A Espada e a Azagaia é o segundo livro (o primeiro, Mulheres de Cinza, foi publicado em outubro de 2015) de uma trilogia — As Areias do Imperador — sobre os derradeiros dias do chamado Estado de Gaza, o segundo maior império em África dirigido por um africano. Ngungunyane (ou Gungunhane como ficou conhecido pelos portugueses) foi o último dos imperadores que governou toda a metade Sul do território de Moçambique. Derrotado em 1895 pelas forças portuguesas comandadas por Mouzinho de Albuquerque, o imperador Ngungunyane foi deportado para os Açores onde veio a morrer em 1906.A Espada e a Azagaia relata a guerra travada no Sul de Moçambique, no final do século XIX, entre Portugal e o Império de Gaza, e que teve como protagonistas Mouzinho de Albuquerque e Gungunhana.Este volume termina com a vitória das tropas portuguesas em Coolela e Chaimite e a prisão de Gungunhana.
Journalist and a biologist, his works in Portuguese have been published in more than 22 countries and have been widely translated. Couto was born António Emílio Leite Couto. He won the 2014 Neustadt International Prize for Literature and the 2013 Camões Prize for Literature, one of the most prestigious international awards honoring the work of Portuguese language writers (created in 1989 by Portugal and Brazil).
An international jury at the Zimbabwe International Book Fair called his first novel, Terra Sonâmbula (Sleepwalking Land), "one of the best 12 African books of the 20th century."
In April 2007, he became the first African author to win the prestigious Latin Union Award of Romanic Languages, which has been awarded annually in Italy since 1990.
Stylistically, his writing is heavily influenced by magical realism, a style popular in modern Latin American literature, and his use of language is inventive and reminiscent of Guimarães Rosa.
Português) Filho de portugueses que emigraram para Moçambique nos meados do século XX, Mia nasceu e foi escolarizado na Beira. Com catorze anos de idade, teve alguns poemas publicados no jornal Notícias da Beira e três anos depois, em 1971, mudou-se para a cidade capital de Lourenço Marques (agora Maputo). Iniciou os estudos universitários em medicina, mas abandonou esta área no princípio do terceiro ano, passando a exercer a profissão de jornalista depois do 25 de Abril de 1974. Trabalhou na Tribuna até à destruição das suas instalações em Setembro de 1975, por colonos que se opunham à independência. Foi nomeado diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM) e formou ligações de correspondentes entre as províncias moçambicanas durante o tempo da guerra de libertação. A seguir trabalhou como diretor da revista Tempo até 1981 e continuou a carreira no jornal Notícias até 1985. Em 1983 publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho, que inclui poemas contra a propaganda marxista militante. Dois anos depois demitiu-se da posição de diretor para continuar os estudos universitários na área de biologia.
Além de ser considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique, é o escritor moçambicano mais traduzido. Em muitas das suas obras, Mia Couto tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, utilizando o léxico de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana. Terra Sonâmbula, o seu primeiro romance, publicado em 1992, ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995 e foi considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX por um júri criado pela Feira do Livro do Zimbabué.
Na sua carreira, foi também acumulando distinções, como os prémios Vergílio Ferreira (1999, pelo conjunto da obra), Mário António/Fundação Gulbenkian (2001), União Latina de Literaturas Românicas (2007) ou Eduardo Lourenço (2012). Ganhou em 2013 o Prémio Camões, o mais importante prémio para autores de língua portuguesa.
um 3,5 que sobe para 4, pela vontade imensa com que no fim fiquei de ler o 3o e último da saga. Mia Couto, sempre com histórias envolventes contadas com algumas frases marcantes. Destacando uma ou outra: "Não viajes: porque não voltarás. Regressam apenas os que já foram felizes"; "Os livros nunca estão escritos. Quando os lemos, escrevemo-los"; "Dizem que estamos cercados de inimigos. Mas não é a presença dos outros o que mais nos ameaça. É a nossa ausência"; "Alguém te espera mesmo que não saibas. Esse mar é muito vasto, entra-se e sai-se sem ter que pedir autorização"; "a monotonia engorda o tempo"; "A saudade não nasce do passado. Nasce de um tempo presente mas vazio. Nenhuma memória poderia vir em meu socorro"; E assim termina: "Tudo começa sempre com um adeus"
A magia continua onde a dor a deixou. Soa estranho a história. A mistura da realidade e a ficção, chega a ser doloroso o rigor do autor. É grande a generosidade de um povo que vive a vida por dentro do que a terra dá. Obrigado, Mia, por mais uma relíquia.
Trata-se do segundo livro da trilogia “As Areias do Imperador”, narrado a três vozes, de forma alternada, descreve os últimos dias do chamado Estado de Gaza, império africano governado por Ngungunhane (Gungunhana) e a paixão entre a jovem Imani Nsambe, de etnia Vatxopi, e Germano de Melo, um jovem sargento português que se conheceram em Nkokolani, para onde o sargento foi enviado de serviço.
O livro, rico na descrição de costumes, rituais, crenças, amores e desamores, lutas e mortes, termina com a vitória das tropas portuguesas, comandadas por Mouzinho de Albuquerque e a prisão de Gungunhana. Esta mesma guerra é a causa da separação do jovem sargento e da jovem nativa.
É no cruzamento da vivência de Imani e das cartas trocadas entre o sargento e o seu superior, o tenente Ayres de Ornellas, que a história de vencedores e vencidos nos é contada. A magia da escrita de Mia Couto leva-nos a reflectir sobre a problemática da guerra, mas sobretudo sobre a desumanização e o poder.
The story takes place in 1895 Mozamibique as war rages between Emperor Ngungunyane and Portugal invaders who are attempting to colonize his land. The story begins as a small group are paddling up a river to take Sergeant Germano de Melo to a hospital for severely injured and bleeding hands. With him is fifteen year old Imani, his translator, who accidentally shot him in the hands. She and Germano are in love but her father wants to marry her to Ngungunyane. The story mixes actual historical facts with the stories of Germano and Imani and uses much of Couto's usual magical realism. It is told through alternating chapters that are narrated by Imani and letters between Germano and his superior. It is a meandering tale that is beautifully written in Couto's poetic prose.
O segundo volume da trilogia As Areias do Imperador transporta-nos para dois pólos opostos: os vencedores e os vencidos. Pelo meio, deparamo-nos com os conflitos de quem vive os dois cenários, com os costumes e as sucessivas tentativas de um povo amedrontado para sobreviver. Além disso, intercalando três vozes no papel de narrador, corroboramos uma noção antiga: cada história tem vários lados - e nem sempre a verdade dos factos se afigura de imediato. Sentindo as emoções à flor da pele, também percebemos que o amor será sempre colocado à prova. Por um lado, gostei mais desta continuação, mas, por outro, senti que algumas passagens foram um pouco mais céleres e com pontas soltas. Ainda assim, é uma história maravilhosa e o final deixou-me com imensa vontade de prosseguir para a última parte deste ambiente tão brilhantemente construído por Mia Couto.
The second part of the As Areias do Imperador (The Emperor's Sands) trilogy continues where the first book (Mulheres de Cinza, Women of Ashes) left off. The same style with alternating perspectives on events, a mix of Portuguese and local Mozambican languages and various changing loyalties throughout the story. The fight between the Portuguese forces and various Mozambican tribes continues here, as well as the love story between a Portuguese sergeant and a local woman. Quite satisfying, yet often confusing reading, as the focus is on the characters' experience rather than the events themselves.
MUITO aconteceu neste livro! É uma aventura, com cenas de guerra, amor, bruxaria, e muito mais. Meu único reclamação: no primeiro livro, Imani e sempre afastando Germano, mas aqui, de repente ela o ama. Não faz muito sentindo, mas é um pequeno ponto...
4.25⭐️ A escrita de Mia Couto é linda!! E estou a gostar como está a narrar a colonização portuguesa em Moçambique, tendo dado para aprender umas coisinhas.
O final dei-me bastante curiosa. Quero ler o próximo livro já
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A qualidade narrativa cai um pouco e o autor depende demais de cartas entre os protagonistas para desenvolver a história, deixando os personagens principais sem graça, sem profundidade e sem avançar a história.
Lançado em 2016, “A Espada e a Azagaia” constitui o segundo volume da trilogia histórica de Mia Couto “As Areias do Imperador”. Antes de falar um pouco sobre o livro, vou esclarecer a dúvida que pairou na minha mente quando ouvi falar neste título. Afinal, o que é uma azagaia? Uma azagaia é uma lança delgada utilizada como instrumento de caça ou pesca, maioritariamente, por povos africanos. Na época histórica abordada pelo livro, a azagaia era uma arma de guerra utilizada pelos moçambicanos em contraposição à espada portuguesa daí o título. Claro que estamos a falar do final do século XIX sendo que as guerras já se pautavam pela utilização de armas de fogo. Todavia, como tudo o resto neste livro, a ideia de espada e azagaia é, profundamente, metafórica (e poética). O segundo volume d’As Areias do Imperador retoma a história no exato ponto em que termina o seu antecessor “Mulheres de Cinza”. Consequentemente, continuamos a acompanhar a história de amor entre Imani, nativa Vatxopi, e Germano de Melo, sargento Português destacado numa missão falhada em Moçambique. O contexto são os dias finais da guerra travada entre Portugal, representado por Mouzinho da Silveira, e o Império de Gaza, representado pelo Imperador Ngungunyane que termina com a prisão deste último. Mia Couto brinca com as palavras e as crenças de dois povos marcados pela guerra propondo um recuo a um período histórico onde a identidade nacional não se conseguia impor. De forma lírica, o Autor mistura raças, amores, tradições, ficções e não ficções. É uma história de amor em tempos de guerra. Bela, trágica, cómica, poética e profundamente apaixonado. Talvez dos melhores romances históricos que já li sobre Portugal e as suas colónias.
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Mais um brilhante testemunho das vidas e da tradição de um povo, A Espada e a Azagaia fascinou-me tanto quanto Mulheres de Cinza, o primeiro volume. A facilidade com que nos entranhamos nos medos e costumes dos povos africanos é assustadora, acima de tudo porque nunca conhecemos na pele aquele modo de viver que Mia Couto nos consegue transmitir com tanta familiaridade. O arrebatamento com que encaramos as suas emoções é digno de nota.
Notável de uma ponta à outra, cada frase parece ter saído de uma mente rebuscada e genial, mas se os dotes linguísticos de Mia Couto são maravilhosos, sei também que muito da sua maneira de escrever e muitas das suas frases épicas vêm também da cultura africana na qual ele próprio mergulhou, ou não viesse ele daquele mundo. Do modo de pensar dos moçambicanos e as suas crenças sobre a vida e a morte, sobre o ser e o agir.
E ele consegue-nos levar a viajar com ele, aprofundando-nos naquela cultura tão rica e profusa que sentimos as suas dores e receios na pele. É inevitável chegar, em vários momentos, a odiar os portugueses por aquilo que eles tão “selvaticamente” levaram para aquele mundo vívido e franco. A beleza do pensar dos africanos, por muito que o possamos achar em alguns momentos ingénuo, é de prostrar e de enfeitiçar qualquer um.
Voltei a sofrer e a amar os dois protagonistas, a africana e o português, bem como adorei os volte-faces e o desenvolvimento da história a partir do que aconteceu no primeiro volume. A única coisa que me fez gostar um pouquinho menos deste livro foi a entrada em cena de Ngungunyane e Mouzinho de Albuquerque, por muito que eles sempre tenham lá estado e seja importante a sua aparição para os desenvolvimentos narrativos. Porque é.
O primeiro volume foi dividido entre os capítulos da jovem moçambicana da tribo VaChopi, Imani, e as cartas endereçadas pelo sargento português ao seu superior, D. José de Almeida, que veio a descobrir terem ido parar às mãos do tenente Ayres de Ornelas. Este segundo livro adiciona ainda as respostas de Ornelas, que tanto se revela solidário para com a humanidade do homem, como parece mostrar-se ríspido e intolerante para com as suas fraquezas.
Após os acontecimentos do último volume, com o ataque a Nkokolani, Imani navega à sorte pelo mar, com o seu pai, Katini Nsambe, o seu irmão Mwanatu, a italiana Bianca Marini e o sargento Germano de Melo, que havia perdido as mãos durante o confronto. Germano pensa ter sido Imani a autora do disparo que o vitimara. Porém, é revelado que ela apenas o tentara proteger e que pretendia levá-lo ao hospital de campanha em Manjacaze, chefiado pelo suíço Georges Liengme. O único problema é que este é apoiante das forças de Ngugunyane.
Pelo caminho, param numa igreja em Sana Benene, local vigiado por um padre chamado Rudolfo Fernandes, homem com quem Imani havia passado parte da sua infância. A estadia naquele pequeno lugarejo acaba por ser bastante mais demorada do que haviam pensado. E isso porque ali se encontra também uma milagreira africana que toma conta dos ferimentos de Germano através de estranhos rituais.
Bibliana e Rudolfo formam um estranho casal. Ele a chama de seu marido e transforma-se em mulher quando ela o toca. Ele é um padre. Ela uma feiticeira. Ele é branco, com traços indianos. Ela é negra. E são as suas falas, os seus conselhos, advertências e pensamentos que enriquecem imenso este livro. Após a saída de Sana Benene, o livro acabou por perder algum do maravilhamento que eu havia sentido. Mas seria uma questão de tempo, porque os milagres de Bibliana não seriam por si suficientes para oferecer os cuidados médicos que Germano necessitava.
A inclusão de personagens como Santiago da Mata, Georges Liengme, Bertha Ryff ou mesmo a mãe do Imperador, Impibekezane, vieram dar textura a este livro que podia muito bem cirandar pela área do fantástico se não fosse tão real. São acontecimentos verídicos que ocorreram num passado não tão longínquo assim, uma vez que a história narra a segunda metade dos anos 80 do século passado. A queda de Ngugunyane é contada com uma proximidade e uma paixão maravilhosas.
A Espada e a Azagaia fala, em suma, de uma rapariga que sonha que engravida e dá à luz todo o tipo de armas. E de um homem que sonha em fazer um futuro com essa mesma rapariga, custe o que custar. É um romance histórico revestido numa história de amor que atravessa tempos e continentes, pontuado por figuras tão eloquentemente descritas como o célebre Mouzinho de Albuquerque. Que venha o terceiro volume!
This will appeal to fans of intricate historical fiction. Set in Mozambique in the late 1890s, it's the story of a small band of people more or less stuck in the middle during the war between the Gaza Empire and Portugal. I found myself a bit overwhelmed as I am not familiar with the history of the region. That said, I learned something. The characters are intriguing, the atmospherics good, and the translation smooth. Thanks to netgalley for the ARC.
"A espada e a azagaia" é o segundo livro da trilogia “As areias do Imperador” sobre os derradeiros dias do chamado Estado de Gaza, o segundo maior império em África dirigido por um africano. Neste romance, Mia nos leva às frentes de batalha entre o exército português, nesta época em Moçambique liderado pelo capitão Mouzinho de Albuquerque, e o exército do Imperador de Gaza, o Ngungunyane.
Assim como no primeiro volume da trilogia, em "A espada e a azagaia" o autor dá voz a dois personagens fictícios, Imani Nsambe da etnia Vatxopi porém educada na língua portuguesa por um padre goense, e Germano de Melo, um jovem sargento português inicialmente estacionado na aldeia de Nkokolani. Contando suas histórias pessoais, estes dois personagens alternam na narração dos últimos dias do Estado de Gaza e d'um romance quase impossível.
Como a maioria dos livros de Mia Couto, "a espada e a azagaia" é temperado com um porção moderada de realismo mágico e de romances impossíveis. Livro super recomendado para todos aqueles interessados na cultura moçambicana!
Gostei mais do segundo volume da trilogia do que do primeiro (talvez por já estar mais inteirado com a história e a forma de a contar, ou talvez porque a mesma consiga "fluir melhor" neste segundo livro). Mais uma vez Mia Couto faz-nos regressar a um passado longínquo para contar a história da campanha portuguesa contra o Imperador Gungunhana (Ngungunhane), o "Leão de Gaza", em Moçambique. O relato dá-se através de um misto de recordações e cartas escritas por dois protagonistas improváveis.
Para além dos aspetos históricos que se misturam brilhantemente com a ficção, há a destacar uma capacidade sensacional de transmitir os sentimentos de quem se encontra desterrado na África profunda, longe de casa e num ambiente estranho.
"As guerras são tapetes. Por debaixo deles se ocultam as imundícies dos poderosos."
Neste segundo volume da trilogia "As areias do imperador", Ngungunyane entra em cena. As personagens principais navegam cenários de guerra entre os portugueses e os guerreiros do imperador a quem chamam Deus. E ao mesmo tempo lutam em guerras contra eles mesmos, as suas feridas, os seus amores e os seus fantasmas. Sem dúvida um livro para ler sem largar, e com um ritmo superior ao primeiro. A escrita, essa é sempre fantástica, uma metáfora a cada virar de página.
O segundo livro da trilogia moçambicana de Mia Couto, mais uma vez espectacular. Uma história de amor em tempos de ódio, uma história de esperança a desaparecer. Uma visão sobre a guerra, sobre a soberbia de ambos os lados e sobre a desumanização do inimigo. Infelizmente, tudo isto temas que são muito importantes no dia de hoje.
As três estrelas não têm que ver com a forma como o livro está escrito, ou mesmo com a história narrada, mas pelo gosto pessoal. O livro retrata uma altura de guerra em Moçambique, com relações e emoções guiadas por interesses. A luta pela sobrevivência, a pobreza, a morte. Todo este cenário já é comum na obra do autor, mas neste foi onde encontrei menos felicidade nas personagens.
Meu segundo livro favorito de Mia Couto. O primeiro é Mulheres de Cinza, primeiro volume da trilogia. Mia tem um jeito com as palavras, uma sutileza e delicadeza, que parece que ele consegue dar nome a tudo o que sentimos não conseguimos verbalizar. Simplesmente maravilhoso.
Espero que o terceiro volume não tarde a ser publicado, será um tormento intelectual e um jejum forçado. Há muita beleza nas palavras e nos diálogos, quanto mais simples forem os personagens, mais fortes e densas são as mensagens dos seus diálogos. Muita sabedoria popular africana.