Imagens e metáforas cuidadosamente armadas, prontas para se abrir diante dos olhos do leitor. Mais do que isso, na poesia do pernambucano Fabiano Calixto (nascido em 1973) o vocabulário lírico é retirado do cotidiano e retrabalhado com intensidade. É aí que reside a força dos poemas que compõem este belo livro. Seus 53 poemas, divididos em quatro seções, resultam de um trabalho cuidadoso e consciente com a linguagem. Temos a cidade e a violência urbana moldando uma linguagem lírica. A subjetividade é filtrada por uma língua própria, rica de significados e imagens. O poeta procura a "música possível" num mar de impossibilidades, mas sem abrir mão do risco do lirismo, do sujeito que testemunha as pressões da vida moderna e as transforma em imagens potentes. Calixto fala da sua experiência no embate diário com a cidade; mergulha nas suas raízes nordestinas, nos belos poemas da seção "Ônix"; retrata o mundo familiar e afetivo, em "Flauta-azul"; e, por fim, dialoga com as artes em "Poesias reunidas", com poemas que falam de sua relação com a obra de Carlos Drummond de Andrade, John Lennon, Haroldo de Campos e Paulo Leminski
'La carta que me mandaron me piede contestación' Violeta Parra
insurgente: um povo noite sem estrelas: um rosto
(um gay em São Francisco, um chicano nos Estados Unidos, um negro na África do Sul, um palestino em Israel, um judeu na Alemanha, um muçulmano na Bósnia, um camponês sem-terra em qualquer país, uma mulher desacompanhada no metrô às 10 da noite)
dentro cravado impregnado um homem insurge
(um coágulo de mel na pele inimaginável de um imenso mar morto)
Que delícia conhecer esse pernambucano! Uma escrita muito sensível. Fazia algum tempo que não lia algo tão gostoso, nostálgico e cheio de vivência e significado.
E, agora que eu descobri que o autor possuí uma EDITORA rsrs poderei prolongar esse prazer.
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