«Procuramos neste livro caracterizar a clandestinidade comunista, enquanto contexto de vida e de luta, e descobrir as normas de conduta, regras, códigos éticos e morais, e até a linguagem particular que os clandestinos assumiam. Pretendemos assim equacionar a cultura própria que emana da clandestinidade comunista, caracterizando não tanto a organização partidária numa perspectiva macro-estrutural, mas lançando um olhar para o quotidiano da vida clandestina, usando como fonte privilegiada de informação as vozes daqueles que permaneceram clandestinos e que nos forneceram as suas narrativas biográficas.
A ideia de que é necessário dar a conhecer testemunhos das vítimas do fascismo, e que é fundamental para a construção da nossa identidade e da nossa memória colectiva esse conhecimento é o motivo primeiro que está na origem desta publicação. A ideia de que é importante legar para as gerações vindouras as memórias das vítimas do regime fascista e a sua versão dos factos, e que é necessário combater a ideia de que a ditadura foi inevitável, necessária ou até benéfica, construindo uma memória colectiva da resistência e da oposição, foi possivelmente a principal razão para que os ex-clandestinos aceitassem colaborar na investigação que realizámos.»
CRISTINA NOGUEIRA nasceu em 1967. Bacharel em Educação de Infância pela Escola de Educadores de Infância Sta. Mafalda (1990); licenciada (2000) e doutorada (2009) em Ciências da Educação, com a tese De Militantes a Clandestinos: Práticas e Processos de Formação na Clandestinidade Comunista (1940/1974), pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Tendo começado por fazer parte do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Universidade do Porto (CIIE-UP), foi investigadora integrada do Instituto de História Contemporânea (IHC-FCSH/UNL), docente no Agrupamento de Escolas Júlio Dinis, em Gondomar, e membro da Direção do Sindicato dos Professores do Norte, desde 2021, tendo antes integrado a Direção Distrital do Porto (2017-2021) e sido, desde 2009, várias vezes delegada sindical. Faleceu a 10 de Outubro de 2025.