ÁLVARO BARREIRINHAS CUNHAL nasceu em Coimbra, a 10 de Novembro de 1913. Estudante da Faculdade de Direito de Lisboa, filiou-se no Partido Comunista Português (1931) e foi eleito secretário-geral das Juventudes Comunistas. Em 1936 passou à clandestinidade e em 1937 entrou para ao comité central do partido. Após várias prisões temporárias, foi preso no Forte de Peniche, de onde se conseguiu evadir em 1960. Foi Secretário-Geral do partido de 1961 até 1992. Regressado a Portugal em 1974, fez parte, como Ministro sem pasta, dos I, II, III e IV Governos Provisórios (1974-1975). Deputado entre 1974 e 1992, raramente ocupou o lugar na Assembleia da República. Foi ainda membro do Conselho de Estado de 1982 a 1992. Publicou vários livros, sob o pseudónimo de Manuel Tiago: Até Amanhã, Camaradas (1974), Cinco Dias, Cinco Noites (1975), A Estrela de Seis Pontas (1994), A Casa de Eulália (1997), Fronteiras (1998), Um Risco na Areia (2000), Sala 3 e Outros Contos (2001) e Os Corrécios e Outros Contos (2002). Faleceu em Lisboa, a 13 de Julho de 2005.
Um menino que um dia chega a casa da escola e se lamenta da perversidade da professora. O pai escuta-o e diz-lhe Não voltes. Estuda em casa, aqui comigo, onde a liberdade do pensar prevalece à ordem rígida de todas as coisas.
Álvaro Cunhal, um dos grandes opositores ao regime de Salazar, é uma daquelas figuras que povoa a cabeça de todos, mas são poucos os que se dignam a lê-lo por quem era e não pelo que outros contam a seu respeito. O que dizer? Um obrigada, em primeiro lugar, pela prontidão em negar a trincheira das verdades absolutas, por ter acreditado na revolução até ao fim, por ter sido fiel aos seus camaradas e, por extensão, a todos nós. As grandes transformações sociais dão-se porque alguém acredita nelas.
Nesta série de entrevistas, nas quais Catarina Pires dialoga com Cunhal, o ponto de partida é a História, em seguida o Mundo, a Política, por fim a Arte e as Coisas da Vida.
Falamos de alguém verdadeiramente excecional, de uma coerência inigualável, tanto pela inteligência, como pela combatividade em nunca abandonar o posto a que se prometeu, e de onde assistiu ao massacre de tantos amigos, por vezes arremessados da janela para que no óbito se relatasse um mero suicídio. Não era alguém com sentimentos de ódio, mas de justiça. Por quantas narrativas nos inebriamos? A História nunca teve um só flanco, mas é essa unilateralidade que se narra. A censura dos movimentos de rutura é também ela parte da narrativa, não uma consequência desta. Há dois lados em oposição: a classe que oprime e a classe oprimida. A partir daqui entendemos século XX