Autor vencedor do Prémio Literário José Saramago. Segundo volume da Trilogia dos lugares sem nome, O Paraíso segundo Lars D. é uma narrativa inquietante sobre fazer as pazes com a memória e com os afectos. Numa manhã de Inverno, Lars sai de casa, enxotado por uma dolorosa insónia, e encontra uma desconhecida a dormir no seu carro. Ele é um escritor sexagenário há muitos anos sem vontade de escrever; a rapariga chama-se Gloria e vive os dias conturbados da juventude. Poucas horas mais tarde, Lars parte em viagem com a jovem, deixando para trás um casamento de uma vida inteira e um romance iné O luto de Elias Gro . A mulher de Lars é quem assume as rédeas da narrativa, tal como tentara fazer com a vida do marido, cavaleiro solitário. Refém das memórias, por vezes cómicas, por vezes dolorosas, dos anos vividos com o escritor, a narradora reconstrói uma cartografia emocional do seu casamento, que é afinal um mapa de solidão e de afectos. Com a vida paralisada pela ausência de Lars, o seu caminho cruza-se com o de Xavier, um jovem estudante de Teologia. Juntos, investigarão o paradeiro de Lars e, pelo caminho, explorarão uma certa ideia de Paraíso. Sobre a obra de João «João Tordo explora os seus temas de maneira brilhante (...) interrogando-se, com o seu talento, pelo fantasma do eu ao qual nós, humanos, estamos há tanto tempo agarrados.» Le Monde «Um livro desmesuradamente inteligente que testa os limites da verosimilhança entre a vida e a literatura.» Rui Lagartinho, Time Out (sobre Biografia involuntária dos amantes ) «O Prémio José Saramago merece este criador. E João Tordo faz jus pleno a um prémio que leva a notável chancela Saramago.» Nelida Piñon «Um grande romancista que nos redime do horror, como os grandes mestres, pela força misteriosa da escrita.» António Pedro Vasconcelos, Sol
João Tordo was born in 1975. He has published twenty-one books - novels, crime novels and essays - and received several awards, including the José Saramago Literary Prize 2009, the Fernando Namora Prize 2021 and the GQ Prize. He was a finalist for many other awards, including the European Literary Prize, the Fernando Namora Prize, the Oceanos Prize and the PEN Club Prize. His books have been published in several countries, including France, Italy, Germany, Hungary, Spain, Croatia, Serbia, Czech Republic, Mexico, Argentina, Brazil, Uruguay and Colombia.
João Tordo nasceu em Lisboa em 1975. Publicou vinte e um livros - divididos entre o romance, o policial e o ensaio - e recebeu diversos prémios, incluindo o Prémio Literário José Saramago 2009, o Prémio Fernando Namora 2021 e o Prémio GQ. Foi finalista de muitos outros prémios, incluindo o Prémio Literário Europeu, o Prémio Fernando Namora, o Prémio Oceanos e o Prémio PEN Club. Os seus livros foram publicados em diversos países, incluindo França, Itália, Alemanha, Hungria, Espanha, Croácia, Sérvia, República Checa, México, Argentina, Brasil, Uruguai, Colômbia.
O primeiro livro desta Trilogia dos Lugares Sem Nome não me aqueceu nem arrefeceu, e este segundo volume segue mais ou menos o mesmo caminho.
De obsessões contínuas com este ou aquele livro, com este ou aquele escritor, com este ou aquele crítico literário. Com o sucesso ou o fracasso da tua obra. De manuscritos rasgados e de crises de pânico. Claro que existiram temporadas de alguma tranquilidade. Certíssimo.
"O Luto de Elias Gro", o primeiro volume da trilogia, aqueceu-me o coração e acrescentou o nome João Tordo à lista de autores que quero continuar a ler. Com este segundo volume, "O Paraíso Segundo Lars D.", fiquei de rastos, no sentido menos bom da expressão. Fui, inevitavelmente, levada a comparar os dois volumes e a diferença é notória. Senti, ou devo antes dizer que não senti, que falta sentimento, presente ao longo de todo o primeiro volume, e que tanto me deliciou. Mais estranho foi voltar a encontrar estas personagens e ficar com a sensação de que não eram as mesmas que tinha conhecido anteriormente
Ainda assim, a escrita de João Tordo é suficientemente arrebatadora para atenuar o desagrado sentido. A solidão e a busca pelo sentido da existência, temáticas comuns às várias obras do autor, acabam sempre por resultar bem, ainda que umas vezes melhor do que outras.
"Somos aqueles que chegaram antes de nós e partiremos com todos os que estiveram connosco."
Este livro é o segundo de uma trilogia. No primeiro, "O Luto de Elias Gro", João Tordo faz um corte consigo mesmo: muda a forma, avança para um patamar que não era ainda o seu. Este livro, com uma estrutura completamente diferente da dos anteriores, eleva ainda mais a mestria de João Tordo. Neste segundo livro, talvez por não haver o factor novidade que houve no anterior, o impacto não foi tão forte. Ainda assim, a história traz a mesma carga emocional que nunca abandona a escrita de Tordo. Somos obrigados a sair da nossa zona de conforto, quando somos postos perante gente que se debate com conflitos internos poderosíssimos e não conseguimos ficar indiferentes às angústias que os acompanham ao longo destas 200 e poucas páginas.
A reter: duas páginas magistrais acerca da morte, com uma prosa muito, muito forte, escritas com o coração nas mãos. E uma das mais bem escritas cenas de sexo que já li - o romance não tem nada de erótico, nem puxa ao sexo fácil, mas aquela cena, no ponto em que acontece e da forma como está escrita, é qualquer coisa de sublime.
Aguarda-nos o terceiro volume. E quando terminei este senti, de facto, que falta qualquer coisa para fechar o ciclo. Não sei bem o que é - até porque esta história não é uma continuação directa de "O Luto de Elias Gro", mas sim uma derivação paralela - mas falta uma perspectiva, talvez, para deixar a obra terminada.
O Paraíso Segundo Lars D. é o segundo livro da trilogia Lugares Sem nome, mas é uma obra que pode ser lida de forma independente.
Lars é um escritor sexagenário que, mesmo estando casado, vive atormentado pela solidão. A narradora é a esposa e é através da sua convivência com o vizinho e estudante de Teologia, Xavier, que vamos conhecendo conhecendo Lars. Entre o passado e o presente, vamos sendo testemunhas de diálogos fascinantes e reflexões profundas. É uma história sobre solidão, perda, sonhos e desejos. Há várias partes nesta obras que nos deixam a pensar e até inquietos.
Recomendo este livro a quem já tenha lido alguma da obra do autor.
*spoilers warning* O paraíso de Lars D é a morte, porque não consegue encontrar consolo nos outros. Enquanto a morte não chega, revela a imundice dos homens (com letra minúscula). É uma história de uma voz masculina gritante, mesmo se narrada na maior parte por uma personagem feminina (uma anedota de género). Desilude, especialmente porque constitui o segundo volume da Trilogia dos Lugares sem Nome, iniciada por um dos meus livros preferidos, o Luto de Elias Gro (elevada fasquia, bem sei). Pessoalmente, achei a narrativa bastante inferior (e até desconfortável em conteúdo).
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A O Luto de Elias Gro segue-se O Paraíso Segundo Lars D. Tinha consciência da dificuldade que seria igualar o prazer que senti ao ler o primeiro e, portanto, preferi manter as expectativas baixas. Enfim, não propriamente baixas, pois na verdade as expectativas eram altíssimas, ou não fosse um livro do João Tordo, mas tentei não me deixar levar pelo entusiasmo e pelo desejo de me envolver da mesma forma. E fiz bem. Gostei mais de O Luto de Elias Gro. Mas a continuidade ou, talvez, a sensação de regresso fizeram com que me envolvesse de igual forma. Talvez até tenha sido embalada, sim, julgo que a palavra é essa, embalada pela beleza do ambiente sombrio, melancólico e soturno para onde Tordo me leva. Ao invés de medo, sobressalto, angústia, insónias, como alguns leitores que partilharam opiniões comigo viveram, eu senti-me alerta, viva, feliz. Não porque goste que as personagens sofram ou lamentem a sua sorte, mas porque é muito raro ler um livro que apaga tudo, um livro que, quando se abre se torna tudo o que existe. Sim, posso ter gostado mais das personagens do primeiro livro, ou até do rumo da narrativa, mas quando me apaixono assim pelas palavras, todas as histórias são belas. E gosto dos diálogos. Muito. São uma espécie de transferências imperceptíveis sem início anunciado mas intuitivos e fáceis de identificar. Tenho de falar da voz. Sim, a voz deste livro é a mulher de Lars, o escritor do Luto de Elias Gro. É uma voz que cresce, que parece estar na sombra do marido até ao dia em que ele vai embora com uma rapariga que acaba de conhecer. É uma voz que ganha identidade na solidão, que se encontra, avança e recua. Que desaparece para a segunda parte em que o narrador revela o que pode ter acontecido (ou aconteceu mesmo?), e que regressa para, até ao fim do livro tentar descobrir se o que encontrou era o que procurava. “É possível que todos os livros sejam inúteis, se lemos para nos esquecermos de nós, para debelarmos a ferida de existir. Se formos previdentes, os livros também nunca nos magoam. Salvem-se de ler Kafka de madrugada, ou Virgínia Wolf se estiverem internados com uma pancreatite. As pessoas, sim, essas magoam-nos: são uma dádiva mas também agravam a nossa ferida, escarafuncham nela e fazem-na sangrar.” (Pág. 15); “Dizemos que a solidão é estarmos sozinhos, mas a solidão é uma presença fortíssima de nós próprios nas coisas que nos rodeiam. Olha aqueles vasos na varanda despidos de plantas, olha as almofadas desarrumadas em cima do sofá, olha a fotografia de família na cómoda junto da cama e o espaço sem ninguém, os lençóis franzidos, tudo isto somos nós, tudo isto respira a nossa respiração e é dotado dos nossos sentimentos, por isso nunca estamos sozinhos, quando muito estamos cheios de nós, e é isso que a solidão faz, enche tudo com a nossa presença e, se acaso nos apanha melancólicos ou derrotados, então tudo é melancolia e derrota, sem mais ninguém para dotar as coisas de uma outra cor.” (Págs. 36 e 37);
Hmm... Não sei muito bem que classificação dar a este livro.
Gostei mais d'O Luto de Elias Gro. Não que tenha achado este livrinho de 207 páginas inferior, nada disso. É só que não me provocou tantos sentimentos como o primeiro.
Daí menos uma estrela.
A história narrada é intrigante e fiquei algo surpresa com a ligação ao primeiro livro. Confesso que não estava à espera, pensei que seria outra coisa. Quero também registar que o livro começa de uma forma inesperada. Comecei a ler na Sexta à noite e não pude deixar de me rir.
Agora que venha o último livro desta trilogia de João Tordo. Já haverá data de publicação?
3/5* PT~ Sinto que preciso de mais uns quantos anos em cima para ler este senhor. Ou talvez de reler várias vezes as suas obras pois sinto que não tenho a maturidade intelectual suficiente para absorver tudo o que João Tordo deixa nas suas páginas. À semelhança de O Luto de Elias Gro a história de Lars D, narrada pela sua esposa é apenas um contexto para outros pensamentos tomarem a liderança e passarem uma mensagem. Tal como descrito na sinopse este livro acaba por ser um "mapa de solidão e de afetos" tanto por parte de Lars que aqui se apresenta como alguém que procura a solidão e a dor talvez como caminho para chegar ao paraíso, e a sua esposa que por consequência vive na ausência espiritual e emocional do marido durante anos. Senti também a narrativa muito mais agressiva e sem pudor. Para além de uma grande solidão, Lars tinha também um grande desejo sexual. Infelizmente não me consegui ligar tanto a esta história como à de Elias (apesar de achar a personagem de Lars super interessante) porque me senti mais interessado na história do que propriamente nos profundos pensamentos e filosofias escritas. Talvez não o tenha lido em boa altura. Apesar de tudo, não deixo de homenagear a lindíssima escrita do João que mais uma vez em várias ocasiões me deixou de livro pousado e olhos fechados a saborear frases que me fizeram muito sentido por esta razão ou aquela. Não consegui perceber o que é o Paraíso segundo Lars D. mas espero ler mais uma vez este autor pois sinto que tem muito para me ensinar sobre pensar a vida!
EN~ I feel like I need a few more years to properly read this author. Or maybe reread several times because I feel like I do not have the intelectual maturity to absorb everythis that João Tordo leaves in his pages. Similarly to O Luto de Elias Gro the story of Lars D, narrated by his wife, is just a context in order for other thoughts to take leadership and give a message. Just like the synopsis says this book is a "map of solitude and afection". Lars in this narrative is a character that pursues solitude and pain perhaps in order to achieve true paradise? And his wife in consequence lives in the spiritual and emotional absence of her husband for years. I felt the writting more agressive and without pudency. In addition of a great loneliness inside, Lars also had a great sexual desire. Unfortunately I couldn't connect as much with this as I did with Elias' story because I felt more interested in the story and what was happening than in the deep thoughts and philosophies written in between. Perhaps I didn't read this in the right time. Regardless, I can´t stop praising João's beautiful writing which once again in several times left me with my book and eyes closed, savouring phrases that rang deep within me for this reason or another. I couldn't grasp what was Paradise according to Lars but I hope I can reread this author again because I know he has a lot to teach about thinking life!
Advertência: a pausa de leitura entre o primeiro e este segundo livro, da Trilogia dos Lugares Sem Nome do João Tordo, durou mais de um ano. Quem lê muitos livros, acaba por ver a história de algumas obras desvanecida na memória. Foi o que me aconteceu com “O Luto de Elias Gro”: os pormenores e algumas personagens encontram-se desvanecidos pelo tempo que passou. Entrar neste “Paraíso Segundo Lars D.” foi como entrar num novo universo.
Qualquer um destes livros do João Tordo pode ler-se de forma independente, tal como me aconteceu (quase, digamos). Podem existir personagens do mesmo universo, com as atitudes e comportamentos, mas podem ser conhecidas, pela primeira vez, em qualquer uma das obras. Neste “Paraíso Segundo Lars D.”, conhecemos um escritor atormentado pela solidão. Com uma vasta obra de livros publicados num determinado tempo de vida, conhecemos um Lars confinado às paredes da sua casa e a um universo de dia-a-dia, em que os êxtases aconteciam sempre que se envolvia numa disputa com os vizinhos. É aos olhos da sua esposa que começamos a conhecer a sua história, à medida que vai convivendo com o seu jovem vizinho, Xavier, estudante de Teologia em Lisboa.
O mais poderoso neste livro é a presença de Deus e o estudo das religiões, nas conversas entre a esposa de Lars e Xavier, com o tormento do desaparecimento de Lars a apoderar-se desta mulher. De uma forma suave, sem que aparentemente ninguém suspeite. Lars desapareceu com uma jovem rapariga, que apareceu a dormir no seu carro, a sua esposa não sabe dele. Em cima da secretária deixou um manuscrito inédito, após tantos anos sem escrever, com o título “O Luto de Elias Gro”. Este é um livro sobre o que nos torna realmente humanos, sem reviravoltas no enredo, em que basta a escrita de Tordo para cativar o leitor.
Sem palavras com este livro. Não sei se alguma vez li tanto sentimento ou se voltarei a lê-lo. Uma obra prima. O meu favorito até agora do João Tordo e um dos meus favoritos de sempre. Mal posso esperar por ler o terceiro desta trilogia magnífica.
O segundo livro da trilogia dos Lugares sem nome não tem o mesmo encanto e fascínio do primeiro. Mas não deixa de ser um diamante em bruto, uma obra mística repleta de pensamentos existenciais. É uma narração que pode ser lido como livro independente. Não tem uma ligação direita com o livro interior. O tema solidão é frequente , tal como havia sido no anterior, intercalado com o esquecimento e a ausência. A busca pelo eu e o sentido da existência acompanham a jornada das personagens. Tanto Lars, a sua mulher e o vizinho Xavier tentam encontrar o seu "paraíso".
O enredo da história desenvolve-se em torno do desaparecimento de Lars, um escritor isolado que procura um motivo para viver em eterna solidão. O seu desespero o levo numa viagem com Gloria, uma rapariga jovem que encontra no seu carro, pelo qual desenvolve uma relação mais intima. A sua mulher tenta viver com a sua ausência, procurando conforto nas conversas com Xavier, estudante de teologia, que a leva ao encontro de Deus. É a mulher do escritor que tentara descobrir o que aconteceu com Lars.
"Dizemos que a solidão é estarmos sozinhos, mas a solidão é uma presença fortíssima de nós próprios nas coisas que nos rodeiam"
" Gotejar é uma maneira de Deus nos dizer que está presente"
"Somos aqueles que chegaram antes de nós e partiremos com todos os que estiverem connosco"
A velhice demonstrada em Lars e a mulher, e a juventude em Gloria e Xavier serve de oposição entres as personagens e reflectir sobre o modo como vivemos. Lars sente-se atraído pela juventude de Gloria. Xavier prefere a companhia da mulher de Lars, pois considera que as mulheres da sua idade procuram apenas uma vida de vícios e diversão. Chegando a conclusão que tanto velhos como novos vivem satisfeitos.
"O paraíso segundo Lars D." é um romance sem uma narrativa linear contada através de duas vozes solitárias que procuram sentido nas suas vidas imperfeitas. Lars representa uma figura incompleta dos personagens que criou. A mulher é a responsável pelo seu legado, o seu romance inédito "O luto de Elias".
Percebi que entrei a meio de uma trilogia, o que não favorece a apreciação. Gosto da escrita do João Tordo, não nego. Por isso dou 4 estrelas. Mas fiquei desiludida com o livro enquanto mulher porque não gostei das duas formas como nos retrata. Uma, jovem mulher que não é vista como mais que objeto. Outra, velha mulher desalentada, já longe de ser objeto. Enquanto leitora de meia idade não preciso nem aprecio que o escritor ponha o dedo na ferida da diferença entre homens e mulheres que envelhecem...
Quando li O Luto de Elias Gro, primeiro livro da trilogia dos Lugares Sem Nome, referi que esta era a mais bonita obra do João Tordo que já tinha lido. Com este segundo livro, a beleza da escrita mantém-se, a narrativa triste e angustiada permanece. Também este se debruça sobre o tema da solidão, do silêncio, do isolamento da personagem, mas, que desta vez, se dedica à escrita como forma de existir e de combater a doença que o vai minando. Lars é escritor e quando desaparece de casa deixa um livro por publicar. Trata-se de O Luto de Elias Gro.
É pela voz da mulher que vamos conhecendo Lars e tomando conhecimento deste silêncio, do vazio de afectos que se estabeleceu na vida conjunta: “Nunca conheci um homem que tivesse tantos ossos à flor da pele; a verdade é que não conheci muitos homens intimamente, e que este me bastou para uma vida inteira de perplexidade. Como não ficar perplexa perante um sujeito que luta pelo silêncio e pela solidão como quem luta pela pátria? “ .
É ainda ela que na ausência do marido refere a Xavier, seu vizinho mais jovem, que “Os últimos livros do meu marido são um progressivo chamamento ao silêncio”. Ela que nunca se intrometeu no silêncio do marido, que nunca reclamou a sua presença, que sempre aceitou esta forma de existir, vai aproximar-se de Xavier e expor as suas dúvidas e os seus estados de alma.
Apesar de ser o segundo livro de uma trilogia, não requer a leitura prévia do anterior. Tal como o primeiro, trata-se de um livro intenso em que predominam os sentimentos, as emoções, o questionamento.
Desilusão. É a palavra que melhor define a leitura deste livro do meu autor Português preferido. Depois do brilhante “O luto de Elias Gro” que, supostamente terá sido escrito pelo protagonista deste - Lars D, compreendo que seria difícil manter o nível. No entanto este “O paraíso segundo Lars D.” revelou-se um livro fraco em conteúdo, numa toada ensaística acerca do sentido da vida, e estruturalmente confuso com capítulos narrados pela esposa de Lars onde se misturam narrativas e suposições. Tem três estrelas porque me custaria imenso dar duas a João Tordo. Lê-se no contexto da trilogia, caso contrário seria de passar.
Não iguala a intensidade que senti ao ler "O luto de Elias Gro" mas é sem dúvida uma obra igualmente excelente. João Tordo tem-se tornado num dos meus escritores favoritos. É sempre prazeroso voltar a lê-lo, consigo sempre desligar-me de tudo à minha volta e apenas estar com as suas personagens, sentindo que também eu poderia ser uma delas.
"(...) se fosse Deus a encontrar-nos, então Deus devia ser isso, concluí, no final do filme (...) essa doce memória da passagem das coisas, do lugar que não tem regresso, ao qual nunca mais voltaremos, pois nunca mais a juventude tornará a ser aquela hora intocada, sem mágoa nem alegria, sem lamento nem esperança. Viver a plenitude é outra coisa. (...) a felicidade não pode ser um estado emocional, mas a aceitação plena de todos os estados. O problema (...) é que uma porta, uma vez aberta, dá para os dois lados. (...) concluí que os mortos e os vivos eram interdependentes, de tal maneira ligados que os vivos tomavam conta das coisas dos mortos, dos seus afazeres interrompidos (....) e os mortos levavam consigo as coisas que os vivos careciam, a sua presença e amor, as suas vozes, nada mais precisamos dos outros. Somos aqueles que chegaram antes de nós e partiremos com todos os que estiveram connosco. (....) alguém que ainda ia a tempo, que guardava uma extraordinária semelhança com os vivos, com a nossa humanidade e vergonha, com o nosso júbilo e a nossa miséria (...). Somos tão estúpidos acerca de nós próprios. É por isso que precisamos dos outros, para que nos apontem as evidências mais evidentes; para que nos levem pela mão quando deixarmos de olhar fixamente para a boca-de-incêndio."
(PT) Numa manhã de inverno, Lars, um escritor, sai de casa e quando chega ao seu carro, encontra uma mulher jovem, Glória, a dormir no seu carro e o traz para casa. Pouco depois, quando a leva para a estação de comboios, decide continuar com ela no carro, partindo para destino desconhecido, sem dar noticias à sua mulher.
Nos papéis que ela remexe, descobre que escreveu um romance novo, ao que deu o nome de "O Luto de Elias Gro", e ela conta a história da sua relação, das suas fobias, da vida e do significado de Deus e do Paraíso, entre outras coisas, ao seu jovem vizinho, Xavier, um estudante de Teologia.
Como seguimento do "O luto de Elias Gro", fica um pouco aquém das expectativas. João Tordo têm esse efeito em mim. Livros muitos bom, histórias que se agarram á nossa pele, e depois vem um ou outro que ficam aquém das minhas expectativas. Assim aconteceu com este "O Paraíso segundo Lars D."
TW: Referência a Crueldade Animal, Suicídio, Doenças Terminais; Linguagem Explícita
O Paraíso existirá mesmo ou será apenas um subterfúgio da nossa realidade? Neste segundo volume da trilogia dos Lugares Sem Nome, acabamos por refletir sobre isso e sobre os efeitos que a solidão tem em nós e em todos aqueles que nos são próximos.
Confesso que não me relacionei tanto com os protagonistas, mas a carga emocional da narrativa é extraordinária, uma vez que somos quase implicados nos debates internos das personagens - debates que, mais tarde, também são fonte de medo, de angústia, de desnorte. Achei particularmente curioso o jogo que há ao longo destas páginas, numa constante dança entre o desencanto e o deslumbre, entre o desinteresse pela vida e a chama que nos impulsiona a continuar.
Vivemos nestas palavras como Lars procurava viver nas suas histórias - publicadas e por publicar -, sempre à procura de um sentido, sempre a tentar encaixar todas as peças, sempre a encontrar formas de apaziguar inquietações e silêncios que nos fragmentam, até ao dia em que uma insónia nos pode levar para longe.
João Tordo guia-nos em mais uma expedição ao interior de almas atormentadas. No fundo, aquelas que não se satisfazem com a existência, procurando, denodadamente, compreender o sentido da vida.
Esta viagem a um território tão conhecido de Tordo - não tem saído deste mundo em toda a obra - faz-se através da voz e da reflexão de uma voz feminina. E faz-se com uma escrita densa sem deixar de ser escorreita. Repetindo-se no âmago da sua escrita - a eterna procura de respostas existenciais - João Tordo vai introduzindo novidades na forma, na sua "voz" enquanto autor. E a literatura é isto: forma e conteúdo. A sábia conjugação das duas é a arte dos grandes escritores. João Tordo revela-se um escritor cada vez melhor.
Lê-se de um fôlego. É profundo sem ser pretensioso. Promete e cumpre que nos percamos em nós próprios para nos podermos encontrar mais tarde, ou não. João Tordo é um escritor de interioridades, da dor humana e de tudo quanto nisso há de ridículo. E ri-se connosco, esparramado num cenário trágico. A forma como olha para as pequenas coisas confere um ambiente imersivo aos seus cenários. Gostamos de lá estar porque tudo tem significado e tudo dá de beber à dor. E encontramo-nos sempre nas suas personagens, somos um pouco aquele louco ou aquela mulher de meia-idade, somos ou fomos uma adolescente insuportável, somos a morte que se senta à mesa connosco. Por isso, não julgamos. Rimo-nos. E choramos. Não é tudo o que se pode esperar dum bom livro?
João Tordo não voltou a desiludir neste seu mais recente "O Paraíso Segundo Lars D.". O segundo livro da trilogia iniciada o ano passado com "O Luto de Elias Gro" pega nos temas da solidão e da procura do eu e desenvolve uma história intensamente filosófica que não vai deixar (nem deixa) ninguém indiferente.
"Somos aqueles que chegaram antes de nós e partiremos com todos os que estiveram connosco."... " Dizemos que a solidão é estarmos sozinhos, mas a solidão é uma presença fortíssima de nós próprios nas coisas que nos rodeiam. "Viagem à memória e ao tempo perdido em busca do paraíso.