, acho que quero relê-lo um dia e irei ver o livro com outros olhos.
Profile Image for Jaime García Parras.
128 reviews8 followers
October 16, 2025
Jugando entre hechos reales y ficticios, la novela aborda los sucesos que desembocarían en el llamado “milagro de Fátima” de 1917. No obstante, Peixoto, a quien leo por primera vez, no lo hace desde la distancia, sino desde las voces que dan vida al relato: la niña receptora, narrada en primera y tercera persona, con sus conversaciones con seres inertes, y su madre, escéptica.

La voz que interrumpe la narración y que acaba por convertirse en la más interesante de toda la novela es la de la madre del propio autor, quien se instala en la conciencia del texto para ajusticiar al hijo, a la posición de las madres en la sociedad y al desamparo ante el futuro. Uno de los fragmentos más potentes afirma: “Hemos dejado que sean los hijos quienes nos definan”.

En cuanto al “milagro”, Peixoto no se posiciona entre lo real y lo espiritual: no describe las visiones ni las palabras marianas, sino que las sugiere a través de Lúcia, uno de los tres niños que lo vivieron. Al mismo tiempo, retrata con gran sutileza, mediante personajes-masa, la capacidad de la fe para mover a la población y su deriva hacia un fanatismo violento. En este sentido, el último párrafo es una auténtica delicia.

(3,5⭐ - maldiciendo que Goodreads todavía no permita la media estrella)
Profile Image for Natacha Martins.
308 reviews34 followers
March 6, 2019
Tinha alguma curiosidade para ler este livro do José Luís Peixoto, embora soubesse muito pouco sobre o que era, gostava do título e pronto. Por vezes é o que basta. Não fazia ideia que estava relacionado com as aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos de Fátima. Confesso que quando li a sinopse, torci o nariz. Livros sobre temas religiosos... não estava para aí virada. Depois pensei, é José Luís Peixoto, de certeza que vai ser diferente. E não me enganei. :)

Tendo como ponto de partida a 1ª aparição de Nossa Senhora aos três primos, vamos conhecendo os portugueses do início do século XX. A forma como viviam, fora das grandes cidades, e o que pensavam, em que acreditavam.

É um livro surpreendente, na forma como retrata a família de Lúcia, a mais velha das crianças, e a reação da mãe à história das aparições. Não estava à espera que a resistência desta fosse tão grande, que tivesse tantas dúvidas sobre a veracidade do que as crianças relatavam. Um misto de não acreditar e ser ríspida com a filha enquanto, ao mesmo tempo a tentava proteger das consequências que um acontecimento como aquele iria trazer para a vida de todos. É talvez a personagem mais marcante e que mais me deixou com sentimentos ambíguos, não só pela forma como geriu a questão das aparições, como pela forma como José Luís Peixoto descreve o tratamento dado à órfã que vive com eles.

De forma inconsciente, todos esperamos que as mães nos livros sejam carinhosas, ternurentas e sábias. Perfeitas e sem falhas. É um desejo estranho tendo em conta que nenhum de nós conhece uma mãe assim, perfeita. A única perfeição que lhes conhecemos é a capacidade de amar e perdoar. E, na realidade é a única perfeição de que necessitamos. Em tudo o resto podem e devem ser humanas, o mais possível. :)

Talvez pelo título, "Em Teu Ventre" , estava à espera de um livro sobre a beleza da maternidade. Estava à espera de uma espécie de poema às mães. Não sei onde fui buscar esta ideia sobre o livro, se li alguma coisa sobre ele ou se foi apenas uma ideia pré-concebida na minha cabeça. De facto, acaba por ser um livro sobre a maternidade, mas num sentido menos poético e mais lato. Não é apenas um livro sobre a mãe de Lúcia, é também sobre a necessidade de termos alguém, superior que não compreendemos totalmente como existe, que olhe por nós, que nos ampare e que, de certa forma, nos perdoe. Será isto que procuramos na religião? Amparo, consolo e, acho eu, também desresponsabilização. A vida é difícil, e viver com a certeza de que não existe um propósito superior é mais difícil do que acreditar que existem forças superiores que nos guiam e nos protegem.

"Em Teu Ventre" é, à semelhança dos outros que já li de José Luís Peixoto, um livro muito bem escrito, com verdadeiros momentos de beleza literária, com personagens muito bem construídas e verdadeiras na forma como existem de facto.

Recomendo sem hesitações.

Boas leituras!
Profile Image for Rita Moura de Oliveira.
415 reviews34 followers
May 9, 2018
O ponto de partida são as aparições de Fátima, entre maio e outubro de 1917. Lúcia é a personagem de mais destaque, mas a personagem principal é de facto todo um povo que encarou os acontecimentos de modos totalmente diferentes. Dos que, de mês para mês, seguiam os pastorinhos à azinheira com mais e mais convicção, passando pelos que ali viam uma oportunidade de negócio, aos simplesmente céticos que não conseguiam acreditar.

Entre estes últimos está a mãe da própria Lúcia, que começa por achar que a filha está a imaginar mas que, a dado momento, tem de a proteger do povo e da própria Igreja.

Neste livro não são descritas as aparições, mas as consequências que os seus relatos provocam, primeiro na aldeia e depois no resto do país. É também um retrato do Portugal de início do século XX, com a sua miséria, fé e esperança.

Apesar de ter gostado do livro, não consigo deixar de temer que José Luís Peixoto comece, aos poucos, a aproximar-se de uma escrita mais hermética (por vezes fez-me lembrar o António Lobo Antunes de hoje, de que não gosto nada). Pela alternância entre narradores, que no início tive dificuldade em identificar, e pela própria forma escolhida para o livro. Aguardo por um próximo livro com a esperança de não comprovar esta teoria.
Profile Image for Décio Coelho.
Author 2 books25 followers
August 10, 2016
"Como me iria cansar, menina? Falta-me tudo para deixar de ser eu próprio. Mesmo que embarcasse nessa ilusão, nunca poderia imaginar ser outra coisa, não conseguia. Mesmo que me convencesse de que havia alternativa, que podia ser outro, aquilo que imaginasse não chegaria a ser diferente da minha espécie porque, no fundo, seria concebido pelos meus padrões, ideias e preconceitos. (...) Se estás cansada de ser tu, este é um momento tão bom como outro qualquer para abandonares essa imprudência. Cansa-te seja do que for, mas nunca te canses de ti porque, em toda a lonjura deste mundo, só tu podes ser essa pessoa que és e, se faltares, não há quem te possa substituir."

//

"(Aquilo que acontece fica na hora em que acontece, as palavras não são capazes de carregar o tempo, há muito que deixam passar entre as letras, escorre muita verdade pelos buraquinhos dos ós. O passado recusa mestres e proprietários. Existe um abismo entre as recordações que guardamos dos mesmos momentos. Existe um oceano invisível entre o teu e o meu rosto. (...) Podia agora despedir-me, fingir que me vou embora. Prescindo dessa farsa: quando não me achares na tua cabeça, será porque tu próprio não estás lá. (...) Sou o universo. Acredita: nunca me conseguirás manter entre parêntesis.)"
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39 reviews47 followers
November 3, 2015
"As palavras são imperfeitas
quando tentam dizer aquilo
que é maior do que elas.
São imperfeitas também
quando tentam dizer aquilo
que parece ínfimo dependendo
da proporção.
Nesse caso, as palavras são
dedos que tentam apanhar
uma migalha, fazem
a forma de beliscá-la,
mas deixam-na lá, como
se fossem inúteis."

"Mas, sabes, essa é a questão: aquilo que acontece fica na hora em que acontece, as palavras não são capazes de carregar o tempo, há muito que deixam passar entre as letras, escorre muita verdade pelos buraquinhos dos ós. O passado recusa mestres e proprietários. Existe um abismo entre as recordações que guardamos dos mesmos momentos. Existe um oceano invisível entre o teu e o meu rosto."
Profile Image for Sara.
614 reviews67 followers
May 18, 2018
Reconstituição literária das aparições de Nossa Senhora em Fátima.

Já toda a gente ouviu falar da história em volta dos três pastorinhos. Jacinta, Francisco e Lúcia. É pelo olhar de Lúcia que José Luís Peixoto tem a mestria de retratar as aparições de Nossa Senhora.

Alternando com poesia e "depoimentos" de uma mãe (mãe do autor?) José Luís Peixoto descreve o ambiente em volta das aparições de forma romanciada, está bem presente o seu cunho. A forma poética em que transforma tudo em que escreve é sem dúvida o cunho deste autor. Embora seja um tema religioso e não seja tema de interesse de muitos, vale sempre a pena ler esta novela por ser José Luís Peixoto.

É um livro a ser relido no futuro, talvez, com um olhar diferente.
Profile Image for luadprata.
30 reviews
February 20, 2016
Gostei muito deste livro. Foi a minha primeira experiência com o autor e é com certeza para repetir. Escreve bem sem ser denso. Quanto à história, achei bastante original pegar neste tema dum ponto de vista doméstico, explorando as tensões familiares à volta das aparições. Retrato cru não só deste acontecimento mas também da sociedade da época. Recomendo.
Profile Image for LIBROCINIO.
69 reviews8 followers
June 17, 2018
Uno de los hechos más conocidos del folclore portugués quizás sea la aparición mariana a tres niños pastores en Cova de Iria y la supuesta revelación de los llamados misterios de Fátima. Peixoto parte de la circunstancia excepcional de que la pequeña niña Lúcia llegue un día a su casa diciendo que se ha visto a la virgen María lo que genera una serie de acontecimiento que destruyen la rutina y equilibrio de la familia de Lúcia y convierten la encina donde la niña tenía esas visiones en un lugar de peregrinaje en masa en cuestión de semanas. ¿Y ya?¿Esto es todo lo que tiene “En tu vientre” de Peixoto?¿Se limita a contarnos algo que es mayoritariamente sabido? No, en absoluto. Este original texto de Peixoto simplemente se vale de este hecho para componer una alegato a favor de la madre (no tanto de la maternidad). Su texto se compone de tres relatos diferenciados con una intención clara en cada uno de ellos. La historia de Lúcia sirve de hilo conductor que se interrumpe por unos salmos en los que se nos desvelan ciertas enseñanzas más espirituales que religiosas y por el propio subconsciente del autor a través del cual la voz de su madre interrumpe su propio relato glosándolo y afeándole los desplantes y desatinos de su vida que parece querer expiar por medio de la escritura.

La historia de las visiones de Lúcia se nos presenta como una desgracia para su familia. Las miserias rutinarias largamente sobrellevadas a fuerza de la costumbre padecidas por su familia son incrementadas por el revuelo que causa en las beatas mentes rurales de la época (principios del s.XX) este advenimiento virginal. Las pobres familias de la zona se aferran a este hecho como un camino de salida a su situación, los enfermos y sus familias creen que pueden ser sanados y los ociosos y pobres de espíritu ven en este hecho un caldo donde remojar su necesidad de ocupación. Todos acuden en masa no ya solo al lugar de la aparición sino en busca de Lúcia y sus primos para intentar satisfacer sus deseos y necesidades. Con ello, interrumpen la vida de la familia de Lucía, invaden su casa, les atormentan, les atosigan, les acosan, destruyen sus campos y su cosecha sin miramientos y convierten los fértiles campos de labranza en barrizales donde esperar nuevas apariciones. Todo esto lo sufrimos, sobre todo, a través de la madre de Lúcia que intenta que esta se retracte de su relato y niegue las visiones ya que no pueden ser sino obra del demonio. La atmósfera creada en el relato de este revuelo rural supura por cada letra del texto beatitudes enfermizas, deseos destructores y pasiones ciegas, y miseria, mucha miseria y mucho dolor (muy parecido por momentos al que sentimos en “Los santos inocentes” de Delibes). Las glosas intercaladas como paréntesis en el texto plasmando la voz de la madre del autor hace aumentar estos sentimientos vitales. Los reproches que le/se hace y las memorias que relata son un ejercicio de introspección a un alma atormentada por actos involuntariamente dañinos. No podemos ser el reflejo que debemos en nuestras madres, no porque no queramos, sino porque la vida nos va alejando de ese camino que se consideraría recto y esperado para nosotros. ¿Puede lograse la expiación? Quizás los salmos ficticios sean la respuesta. Nos aportan un sentimiento ligeramente lisérgico que intenta abstraernos de la dureza del relato e iluminarnos por momentos el camino (como farolas mal colocadas que dejan puntos oscuros en nuestro trayecto nocturno). Crean esperanza pero ya sabemos que la esperanza suele venir acompañada de dolor.

Peixoto, en poco más de cien páginas, nos recrea un mundo donde el dolor es motor vital y las madres las que absorben ese dolor para hacernos más llevadera la penitencia de la vida.

“En estos términos declaro que te creé para que me creases […] Soy tu madre, soy el universo”.
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Profile Image for Magda Pais.
Author 4 books81 followers
October 24, 2018
Este é um daqueles livros que tenho muita dificuldade em classificar. Cheguei ao fim sem saber bem se gostei ou não, se esperava mais ou menos ou sequer se o devo recomendar.

Sei que o consegui ler até ao fim (ao contrário do Galveias, do mesmo autor, do qual desisti ao fim de 30 páginas). Percebi a história, gostei desta perspectiva da vida dos pastorinhos mas, ao mesmo tempo, achei que era demasiado zen, demasiado parado, sem acção ou movimento.
Gostei da forma como a maternidade é abordada, dos sentimentos que assolam as mães, a forma como vêem os filhos, o que sentem e não dizem. E nem o facto da historia ser passada num meio rural do inicio do século XX, muda o que uma mãe é, o que uma mãe sente e o que transmite. Perfeito neste aspecto.

Em Teu Ventre tem alguns momentos perfeitos, aqueles que com que nos identificamos em algum momento:

Entender os outros não é uma tarefa que comece nos outros. O início somos sempre nós próprios, a pessoa em que acordámos nesse dia. Entender os outros é uma tarefa que nunca nos dispensa. Ser os outros é uma ilusão. Quando estamos lá, a ver aquilo que os outros vêem, a sentir na pele a aragem que os outros sentem, somos sempre nós próprios, são os nossos olhos, é a nossa pele. Não somos nós a sermos os outros, somos nós a sermos nós. Nós nunca somos os outros

Ou, mesmo a melhor definição de mãe:

Todas as pessoas têm direito a descanso, menos as mães. Para cada tarefa, profissão ou encargo há direito a uma folga, menos para as mães. Se alguma mãe demonstrar a mínima fadiga de ser mãe, haverá logo uma besta, ignorante de limpar baba e de parir, que se oferecerá para a pôr em causa. Não é mãe, não sabe ser mãe, não foi feita para ser mãe, dirá. Mas, se todas as pessoas têm direito a descanso, será que as mães não são pessoas? A culpa é nossa. Sim, a culpa é das mães. Deixámos que fossem os filhos a definir-nos.
Profile Image for João.
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November 28, 2015
Acho que será sempre complicado fazer uma análise a uma obra do José Luís Peixoto (JLP). É o meu escritor preferido e tenho acompanhado a sua obra desde 2003, quando li pela primeira vez "Uma Casa na Escuridão". Com uma escrita única, em cenários como só Peixoto sabe descrever, onde a crueza de uma portugalidade pode ser encontrada nos personagens.

Já li a obra do autor na íntegra. O Livro, que narra partes da história da emigração portuguesa, e este Em Teu Ventre são obras que partem de acontecimentos históricos, ficcionados por JLP. Nota-se a pesquisa; mas uma pesquisa cuidada. Ouvi o autor dizer, em entrevista na RTP3 (desculpem, não encontrei o link!), que a pesquisa é uma coisa perigosa na escrita de ficção. Um autor pode perder-se nessa pesquisa e nunca encontrar (ou pior ainda, nem se aperceber de) o fio à meada da história que quer contar. Mas essa pesquisa não se sente como forçada; aliás, o tema é delicado, pelo caracter religioso e mesmo assim JLP foge a quaisquer questões de fé e foca-se nas relações entre personagens. Daí fazer sentido quando o ouvi dizer, na mesma entrevista, que este livro é sobre mães e filhas. Não tanto sobre as aparições em Fátima que, aliás, nunca são descritas no livro. O foco está na reacção das famílias dos três pastorinhos.

Adorei o livro. Para começar, é do conhecimento geral que existiram três pastorinhos que, de alguma forma, interagiram com a nossa senhora. Mas é um conhecimento superficial porque, no imaginário colectivo, são poucas as pessoas que conhecem a fundo esta questão. E JLP consegue, na sua prosa, emergir o leitor no universo das pessoas em 1917, como eram as casas nessa altura, a postura do senhor prior, os vizinhos, os curiosos. É um livro pequeno que se lê num ápice!
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