Como nos diz Manaíra Aires Athayde, no prefácio a esta edição, «podemos dizer que Transporte no Tempo desenha a imagem de um poeta que empunha a palavra como uma maneira de procurar com a linguagem contornar o silêncio imposto. Constituindo esse espaço de auto-reflexão como busca da própria ideia de poesia, Ruy Belo não se cansa de afirmar que o poeta é aquele que "ensaia utensílios que, como o avião, transformam a visão do homem". Assim, só o uso da palavra poética pode tornar compatíveis a autonomia da arte e a ligação ao seu próprio tempo. A singularidade de Transporte no Tempo está em assinalar o momento em que este princípio central da teoria de Ruy Belo, é, de maneira inequívoca, enunciado na sua o que acabamos por descobrir, com este livro, porventura mais do que em outros, é que "aqui levantam voo não / os aviões mas estas certas aves de arribação".»
RUY BELO nasceu a 27 de Fevereiro de 1933. Licenciado pela Faculdade de Direito de Lisboa, doutorou-se em Direito Canónico na Universidade São Tomás de Aquino, em Roma. Abandona a Opus Dei em 1961 e licencia-se em Filologia Românica, dedicando-se ao ensino. Foi Director-Geral do Ministério da Educação Nacional (1967-69), crítico literário, jornalista, fez numerosas traduções (por exemplo de Cendrars, Saint-Exupéry, Lorca e Borges) e ocupou o lugar de leitor de Português na Universidade de Madrid (1971-77). Publicou: Aquele Grande Rio Eufrates (1961), Boca Bilingue (1966) País Possível (1973), Transporte no Tempo (1973), A Margem da Alegria (1974), Toda a Terra (1976) e Despeço-me da Terra da Alegria (1977). Entre outras obras destaca-se a colectânea de ensaios literários Na Senda da Poesia (1969). A sua obra poética encontra-se coligada em Todos os Poemas (2001). Foi condecorado pela Presidência da República, a título póstumo, com o Grande-Oficialato da Ordem de Sant’Iago da Espada, em 1991.