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Para Uma Menina Com Uma Flor

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As crônicas reunidas neste livro, escritas entre 1941 e 1966, tocam temas díspares, mas fascinantes: o pós-guerra, um desenho de Carlos Scliar, a avenida Atlântica, Hollywood, o assassinato de dez mil pintinhos pelo Ministério da Agricultura, um batizado na Penha, o amor à pátria, a morte de Cecília Meireles, uma "saison" em Caxambu. O cotidiano aqui aparece emaranhado, desconexo, caótico como de fato são os acontecimentos. Vinicius de Moraes sabe que a função do cronista não é a mesma de um administrador, que conecta, limpa e arquiva o mundo real. Ao contrário, ao retratista não cabe escolher o que a realidade lhe oferece, nem discriminar imagens ou acontecimentos. Cabe, sim, pôr-se a serviço do confuso trançado de fatos que compõem o cotidiano e não sucumbir à ânsia de colocar, precocemente, ordem na casa - pois os fatos se ajeitam e se moldam por si mesmos, ou simplesmente se perdem na espiral do tempo.

205 pages, Paperback

First published January 1, 1941

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About the author

Vinicius de Moraes

137 books148 followers
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes (October 19, 1913 - July 9, 1980), better known as Vinicius de Moraes, nicknamed O Poetinha (the little poet), was born in Rio de Janeiro, Brazil. Son of Lydia Cruz de Moraes and Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, he was a seminal figure in contemporary Brazilian music. As a poet, he wrote lyrics for a great number of songs that became all-time classics. He was also a composer of Bossa nova, a playwright, a diplomat and, as an interpreter of his own songs, he left several important albums.

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2 (<1%)
Displaying 1 - 13 of 13 reviews
Profile Image for Rosa Ramôa.
1,570 reviews84 followers
December 24, 2014
Para uma Menina com uma Flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino,
o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.

E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte
eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta,
e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena;
é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor...
Profile Image for Carol Canaan.
105 reviews
September 17, 2020
Acho que é o primeiro livro desse ano que dou a nota baixa. Muita linguagem misogena, sexista, machista. É possível perceber esse discurso patriarcal na maioria das crônicas. Custei pra terminar.
13 reviews
August 23, 2020
"...Hoy puedo mirar a mi alrededor, hacia esos amplios espacios que me cercan, hacia la reserva forestal que llena de verde mi escritorio y mi dormitorio y decirme con orgullo: ¡soy un hombre rico!
En realidad, ¿qué más necesito?
Propietario de poemas y canciones, señor de una mujer y un paisaje, dueño de mi vida y de mi muerte, ¿no seré tal vez el hombre más rico de esta tierra?."
Profile Image for Violeta Vaal.
53 reviews59 followers
Read
August 30, 2015
LIBELO

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar – e um barco com o nome da amiga e uma linha de anzol para pescar?

E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos – uma pro caniço e outra pro queixo pra poder se perder no infinito. E uma garrafa de cachaça, pra puxar a tristeza e um pouco de pensamento pra poder pensar até se perder no infinito.

-Mas o mar está preso em correntes e é preciso por ele lutar.

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra – um pedaço bem verde de terra? E uma casa, não grande, branquinha com uma horta e um modesto pomar; e um jardim – que um jardim é importante – carregado de flor de cheirar?

E enquanto morando, enquanto passando de que mais precisa um homem senão de suas mão para mexer na terra e pra puxar uns acordes no violão quando a noite se fizer de luar. E uma garrafa de wísque pra puxar o mistério que casa sem mistério não vale morar.

-Mas a terra foi escravizada e preciso por ela lutar.

De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar – um amigo bem seco, bem simples? Desses que não precisa nem falar – basta olhar -, desses que desmereça um pouco da amizade? Um amigo pra paz e pra briga, um amigo pra casa e pro bar?

E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos pra apertar as mãos do amigo depois das ausências, pra bater nas costas do amigo e pra servir bebida à vontade ao amigo?

-Mas o amigo foi ludibriado e é preciso por ele lutar.

De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular? De que mais precisa um homem senão do carinho de uma mulher quando a tristeza o derruba ou o desatino o carrega na sua onda sem rumo?

Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher – as únicas coisas livres que lhe restam pra lutar pelo mar, pela terra e pelo amigo…
Profile Image for Camila Vilela De Holanda.
185 reviews11 followers
June 16, 2015
Ganhei esse livro aos oito anos de idade e fui tomada por uma decepção profunda: procurei a flor dentro dele e não encontrei. Abandonei na estante até que aos dez anos entendi tudo e morri de amores por Vinícius, quis escrever como ele e tomar para mim a persona da crônica-título. A prosa envolve e nos transporta para um mundo que nunca foi nosso, mas que fingimos ser (ainda que por minutos!). Ainda tenho a crônica colada na porta da minha geladeira e a assinatura do Vinícius tatuada na costela... Que pena não ter podido ficar bêbada com ele! Essa a vida fica me devendo, ainda que seja eternamente grata por milhares de outros ganhos.
Profile Image for alê.
2 reviews
September 21, 2010
As crônicas sobre situações corriqueiras são muito melhores que os ensaios. Minhas duas crônicas favoritas desse livro são "Conversa com Caymmi" e "O Amor em Botafogo". Vale à pena lê-los mesmo separados.
Profile Image for Maria Rolim.
17 reviews15 followers
April 15, 2014
Vinicius nesse livro consegue abordar desde as mortes de 64 e a tristeza da guerra até o seu amor pelas mulheres e pelo rio, apesar de todos os defeitos. Realmente, um livro que supera o esperado! Maravilhoso
Profile Image for Clarissa Lima.
3 reviews2 followers
March 30, 2012
A crônica que dá nome ao livro é a declaração de amor mais linda que já li.
Profile Image for Milena.
20 reviews5 followers
February 8, 2013
Um pouco mais de amor no mundo, por favor. Uma obra incrível do Vinicius, quase desconhecida.
Displaying 1 - 13 of 13 reviews

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