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160 pages, Hardcover
First published January 1, 2008
A narrativa essencialista e direta deste romance dá conta de apresentar uma história que representa as histórias de muitas mulheres sul-africanas que, assim como Mvuelo, enfrentam, sem escolha, a dinâmica social que as viola e priva da infância. No compasso da narrativa africana de autoria feminina, somos apresentados a personagens femininas que, apesar das diferenças sociais e de formação social que as separam, como é o caso de Zola, Mvuelo e Nonceba, unem forças para resistir e existir no contexto de uma sociedade patriarcal e extremamente desigual que as subjuga. Em vez de partir do triângulo amoroso entre Sipho, Zola e Nonceba ou constituir-se em uma história da formação de Mvuelo, que, durante a narrativa, vai da infância à vida adulta, esses e outros enredos estão à disposição de uma obra que, no seu cerne, trata das dinâmicas de opressão, violação e silenciamento das mulheres africanas, das diferenças culturais entre mulheres americanas e africanas, dos abusos sexuais praticados por membros da religiões cristãs itinerantes contra crianças africanas em situação de vulnerabilidade, entre outras temáticas sociais que vêm à tona em "Sem gentileza".
A epidemia da AIDS, uma realidade na África do Sul dos anos 90 (embora não fosse assim tratada pelo estado), é temática que atravessa a obra, como na menção que faz à crença popular, entre os homens da época, de que a relação sexual com uma virgem era capaz de curá-los do vírus, com o que justificavam os abusos que cometiam, fazendo com que as personagens moradoras da periferia, como Zola e Mvuelo, vivessem em constante vigilância contra possíveis abusadores, ou na apresentação de certas medidas adotadas, e culturalmente mantidas, para afastá-los das crianças.
Com seu estilo direto, Futhi Ntshingila oferece uma narrativa que, com seu ritmo nada hesitante, aliado a cenas e episódios fortes, fisga o leitor com o ímpeto da voz que, exausta do silêncio, prossegue sem titubear.