Esta obra, publicada poucos dias após a morte do seu autor, reúne as biografias de cinco figuras marcantes do Estado Novo: Armindo Monteiro, Pedro Theotónio Pereira, Alberto Franco Nogueira, José Gonçalo Correia de Oliveira e Adriano Moreira. Todos eles desempenharam cargos destacados, tendo lidado directamente com Salazar. As biografias destes homens de Estado oferecem-nos uma perspectiva única do regime salazarista a partir do interior, numa abordagem actualizada por um dos maiores pensadores portugueses.
MANUEL DE LUCENA nasceu em Angola em 1938. Aí fez a instrução primária. Frequentou o liceu em Lisboa e depois um colégio de Jesuítas. Entrou na Universidade através do Instituto Superior Técnico, que logo trocou pela Faculdade de Direito. Participou activamente na crise académica de 1962 e foi um dos fundadores das revistas O Tempo e o Modo e Polémica. Exilou-se por oposição à política colonial de Salazar, tendo regressado aquando do 25 de Abril. Foi investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e professor convidado do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. Distinguiu-se como investigador de temas relacionados com o Estado Novo e o pós-revolução. São de sua autoria as obras A evolução do sistema corporativo português, O Estado da Revolução e Contradanças: políticas e arredores, entre outros, de ensaios biográficos sobre Salazar e os principais personagens do Estado Novo publicados nos volumes VIII e IX do Dicionário de História de Portugal, coordenados por Maria Filomena Mónica e António Barreto. Faleceu em 2015.
A obra de Manuel de Lucena tem dois principais méritos - (i) por um lado, investigar e apresentar mais detalhes da ação governativa de algumas figuras do Estado Novo que não têm tanto destaque na historiografia (em particular, Armindo Monteiro, Franco Nogueira e Correia de Oliveira, na medida em que Teotónio Pereira foi objeto de uma biografia recente de grande fôlego e Adriano Moreira, pela sua longevidade e fácil pena, deixou bastante rasto); (ii) por outro, ao tratar estas figuras lado a lado, permite comparações, contrapontos e confrontos muito interessantes, além de, obviamente, permitir extrair pontos comuns, como seja a importância que todos tiveram no plano das relações externas do Portugal de meados do século XX, fosse no campo económico (Monteiro e Oliveira), político-diplomático (Nogueira e Pereira) ou ultramarino (Moreira). Uma obra muito interessante de ler para quem se interessa pelos meandros político-burocráticos, cujo epíteto de "lugares-tenentes" é bem merecido por estas personagens, visto que não foram propriamente "delfins", pois, aqui e acolá, houve sérios momentos de atrito - senão mesmo de clivagem - com o personagem maior do regime, Oliveira Salazar. No entanto, a leitura sai um pouco prejudicada pela escrita do Autor que, pelas suas frases extensas, dificulta, por vezes, o entendimento do sentido das mesmas.
Interessante, mas um pouco fastidioso na descrição do percurso de cada figura, perdendo-se nas histórias paralelas das outras personalidades com quem se relacionaram. Faltaram, no entanto, outras figuras proeminentes do Estado Novo e de Salazar, como Mário de Figueiredo e João Pinto Leite (Lumbrales), entre outros. No entanto, não deixa de ser uma obra de leitura interessante para o estudo do Estado Novo, pois, contrariamente à generalidade dos escritores actuais que se dedicam a este tema (como o frustrado Fernando Rosas), não exagera na sátira para descrever o regime que vigorava.