Com sua fusão de imagens imprevistas e ideias complexas, A balada do cárcere situa Bruno Tolentino no topo da modernidade literária brasileira Polêmico, com um histórico de desavenças com compositores da MPB e professores da USP, entre outros, Bruno Tolentino se definia como uma língua ferina entortada pelo vício da ironia. Não exibia falsa modéstia quanto a seu papel no cenário literário brasileiro, tinha consciência do próprio mudei a história da Literatura, pus o Brasil no mapa internacional, afirmava. Considerado um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, ganhou três vezes o Prêmio Jabuti, tornando-se um dos únicos escritores a conseguir tal feito. Nascido da experiência de onze anos de prisão em Dartmoor, no Reino Unido, A balada do cárcere recebe agora uma segunda edição, comentada, com apresentação do poeta Érico Nogueira, e notas e organização de Juliana P. Perez, Jessé de Almeida Primo, Guilherme Malzoni Rabello, Renato José de Moraes e Martim Vasques da Cunha. Capa 224 páginas Record; Ediçã 1 (25 de julho de 2016) Português 8501104779 978-8501104779 Dimensões do 20,8 x 13,4 x 1,6 cm Peso de 240 g
Nascido numa tradicional e rica família carioca, conviveu desde criança com intelectuais e escritores, entre eles Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Primo do crítico literário brasileiro Antonio Candido e da crítica teatral Bárbara Heliodora, seu avô foi conselheiro do Império e fundador da Caixa Econômica Federal. Nesse ambiente familiar, foi instruído em inglês e francês ao mesmo tempo de sua alfabetização no português.
Publica em 1963 seu primeiro livro, "Anulação e outros reparos". Com o advento do golpe militar de 1964, muda-se para a Europa a convite do poeta Giuseppe Ungaretti, onde viverá trinta anos, tendo residido na Itália, Bélgica, Inglaterra e França. Foi professor de literatura nas universidades de Oxford, Essex e Bristol e tradutor-intérprete junto à Comunidade Econômica Européia. Publica em 1971, em língua francesa, o livro "Le vrai le vain" e, em 1979, em língua inglesa, "About the Hunt", ambos bem recebidos pela crítica literária européia. Sucedeu o poeta e amigo W. H. Auden na direção da revista literária Oxford Poetry Now.
Em 1987, sob a acusação de porte de drogas, é condenado a onze anos de prisão. Cumpriu apenas pouco mais de um ano da pena, em Dartmoor, no Reino Unido. "Adorei e procurei tirar o máximo de proveito", foi o que Bruno declarou sobre a experiência, numa entrevista em agosto de 2006.[1:] Aos companheiros de prisão, organizou aulas de alfabetização e de literatura, estas últimas nomeadas de "Seminars of Drama and Literature", que, conforme posteriormente relatado por Bruno, "em cujas sessões avançadas chegaram a comparecer psicanalistas de renome, ao lado de personalidades do mundo das Letras tais como Harold Carpenter, o estudioso e biógrafo de Pound e Auden, o dramaturgo Harold Pinter, ou Lady Antonia Fraser".[2:]
Tolentino retorna ao Brasil em 1993, publicando, no ano seguinte, o livro "As horas de Katharina", escrito durante o período de 22 anos (1971-1993), ganhando com ele o Prêmio Jabuti de melhor livro de poesia. Em 1995, publica "Os Sapos de Ontem", uma coletânea de textos, artigos e poemas originados de uma polêmica intelectual com os irmãos Haroldo de Campos e Augusto de Campos, que nesse livro serão os principais alvos de sua "língua ferina entortada pelo vício da ironia", frase que Bruno usou durante uma entrevista em que lhe foi pedido "um perfil abrangente de si mesmo".[3:] Ainda em 1995 publica "Os Deuses de Hoje", e, em 1996, "A balada do cárcere", livro nascido da experiência de sua prisão pouco menos de dez anos antes. Ainda nesse ano, foi publicada uma polêmica entrevista com Bruno para a Revista Veja,[4:] onde o poeta critica, entre outras coisas, a atual situação intelectual do Brasil, o Concretismo, a concepção e aceitação da letra de música enquanto poesia e a elevação de músicos populares à posição do intelectual.
Bruno irá publicar em 2002 e 2006, respectivamente, os livros que considerou como a culminação de sua obra poética: "O mundo como Ideia", escrito durante quarenta anos (1959-1999), e "A imitação do amanhecer", escrito durante 25 anos (1979-2004). Ambos lhe renderam o Prêmio Jabuti, prêmio já alcançado em 1993 com "As horas de Katharina", tornando-o assim o único escritor a ganhar três edições do prêmio. Bruno também recebeu, por "O mundo como Ideia", o Prêmio Senador José Ermírio de Morais, prêmio nunca antes dado a um escritor, em sessão da Academia Brasileira de Letras,[5:] com saudação proferida pelo acadêmico, filósofo, poeta e teórico do Direito Miguel Reale, seu amigo.
Tolentino se propõe, com sucesso, a fazer poesia clássica e poesia de pensamento.
Seu tema é a descoberta da linguagem, e, com ela, a emergência da autoconsciência e a terapia das visões da mente.
As ambiguidades do processo interno de ordenação progressiva do caos mental de símbolos e afetos por meio da aquisição da capacidade expressiva e subjetivante da linguagem são o mote do livro e o nexo narrativo entre os poemas.
Há sim alguns poemas que parecem um mero jogo linguístico, exercício vazio de erudição e desperdício de ideias.
Por exemplo, “Vesperal” é um fluxo de consciência quase ininteligível (e mesmo aqui temos os belos versos: “que um reflexo / nunca foi prova de presença e este amor / é um simples nó onde se insurge, nova / ante a morte, a nudez”).
Mas o que é compreensível (conquanto difícil) é magnífico, não havendo motivo algum para Tolentino não compor a plêiade dos mestres da lírica nacional, com Drummond, Manuel Bandeira e Quintana, cuja obra, no entanto, é mais vasta e, em todas as suas fases, consistentemente ótima.
De todo modo, fica fora de dúvida que ele é maior e melhor que os concretistas, muito mais honrados no cânone acadêmico, o que se explica, quase que exclusivamente, pelo pecado mortal de Tolentino, que era reaça.
Destaque para ‘A vida toda de costas’ (meu preferido), ‘O Monstrengo’, ‘Impasse’, ‘A Moldura Vazia’ e ‘A Rolha’.
Bruno Tolentino é um ótimo poeta, mas não genial. Isso seria forçar a barra. Não engulo certo intelectualismo artificial que se tenta passar como genialidade. Também não compro a ideia de que poesia é sempre superior à letra de música, completamente fora de lugar neste livro. Lembremos que, na Antiguidade, a poesia LÍRICA e ÉPICA foram compostas exclusivamente para música. O mesmo se pode dizer das cantigas trovadorescas. Seria isso ironia, uma vez que o livro é uma "balada"? Obviamente, no título, há a referência à clássica obra de Wilde "A balada do cárcere de Reading". Ambos os autores homossexuais, ambos presidiários na Inglaterra. Os poemas são maravilhosos lidos em separado, mas o liame entre eles é tão frágil que não arriscaria a dizer que o livro se trata de poesia dramática. Também não encaro a literalidade que Tolentino tenta empregar ao fato de que ele "ensinara um dos prisioneiros a ler", o qual, tempos depois, teria se formado em Psicologia. Destaque para: "Descobertas", "O monstrengo", "Il sospiroso", "Legado de Ácteon", "Impasse", "Remorsos", "Instabilidade", "A moldura vazia", "Ímpar" e "A paixão segundo nós mesmos".
Figuras de imagem as vezes embaraçosas e faceis, simbologia obvia e superficial, aliterações e cacofonias cringe, alisões literarias enfiadas á força de virar os olhos. Nenhum poema da coleção realmente se sobressai, e mesmo os melhores - como A Queda, que possui imagens poderosas - sao manchados por alguns desses defeitos listados. Muito decepcionante se isso representar a obra do Bruno Tolentino.
Nao leva um zero por que nem tudo são defeitos, e como eu disse antes às vezes há uma imagem especialmente poderosa no meio da obviedade e sacarose. Tambem me agrada que o poeta preferido do Conservadorismo Brasileiro seja um mitomano ex-detento bissexual. Me faz sentir qur a literatura brasileiro é menos provincial do que realmente é