Num pensionato de freiras paulistano, em 1973, três jovens universitárias começam sua vida adulta de maneiras bem diversas. A burguesa Lorena, filha de família quatrocentona, nutre veleidades artísticas e literárias. Namora um homem casado, mas permanece virgem. A drogada Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante. Lia, por fim, milita num grupo da esquerda armada e sofre pelo namorado preso.
As meninas colhe essas três criaturas em pleno movimento, num momento de impasse em suas vidas. Transitando com notável desenvoltura da primeira pessoa narrativa para a terceira, assumindo ora o ponto de vista de uma ora de outra das protagonistas, Lygia Fagundes Telles constrói um romance pulsante e polifônico, que capta como poucos o espírito daquela época conturbada e de vertiginosas transformações, sobretudo comportamentais.
Obra de grande coragem na época de seu lançamento (1973), por descrever uma sessão de tortura numa época em que o assunto era rigorosamente proibido, As meninas acabou por se tornar, ao longo do tempo, um dos livros mais aplaudidos pela crítica e também um dos mais populares entre os leitores da autora.
Lygia Fagundes Telles (born April 19, 1923) is a Brazilian novelist and short-story writer. She was born in São Paulo and is one of Brazil's most important living writers.
Her first book of short stories, Praia Viva (Living Beach), was published in 1944. In 1949 got the Afonso Arinos award for her short stories book O Cacto Vermelho (Red Cactus). Among her most successful books are Ciranda de Pedra (The Marble Dance) (1954), Verão no Aquário (1963), Antes do Baile Verde (1970), Seminário dos Ratos (1977) and As Horas Nuas, (1989). The book Antes do Baile Verde won the Best Foreign Women Writers Grand Prix in Cannes (France) in 1969.
Her most famous novel is As Meninas (The Girl in the Photograph), which tells the story of three young women in the early 1970s, a hard time in the political history of Brazil due to the repression by the military dictatorship. In 2005 she won the Camões Prize, the greatest literary award in the Portuguese language.[1]
She is one of the three female members of the Brazilian Academy of Letters.
História de amizade e cumplicidade, entre três estudantes universitárias que vivem numa residência de freiras durante os anos da ditadura militar no Brasil. Todas elas têm origens diferentes; temos a menina rica e tradicionalista, a idealista e revolucionária, e a que nasceu pobre e sofreu toda a espécie de maus tratos. A narrativa é caótica e no início fiquei à deriva: não percebia quem era quem, quem estava a falar, quem simplesmente estava a pensar… os capítulos são longos e o narrador chega a mudar duas, três vezes em cada parágrafo. O fluxo de pensamento intercala com os diálogos numa velocidade alucinante. Para mais, a linguagem tipicamente juvenil acrescida de gíria em português do Brasil, redobra a dificuldade a quem não esteja por dentro desta dialética. Foi a primeira vez que lamentei não ver novelas. Então, a princípio foi um desânimo, mas aos poucos o cérebro renitente começa a adaptar-se e a coisa melhora. Até porque comecei a gostar das miúdas e a interessar-me pelas trapalhadas em que se envolviam. Foi muito engenhoso por parte da autora, pôr estas jovens a falar de coisas muito sérias e que na altura eram tabus gigantes. Assim, com toda a naturalidade, elas falam de masturbação, de gravidez indesejada e aborto, adultério, e tudo o mais que possa passar pela cabeça de jovens ávidas de experiências, que buscam um caminho na vida e têm expectativas por vezes irreais. O mais complicado foi “ouvir” os desabafos e as recordações tenebrosas daquela que sofreu maus tratos, assistiu a cenas macabras de violência doméstica, e ainda esteve sucessivamente sujeita aos abusos dos homens que passaram pela vida da mãe. E foram muitos. Impossível sobreviver incólume a um passado destes e entregou-se às drogas. A revolta que sente trespassa o delírio das drogas e é de partir o coração. Apesar de todas as dificuldades, todas mantêm a esperança, e os sonhos e projetos futuros não têm limites. Esta fé e ingenuidade conquistam totalmente o leitor. Quem é que não se lembra com um sorriso das suas próprias quimeras juvenis?
A parte final do livro é inesperada e põe à prova a resistência emocional do leitor, assim como demonstra definitivamente, de que fibra são feitas estas Meninas.
As meninas deste livro são Lorena, Lia e Ana Clara. Elas são três amigas que partilham um pensionato católico em São Paulo, em 1969, e são “arquétipos” de um período conturbado da história brasileira: Lorena é a menina rica, crente e virgem; Lia é a revolucionária; Ana Clara é a menina pobre, dependente de drogas, abusada pelos homens. Três personagens fortes que dificilmente esquecerei. Só não atribuo uma classificação melhor porque a narrativa é algo confusa. O efeito das frases inacabadas e da troca de narradores é interessante, pela semelhança com a realidade, mas cansativo.
Uau, que final, que livro. Gente, sério, leiam. Mas leiam devagar, degustando. O começo pode ser complicado, demorado e difícil mas logo engrena e você irá se apaixonar. Uma dica pessoal é: leia acompanhado de outro livro mais leve. Esse livro tem umas partes beeeem pesadas, então as vezes é bom se "desintoxicar" com um livro mais bobinho.
Esse livro é daqueles que dá orgulho de ser brasileiro. Lygia Fagundes Telles. Que mulher.
Eu termino de ler As meninas, sintonizo na rádio, está tocando Não chore mais, versão contada por Gilberto Gil: “(...) Amigos presos Amigos sumindo assim Pra nunca mais Tais recordações Retratos do mal em si Melhor é deixar pra trás”
Eu amo esses encontros aleatórios, que dizem tanto entre si.
As meninas foi um livro poderoso para mim. Primeiro, porque foi o meu primeiro contato com Lygia, uma das maiores escritoras (entre escritores do sexo masculino tb) da literatura brasileira.
Segundo porque o tema trata de temas importantes e atuais. Publicado em 1973, auge da ditadura militar e sob forte censura, descreve uma cena de tortura bem pesada. E depois continua a tratar das escolhas, no âmbito privado, íntimo da personagem Lia. Pra mim, a genialidade do texto reside nessa qualidade textual. Pois, por mais que a política permeie o enredo, do início ao fim, o texto não é político. Não se limita a isso.
As três amigas, ironicamente (imagino) definidas como “As meninas” no título, não tem nada de inocentes e angelicais que o título sugere. São problemáticas, e totalmente fora dos padrões estabelecidos da tradicional família brasileira. Mas mesmo assim, são totalmente diferentes entre si, seja no plano social, econômico ou quanto por consciência e escolhas políticas. A chave está aí. Lia, Lorena e Ana Clara me ensinaram sobre o poder da união em momentos de crises, mesmo com divergências tão latentes e significativas. Lia “comunista”, Lorena “pequena burguesa fechada em sua concha, uma amante virgem”, e Ana Clara “drogada, e na eminência da prostituição” no plano comum não seriam amigas. O que as une é que nos momentos onde as ameaças externas atingem a todos, onde valores tão caros como liberdade são postos em xeque, o afago, o apoio, a presença e uma simples xícara de chá são essenciais. Os sonhos e esperanças não são desfeitos, abandonados, e deixados de lado por conta da diferença. A vida segue. E seguimos nós também, mais fortificadas por essa amizade.
Publicado em 1973, durante o governo de Médici, muito se questiona sobre como o livro teria escapado da censura imposta pelo Ato Institucional n. 5 (AI-5). Nesse romance, a autora apresenta a vida de Lorena, Lia e Ana Clara, três jovens com personalidades e passados muito diferentes, mas que vivem juntas em um pensionato de freiras paulistano. Lá partilham de uma amizade forte e vivem as angústias típicas da juventude. Apesar de um título comum e de uma sinopse aparentemente “inofensiva” para um governo autoritário, ao longo da narrativa, o leitor encontra fortes críticas ao regime vigente – contando, inclusive, com a descrição de uma sessão de tortura.
O que mais impressiona na obra, por sua vez, é a construção da história e dos personagens. É um romance em movimento, por meio do qual Lygia vai alternando o foco narrativo entre as três personagens. E é por meio da perspectiva dessas três jovens que Lygia traz o universo feminino sob uma perspectiva moderna, rompendo com questões morais até então impostas por uma sociedade machista. Uma temática muito atual!
O começo da leitura pode até parecer confuso, porque a autora se vale muito da técnica do fluxo de consciência, isto é, tenta inserir o leitor dentro dos pensamentos – desordenados – de cada uma das jovens. São várias vozes se alternando a todo momento. Mas como as três personagens são tão bem construídas, com personalidades marcantes e com um estilo peculiar de se expressar, o leitor vai aos poucos conseguindo identificar quem conduz a narrativa em cada momento.
Para evitar a confusão entre as narradoras, dou uma dica que me ajudou MUITO na compreensão da história: consulte a orelha dessa edição ao longo da leitura, pois nela há uma breve descrição de cada uma das personagens.
Enfim, foi muito interessante acompanhar a vida das três jovens e entrar na intimidade de cada uma a partir de seus próprios pensamentos. Mas lembre-se de que as três apresentam uma visão parcial dos fatos e, por isso, não são totalmente confiáveis. Recomendo muito a obra! Entrou para uma das melhores leituras de 2018!
Gosto muito da Lygia Fagundes Telles, mas como diz o ditado, “no melhor pano cai a nódoa”.
As Meninas é muitas vezes apontado como um dos grandes romances da literatura brasileira do século XX. Publicado em 1973, em plena ditadura militar, acompanha o dia-a-dia de três meninas que partilham um quarto num pensionato de freiras em São Paulo.
Vêm de mundos muito distintos e isso faz com que o romance se construa como um mosaico de vivências femininas marcadas por várias formas de opressão: a familiar, a social, a política e até a que cada uma impõe a si própria.
Lorena é uma estudante de Direito, a família pertence à alta burguesia paulistana, foi educada num ambiente conservador, vive dividida entre os valores tradicionais que interiorizou e um desejo de liberdade que não consegue realizar. É romântica e fantasiosa, marcada por uma relação doentia com a mãe e por um amor platónico por um médico casado com uma catrefada de filhos, que alimenta com cartas nunca enviadas.
Lia é uma militante política de esquerda, que se envolve em acções clandestinas contra o regime militar. O companheiro desapareceu, e a família faz parte da classe operária.
Ana Clara vem de uma família humilde e vive numa espiral de degradação marcada pela toxicodependência, pela prostituição e por distúrbios do foro emocional. É vítima da violência e da indiferença daqueles que a rodeiam.
A narrativa alterna constantemente entre os pensamentos das três raparigas e, dessa forma fragmentada e com mudanças bruscas de ponto de vista, Lygia Fagundes Telles constrói um retrato complexo da juventude urbana brasileira nos anos 1970.
O uso do fluxo de consciência exige uma atenção constante e torna-se cansativo, especialmente quando as vozes das personagens se misturam de forma tão subtil. Aqueles saltos repentinos entre presente, memória e devaneio podem mesmo parecer labirínticos.
É um romance sobre intimidade feminina, resistência, alienação e a busca de sentido num tempo de censura, medo e silêncio, mas há algo na forma como está escrito que não me agradou e a mensagem perdeu-se.
Livro pra ler, reler, ler de novo em voz alta, marcar e rabiscar... Impossível não se identificar em vários momentos com a tríade Ana Clara-Lorena-Lia. A angústia lancinante de Lorena, enclausurada na conchinha em uma espera ad infinitum. Ana Clara delirante, deprimida, confusa e dolorida. Lia dos calçados empoeirados, apaixonada, desprendida, odiosa... Não são perfeitas: invejosas, maldosas, preconceituosas, incoerentes, mentirosas. Mas também carentes, sonhadoras, amantes, amigas. E é dessa incongruência que a identificação se torna inevitável. Finalizei a primeira leitura já pensando em uma segunda, na qual com certeza essas meninas já não serão as mesmas - e nem eu. O encontro vai ser sempre inédito. E agora sou obrigado a ler tudo de Lygia F Telles rs
Three university students stumble through youth, politics, and disillusionment somewhere in 1970s military-dictatorship Brazil—at least, I think that's what's happening? "When death arrives, we'll ask where it's been hiding," mutters someone (who exactly? your guess is as good as mine).
Telles shifts perspectives more frequently than most people change their socks—dream or reality? Character A or Character B? Who knows! This dizzying literary carousel leaves readers grasping for narrative footholds while drowning in a sea of unattributed consciousness. Is this profound art or just profoundly frustrating? I'm leaning toward the latter.
Our supposedly "photographically exact" characters remain blurry at best:
Lorena: Wealthy and romantic, apparently "collects records and fantasies" while pining for some married doctor. Her bath-monologue scenes transform simple hygiene into philosophical treatises.
Lia (nicknamed "Lião"—Lion): Has a boyfriend in political prison and smuggles revolutionary pamphlets. Or does she? Hard to tell when the narrative keeps shapeshifting.
Ana Clara: Beautiful and broken, sliding from poverty to addiction in stream-of-consciousness ramblings that would confuse James Joyce. "I'm Ana Turva now. Ana Unclear. The room is spinning but I'm standing still, completely still in the middle of the hurricane," she says—which perfectly summarizes my reading experience.
These three women tumble through disjointed scenes: someone's unconscious in a convent bathroom; someone's mother arrives dripping in jewels; someone hallucinates dead relatives. Who's doing what? Good luck figuring that out without a character map and color-coded highlighters!
Telles—compared to Virginia Woolf—supposedly reached her peak literary abilities with this novel. Her "strength" allegedly comes from unique linguistic patterns, but when three unidentified streams of consciousness collide without signposts, the result isn't artistic brilliance—it's literary vertigo.
This book might be an "essential feminist text," but perhaps due to translation, its fundamental failure to orient readers through its narrative maze undermines whatever profound truths lie buried within its pages.
Like drinking expensive wine with a horrible cold, you know something special might be happening, but you're completely unable to appreciate it.
Dugo sam merkala ovu knjigu (ne znam ni zašto sam toliko odlagala kupovinu, verovatno jer sam bila ubeđena da će mi se svideti, pa sam odlagala neumitno čitalačko "zadovoljstvo", što često radim), i na prošlom sajmu knjiga sam je konačno kupila. Pošto sam rešila da ove godine pročitam knjige koje već dugo skupljaju prašinu na polici, umesto da samo kupujem nove naslove koje ću pročitati ko zna kad, red je došao i na nju, i malo je reći da sam razočarana. Stvarno nisam fan (post)modernizma u književnosti, a ova knjiga upravo tu i spada. Radnja koja se odigrava u svega dva dana je razvučena na skoro 300 strana, što i ne bi bio problem da tih 300 strana nisu samo tokovi misli triju junakinja, bez hronološkog reda, smisla, jasne granice koja od njih tačno razmišlja ili govori, bez dijaloga, itd. ma bez kraja i konca. Trebalo mi je par dana da je pročitam (verujte, razlog nije što jedva držim oči otvorene zbog temperature), i pao mi je kamen sa srca kada sam je konačno završila, jer ću sad moći da čitam nešto mnogo zanimljivije, drugim rečima - bilo šta drugo, a dve zvezdice dajem samo zato što su barem likovi dobro razrađeni i portretisani, a kako i ne bi, kad na 300 strana hamletovski razmišljaju o besmislu svog života.
As Meninas de Lygia Fagundes Telles é um desses livros seminais dentro da história da literatura brasileira, além de uma narrativa completamente única com mistura entre terceira e primeira pessoa de forma bem elástica, temos aqui a primeira descrição de tortura da ditadura militar brasileira. Reza a lenda que a Lygia colocou a cena de tortura no meio do livro porque censores não dariam conta de ler o livro inteiro porque achariam muito chato, hahaha, o que faz sentido também o fato da nossa Lião - a guerrilheira - demorar tanto para ter seu ponto de vista narrado, isso em pleno 1973 do governo Médici foi um feito e tanto. Mas não é só sobre as personalidades e realidades de nossas universitárias brasileiras que Lygia narrava com maestria, ela estava bem informada da intelectualidade francesa contemporânea também, dá pra encontrar citações de Lacan e Deleuze e Guattari, inclusive o recém lançado Anti-Édipo. Enfim, Lygia soube compreender seu tempo como ninguém e isso reverbera em sua literatura lindamente.
1. It is 99% character-driven... 2. ...meaning, there is no plot. 3. It shows the POVs of three different girls in a religious university. One is a communist, other is an aristocrat, the last a junkie. 4. Every girl has a different style of writing, so expect this book to go from David Lynch to a plain simple old book. 5. The last chapter is surprising... 6... But the characters react in a totally unrealistic way in it. Such a shame for a book based on deep characterization. 7. It is quotable, and in some rare occasions, funny. 8. You may find it pretentious at some point. (Money is always written backwards. Why?)
fiquei meio em shock quando fui ler o material crítico no final e o autor da crítica comenta que se passam apenas dois dias na narrativa. foi bom ler aos pouquinhos e criar uma proximidade e poder sentir saudades da ana turva, lião e lena. vai ficar um bom tempo na minha cabeça
Esse é um daqueles livros que já amava antes de ler. E quantas vezes tentei lê-lo. Há um ano, quando iniciei a leitura do e-book, decidi que aquele era um livro para se ler com as mãos. Fui a um sebo e comprei a edição que cabia no meu bolso. Nas primeiras tentativas, foram mais espirros do que páginas. Uma pena. Recomecei o e-book, mas novamente desisti.
Muitos meses depois decidi comprá-lo, em edição nova e preço agradável. Assim que chegou, comecei a ler. E descobri que uma amiga também o fazia. Todos os dias ela e seus amigos discutiam um capítulo. Felizmente, eu só estava algumas páginas atrasada.
Lia, Lorena e Ana Clara me fizeram companhia por 12 dias. Se não fosse pelos momentos de discussão, esse encontro teria sido fugaz, mas não menos intenso.
Analisar cada capítulo me permitiu conhecer particularidades e traçar possibilidades sobre os destinos daquelas meninas. A história contada por Lygia é escrita a muitas mãos. Em cada capítulo, é nítida a alteração de tom, de estilo e de perspectiva: Ana Clara (Ana Turva) escreve em lapsos de consciência e lucidez, a repetição e a divagação nos levam à cabeça daquela Menina perdida, em drogas ou nos traumas de seu passado; Lorena é literária, romântica e poética e nos coloca a pensar sobre o que é factual em suas histórias de amor & dor; Lia (Lião) é dura, materialista e totalmente entregue à luta e, apesar disso, cheia dos segredos - próprios ou não.
Lygia coloca nas páginas a psicanálise e algumas principais discussões da época. Em uma obra não censurada, descreve às últimas uma cena de tortura, assim como detalha os passos, planos e ações da luta armada.
Nada obstante o pano de fundo, são as relações interpessoais - por vezes, passivo-agressivas - que movem essas e outras meninas. Usamos essas páginas para conhecê-las. Com elas sofremos e delas fazemos amigas.
A vontade é de ficar ali, observando aquelas Meninas serem (ou estarem). As pontas soltas, ao final, nos permitem desenhar seus próprios planos. Essa é uma história de possibilidades, já que "tão longe a fala do ato".
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Penso que não tenha sido o melhor livro para me iniciar com esta escritora. A narrativa retrata temas importantes como a opressão. a disigualdade social e as drogas. Mas achei os monólogos das amigas demasidos caóticos (sei que foi escrito desse modo), e a linguagem tem demasiado calão para o meu gosto.
Acompanhamos a jornada de 3 amigas. Lorena, a menina rica e virgem que namora um homem mais velho e casado; Lia, a menina revolucionária e inteligente com um namorado preso; Ana, a toxoicodepente e abusada ao longo da sua vida. Irritei-me com a inguenidade de Lorena e a sua obesseção por perder a virgindade. Os capitulos de Ana eram os mais duros, apenas queria que ela tivesse encontrado alguém que tivesse disposta a realmente salvá-la... Não mereceu o fim que teve. Lia era a única das amigas que tinha mais consciencia dos problemas a sua volta, por isso conectei-me mais com ela.
"As meninas" é uma obra actual, que retrata problemas e situações reais mas não me marcou tanto como gostaria. Contudo levou-me a quer conhecer mais obras desta escritora. Tenho muito curiosidade em ler "Ciranda de pedra", sinto que esse livro será mais do meu agrado.
A surpresa e o ritmo alucinante do final não conseguiram, ainda assim, contrabalançar a desmotivação que me acompanhou em mais de metade do livro. Nota muito positiva para o olhar sobre a condição feminina e a sororidade e para a originalidade estilística.
"Palavras triviais mas é no trivial que está o trágico."
‘As Meninas’ foi o primeiro livro que eu li da Lygia Fagundes Telles. Não sei se iniciar por ele é a melhor escolha, a narrativa é bem caótica e muitas vezes confusa, mas não me arrependo nem um pouco. Lygia me obrigou a adaptar meu ritmo de leitura a ela. Muitas vezes, com livros fluidos, leio rápido, mas com esse precisei respirar e ir frase por frase. Lygia inicia um capítulo em primeira pessoa, com fluxo de consciência, e alguns parágrafos depois passamos a terceira pessoa, até que voltamos novamente a primeira pessoa, mas agora de outro personagem. A personagem conversa, pensa sobre a conversa, lembra de outras situações, relata essas situações, lembra da infância, volta a conversa... tudo em poucos parágrafos, ou até no mesmo. No início me frustrei, achei que não conseguiria vencer o livro, até que me adaptei, e então foi perfeito.
Em ‘As Meninas’ temos uma história que se passa em 1973, no auge da ditadura militar, e que misteriosamente não foi censurada por ela. Acompanhamos as meninas Lorena, uma romântica, burguesa e virgem que é apaixonada por um homem casado; Lia, a revolucionárias, que representa a oposição ao regime; e Ana Clara, usuária de drogas e álcool, que tem um passado horrível. Conseguimos identificar a diferença nos capítulos de cada uma, pois Lorena devaneia, Lia é centrada e ordenada e Ana foge da realidade. Temos três amigas que diferem muito em suas vidas pessoais, mas que encontram afeto e casa na sua relação. Além disso, o livro descreve uma sessão de tortura e aborda assuntos como aborto, homossexualidade, sexo, masturbação feminina e drogas, que muitas vezes são citados através de metáforas ou de forma subentendida.
Vontade de ler tudo que ela escreveu, e consigo me ver relendo esse futuramente.
"Lembro da ampulheta quebrada, entrei no escritório do pai para pegar o lápis vermelho e esbarrei no vidro do tempo. Fiquei em pânico vendo o tempo estacionado no chão: dois punhados de areia e os cacos. Passado e futuro. E eu? Onde ficava eu agora que o era e o será se despedaçaram? Só o funil da ampulheta resistira e no funil, o grão de areia em trânsito sem se comprometer com os extremos. Livre."
meus livros preferidos são aqueles que usam perspectivas individuais e específicas para falar sobre temas universais. aqui, através de lorena, ana clara e lia – três personagens completamente diferentes entre si e cheias de idiossincrasias –, lygia fala não só sobre o contexto político e social do brasil nos anos 70, mas também de sentimentos e experiências que todo ser humano já viveu: amor, inveja, luto, solidão, revolta. ela consegue criar uma obra atemporal nesse pequeno mundo que existe apenas nos olhos das personagens, em que nunca vamos saber o que é objetivo, pois nesse universo só há a subjetividade. terminei o livro com tantos pensamentos que só conseguia gritar "MEU DEUS MEU DEUS MEU DEUS" e ainda assim já tinha a certeza de que era uma das melhoras obras literárias que eu já tinha encontrado e de que essas meninas tinham mudado a minha vida para sempre.
ps: também estou obcecada com a representação de amizades femininas aqui, não consigo parar de chorar
Comecei a ler este livro com a expectativa nas nuvens e ele conseguiu ser ainda melhor do que eu esperava. A sua principal característica é também o que o torna mais difícil é mais interessante: a forma como a narrativa foi construída. A história é contada através do fluxos de pensamento das três personagens centrais: Lorena, Lia e Ana Clara, com algumas intervenções de um narrador que eu quase nem percebia. O segredo era deixar a leitura fluir. Automaticamente, eu ia absorvendo a personalidade de cada uma e assim identificava de quem era a "voz" falando naquele momento. É tudo tão intenso e em tempo real, que eu não conseguia parar de ler. Um livro vivo, feminino, com acontecimentos muito fortes na vida das três jovens mulheres e no qual o contexto histórico, a ditadura militar no Brasil do começo dos anos 70, não foi um mero pano de fundo. Aliás, este contexto foi um dos motivos por eu querer ler tanto esse livro nesse momento. Lygia foi indicada recentemente ao Nobel de literatura por toda a sua obra e, apesar de eu conhecer apenas dois dos seus livros, sem dúvida, este já seria o suficiente pra ela levar o prêmio.
Amei a estrutura, com a troca de narradoras que às vezes é tão sem costura que desafia o cérebro a entender o que se passa. O livro traz assuntos que CONTINUAM sendo tabu pro universo feminino - mesmo sendo um livro dos anos 1970 - como abusos e sexualidade. Porém, também demonstra um ar politico, escrito à luz da ditadura. A amizade e cumplicidade são presentes, mas ao mesmo tempo existe uma sensação de que todas são muito solitárias em seus pensamentos. As opiniões que uma tem sobre a outra parecem nunca serem reveladas, ficam pairando apenas nas suas mentes. Será que somos, como humanos, sempre assim?
As Meninas, da brilhante Lygia Fagundes Telles, foi uma leitura que fiz com calma, com o cuidado de quem caminha por um terreno desconhecido, mas instigante. Durante o mês em que estive com o livro, pude absorver não apenas a história de Lorena, Lia e Ana Clara, mas também a riqueza das entrelinhas, repletas de memória, dor e resistência. É um romance que não se apressa em ser desvendado — exige atenção, escuta e disponibilidade para sentir cada camada que oferece.
Publicado em 1973, esse livro nasce em um Brasil marcado pela ditadura militar, período em que liberdade e censura andavam em constante confronto. Nesse contexto, Lygia ousa tratar de temas que ecoam até hoje: repressão política, drogas, aborto, desejo e solidão. Como destacou Vanessa Rodrigues na dissertação "As marcas da memória na escrita de As Meninas", o romance não busca dar respostas, mas apresentar as contradições de uma época, transformando a ficção em um testemunho histórico.
O grande diferencial da narrativa está no fluxo de consciência, que nos aproxima dos pensamentos mais íntimos das protagonistas. Lorena, Lia e Ana Clara têm vozes distintas, mas suas histórias se entrelaçam, formando um retrato múltiplo da sociedade brasileira do período. A forma como Lygia articula presente e passado é fascinante — as lembranças emergem de maneira quase orgânica, como fragmentos que seguimos de perto, sem nos darmos conta de onde começam ou terminam.
Foi impossível não me conectar com as questões de identidade e pertencimento que permeiam o romance. Lorena, presa em sua “concha” emocional; Lia, firme em suas convicções políticas; e Ana Clara, marcada por memórias traumáticas, revelam diferentes formas de resistência. São personagens que não apenas expõem suas dores, mas também a força que nasce delas.
O que mais me marcou foi a maneira como a memória aparece como uma tentativa de reconstrução, ou talvez de sobrevivência. Ler esse livro foi mais do que acompanhar uma história; foi uma experiência de diálogo com o passado, com a história do país e, comigo mesma. Recomendo a leitura a quem busca uma narrativa densa e surpreendentemente humana, daquelas que ficam com você por muito tempo.
Lygia Fagundes Telles tem um estilo notavelmente idiossincrático, de digestão lenta. Sacrifica uma compreensão imediata do texto a esta escrita em forma de fluxo de pensamento, semelhante à forma frequentemente confusa como as nossas ideias se encavalitam umas em cima das outras, sobretudo em épocas de grande perturbação pessoal; e sabe usá-lo muito inteligentemente para falar da psique das suas personagens, escrevendo como um turbilhão desordenado quando fala pela boca da turbulenta Ana Clara, duma forma estritamente ordenada quando pela mente estrategista de Lia. Disso resulta o prodígio de um estilo interessante, num século onde tudo (parece!) foi já escrito; e mais prodigioso é porque o que com ele consegue escrever não é um enredo surrealista feito do inusitado da escrita, mas um realismo fora do vulgar.
A história decorre nos anos da ditadura militar brasileira, e centra-se em três amigas que vivem num pensionato de freiras: Lia, Lorena e Ana Clara. Curiosa amizade, feita de seres tão contrastantes: Lorena, a dondoca nascido em berço de ouro, Lia, comunista resistente ao regime, Ana Clara, neurótica mentirosa compulsiva. Da entrega à implausibilidade desta amizade se consegue, contudo, que ela seja verdadeiramente autêntica: Acho apenas que você nunca será como eu e eu nunca serei como você, não é simples? E não é complicado?
Pelo meio do livro, Lygia Fagundes Telles vai tecendo considerações sobre política e sobre feminismo, além de falar da tortura e perseguição política perpetradas pelo regime militar brasileiro. Publicado em 1974, é um livro de imensa coragem - o verdadeiro mistério é como passou na censura. Ironicamente, a autora chegou a dizer que tendo os censores lendo o início do livro e achando-o terrivelmente chato, aprovaram-no para publicação, sem mais consideração. Espirituoso o dito, mas não por isso sem a sua onça de verdade: se o estilo é deslumbrante, a principal crítica a fazer ao livro é que há que passar um ror de páginas até se conseguir entrever, finalmente, alguma coisa parecida com enredo. Lia, de longe a personagem mais interessante, só toma posição central já passada a metade do livro. Chego a pensar que a autora estava ser menos irónica do que a julgam.
O melhor romance que li da Lygia até agora. A escrita dela ao mexer e trabalhar tão bem e detalhadamente três pontos de vista de personagens tão diferentes entre si, mas que se relacionam e cultivam uma amizade extremamente complexa expressa uma genialidade absurda. Um livro que ao mesmo tempo retrata muito especificamente sua época enquanto se mantém extremamente atual. Uma leitura que todo brasileiro deveria fazer, genial.