Jump to ratings and reviews
Rate this book

Hospício é Deus

Rate this book
Esgotados há anos, o diário Hospício é Deus (1965) e a coletânea de contos O sofredor do ver (1968), de Maura Lopes Cançado, são relançados pela Autêntica em edição especial, reunidos em uma caixa e acrescidos de um perfil biográfico, escrito pelo jornalista Maurício Meireles. Maura, que ambicionava ser a maior escritora da língua portuguesa e que já na adolescência pilotava aviões, saiu do interior de Minas Gerais para Belo Horizonte e, na década de 1950, mudando-se para o Rio de Janeiro, passou a conviver com poetas, artistas e intelectuais, sobretudo do mundo literário. Aclamada como grande revelação da literatura brasileira em seu tempo, sua obra é fortemente marcada por sua experiência como paciente de hospitais psiquiátricos em Minas e no Rio de Janeiro. Entre romances, escândalos e diversas internações, Maura Lopes Cançado publicou, na década de 1960, seus dois livros, que a tornariam uma das autoras mais comentadas da época. Internada – por vontade própria – inúmeras vezes ao longo da vida, Maura encontrou nas palavras uma maneira de se relacionar com sua doença e sua condição de paciente psiquiátrica.

230 pages, Paperback

First published January 1, 1965

16 people are currently reading
410 people want to read

About the author

Maura Lopes Cançado

5 books7 followers
Maura Lopes Cançado foi uma escritora brasileira.
Passou a infância no interior de Minas Gerais. Estudou no colégio Sacre-Coeur de Marie e, aos 14 anos, fez parte de um aeroclube, onde conheceu seu marido, um jovem de 18 anos, filho do comandante do batalhão da Polícia Militar da cidade. Aos 15, teve seu único filho, Cesarion Praxedes, que se tornou escritor e jornalista. Separou-se do marido pouco depois do nascimento do filho. Aos 18, internou-se voluntariamente em um sanatório para doentes mentais.
Chegou ao Rio de Janeiro aos 22 anos. Queria ser escritora e, após mandar seus contos para escritores e jornalistas, começou a publicá-los no Jornal do Brasil e no Correio da Manhã. Durante a década de 1960, publicou seus dois únicos livros O Hospício É Deus (1965), primeira parte do diário que relatava o seu período de internação no Hospital de Engenho de Dentro, e O Sofredor do Ver (1968), coletânea de contos reeditada em 2012 pela Confraria dos Bibliófilos.
Maura passou por diversos hospitais psiquiátricos, até matar outra interna na Casa de Saúde Doutor Eiras e ser condenada por homicídio. Depois de seis anos de reclusão, em 1980, Maura viveu em liberdade, passando por clínicas particulares e pelo Solar da Fossa. Morreu de ataque cardíaco, em 1993. Não escrevia mais.

Ratings & Reviews

What do you think?
Rate this book

Friends & Following

Create a free account to discover what your friends think of this book!

Community Reviews

5 stars
67 (50%)
4 stars
51 (38%)
3 stars
14 (10%)
2 stars
0 (0%)
1 star
1 (<1%)
Displaying 1 - 19 of 19 reviews
Profile Image for Pedro Pacifico Book.ster.
391 reviews5,530 followers
Want to read
December 17, 2024
Hospício é Deus, de Maura Lopes Cançado | Resenha

Se a questão de saúde mental e o conceito de “loucura” ainda estão acompanhados de muito preconceito e falta de informação, é difícil imaginar como o tema era tratado na década de 60. Por meio de seus diários, publicados originalmente em 1965, a escritora mineira compartilha o dia a dia internada em um hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro. Muito embora Maura fosse muito jovem naquele momento, essa já era sua terceira internação.

Ao longo de sua escrita, conhecemos um pouco de sua origem, de uma infância rica em Minas Gerais, até começar a enfrentar desafios relacionados à família e à forma como a sociedade a julgava. Em sua vida, Maura foi internada diferentes vezes e, em “Hospício é Deus”, o leitor consegue entender um pouco da angústia que cercava o local e do tratamento desumano que muitos dos pacientes recebiam, com claras situações de abusos físicos e psicológicos.

E ao analisar esse ambiente que estava inserida, em conjunto com outros personagens, como enfermeiras e médicos, Maura consegue construir um cenário completo, que transporta o leitor para uma realidade tão distante. Os aspectos subjetivos da autora ficam, em alguns momentos, mais em segundo plano. No entanto, quando Maura nos conta sobre a sua relação com um médico específico do hospital em que estava internada, é possível mergulhar um pouco mais em seu interior.

É impressionante como Maura conseguia não transparecer os problemas psiquiátricas em sua escrita. O texto é muito claro, fácil de ler e bem construído. Também é interessante ver o interesse de Maura pela escrita e pela literatura. Em seu diário, há diversas referências a seus próprios textos e a outras obras literárias.

“Hospício é Deus” ficou esquecido por muitas décadas, tendo sido resgatado pelo mercado editorial apenas em 2015. A nova edição da @companhiadasletras traz dois textos de apoio, inclusive um deles escrito pela autora e psiquiatra Natália Timerman, que faz um exercício interessante de tentar “diagnosticar” Maura a partir de sua escrita e de seus relatos.

https://www.instagram.com/p/DBzbnudRi78/
Profile Image for Adriana Scarpin.
1,736 reviews
January 22, 2016
Esse livro não é apenas imprescindível para os amantes de boa literatura, mas também para qualquer pessoa interessada em psicologia. Redigido por Cançado durante uma de suas estadias no Hospital Gustavo Riedel do Engenho de Dentro, retrata o tratamento violento que era dado às internas da ala feminina naquela época ainda fazendo usos de eletrochoques e lobotomia e mesmo assim Cançado insistia em se auto internar, porque aparentemente era o único lugar em que conseguia ser ela mesma sem o julgamento social e a própria autoflagelação marcarem seu comportamento autodestrutivo e suicida.
Profile Image for Sergio.
254 reviews2 followers
July 21, 2020
O que mais me impressionou neste livro é o desapego e talvez ele só seja possível, porque, como diz a autora, o louco é eterno.
A autora/ personagem clama por uma linha limite, está o muro do hospício imposta pela sociedade para aqueles que transigem, mas que além dele tudo se pode e nada é proibido.
Fato é, ler os escritos de Maura é desconcertante, prazeroso e incomodo. Ela vai além da irreverência e põe em cheque o que em nosso íntimo é o mínimo aceitável como racional. O louco não é irracional, ele é.
Profile Image for Agnes.
176 reviews4 followers
August 3, 2025
passei o tcc e o mestrado todo ouvindo pessoas me recomendando ler maura. calhou de eu ler só agora porque uma amiga muito querida me deu de presente. e que presente. esses diários combinam crítica social, ironia, delírio e autoficção com um estilo narrativo muito preciso. não há excessos na escrita de maura, uma ironia com a própria pessoa. diferente da merini (autora que estudei no tcc e mestrado), a parte autoficcional é menor, e é muito interessante a citação do segundo pósfacio que diz que na maura há um momento de transição da confissão para a criação. na merini com certeza essa transição é a parte mais interessante também. a escrita literária como denúncia social a partir do vivido, a escrita como agenciamento da mulher oprimida (pelo gênero, pelo controle psiquiátrico, pelas dinâmicas sociais) é o que dá muita força ao sarcasmo das duas, em maura é possível dar honestas gargalhadas com o tipo de denúncia. ao dizer que entende que seu psiquiatra é deficiente, e ela também é psiquiatra, isto é, deficiente. refinada na estrutura também.
enfim, nem só de deleite se trata. diferentemente de merini, maura não escreveu mais que dois livros. merini, uma explosão literária. escrevia até em guardanapos para editoras menores publicarem. maura tem uma vida amargada, comete um homicídio durante um surto psicótico e passa o resto da vida meio que largada às traças. merini ainda vê seu esplendor, está viva quando reconhecem o valor da sua literatura.
certamente, os trechos que mais ficam com quem lê são aqueles que funcionam enquanto espelhos. profundamente humanas, alda e maura parecem, em alguma medida, falar de cada uma de nós também.
Profile Image for Erwin Maack.
451 reviews17 followers
April 5, 2012
"O que me assombra na loucura é a distância – os
loucos parecem eternos. Nem pirâmides do Egito,
as múmias milenares, o mausoléu mais gigantesco
e antigo, possuem a marca de eternidade que
ostenta a loucura. Diante da morte não sabia para
onde voltar-me: inelutável, decisiva. Hoje, juntos dos
loucos, sinto certo descaso pela morte: cava,
subterrânea, desintegração, fim. Que mais? Morrer
é imundo e humilhante. O morto é náuseo, e se
observado, acusa alto a falta do que o distinguia. A
morte anarquiza com toda dignidade do homem.
Morrer é ser exposto aos cães covardemente.
Conquanto nos dois estados encontro ponto de
contato – o principal é a distância. Ainda que só
diante do louco tenha experimentado a sensação de
eternidade. Nele não encontramos a falta. Nos
parece excessivo, movendo-se noutra espécie de
vibração. Junto dele estamos sós. Não sabendo
situá-lo fica-se em dúvida: onde se acha a solidão?
O louco é divino na minha tentativa fraca e
angustiante de compreensão. É eterno." (página 26)

Acredito melhor do que comentário, o trecho selecionado da obra.
19 reviews
February 13, 2025
Um diário cheio de vida que termina de um jeito que te faz perguntar o que aconteceu depois. Uma importante leitura para quem se interessa por saúde mental.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Larissa Almeida.
4 reviews
January 31, 2025
Ainda impactada com sua genialidade, escancarada nas palavras e silenciada pelas marcas da história. A sua maior característica não seria a de uma escritora louca, mas sim de uma mulher que sente muito. E se sentimentalismo é loucura, cabe a nós nos embargarmos na nossa realidade que é tão nossa e ao mesmo tempo de todo mundo. E seria imaturidade querer ser amada? Que seja! Somos todos imaturos então.
Finalizo com essa obra onde Maura se cria, se permite, se enlouquece, se vive.
Profile Image for Camila Lacerda.
22 reviews
February 9, 2023
O livro é uma mistura muito interessante de um relato histórico da situação dos hospícios da época com a história de um pedaço da vida da Maura dentro e fora deles, que foi do começo ao fim bastante conturbada. A prosa dela é muito bonita e densa e faz a gente navegar pela sua cabeça e pelo seu jeito de se entender e de entender a vida e os outros. Parece que pra ela cada palavra contava e por isso o melhor é ler ele com calma, linha por linha. No final, senti que ele ficou comigo.
Profile Image for Luiz Eduardo Antonello.
91 reviews5 followers
March 20, 2025
ler maura é lindo
e cansativo

a loucura demanda. demanda atenção, engajamento, paciência, cuidado, empatia. é preciso estar absolutamente aberto ao que cambia, ao que muda constantemente. um dia a glória outro a derrota, um dia o amor outro o ódio, um dia o brilhantismo outro a burrice. tudo se sucedendo, de vez em quando numa só passagem, num só dia, numa só frase. e isso todos os dias (dos três meses que esse diário registra não há um dia que tenha passado sem anotação).

maura é. o tempo todo no presente. e sendo cansa, demanda. mas também sendo entrega-se. é possível acreditar em maura, acreditar que no momento em que ela escreve as palavras naquela página, naquele dia do final de 1959 ou início de 1960, ela acredita completamente no que está dizendo, no que está sendo, mesmo que seja uma mentira (maura é esperta), um floreio (maura é escritora) ou um delírio (maura é louca).

as denúncias que entremeiam seu relato não são poucos e não são irrelevantes. elas revelam o tempo em que maura está inserida. o tempo dos eletrochoques, das internações, do descaso. elas revelam em certa medida nosso próprio tempo também, porque não? naquele momento ainda eram incipientes os esforços de nise da silveira para garantir a dignidade da loucura (e a própria nise aparece algumas vezes no diário de maura), de lá para cá avançamos muito e os hospícios abriram as portas, mas o paradigma segue o mesmo: o louco continua sendo menos, continua sendo um improdutivo, um marginal. maura dá voz a essa experiência, seja ela confinada em um hospício - que tem "guardas" e não "enfermeiras, ah foucault! - ou nas ruas. o louco tem subjetividade, tem um interno de si que é insento e enorme.

o posfácio de natalia timerman agrega belamente para a obra, nos lembra de não pensar em maura como essa mítica escritora louca que mais tarde matou a colega de quarto em um surto psicótico, mas aprender a vê-la pela sua obra, pelo que ela quis dizer, pelo que ela derramou de seu interior como escritora. lembra que maura, longe de incoerente ou incompreensível, tem uma profunda inteligência e uma relação bela com as palavras, sabe moldar na página uma verdade tão real quanto ela pode ser.

e acredita nisso.
e nisso acredito eu.
Profile Image for Silvia Gerin.
37 reviews
July 30, 2025
“Hospício é Deus”, de Maura Lopes Cançado, é um relato chocante, duro, real e ao mesmo tempo poético da vivência da autora em instituições psiquiátricas nos anos 1950. Com inteligência sagaz e escrita visceral, Maura expõe as contradições entre loucura e lucidez, mostrando-se uma observadora sensível e crítica do mundo no qual ela estava inserida, mesmo durante seus colapsos. Sua escrita mistura reflexão filosófica, espiritualidade e denúncia social, revelando a desumanidade dos tratamentos e o abandono de mulheres rotuladas como insanas, as intituladas loucas. A autora transforma o sofrimento em literatura, afirmando sua existência diante de todo descaso ao qual foi submetida. Sua escrita é um ato de resistência. Mesmo adoecida, ela compreende e interpreta o mundo com uma clareza que desestabiliza qualquer diagnóstico. Narra seu abandono e o olhar estranho com que os amigos e conhecidos vão lançando sobre si na medida em que o seu adoecimento se torna mais acentuado.

“Terminarei pela vida como essas malas, cujos viajantes visitam vários países e em cada hotel por onde passam lhes pregam uma etiqueta: Paris, Roma, Berlim, Oklahoma. E eu: PP, paranoia, esquizofrenia, epilepsia, psicose ma-níaco-depressiva etc. Minha personalidade mesma será sufocada pelas etiquetas científicas.Serei a mala ambulante dos hospitais, vítima das brincadeiras dos médicos, bonitos e feios. Terei a utilidade de diverti-los ao lançarem a sigla: PP.”
5 reviews
March 21, 2024
Simplesmente incrível, impactante, eu fiquei fascinada e eu sinto que eu acompanhava o dia a dia da Maura a cada nova entrada do diário. Eu jamais vou esquecer um dos parágrafos mais lindos que já li :

“Estou aqui de novo, e isto é - Por que não dizer? Dói. Será que é por isso que venho? - Estou no hospício, deus. E Hospício é este branco sem fim, onde nos arrancam o coração a cada instante, trazem-no de volta, e o recebemos: trêmulo, exangue - e sempre outro. Hospício são as flores frias que se colam em nossas cabeças perdidas em escadarias de mármore antigo, subitamente futuro - como o que não se pode ainda compreender. São mãos longas levando-nos para não sei onde - paradas bruscas, corpos sacudidos se elevando incomensuráveis: Hospício é não se sabe o quê, porque Hospício é deus.”

Ela relata a brutalidade em que as pacientes são submetidas dentro dessas instituições, o abandono dessas mulheres e a falta de interesse na ajuda médica para melhorar o estado das pacientes. É cruel, é escrito de uma forma incrível, é viciante e uma preciosidade pra literatura. Para quem sofre de comorbidades mentais, há certas identificações o que torna o livro mais potente.

Considero uma leitura espetacular!
Profile Image for Carla Carolina.
35 reviews2 followers
January 7, 2025
“Não aceito nem compreendo a loucura. Parece-me que toda a humanidade é responsável pela doença mental de cada indivíduo. Só a humanidade toda evitaria a loucura de cada um. Que fazer para que todos lutem contra isto? Não acho que os médicos devam conservar ocultos os pátios dos hospícios. Opto pelo contrário; só assim as pessoas conheceriam a realidade, lutando contra ela. entrada franca aos visitantes: não terá você, com seu indiferentismo, egoísmo, colaborado para isto? Ou você, na sua intransigência? Ou na sua maldade mesmo? Sim, diria alguém, se pudesse: recusaram-me emprego por eu ter estado antes internado num hospício. Sabe, ilustre visitante, o que representa para nós uma rejeição? Posso dizer: representa um ou mais passos para o pátio. — Eu quis, mas não posso viver junto deles. Que fazer? Odeio-os então por isto. Trancar-me — voltar para o pátio, onde não serei recusada. Fugir. Fuga na loucura.”
Profile Image for Maíra Pilão.
209 reviews1 follower
April 3, 2025
Deus conosco. Ou era meu pai, se mostrando na sua imensa e desconhecida sensibilidade? A música levava-o a um templo que não era o seu. A qual Deus ele adorava? Aquele homem, vivendo à margem da civilização, aquele homem temido e forte, possuía uma dimensão desconhecida a si mesmo. Podia ter sido um Wagner, um Nietzsche ou um Napoleão. Não fora a limitação do seu meio, seria o maior homem do mundo. Mas dentro do seu mundo, foi o maior personagem que conheci.
Profile Image for Faby Alves.
38 reviews
January 15, 2025
Um livro que foi escrito em 1960 e que conta um pouco da vida dentro de um hospicio naquela epoca pela visao e mente um tanto conturbada da propria autora!
Foi um livro que demorei muito para ler… nao pela escrita, mas talvez pelas reflexoes que me despertou.
Profile Image for Olga.
173 reviews
May 15, 2023
Um livro sobre as agruras de se viver em um hospício sem um cuidado que se espera que tenha por outro ser humano. É revoltante as passagens contadas pela Maura
Profile Image for Aline.
59 reviews4 followers
September 6, 2021
‘’ Meu coração ventava forçando o peito’’
Tamanha clareza e beleza está longe da loucura. Era apenas solidão.
Displaying 1 - 19 of 19 reviews

Can't find what you're looking for?

Get help and learn more about the design.