Vencedor do Prêmio SESC de Literatura 2015 na categoria Contos.
As doze mulheres retratadas nos contos de Marta Barcellos se defrontam com uma mesma impossibilidade: a de engravidar e corresponder a uma figura maternal idealizada. Marta costura essas histórias com uma linguagem eficaz, ao mesmo tempo pungente e delicada, incitando o leitor, fascinando-o e conduzindo-o por contos que giram em torno da classe média alta e seus códigos; da promessa de felicidade que não se cumpre em padrões de consumo e aparências; da urgência e do mal-estar de se viver em uma sociedade de contrastes. Antes que seque nos surpreende com profundas reinvestigações do que pode ser o ato de contar um conto: inventivas releituras de uma forma aparentemente inesgotável.
Uma seleção interessantes de contos em que as personagens femininas são protagonistas, com frequência em questões associadas à maternidade (as que querem engravidar, as que perdem o filho, as que abortam, como no pesado "Contradança", as que têm problemas com a filha adolescente, entre outras). Também há contos que tratam da diferença de perspectivas das mulheres e de seus parceiros, os tais homens, com destaque para "Bodas de porcelana", um dos que mais gostei.
São contos curtinhos, pode-se ler com rapidez. Achei, porém, que houve casos em que os finais dos contos não foram dos melhores, pois houve impressão de que haveria "mais" a se contar. Mas a leitura é válida e oferece uma perspectiva importante.
O mundo de hoje tem vários problemas, mas me agrada saber que muitas meninas agora não crescem mais com o dizer "tem que casar e ter filhos ou vai ficar velha e seca". Esse dito é o tema central dessa coletânea de contos que prima pela ótica feminina - o que não quer dizer necessariamente feminista - e mesmo os poucos episódios dados aos homens ainda assim retratam o mundo delas.
São histórias curtas, rápidas, que ainda assim trazem aquela sensação de sufocamento que um mundo atarefado e cheio de expectativas provoca. A escrita se metamorfosea para cada personagem, são vozes retratadas com seus próprios tiques e sotaques.