A colecção Clássicos Porto Editora convida-nos a viajar pelos grandes livros da nossa língua, revisitando os autores de referência da Literatura Portuguesa e proporcionando, num formato moderno e apelativo, títulos incontornáveis a uma nova geração de leitores. A Morgadinha dos Canaviais Romance, considerado por muitos críticos literários como o mais bem conseguido de Júlio Dinis, foi publicado em 1868. Na figura do protagonista, Henrique de Souselas, a obra ilustra uma das teses favoritas do autor: o efeito regenerador da vida rústica sobre um organismo moralmente deprimido pela vida urbana. Madalena, a Morgadinha, e a sua prima Cristina alargam a galeria dinisina de mulheres fortes, femininas e virtuosas, dispostas a contornar as barreiras sociais por amor, como acontece com Madalena em relação a Augusto. Está também presente, neste terceiro romance de Júlio Dinis, uma forte componente de crítica social, que visa o fanatismo religioso e o clericalismo hipócrita.
JÚLIO DINIS, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nasceu no Porto a 14 de Novembro de 1839. Tirou o curso de Medicina na Escola Médica do Porto, aliando a profissão de médico à de escritor. Os seus primeiros textos foram publicados em A Grinalda e em O Jornal do Comércio. As suas principais obras, todas assinadas como Júlio Dinis, são: As Pupilas do Senhor Reitor (1867), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868), Serões da Província (1870), Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), Poesias (1873), Inéditos e Esparsos (1910), Teatro Inédito (1946-47). O único romance citadino é Uma Família Inglesa, baseado na literatura inglesa. As Pupilas do Senhor Reitor e A Morgadinha dos Canaviais foram romances praticamente escritos em Ovar; já os Serões da Província e Os Fidalgos da Casa Mourisca foram redigidos no Funchal. Esta última obra não chegou a ser totalmente revista pelo autor devido à sua morte prematura; um primo seu ajudou-o nesta tarefa e concluiu-a. Júlio Dinis morreu na madrugada de 12 de Setembro de 1871, no Porto.
Atendendo à época em que Júlio Dinis viveu, seria natural situá-lo no ultra-romantismo. Porém, as suas obras literárias não deverão ser inseridas nesta corrente, já que, devido à influência do pai, médico, e à sua educação científica, Júlio Dinis tinha uma visão bem mais real e verdadeira do que a dos autores ultra-românticos. Mas também não devemos classificar a sua obra na corrente Realismo – Naturalismo que começou com as Conferências do Casino da geração de 70, de Eça de Queirós. Podemos, sim, dizer que ele foi o percursor desta corrente literária no nosso país, o que levou a que fosse apelidado de inaugurador da escola naturalista.
Sabia que para poder tirar o melhor partido possível desta obra não poderia lê-la com o meu olhar cínico de leitora do século XXI, no entanto, tirando um ou outro momento mais aborrecido, algumas tiradas em tom empolado e certas marcas típicas do romantismo, como a orfandade que parece contagiosa e as paixões assolapadas e causadoras de lividez cadavérica, posso afirmar que foi uma agradável surpresa. Os pontos fortes de “A Morgadinha dos Canaviais” são sem dúvida a ironia e o virtuosismo da escrita de Júlio Dinis, bem como os seus traços já de realismo, como a questão do progresso representado pelas estradas, a proibição de enterrar os mortos dentro das igrejas, que tanta celeuma aqui causou...
“-Não queremos que ninguém se enterra aqui!- respondeu o Sr. Joãozinho. - É verdade! É verdade! Ninguém se enterra aqui! – confirmaram diferentes vozes. - Porquê? – continuou o padre. – Julgam que Deus não receberá almas cujos corpos não estejam lá dentro, a apodrecer sob os telhados da igreja e a envenenar o ar que se respira lá?”
...e um certo anticlericalismo, totalmente justificado pelos episódios apresentados neste livro e que proporcionaram os momentos de maior comoção e tensão, protagonizados pelas minhas personagens preferidas, Henrique de Souselas e a morgadinha Madalena.
“Efectivamente, não tinham passado desapercebidos do padre os comentários de Henrique, nem os sorrisos mal disfarçados de Madalena; e a raiva despertada pela descoberta cada vez inflamava mais o orador, exacerbando-lhe a virulência da frase. Já não podia tirar os olhos daquele grupo, e por vezes a cólera, estrangulando-lhe quase a laringe, interrompera-lhe o discurso."
É verdade que não me agradou inicialmente a forma como o lisboeta foi pintado, porque denoto na obra algum preconceito regionalista, mas no final fez-me lembrar um êxodo muito actual, o das pessoas que se cansam da vida citadina e se deslocam para a província para se dedicarem à agricultura e outras actividades mais bucólicas.
“Henrique corria com prazer a vista pelos diferentes lugares da Quinta de Alvapenha, com as suas noras e medas, colmeias, eiras, cabanas e sebes. (...) Pouco a pouco, deixara Henrique de ver a quinta como ela era. Principiava a visão interior.”
Tendo em conta que tinha este livro por ler há décadas, depois de ter detestado “Uma Família Inglesa” em tempos tão remotos que o estabelecimento de ensino onde eu a dissequei ainda se chamava liceu, posso apenas concluir que peguei nele no momento certo, até porque se adiasse muito mais a leitura nesta edição da Europa-América, teria de fazê-la de lupa.
“Em geral, as mulheres, seja dito antes em honra do que em censura do sexo, são oradoras de muito mais fôlego do que os homens que blasonam de eloquentes. O assunto mais simples, uma colher que se perdeu, uma peça de louça que se quebrou, por exemplo, fornecem-lhes tema para uma prédica de duas horas."
É por estes e outros reparos igualmente engraçados que Júlio Dinis ainda merece ser lido!
[Obrigada, Ana, pelo empurrão suave para chegar ao livro mais antigo das minhas estantes, que corria o perigo de nunca vir a ser sequer folheado.]
Eu, literalmente, embeveci com esta releitura! Obrigada, muito obrigada, Julinho, por me teres dado aquela que, provavelmente, será a leitura mais arrebatadora do mês de fevereiro!
Desenvolverei em breve. Como não fazê-lo?... Preparem-se para um vídeo de opinião com aquele sorriso bobo na cara, onde falarei sem parar... E aqui está o prometido vídeo (a partir do minuto 10:36): https://www.youtube.com/watch?v=3yW3J...
“To be born poor, not to have any family nor any title teaches you one thing, to be loyal. And moral dignity helps.”
An interesting premise from one of Portugal’s most beloved writers. Here is a book about the classes and the trials and tribulations of a small town in the north, far from the big city life of Lisboa. Júlio Dinis entrenches the reader into a romance, filled with action and humour, all with a taste for realism.
Henrique de Souselas, was left an orphan as a child. After his university days his health concerns plagued him, and he decided to leave Lisboa to stay in rural Portugal with his tia Dona Doroteia just in time for Christmas. His elderly aunt lived at her house in Alvapenha with her elderly maid, Maria de Jesus. What caught Henrique off guard was the two elderly women ate dinner together. Maria was hardly the maid anymore. What had changed here in the country?
Well some things hadn’t changed. O conselheiro, Manuel Bernardo, was the father of Angelo and Madalena. While father was working his way through big city politics, his son Angelo was following in his footsteps getting a proper education while daughter Madalena lived in the country estate, long after the death of their mother. Madalena or Lena was known as the Moradinha dos Canaviais, hence the book title.
Her cousin Cristina kept her company living with her mother Dona Vitória in a nearby estate. Through Dona Vitoria and Dona Doroteia, Henrique made acquaintance with his cousin Madalena. Any flickers of love were quashed by Henrique’s disposition of starting arguments with Madalena. One day in a rain storm, Henrique showed his true “city” colours. The die was cast and Lena was not impressed.
Of course a love story needs a third wheel and that would be Augusto, a poor school teacher. He has eyes for Madalena but his position keeps him where he belongs (sadly).
Father counselheio wanted to make a big splash and decided to annex some land for a proposed highway through town. This involved annexing the house of the poor old herbalist Vicente Rodrigues da Fragosa. He was called tio Vicente by the locals. A kind old man tossed out and befriended by Augusto the teacher.
Christmas is always a tense time for family gatherings and this was no different. Madalena was not enjoying her cousin Henrique, Augusto was not enjoying the interfering Henrique and found friendship in Angelo. The actions of the father evicting the herbalist just made for some tense moments.
You would think things would improve in the new year? Nope. On the Feast of the Kings, Herodes and his daughter Ermelinda put on a performance in the town square. The wife of Ze-Pereira and the godmother of Ermelinda, was enraged after seeing their performance. She curses Ermelinda, calling her blasphemous. Ermelinda is so terrorized by her godmother that she falls into a deep depression.
One could say that the new missionary was preaching to the faithful. He rails against modernity and anyone who does not follow his severe manner. One person he points out to the congregation is Henrique, the young man from Lisboa. He labels him a Mason and Henrique, Madalena and Cristina barely make it home after the congregation gets fired up by the missionary.
However, poor Ermelinda, so eager to please and having offended her stepmother, loses her will to live and passes away. Her father Herodes, o Cancela goes mad with anger, cursing the godmother and then attacks the missionary, demanding that he return back to Hades.
To make matters worse, the local townsfolk are brewing with resentment. They hang out at the local bar. Wait for it. It’s called O Canada. Yes, it puts a smile on my face. But not for the Madalena and her father. Henrique is attacked and things take on a dire situation. Madalena notices her cousin but her cousin Cristina does the legwork to help Henrique back on the road to recovery. Wink wink, say no more.
What did you expect? I said it was a romance. Between the off again violence caused by the locals and of course, instigated by father’s political drive, the dear reader is bounced from one scene to another, but in a good way. The church is bad, the politicians are bad, the rich are bad, the poor, well they are poor and just waking up to the injustices. How far will they go?
There are bumps and bruises but all ends as one might expect, sort of. I was thinking of a 3 but some very fine writing makes it a 4.
Aparentemente terei lido este livro em 1979, no 2º ano do antigo Ciclo Preparatório, pois não me ocorre outra razão para o ter comprado nessa altura e nele ter escrito o meu nome completo, n.º de aluna, ano e turma, mais a morada completa e telefone!
Na verdade, não me lembro de ter gostado, mas dou o desconto por tê-lo lido por obrigação...
Parece-me que há sempre uma personagem que tem mais brilho, a meus olhos, nestes romances de Júlio Dinis. Desta vez, é a própria Morgadinha dos Canaviais, Madalena.
Trata-se de uma mulher criada na cidade, culta e elegante, mas estando a viver no campo, mostra-se como é, franca, honesta e leal, capaz de defender e até lutar pelos seus princípios, pelos seus amigos e familiares. No fim, capaz de lutar também por si, pelo seu futuro, que até esse momento, parecia ser sempre secundário, para ela.
A história gira à volta da família do Mosteiro, Madalena, Cristina, o conselheiro, e dos seus amigos Henrique, Augusto, entre outros. A mim até me parece que a personagem principal é a própria aldeia, que é caracterizada de forma aprofundada, pelo autor. A sua paisagem, as suas gentes, a sua realidade política, a influência da religião, o seu dia-a-dia, as pequenas histórias de vários dos seus habitantes, são apresentadas pelo narrador, e concorrem para perceber o enquadramento, mas também para compreender a acção principal.
Neste romance, a corrupção política e o fanatismo religioso são temas importantes e que muito interferem na acção principal.
Enfadou-me um pouco mais do que os outros, porque algumas descrições foram demasiado exaustivas, no entanto, as suas 400 e tal páginas não impedem uma leitura rápida e absorvente. Não sendo o meu preferido de Júlio Dinis, foi uma boa leitura!
This story was the known story of the wealthy noblemen of the province, who, proud and unforeseen, gradually let their properties be embarrassed with mortgages and ruinous contracts. Weakened the culture in the fields, impoverished the barns, depopulated the corrals, depleted the earth's sap, transforming long floodplains into heaths, and the walls of homes and farms collapsing walls surrounding the farms.
“Que bem que Dinis escreve” foi um dos meus primeiros pensamentos quando comecei a ler esta obra tão conhecida, de um dos mais importantes ficcionistas românticos de Portugal. A narrativa é construída com uma prosa lindíssima que, por vezes, parece pura poesia! Tenho a coleção de “Obras Completas de Júlio Dinis” à muito tempo na minha estante e, decidi começar por este título tão conhecido da literatura portuguesa, que se revelou uma agradável surpresa! Opinião completa aqui: https://momentosdemagia.wordpress.com...
Li-o há muito tempo, apenas me lembro de me ter assustado com o tamanho do livro (tinha na altura uns 15 anos), mas no final ter achado que tinha valido a pena.
Esta releitura só veio consolidar este livro como o meu favorito escrito por um autor português e Júlio Dinis como o meu autor preferido!
A forma como o tio Júlio escreve é deliciosa. As descrições das pessoas, dos lugares, das situações, os pequenos diálogos que trava com o leitor para esclarecer alguma opinião ou mudança de rumo na história, as cenas cómicas tão bem construídas e descritas, enfim, os livros dele são desde o início até ao final leituras de puro deleite.
A forma como critica, neste livro em particular, as politiquices de aldeia e a religião, que não sendo algo mau, mas que mal aplicada e explicada pode tornar as pessoas fanáticas sem sentido crítico algum, está feita de uma forma soberba!
E claro, o romance, que é abordado de uma forma tão singela e ao mesmo tempo tão fofa, com os meus adorados Henrique, Augusto, Cristina e Madalena, não poderia deixar de ser mencionado!
Enfim, tudo na prosa do tio Júlio é maravilhoso e só tenho pena que a doença o tenha levado demasiado cedo, pois com certeza que sairiam das suas mãos muitas mais maravilhas.
Henrique is 27. For years, he enjoyed the good life in Lisbon, but now he finds it boring. Lately he had been feeling the malaise, the inner void. He reckons the “hypochondria” demon took over him.
Now he finds himself traveling in the north of Portugal, in Minho. He’s about to meet an old aunt. She’s aunt Doroteia who lives with servant Maria de Jesus. They have been living together for a long time. They are highly religious; they pray often at their rustic house. Henrique feels some discomfort regarding that house full of saints. He didn’t like the expression “MARMANJÃO”, as well.
The ladies found Henrique had a good looking. As for the hypochondria, aunt thinks it is a “mania”, being sad for no reason. Henrique totally disagrees.
A good night sleep makes a sort of miracle in Henrique’s mood; he is willing to wake up early in the morning and going alone for a stroll.
Curious person Henrique meets: the head of the local postal office. He’s Sir Bento Pertunhas, a talented man with many jobs. But mainly, one who would like to become an artist (musician) and who lectures Latin. Surprisingly, though, Bento is very critical on that old language: it’s an awkward way of placing words and there are several (too many!) ways for calling an object. "O TRAMBOLHO DA SINTAXE", it's written on that subject.
Things get even more curious (and exciting?) when Henrique spots a young woman reading letters for those who request so. Henrique has the chance to watch people's reactions to the letters content. There are several types of letters.
Henrique just made a sketch of the scene. Soon he'll get to know the lady's name. Madalena. ...
Allow me to clarify that “A Morgadinha dos Canaviais” refers to one of the characters of the book, to be more precise, Madalena. She’s not necessarily always the main protagonist, though. Her heart had been ticking for another one, as Henrique arrived to that quiet village of the north of Portugal.
And yet, she had a few lessons to teach to the city young man, arriving depressed.
The story is a perfect combination of cultural, moral and political and feeling elements, maybe all intersecting in this great change produced in Henrique who totally embraces the simplicity of the rural life and finds himself getting married to a “shy” girl, though, one who truly takes care for him, especially after the accident he was victim.
The political life favors the father of Madalena, against all the odds. He’s sort of promoted in the end and keeps his family extended and happy.
The Philosopher is a strong personality as well (like Madelena and Cancela) who truly represents the old ways of health treatment in remote areas, versus the modern medicine. Pertunhas is a sort of sham.
The purest soul yet reveals to be Augusto, a poor man, with no name or fame who, despite all calumnies, kept his secret love for Madalena until the very end; thus being rightfully rewarded.
I’ve been reading “As Pupilas do Senhor Reitor” (1866) and found “A Morgadinha dos Canaviais”(1868) a lot better.
Júlio Dinis, revelou-se aos nossos olhos com esta obra, como um prodigioso escritor. Como uma escolha de palavras apurada, com descrições minuciosas e cativantes, com uma estória bem arrumada e interessante, A Morgadinha dos Canaviais, tornou-se numa obra de referência na nossa biblioteca. Face ao exposto, não podemos deixar de aconselhar muito a leitura deste livro. Apesar do tamanho, é uma obra que se lê com entusiasmo e satisfação e um excelente exemplo do nível elevado da literatura portuguesa do século XIX.
O melhor de Júlio Dinis está neste A Morgadinha dos Canaviais, romance dos mais lidos e apreciados nos países de língua portuguesa. Nele, o escritor advoga a tese segundo a qual a felicidade só existirá no regresso ao campo e à vida simples. Todavia, não deixa de estar presente uma forte componente de crítica social, que visa o fanatismo religioso e o clericalismo hipócrita. Traduzindo seguramente o seu caso pessoal, Júlio Dinis não exclui o progresso industrial nem o desejo de bem-estar material, mas deles encara apenas como vantagem aquilo que contribui para a ventura do homem no campo, sem lhe alterar absolutamente o modo de vida. Por isso procura um compromisso, nem sempre possível de atingir, entre a ciência e a ingenuidade. Mas fá-lo com tal generosidade que não se estranha que o mesmo tema volte a ser abordado por outros escritores, como Eça de Queirós n'A Cidade e as Serras, ainda que com outro sentido e matiz.
É um livro extremamente previsível, tanto que já tinha adivinhado o fim com apenas um quinto do livro lido. Devo confessar que apesar de ser um livro interessante em várias secções, não pude deixar de revirar os olhos com a lamechice de alguns trechos.
A trama principal é o desinteressante romance que já se descreveu; muito mais interessante era o enredo secundário da vida de Ermelinda Fosse todo o livro centrado nesta estória, e seria um livro muitíssimo melhor, um vivo retrato de uma questão social altamente controversa na época de publicação do livro. Não sendo assim, é um clássico livro romântico, bom mas não fantástico.
Henrique de Souzellas é exactamente do tipo que eu gosto de adjectivar livremente de choninhas!
Hipocondríaco e convencido que desta vez o episódio será fatal, Henrique troca uma vida folgada na capital por uma bem mais modesta, numa remota aldeia minhota. O seu debate contra a vida do campo, comparando-a sempre injustamente com a civilização urbana, persegue-o quase até à conclusão do livro. Não fosse desenvolver um outro tipo de «interesse» e, provavelmente, Henrique nunca se reconciliaria com a vida rural.
Júlio Dinis mantém-se fiel ao seu estilo, sendo óbvias algumas semelhanças com personagens de outros livros de sua autoria, bem como com determinados enfoques de moralismo e ideologias.
Costumo gostar imenso tanto da composição escrita de Dinis como das histórias que nela encontro. Infelizmente, «A Morgadinha dos Canaviais» é a primeira vez que me fico apenas pela apreciação da escrita. Não simpatizei particularmente com nenhuma das personagens nem tampouco com o enredo que as interliga.
O final imprevisível e o largo número de acontecimentos distintos tornam a leitura interessante...e este livro lá terá os seus pontos altos, mas no geral, «A Morgadinha dos Canaviais», não me fascinou.
A Morgadinha dos Canaviais é uma magnífica obra novecentista do escritor português Júlio Dinis que versa, sob a forma de romance, sobre a vida campestre portuguesa em meados de oitocentos. Júlio Dinis, através de uma técnica literária bastante aprofundada, ao bom estilo da época, escreve um romance, em muitas partes, satírico, sobre a realidade da vida do campo, através do recurso a personagens tipo, de forma a retractar o mais fielmente possível uma realidade verdadeiramente fantástica. A estória principia com a chegada de Henrique – jovem lisboeta repleto dos vícios da vida em cidade – a uma aldeia do Minho, onde se procura restabelecer de doenças do espírito. Nesta aldeia, pobre em ocupações e na folia da cidade, Henrique encontra na família do conselheiro – na altura da narrativa, ilustre deputado da nação – um porto seguro que lhe permite a manutenção do status quo da cidade. Não querendo, obviamente, avançar na narração da estória, não podemos deixar de referir no entanto, a importância deste facto para o desenrolar da obra, pois é na casa do Mosteiro que Henrique conhece as primas Madalena (ou Morgadinha dos Canaviais) e Cristina. De entre todas as aventuras que se desenrolam, não podemos deixar de chamar à atenção para o acto eleitoral que serve de epíteto ao livro. A crítica social aos caudilhos, ao compadrio, à cunha, atinge com esta descrição o seu ponto mais alto. Júlio Dinis, revelou-se aos nossos olhos com esta obra, como um prodigioso escritor. Como uma escolha de palavras apurada, com descrições minuciosas e cativantes, com uma estória bem arrumada e interessante, A Morgadinha dos Canaviais, tornou-se numa obra de referência na nossa biblioteca. Face ao exposto, não podemos deixar de aconselhar muito a leitura deste livro. Apesar do tamanho, é uma obra que se lê com entusiasmo e satisfação e um excelente exemplo do nível elevado da literatura portuguesa do século XIX.
Tendo escapado aos clássicos habituais da época da escola, a Morgadinha dos Canaviais chegou à mesinha de cabeceira por intermédio do grupo de leitura (embora um pouco atrasado, eu sei). E em boa hora chegou. Júlio Dinis tinha uma prosa bastante divertida, com vários piscares de olhos ao leitor, quebrando frequentemente a "quarta parede" com comentários jocosos que visavam, certamente, algumas personagens da época. Quanto à história em si, não digo que seja muito original, dava para identificar os casais finais desde os primeiros capítulos, mas ainda assim surpreendeu em algumas partes com mortes inesperadas. O melhor foi, sem dúvida, poder reconhecer, na sociedade do século XIX, vários dos problemas que temos ainda hoje em dia, nomeadamente no que à classe política diz respeito.
Costuma-se dizer que não há nada como voltar a casa e é exatamente isso que sinto quando leio literatura portuguesa. Há muito tempo que andava afastada destes cenários e por isso decidi voltar a um terreno que nos é tão bem conhecido. Voltei com "A Morgadinha dos Canaviais" de Júlio Dinis, é o primeiro livro que leio do autor e certamente não será o último. O Romance passa-se no século XIX em pleno Minho. Henrique de Souselas é o típico lisboeta culto da época, frequenta os melhores círculos, é rico e tem a típica atitude urbana. Vai para o Minho a caminho da cura de uma maleita por conselho dos seus médicos e aí se opera uma alteração no seu estado de espírito. Existe uma clara divisão entre o que é a vida no campo e a vida na cidade, o autor expressa bem através da personagem de Henrique de Souselas e até mesmo do conselheiro todas as vantagens do campo e claro, todas as críticas ao ambiente urbano. É uma leitura muito engraçada pois o leitor ao ter de se enquadrar na época da escrita faz com que tenha de ter um exercício mental. É preciso ser tolerante em relação aos diálogos, ao fervor religioso muito presente e caracterizado na forma de algumas beatas da aldeia. Muito simples ter este raciocínio, para nós hoje em dia é normalissimo enterrar uma pessoa num cemitério, na altura em que o livro foi escrito ainda essa prática se estava a pôr em uso e neste ponto há também uma clara critica do autor ao fervor religioso e ao aproveitamento deste. É um livro muito interessante que nos faz refletir nas mudanças da sociedade e de como hoje em dia ainda há tanta coisa igual. Aconselho a leitura!
Recorda-nos como há palavras, perfis, estereótipos, preconceitos, costumes e geografias que mais de 100 anos volvidos não deixam de representar de forma tão cómica e terrificamente icónica e familiar o ser português na província... do Minho.
Re-reading this after 20 years means that I remembered absolutely nothing about this novel, other than the fact that I share my name with the main character's :P
This is a Portuguese classic from 19th century, written in 1868 in what I consider the Portuguese romanticism style. As it seems to be the case with all Portuguese classics, this novel starts with a long (and almost too boring) description of the final miles of a trip from the capital city to a distant small village (which took about 2 days!!). But then as the characters get introduced, dialogues are set and action begins, this gets addictive. As the story develops we get a glimpse of society at the time, as well as Júlio Dinis' criticism on: > the armful influence of too much [Catholic] Church devotion > politics done only to gain influence/under corruption, elections whose votes were dominated by a few "influent" people
Here we also find depicted the dichotomy between life in the city and life on the countryside - the latter being advocated by this book.
It's somehow surprising to rediscover Portuguese classics (there is a reason for them to be classics!) as well as Júlio Dinis.
[The edition I read (from Edicoes Europa-América) had a lot of typos :(]
Eu desisti de ler este livro, já não é a primeira vez que desisto de certos livros, mas deste não esperava tal coisa. O livro em si não é mau, ainda li umas quantas páginas (para além das dos updates). Mas não me cativou, penso que de momento não é o tipo de livro que quero ler.
O Henrique é a personagem que mais me aborrece e dá nervos, para mim é o equivalente masculino de Madame Emma Bovary. O Augusto é um querido, é das personagens que mais gosto no livro. Madalena, a Morgadinha, não é má pessoa mas senti que a rapariga não tinha quaisquer defeitos e é de uma perfeição tão perfeita que se torna irrealista.
Como não li o livro até ao fim é provável que as coisas mudem, mas não me sinto disposta a descobrir. Pelo menos por agora. Talvez um dia mais tarde tente de novo, só pelo amor que tenho à escrita de Júlio Dinis.
O que fazer quando uma pessoa aproveita todas as hipóteses disponíveis que tem para nos incitar a ler este livro? Bem, eu a quem me deparei nesta indecisão decidi dar o benefício da dúvida a este livro. Não foi a primeira obra que li do autor, mas posso dizer que foi a que mais gostei. Não me arrependo de ter lido este livro.
“É que a moral é uma. O homem não pode dividir-se; os pecados sociais de quem é virtuoso nos lares domésticos, pagam-se, expiam-se nesses mesmos lares. Os filhos que criou e educou segundo os preceitos da honra e da virtude, serão mais tarde os seus próprios juízes, e que cruel julgamento para o coração de um pai! É justo que a pátria peça conta dos crimes de família e desconfie dos tribunos que não sabem ser pais, filhos, irmãos e esposos;”
Que boa companhia. Foi o meu primeiro livro de Júlio Dinis e gostei imenso. Encontrei alguns detalhes que me remetiam para Eça, o que me deliciava ainda mais. Adoro ver a dicotomia cidade/campo aplicada, mostrando o lado campestre como a cura dos males, enquanto a cidade nos polui. As personagens são interessantes, algumas um pouco peculiares, mas rapidamente se cria empatia com todas. Uma boa leitura.
Este é um daqueles clássicos da literatura portuguesa que continua a interessar e a resistir à passagem do tempo. Os temas são, obviamente, datados, o contexto é-nos pouco familiar, mas, tal como muitas obras igualmente anacrónicas da literatura mundial, isso não estraga a qualidade da narrativa. Mesmo dentro desta categoria de romances, sempre entendi que Júlio Dinis era algo subvalorizado, tendo em conta a sua mestria literária.
Mais uma prova do quão bom escritor é o Júlio Dinis. O triângulo romântico está bem feito e todas as personagens têm uma grande presença no livro e no enredo da história. A forma como Júlio Dinis descreve o cenário de aldeia e as dinâmicas das personagens só revela o quanto ele próprio experenciou este lado da vida portuguesa e quão bom ele é a criar diferentes pontos de vistas e ideias de uma comunidade e os seus problemas.
Esta foi a primeira obra de Júlio Dinis que li e tenho a dizer que não será a única. Gostei bastante da sua escrita, bem como do humor mordaz e da crítica à corrupção política e ao fanatismo religioso. Infelizmente, continuam a ser temas na ordem do dia.