como pano de fundo uma aldeia condenada a ficar submersa pelas águas de uma barragem,cinco narradores falam de si,completando, à medida que o fazem,uma história a que só o leitor terá direito.
ROSA LOBATO DE FARIA nasceu em Lisboa, a 20 de Abril de 1932. Estreou-se nas letras com o volume de poemas Os Deuses de Pedra (1983), tendo publicado depois As Pequenas Palavras (1987), Memória do Corpo (1992) e A Gaveta de Baixo (1999). Ficcionista, publicou O Pranto de Lúcifer (1995), Os Pássaros de Seda (1996), Os Três Casamentos de Camila S. (1997), Romance de Cordélia (1998), O Prenúncio das Águas (2000, Prémio Máxima de Literatura), A Trança de Inês (2001), O Sétimo Véu (2003), A Flor do Sal (2005), A Alma Trocada (2007), A Estrela de Gonçalo Enes (2007), As Esquinas do Tempo (2008) e Vento Suão (obra póstuma, 2010). Publicou ainda a peça de teatro Sete Anos – Esquemas de um Casamento (2002), vários volumes infanto-juvenis e colaborou nas revistas O Autor, O Mundo Feminino e Máxima. Faleceu em Lisboa, a 2 de Fevereiro de 2010. Foi condecorada pela Presidência da República, a título póstumo, com o Grande-Oficialato da Ordem do Infante D. Henrique, em 2010.
Nunca tinha lido nada desta autora e, se não fosse a Paula com a sua recomendação e a minha parceira de crime, Cristina, alinhar na leitura, acho que não leria nada da Rosinha tão cedo. Obrigada! :-)
Gostei deste Prenúncio das águas, inspirado na barragem do Alqueva, que inundou uma aldeia para que o sul pudesse ter uma reserva de água à disposição. Conhecer a aldeia de Rio dos Anjos, com os suas histórias e lendas e as personagens de diferentes origens e estratos sociais foi uma experiência boa. A certa altura, fez-me lembrar um enredo novelesco, com tantas mulheres interessadas num homem rude do campo, e queria saber como a autora ia desatar esse nó. Foi uma leitura prazerosa e divertida.
Há muitos, muitos anos descobri Rosa Lobato de Faria. Descobri o quanto a sua escrita ressoa comigo, quanto da minha voz é também dela. A escrita da Rosinha é extraordinária. As suas histórias têm uma fluidez, uma naturalidade muito portuguesa encatadora. "O Prenúncio das Águas" não é excepção. É uma história caricata, cheia de personagens fortes e marcantes como é seu hábito, que me prendeuj desdo o início. Acabei o livro em dois dias, faminta pelas palavras.
Que excelente leitura! O nível de escrita da autora já não me surpreende. Já tinha lido de Rosa Lobato de Faria o romance Os Três Casamentos de Camilla S. e, embora o tema e a história desse livro não me tenham encantado, ficou para mim evidente que a autora era um talento singular na arte de trabalhar as palavras.
Ainda assim, creio que não teria regressado a esta autora se não fosse o desafio lançado pela minha amiga e companheira de leituras, Fátima Linhares. Foi com ela que li esta obra e com quem partilhei impressões e emoções; a ela agradeço a experiência grandemente enriquecida pela sua companhia.
Este livro reúne o melhor de dois mundos: uma escrita de grande qualidade e uma história cativante. O tema é fortíssimo: o iminente desaparecimento de uma aldeia submersa pelas águas de uma barragem. A aldeia, a sua história, as suas maldições e lendas pagãs, as crenças religiosas, a memória colectiva, os seus mortos... tudo prestes a ser engolido. E o seu povo, arrancado em vida para uma nova aldeia que se promete igual, mas que nunca o poderá ser.
Se, por vezes, o enredo se aproxima mais do registo de “novela de tv”, essa sensação é compensada por momentos de belíssima prosa. A autora constrói uma multiplicidade de narradores a quem sabe dar vozes distintas e consistentes, o que enriquece ainda mais este texto.
Para dizer a verdade, não estava nada à espera de apreciar este livro tanto como apreciei.
"O Prenúncio das Águas" conta a história de Rio dos Anjos, uma pequena aldeia alentejana condenada a ficar submersa pelas águas de uma barragem.
Através do testemunho de cada um dos cinco narradores, vai-se construindo um panorama de amor, ciúme, traição e vingança, à medida que a aldeia caminha para um fim inevitável.
Aqui encontramos um vasto leque de personagens que por um lado traduzem um pouco daquilo que podemos encontrar num meio tão pequeno, como a idosa supersticiosa e cheia de histórias para contar, a emigrante retornada à pátria, o médico vindo da cidade grande, o típico homem adúltero, a mulher traída, a criança negligenciada e por aí fora.
Por outro lado, todas estas personagens são maravilhosamente disfuncionais à sua maneira e, de certo modo, conseguimos identificarmo-nos melhor com elas por essa mesma razão.
Tudo o que fazem ou dizem é resultado dos vícios e paixões tão conhecidos à espécie humana.
Esta obra trata-se de um fresco painel sobre o quotidiano de uma pacata aldeia alentejana, ameaçada pela construção de uma barragem, condenando-a à destruição. Escrito numa prosa lírica (em minha opinião, apenas comparável a Vergílio Ferreira), este romance é caracterizado pela leveza e simplicidade da acção mas, simultaneamente, encontra-se povoado por personagens de um carácter muito forte e vincado como é o caso de Sebastiana, Zé Nunes ou das irmãs Matias Branco.
Foi com este livro que descobri o fantástico mundo ficcional de Rosa Lobato de Faria, aconselhando a leitura deste e outros romances desta grande senhora das letras portuguesas, dotada de uma imaginação luminosa e envolvente, que decerto agradará aos mais exigente dos leitores.
Qual Elena Ferrante, qual quê! ROSA LOBATO DE FARIA! A melhor, a mais acutilante, erudita, intuitiva, espirituosa, inteligente, mundana, exclusiva, surpreendente, excelente escritora! Leiam tudo, tudo dela. Não deixem nem uma migalha. E depois, exultem de prazer.
Como não venerar o talento esplendoroso da autora, livro após livro, surpresa após surpresa? Livros da Rosinha? Dêem-me todos. Vou construir um castelo. “Eu sei que te chamavas Marina Rosa, comias o peixe com talheres de carne e tratavas a tua avó por tu. Mas essas fragilidades pequeno-burguesas eram desvalorizadas pela magnificência do teu corpo de deusa, as tuas carícias excessivas, os teus orgasmos sacrificiais. O meu sangue ama-te ainda quando o meu coração já te esqueceu”. “Isto cá em casa não é bem uma família, é mais uma peça de Tchekov. Vivemos, as minhas irmãs e eu, paradas no tempo à espera. De quê, pergunto-me. À espera que os dias passem, que o Pedro cresça, que o Zé Nunes morra, que as águas subam.”
Li pela primeira vez em 99, mais tarde fui à aldeia da Luz e acabou por se cruzar com o romance. Sabia que tinha gostado do livro... Lembrava-me do início mas de resto tinha esquecido Por isso foi como ler pela primeira vez e gostar novamente muito. As histórias que se interligam, a força dos personagens, as narrativas na primeira pessoa e nós termos de adivinhar quem é... É uma forma muito interessante de envolver o leitor. Foi uma releitura excelente
Fã incondicional da escrita da Rosa. Tão poética, lírica e bonita. A senhora tinha um dom. Tenho a sensação que gostaria imenso de a ter conhecido. Fico com pena de já não ter muitos livros dela por ler porque acho mesmo que é uma das grandes escritoras portuguesas. Este livro fala do prenúncio de um fim que traz consigo sempre algo novo.
Comecei a ler Rosa Lobato de Faria muito nova e apaixonei-me pela forma como escreve e pensa. Esta aldeia - Rio dos Anjos - vai ficar para sempre na minha memória, não só porque nos descreve um Alentejo muito real mas porque me fez sentir na minha terra, que por coincidência é citada neste livro e me deixou ainda mais derretida. As personagens são boas, a história é incrível e a escrita é a Rosinha. Agora só me faltam 4 livros dela e vou ler muito devagar para os poupar.
Simplesmente lindo! Já me tinha aconselhado esta autora, mas não sei porquê sempre tive alguma renitências em relação a ela... Fiz mal!
Tem uma escrita melodiosa que nos envolve da primeira à ultima linha. No desenrolar da história e nos relatos de vida dos vários personagens descobrimos lendas, costumes do Alentejo, as suas vivencias e apercebemo-nos também dos sentimentos de toda a população em relação ao facto de deixarem a aldeia Rio do Anjo para esta ficar submersa pelas águas da barragem.
Foi um história que me cativou desde inicio talvez porque eu própria fui à verdadeira "Rio do Anjo" (Aldeia da Luz) e pude sentir o estado de espirito da população... e até mesmo dos visitantes como eu. Ao olhar a Igreja, o Pelourinho e a pequena fonte que havia no centro da Praça Principal, os bancos do Jardim... como era possivél que tudo aquilo fosse ficar debaixo de água! Enfim... Voltando ao livro, gostei mesmo muito e a Autora é mais uma a acrescentar à lista.
Foi super rápido a história prega-nos ao livro e não paramos até terminar. O livro segue 5 narradores de uma aldeia alentejana que vai desaparecer porque estão a contruir uma barragem e as águas do rio vão subir e submergir a aldeia. O meu narrador preferido foi a Sebastiana. As histórias e lendas e a maneira de pensar e ver...gostei imenso. Para além que acho interessante ver a perspectiva de uma pessoa muito mais velha (se calhar neste género é habitual seguir pessoas mais velhas, mas como normalmente eu leio fantasia, é bastante raro seguir pessoas muito mais velhas, dos 60 para cima). O drama da aldeia mais os pessoais das pessoas da aldeia, foram interessantes. Não entendo como tanta mulher caiu no goto do Zé Nunes, não me parece convincente. Ou se calhar nunca conheci um homem desse género. Como gostei bastante deste livro, sou capaz de experimentar outros livros da autora.
Já há alguns anos que sabia que a Rosa Lobato de Faria (que conhecia das novelas) tinha escrito alguns livros. Mas nunca tinha sequer considerado lê-los. Sim, eu sei, preconceito!! E que surpresa tão positiva tive agora quando finalmente me decidi a experimentar!
Gostei muito da escrita e da estória deste livro. Esta é uma estória contada a várias vozes sobre uma aldeia alentejana que vai ficar submersa pelas águas de uma barragem (a la “Aldeia da Luz”). Aos poucos ficamos a conhecer a estória das várias vozes, peça a peça, até a subida das águas.
Creio que já o tinha lido e aos poucos, fui recordando a história, cheia de simbolismos, mitos, lendas, tradições, como eram regidas as vidas das pessoas das aldeias. Cada aldeia criava a sua identidade através dessas lendas e superstições, criando tradições específicas. Acaba por abordar também até onde as pessoas são capazes de ir pelas suas crenças e modos de vida. O que torna a história ainda mais interessante é a forma como foi escrita, que nos permite imaginarmos claramente a fluidez e entoação das falas e gestos dos aldeões nos diálogos e discursos individuais.
Gostei muito! Um estilo diferente! Uma história que surpreende em cada novo capítulo que se lê. Um cenário que não é vulgar e que nos faz ver que não deve ser realmente fácil ser transladado para uma aldeia nova, construída de origem, enquanto aquela onde se viveu toda a vida é "afogada", junto com muitas lembranças.
I loved the writing. Mystical and compelling, it captures the magic of life in a portuguese small village in a way that's familiar and fantastical at the same time. But while the writing is completely captivating, the story itself - not so much. I didn't much care for the characters and their story arc, nor was I interested in what happened to them in the end. Nevertheless, a very worthwhile read.
É um excelente livro que veio ao encontro do que eu esperava. Envolve-nos nas vidas das várias personagens e sinto empatia com uns, aversão por outros e ainda indiferença por outros. Uma grande senhora, Rosa Lobato de Faria. Uma excelente escritora. Agora só relendo pois a sua obra está toda lida.
Gosto tanto de Rosa Lobato Faria. Gostei muito deste livro, das histórias das diferentes personagens e da aldeia. Do nada é o que parece e dos diferentes tipos de amores e amizades que podem existir nas nossas vidas, dos prenúncios de desgraça e das lendas que sempre carregam pontos de verdade. Ela escreve muitas vezes como poema em prosa. Recomendo muito.
Another pleasant surprise, another Portuguese author I'd never read before. Beautiful prose, but at the same time, with harsh dialogues that rings so real it's impressive. She sometimes reminded me of Rentes de Carvalho with his great stories of rural Portugal. Great characters and a good story. More books by this author will definitely follow. I'm already a fan! 4 stars
Não posso dizer que tenha gostado. Eu entendo o que a autora estava a tentar fazer, mas na minha opinião não o alcançou e ficámos só com uma pequena história cheia de pontas soltas e de personagens-estereótipo
A minha ideia ( e o Ivo concorda) é que ao ressuscitar os mitos da aldeia estamos a preservar a integridade cultural que nos torna um grupo específico, um povoado que não o é apenas por razões geográficas, mas pelas fundas raízes da tradição e do sonho. Não sei se faço justiça, mas fazemos mitologia. Às vezes ainda sou jornalista e é nessa qualidade que estou a lutar para que, ao submergirem o corpo da aldeia, não afoguem de vez a sua alma."
"... o certo é que aqui se trata mesmo do fim do mundo e a palavra água, que os poetas sempre rimaram com mágoa, toma aqui proporções de dor, espanto e desespero que faz de todos nós uma população moralmente afogada."
"Tornei-me dependente das visitas nocturnas do Zé Nunes, enquanto, durante o dia amava, com um amor talvez cerebral, mas tão doce que me enfeitava o coração, o meu professor Ivo Durães."
Não tenho palavras para descrever o que a escrita de Rosa Lobato Faria me faz sentir. É uma autora que nunca desilude. Este livro está entre os meus preferidos.
agora, que tudo está consumado, não sei se tinha razão.
este livro conta a história de rio dos anjos, uma aldeia alentejana destinada a ficar submersa pela água de uma barragem. narrada por cinco pontos de vista diferentes, cada um dando o seu testemunho, que abrange as suas vidas, o seu passado, presente e futuro, relatando amores, traições, vinganças, à medida que a aldeia se aproxima do sue inevitável e inescapável destino.
apesar de não ser um dos meus preferidos da autora é, ainda assim, uma leitura agradável.