Ana pergunta-se como seria hoje o seu dia-a-dia se tivesse sabido detetar no namorado os indícios da doença que o levou inesperadamente. Isabel, seis meses depois da tragédia que lhe virou a vida do avesso, ainda se sente culpada por não ter chegado a horas ao infantário naquela tarde de chuva. Marta, que ousou abandonar, ainda adolescente, uma casa onde era maltratada, não tem agora a coragem de confessar que o amor em que apostou tudo está longe de ser um mar de rosas. São três mulheres jovens, com a vida inteira pela frente, mas para quem o presente se tornou um fardo difícil de carregar e o futuro um tempo sem qualquer esperança. Quem poderia entender a sua dor incomparável? Para quê, então, contarem as suas histórias? Um acidente acabará por cruzar estas três desconhecidas num lugar onde muitas vidas se perdem, mas que para elas representará sobretudo o nascimento de uma amizade que lhes vai permitir lutarem contra o sofrimento e recuperarem aos poucos o ânimo e a vontade de viver. Porque quanto maior é o drama, maior tem de ser a partilha. Com uma linguagem cuidada e uma estrutura francamente original, este belíssimo romance de estreia, finalista do Prémio LeYa em 2015, traz para a cena questões de grande atualidade que afetam muitas mulheres e não devem ser silenciadas, e lê-se de um fôlego, mantendo o suspense até à última página.
Susana Piedade nasceu em 1972, no Porto. É mestre em Ciências da Comunicação, com especialização em marketing e publicidade. A paixão pela escrita veio para ficar. Estreou-se na literatura com o romance As Histórias Que Não Se Contam , finalista do Prémio Leya em 2015 e publicado no ano seguinte nesta mesma coleção, a que se seguiu O Lugar das Coisas Perdidas (2020). Três Mulheres no Beiral , finalista do Prémio Leya em 2021, é o seu terceiro livro de ficção.
“As histórias mais importantes são as que não se contam. Talvez por parecerem tão pequenas que não mereçam ser contadas ou por serem tão grandes que, estranhamente, não caibam em palavras.”
Uma narrativa sobre vidas que se cruzam, se entrelaçam. Numa escrita dominante, que nos envolve, arquiteta e nos guia para dentro de cada uma das histórias.
Particularmente, gostei das personagens femininas, todas elas muito expressivas e reais. Se olhadas no espelho, poderiam ser parte ou um todo de qualquer uma de nós… Porque, afinal, nossa ou não, todas temos uma pequena ou grande história para contar.
Até hoje, Susana Piedade publicou 3 livros… comecei pelo do meio. E se o último (“Três mulheres no Beiral”) me fez regressar à minha infância, este primeiro livro da autora fez-me enfrentar alguns dos meus maiores medos. Não sabia que ia ser assim… e não sei se estava preparada. Neste livro, Susana Piedade conta as histórias de três mulheres traumatizadas, com vidas desfeitas por diferentes motivos e sem razão para continuar. Três histórias de vida tão diferentes, todas traumáticas e carregadas de sofrimento, três histórias que nos atingem e nos prendem, porque podíamos ser nós… Ao mesmo tempo que me senti presa a estas personagens, fiquei exposta a alguns dos meus fantasmas, porque é inevitável não pensar “E se fosse comigo?”. Por coincidência ( … terá sido??... ), as vidas destas três mulheres acabam por se cruzar. E é no meio da imensurável dor da perda e do sofrimento que se conhecem e se salvam. Porque se esta é uma história de dor, também é uma história de amizade, de amor, de salvação. Com uma escrita cuidada, cativante e rigorosa, Susana Piedade prende-nos às histórias de Ana, Isabel e Marta, personagens tão bem construídas que nos parecem pessoas reais a contar a sua história. Senti-me de tal forma envolvida que sofri, de coração apertado, com a perda de Isabel, a personagem com quem mais me identifiquei, porque também sou mãe e porque me fez questionar, porque me obrigou a enfrentar algo que não consigo sequer imaginar... A forma como Isabel reage à perda, como achamos que já sabemos tudo e vamos descobrindo mais pormenores aos poucos, acaba por fazer sentido. Não questionei, não julguei, e creio que seria o que faria com uma amiga que passasse pelo mesmo. Porque “Não há perda maior do que aquela que cada um sente como sua.” Gostei da forma como a narrativa liga as três histórias, através da perspetiva das três personagens, de forma muito natural e muito bem conseguida. É um relato bastante emotivo, carregado de dor e sofrimento, mas muito real e sem cair no discurso de “coitadinhas”. Por isso, a empatia com as personagens é tão fácil. São histórias fortes, sofridas, que não se partilham… porque só quem as viveu as entende. Mas a amizade verdadeira entre as três permitiu a partilha e, a meu ver, é essa a mensagem que a autora quer deixar: foi a amizade que as salvou. Por isso, ainda bem que estas histórias foram contadas. E recomendo que sejam lidas!
Antes de começar esta leitura fui ver as opiniões do Goodreads, coisa que dou por mim a fazer cada vez mais. As Histórias Que Não Se Contam foi publicado recentemente e, há duas semanas, contava com dois pareceres, um deles com cinco estrelas e o outro sem qualquer estrela, uma leitura que ficou pela metade. Gosto de livros que provocam opiniões divergentes e, como tal, não podia ter ficado mais entusiasmada para o começar a ler. A escrita cuidada agradou-me de imediato, assim como um certo mistério que foi dando alento ao virar das páginas. Li todo o livro com uma necessidade constante de perceber. Primeiro queria perceber as histórias de Ana, Isabel e Marta. E depois, mesmo já tendo percebido os motivos de cada uma delas para o sofrimento atroz em que vivem, faltou-me compreender. E mesmo agora, com o livro lido, não compreendo. Nem aceito que a vida possa trazer dor tão imensa. Possivelmente é por isso que estas histórias não se contam. Uma das histórias mexeu comigo particularmente. Acho que não é spoiler, mas se quiserem partir para a leitura completamente a zero, parem por aqui. Marta é vítima de violência doméstica. É uma pessoa tão boa, que o facto de ser agredida com violência quase diariamente, arrasou comigo. Ninguém merece ser agredido, quer seja bonzinho ou nem por isso, mas o contraste está tão bem conseguido que é impossível não adorar a Marta e não sofrer por ela e com ela. E quando digo sofrer é mesmo à séria, é perder o sono e dar voltas na cama como se a Marta fosse minha amiga ou a vizinha de baixo, como se existisse na minha vida. Agora existe e não a vou esquecer. Em algumas noites tomei consciência que não podia continuar a ler, se queria dormir teria de optar entre o livro e uma noite de sono. Susana Piedade estreia-se com um livro que não deixará o leitor indiferente. A escrita é elegante e desempoeirada, as frases formam-se de forma bonita, proporcionando uma leitura com ritmo que não apetece largar. A estrutura, pensada, vai unindo as três histórias devagar, aproximando as três mulheres, permitindo algumas divagações ao leitor, fazendo-lhe nascer vontades de decidir os rumos. É preciso mergulhar numa história para a querer mudar, para se permitir zangar e sofrer. Quem gosta de ler deseja esse mergulho, deseja sentir amores e ódios e, por vezes, uma raiva de fechar o livro. Para o abrir depois de respirar fundo. As minhas estrelas já brilham e são quatro. Há apenas um detalhe que me inibiu de atribuir as cinco estrelas: eu gostava de ter sentido a voz individual de cada uma das mulheres. O livro é escrito na primeira pessoa e eu não senti que houvesse diferenças no estilo ou no discurso, no fundo é quase como se Ana, Isabel e Marta falassem com a voz do narrador, mesmo este não existindo. Pode ter sido intencional, e até se compreende, pois ajuda a tornar mais fortes os elos comuns (que existem, acreditem), mas a mim fez-me falta, senti a necessidade de as identificar, de não as confundir. Penso que escrever um livro é sempre um acto de grande coragem. Mais ainda quando se expõem temas dolorosos, como os aqui narrados. A autora é assertiva, escreve de forma incisiva e envolvente, sem nunca resvalar para a “história da desgraçadinha”, nem provocar a lágrima fácil. São histórias que se contam. Têm de se contar. E têm de ser lidas. http://planetamarcia.blogs.sapo.pt/as...
Esta foi uma leitura difícil, no entanto a cada página que lia tornava-se mais e mais difícil fechar o livro e fazer uma pausa nestes temas que mexem tanto comigo. O luto, a perda, a violência. Foi no mínimo, emotivo, a leitura deste livro, a vida de tantas Anas, Isabéis ou Martas. Uma autora que escreve com a alma e as emoções, nos conduz por uma panóplia de sentimentos, nos deixa a respiração em suspense simplesmente porque nos esquecem de respirar. Lágrimas que ficam presas em nós pelo esforço que fazemos em sermos corajosas, tal como a Ana, a Isabel ou a Marta. Excelente autora, vou ler os restantes sombra de dúvida.
Gostei tanto! Um livro sobre a perda, a morte, a depressão, a ansiedade, o vazio, mas também sobre a esperança, a amizade, a superação. Uma narrativa a três vozes, cada personagem com o seu próprio drama pessoal. Histórias individuais que se vão intercalando aos poucos, perdas que levam a questionar Deus, se existe, se é imperfeito, como todos nós, se tem tantos pedidos e solicitações que não consegue fazer a triagem eficaz dos mais urgentes, que não consegue chegar a toda a gente, um Deus que não tem mãos a medir... Gostei especialmente desta reflexão sobre Deus. Fico muito curiosa para ler "O lugar das coisas perdidas" da mesma autora.
" Um segredo por contar. A falta que fazem as pessoas que nos deixam. As saudades não confortam, são a lembrança atroz de tudo o que perdemos e brotam como mato. Talvez ninguém morra verdadeiramente de saudades, mas há quem não consiga viver com elas. Um dia seremos apenas tudo o que fomos na vida de alguém. "
Isabel, Ana e Marta são três jovens que vêem as suas vidas interligadas devido a um acidente e que a partir desse dia constroem uma amizade capaz de as fazer ultrapassar o sofrimento em que as suas vidas estão mergulhadas. Este é o primeiro romance da Susana Piedade e depois de ter lido Três Mulheres no Beiral, sabia que tinha que ler tudo o que a Susana tinha escrito anteriormente mas não estava preparada para esta leitura. Este é um livro que nos provoca todo o tipo de emoções, uma tristeza profunda, empatia, revolta, sofrimento, mas a mim em particular me fez questionar o que eu faria no lugar da Isabel, uma mãe que perde um filho e que como ela diz, ela também morre com ele. As Histórias que não se Contam é sobretudo um livro sobre a perda e como recuperar ou não dela, é um livro lindo, com uma escrita soberba e três histórias dilacerantes .
Apaixonei-me pela escrita da Susana Piedade quando li o Três mulheres no beiral (o seu livro mais recente e finalista do prémio Leya). Como me acontece com os escritores que me prendem não só pela história, mas pela forma da sua escrita, decidi ler todos os livros Susana. Assim tratei de comprar o primeiro (este, também ele finalista do prémio Leya). Este As histórias que não se contam está, diria, dolorosamente bem escrito. Digo dolorosamente porque são história que doem e que marcam o leitor, não só porque sei que são tantas vezes reais, mas porque o detalhe me fez tocar no pior dos meus medos.
Não é fácil ler sobre uma mãe que perde um filho quando temos um bebé de semanas ao lado. A vida fica em perspetiva. Chatear-me com o mais velho por causa de um quarto desarrumado e voltar para o meu livro, terminar um capítulo com a sensação de que me desgastei com o que nao importa.
Os livros bons são assim, contam vidas que nos fazem pensar, dão-nos perspectiva, fazem-nos crescer e aprender com os sucessos e as derrotas de quem está dentro das suas páginas disponível para contar uma e outra vez a sua história.
“As histórias mais importantes são as que não se contam. Talvez por parecerem tão pequenas que não mereçam ser contadas ou por serem tão grandes que, estranhamente, não caibam em palavras. Por isso, às vezes, deixam-se estar quietas, aparentemente insignificantes, à espera de que alguém as desvende. São quase sempre imperfeitas, inacabadas, não têm voz de autor. Estão lá, mas nem sempre as vemos.”
Neste livro a autora dá-nos a conhecer as histórias de 3 mulheres. Histórias de vidas que todos poderíamos muito bem conhecer, desde referirem-se a alguém completamente desconhecido, como até serem sobre a nossa própria vida. Histórias comuns, reais que nos levam a questionar “e se fosse comigo o que eu faria?”. Histórias tristes, sofridas que nos deixam angustiados e por vezes enraivecidos pelas “injustiças” que tantos sofrem diariamente quer pela perda ou por outro motivo qualquer.
A autora conquistou-me com a sua escrita e com o livro “Três mulheres no Beiral”. Fiquei curiosa para ler outros livros publicados por ela, portanto este foi o livro que se seguiu. Continuo a adorar a forma como escreve, como brinca e conjuga as palavras e como todas elas se encaixam melodiosamente, mesmo que por vezes, estas palavras tenham um tom mais pesado e sofrido. Susana Piedade é sem dúvida uma autora portuguesa que vou querer continuar a acompanhar!
"As histórias mais importantes são as que não se contam. Talvez por parecerem tão pequenas que não mereçam ser contadas ou por serem tão grandes que, estranhamente, não caibam em palavras. Por isso, às vezes, deixam-se estar quietas, aparentemente insignificantes, à espera de que alguém as desvende. São quase sempre imperfeitas, inacabadas, não têm voz de autor.".
Completamente rendida a estas histórias, ao poder da amizade que uniu a Ana, a Isabel e a Marta. Histórias que se cruzam e que nos mostram o luto, as amarras da dor infindável, da perda, mas também a garra da coragem, da luta diária pela busca do novo eu.
"A falta que fazem as pessoas que nos deixam. As saudades não confortam, são a lembrança atroz de tudo o que perdemos e brotam como mato. Ninguém nos avisa que são tão grandes que usurpam todo o espaço. Talvez ninguém morra verdadeiramente de saudades, mas há quem não consiga viver com elas. Um dia seremos apenas tudo o que fomos na vida de alguém.".
Dos mais emocionantes e bonitos livros que li este ano. 🤍
Que bela forma de entrar no ano 2022. Há tanto tempo que não encontrava um livro que me prendesse tanto e de forma tão emotiva . “Sou uma malabarista das emoções. Manobro-as, faço-as girar no ar sem saber onde pousar cada uma, sem prever se me equilibro e me batem palmas, se me estatelo no chão. O importante é ir mantendo tudo num giro constante e entreter o público. Para que vejam o espetáculo, em vez de me verem a mim.” . A autora conta-nos a história de 3 jovens mulheres que carregam as suas dores relacionadas com a perda. Ao cruzarem-se por um mero acaso, a amizade que surge entre elas, pode-as salvar. . . Adorei a forma como a narrativa nos é exposta. O relato do livro é feito pela perspectiva de cada uma das protagonistas da história que se interliga de forma muito natural e muito bem escrita. A autora consegue passar bastante emoção, e as lágrimas chegam-nos ao sentir o peso que estes personagens carregam. Uma leitura que recomendo vivamente.
Três mulheres se cruzam e criam um forte laço de amizade. Em cada uma encontram o apoio para lidar com problemas sérios e que Susana Piedade tem a mestria de abordar com a sensibilidade que merecem. Não é um livro para qualquer um porque aborda temas pesados mas ao mesmo tempo necessários: luto e violência doméstica. Gostei mais de "Três mulheres num beiral" da mesma autora pela sua história e tema. Quanto a este livro, achei as abordagens do luto das personagens exaustivas mas compreendo que a autora talvez tenha tido o objetivo de abordar o luto desta forma para nos transmitir a ideia de que o luto é um processo longo e doloroso. Continuo a querer ler tudo o que esta autora escreve.
Neste livro somos apresentados a três mulheres que se conhecem por uma coincidência: Ana, Isabel e Marta.
É uma história sobre perdas muito duras, violência e muita tristeza. Mas é acima de tudo uma história de força, coragem e uma amizade que ajuda a superar até a mais dura das perdas.
Quando achamos que já nada vale a pena são os amigos verdadeiros que nos dão a força que julgávamos perdida.
Tem descrições muito duras. De tal forma que prendemos a respiração ao longo das páginas fazendo com que se leia este livro num só fôlego. Muito bem escrito, foi a minha estreia com a autora e adorei.
POR: Uma agradável surpresa! Um livro que, de um modo geral, retrata a morte, a dor associada à perda e a violência doméstica. Isto juntamente com o cruzamento de 3 vidas (3 mulheres) é a receita perfeita para ficarmos, literalmente, agarrados ao livro. Uma narrativa muitas vezes emotiva que não deixa ninguém indiferente. Fantástico, parabéns!
ENG: A pleasant surprise! A book that, in general, portrays death, the pain associated with loss and domestic violence. This together with the crossover of 3 lives (3 women) is the perfect recipe for literally getting hooked on the book. An often emotional narrative that leaves no one indifferent. Fantastic, congratulations!
Não vou dar uma classificação porque não consegui passar de metade do livro. A sinopse é apelativa e a história parece ser interessante, mas uma escrita que tenta passar por erudita e acaba a ser pretensiosa e snob (demasiado purple prose) tira toda a vontade de continuar a ler a história. Acredito que há quem goste deste tipo de escrita (afinal, foi finalista do prémio LEYA), mas já li livros e enredos muito bons que não precisaram (e ainda bem!) de recorrer a este estilo de escrita.
Uma bela surpresa! Adorei! O livro prendeu-me desde o início pela sua escrita. Faz-nos sentir cada dor, cada história, cada sentimento. Arrancou-me uma lágrimas cá e lá pela sua profundidade. Pensei que a história ficasse ali, parada nestas três personagens, mas não! Conseguiu trazer algo mais, uma pequena surpresa (não muito difícil de adivinhar, contudo), um pouco de suspense, e as páginas foram passando num piscar de olhos. O final não é bombástico, mas é bem construído.
Foi com muito prazer que li o livro "As Histórias que não se contam" e que participei numa "viagem" de cumplicidade entre 3 mulheres que tinham descido ao abismo e que conseguiram superar as agruras individuais com a amizade que o acaso quis reunir. Parabéns Susana Piedade! Que este seja o primeiro de muitos! O meu filho de 12 anos também gostou muito de o ler :-)
Li e recomendo a leitura. Despertou-me várias emoções ao lê-lo e a dada altura não foi possível parar de ler até chegar ao fim. Parabéns à autora pela originalidade da escrita e do que nos “obriga” a refletir. Dá vontade de fazer também uma lista … (têm que o ler para perceber). Eu já fiz!
Um livro que mexeu muito comigo, com os meus sentimentos, com as minhas perdas, com os meus receios, com as dores que por vezes sinto com as histórias de muitos outros e outras ...
Um livro que aborda com leveza os temas morte, perda e violência doméstica em três histórias que se cruzam. Foi escrito por uma autora portuguesa que, ao longo do livro, retrata vários locais de Portugal, desde o Algarve até a uma pequena aldeia do interior em Trancoso. Recomendo a sua leitura.
Se o primeiro livro foi bom, este foi excelente, três mulheres que por coincidência ou não, se cruzam , e no meio de perdas, violência doméstica, depressão, entre outras situações, se vão ajudando mutuamente, até perceberem que o caminho que estão a seguir não é o certo.
4,5 ⭐️ Um livro que se lê com o coração em suspenso tal é a empatia que desperta. Luto, perda, ansiedade, medo, amor, violência, esperança, fortalecimento, amizade, pertença... Vivemos tudo isso com as protagonistas. Gostei muito!
Três histórias que nos prendem desde o primeiro parágrafo. Histórias que nos parecem tão distantes e ao mesmo tempo tão próximas. Muito bem pensado, muito bem escrito.
As Histórias Que Não Se Contam é um romance de Susana Piedade, finalista do Prémio LeYa. Com constantes diálogos e monólogos, as personagens irrompem pela história, dominando-a com a sua força e personalidade. Imparável, até mesmo quando refletem sobre as suas próprias vidas. O ideal é lê-lo de seguida, ou corremos o risco de nos perder e de termos de voltar atrás para nos voltarmos a situar. Três mulheres. Cada uma com o seu problema/dilema de vida. Ana perdeu o companheiro para uma doença que o levou demasiado cedo e de forma inesperada. Está afundada no seu luto e na sua tristeza. Isabel perdeu o filho, atropelado à saída do infantário, num dia de chuva. Mergulha numa depressão profunda e culpabiliza-se por ter chegado atrasada ao infantário. Marta é vítima de violência doméstica. Passa anos a ser a “Jerry” numa relação com “Tom”, que lhe absorve a vida. Sempre a ter de medir gestos, palavras, horários. Sem poder ter vida própria, amigas. Controlada ao máximo. E, ainda assim, espancada diariamente. Sempre a dar mais uma hipótese a quem julga ainda amar, mesmo quando descobre a arma que ele guarda numa caixa. Ou um ou outro, não é o que sempre acontece nestas situações? Há um momento em que as vidas destas três vítimas se cruzam e os problemas unem-nas e tornam-nas mais fortes. E mais não digo, porque são histórias que não se contam, mas que surpreendem!
Depois de ter lido "O Lugar das Coisas Perdidas" da Susana e ter-me sentido em casa tanto com a sua escrita como com a história narrada, quis ler esta sua primeira obra. A ida a um clube de leitura cujo tema se enquadrava foi a razão que precisava para o ir buscar à pilha de livros por ler.
E a sensação que tive ao ler "O Lugar das Coisas Perdidas" voltou. A história prende, a escrita envolve, o drama e a dor existem mas, no fundo, a esperança.
Aqui são três mulheres que, por alguns acasos, bons e maus, se encontram. E nasce uma amizade que as une, devagar mas consistentemente. Todas com os seus segredos que querem guardar para si, como se se os mantivessem fechados, encerrados, eles pudessem magoar menos. A dor de quem sofre e não quer mostrar, falar nela porque doi.
A Ana e a Isabel perderam alguém e estão num processo de luto que não sabem como fazer. As perguntas, a angústia, a solidão. A Marta passou de uma infância repleta de maus tratos para uma relação violenta com um homem que julga amar. Por mais que tente nada o satisfaz! O medo constante, as "quedas" que se sucedem cada vez com mais frequência, a insegurança, o sentir-se "lixo" em vez de pessoa.
Há histórias que não se contam. Até um dia.
Muito bem narrada, esta história agarra-se-nos à pele. Gostei muito.
Uma surpresa muito agradável, um livro que fala de perda, dor e violência e como três mulheres enfrentam as tragédias da sua vida. Um livro que podia ter sido escrito num contexto mais lamechas, não o foi. Escrito de uma maneira brilhante e inteligente. Sem duvida que recomendo.
"As histórias que não se contam" é sugestivo. Um bom título. As histórias de três protagonistas femininas que vão intercalando as suas vozes enquanto avaliam o que sentem intensamente. Não deve ter sido nada fácil analisar a fundo emoções tão difíceis como as que Ana, Isabel e Marta vivem, como também não foi para mim ler.
Gostei da escrita e da fluidez da narrativa, e o meu receio revelou-se certo. Custava-me a avançar e tinha de abrandar para interpretar o sentido das palavras e amortecer o seu impacto, ainda que admirando quem assim escreve. Com alma.
Aproximadamente a meio do livro, dei por mim a lê-lo com avidez, curiosa com o desenrolar de acontecimentos ou o concretizar de possibilidades deixadas em suspense. A amizade entre Ana, Isabel e Marta faz a diferença. Progressivamente, na partilha, vão desconstruindo os problemas, num rumo inesperado que me agradou muito.
Por tudo isto, um romance que recomendo. Uma ótima estreia.
Recomendo vivamente este excelente livro! Faz com que nos envolvamos com a história e não a consigamos largar até acabar de ler. Confesso que durante a leitura emocionei-me, porque a autora consegue claramente descrever o estado de sofrimento das três mulheres num estilo de escrita que admiro muito, não é para qualquer um! Este livro descreve como é possível, no meio de tanto sofrimento, criar uma amizade genuína de cumplicidade, que permanecerá para o resto da vida das personagens. Admiro os escritores que se conseguem pronunciar desta forma tão bela. Espero que este seja o primeiro de muitos outros porque ganhou mais uma fiel leitora. Parabéns e que consiga fazer da escrita uma grande carreira!
"Não há perda maior do que aquela que cada um sente como sua." Pág. 274
"Trago o escuro da noite dentro de mim, um manto negro e denso em mistério." Pág. 17
A morte, uma ladra impiedosa.
O luto que transfigura.
A violência… aquela que aumenta como um rio; de um repuxo de água que brota da terra, larga numa corrida desenfreada numa de sede de crescer. Ganha expressão e dimensão, e não pára mais até as correntes serem mais fortes do que tudo o que encontra pelo caminho.
Há livros que projectam palavras, frases, pensamentos, emoções, que nos são muito caras, íntimas, ocultas, consciente ou inconscientemente, e de repente vemo-las esborratarem o papel e ficamos absortos a olhar para elas, sem termos participado e ainda assim, estão lá. Também são nossas.
Li acometida de uma urgência e uma tensão permanente.
As emoções são tão brilhantemente expostas que extravasam a ficção e achamo-nos presentes, a assistir, porque, infelizmente, há tantas Marta’s, Isabei’s e Ana’s…
"Há qualquer coisa em mim que se foi, apagou-se, não tem volta. Não é só dor, aquela que atravessou de forma brutal, tão física e fulminante como um tiro no peito. (…) Não é só desespero, aquela angústia avassaladora que nos encurrala como bichos feridos, ou a revolta que nos domina. Não é só culpa, esse fardo que nos esventra como uma doença que nos devora as entranhas. A tristeza tão-pouco me assusta, vou estar triste a vida toda, sempre que pensar em ti. O problema é o vazio." Pág. 37
Identifiquei-me imensamente com a escrita da Susana Piedade. Adorei, tanto quanto sofri.
"Escondo tanta coisa que qualquer dia não tenho espaço vago dentro de mim. Pág. 125
"Não voltas é um facto, ninguém o sabe melhor do que eu. Mas estás no meu coração para sempre, com quem mais amo e onde nada se perde." Pág. 339
Quase que me arrogo (perdoem-me a presunção – refiro-me apenas aos sentimentos, ao que me vai na alma) a dizer que poderia ter sido eu a escrever no meu diário – a forma como foram proferidas certas expressões, sou eu mesma. Incrível; senti-me transparente.