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Quando os Lobos Uivam

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Serra dos Milhafres, finais dos anos 40, o Estado Novo resolve impor aos beirões uma nove lei: Os terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados para bem comunitário e onde essa comunidade retirava parte vital do seu sustento, seriam agora "expropriados" e esses terrenos utilizados para plantar pinheiros. Assim, sem mais nem menos, o Estado chega e diz que, a partir daquele momento, acabou. Implanta-se um clima de medo nas gentes e é esse clima que Manuel Louvadeus, que havia emigrado para o Brasil anos antes, vem encontrar quando regressa à aldeia. Homem vivido e culto devido, segundo o próprio, aos muitos livros que por lá havia lido, Manuel tem uma visão para os dois lados e um sentido de justiça que rapidamente o fazem cair nas boas graças das gentes do povo. Toma então parte da sua gente, homens honestos e humildes que trabalham de Sol a Sol mas que não deixam de viver em condições miseráveis. A revolta acaba por suceder e entre mortos e feridos tudo acaba numa caçada aos homens por parte da polícia que leva muitos homens à prisão acusados de serem instigadores e cérebros da revolta. O Estado mostra então todo o seu esplendoroso poder. Aqui representado está a saga dos beirões na defesa dos terrenos baldios perante a ditadura do Estado Novo.

336 pages, Paperback

First published January 1, 1958

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About the author

Aquilino Ribeiro

107 books87 followers
Aquilino Gomes Ribeiro was a Portuguese writer and diplomat. He is considered as one of the great Portuguese novelists of the 20th century. He was nominated for the Nobel Literature Prize in 1960.

Natural son of Joaquim Francisco Ribeiro, a priest, and Mariana do Rosário Gomes, he had three older siblings: Maria do Rosário, Melchior and Joaquim. Destinated to priesthood, Aquilino Ribeiro got involved in republican politics, opposing the Portuguese monarchy, and had to exile himself in Paris; he returned to Portugal in 1914, after the Republican Revolution of 1910.

He was involved in the opposition to António de Oliveira Salazar and the Estado Novo, whose government tried to censor or ban several of his books.

He married twice, firstly in 1913 to German Grete Tiedemann (ca. 1890-1927), by whom he had a son Aníbal Aquilino Fritz Tiedeman Ribeiro in 1914, and secondly in Paris in 1929 to Jerónima Dantas Machado, daughter of the deposed President of Portugal Bernardino Machado, by whom he had a son Aquilino Ribeiro Machado, born in Paris in 1930, who became the 60th Mayor of Lisbon (1977–1979).

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Displaying 1 - 30 of 32 reviews
Profile Image for Paula M..
119 reviews53 followers
January 2, 2020
Querem liquidá-lo? ...Acabe-se com o sobrevivente genuíno duma estirpe que emerge da noite dos tempos, dotado das qualidades raciais próprias do ibero, do celta, do lusitano ou galaico..


Como lobo que se queda no cimo dos picotos, e observa atentamente o horizonte alargado, Aquilino Ribeiro inspira todos os cheiros e cores da serra , abarca a geografia das planuras e das montanhas e ouve todos os fios de água corrente. Sabe os hábitos dos coelhos e das lebres e a hora da raposa pelos caminhos. Conhece a carqueja, a chamiça, a urze e a junça e está atento ao som dos socos serranos pelos caminhos graníticos. A sua prosa é uma festa para os sentidos!

Aquilino escreve com genuínas palavras serranas a fibra dos filhos da terra. Coloca-nos no meio deles e do Diabo, que lhes fareja e persegue o rasto, não permitindo que mudem o rumo, ou melhor, de condição.

Magnífico !
Um livro-mais-que-perfeito de Aquilino Ribeiro.
Profile Image for Rita.
905 reviews186 followers
November 16, 2018
Aquilino Ribeiro, escritor, conspirador anti-monárquico, propagandista republicano e resistente democrata, é um dos grandes nomes da literatura portuguesa e repousa, desde 2007, com a dignidade merecida, no Panteão Nacional.
A sua vida foi bastante atribulada. Depois de vir viver para Lisboa foi preso em 1907, acusado de ataque bombista e anarquismo. Fugiu, e exilou-se em Paris. Após a proclamação da República voltou a Portugal mas, em 1928, volta a exilar-se. Foi casado duas vezes e teve um filho de cada relacionamento, Aníbal, o primogénito e para quem escreveu O Romance da Raposa, e Aquilino Ribeiro Machado que foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa entre 1977 e 1979.
Em 1960 foi proposto para o Prémio Nobel da Literatura.

Quando os Lobos uivam retrata a luta dos beirões em defesa dos terrenos baldios, durante a ditadura, nos finais dos anos 40 e início dos anos 50.

"A serra foi dos serranos desde que o mundo é mundo, herdade de pais para filhos. Quem vier para no-la tirar connosco se há-de haver."

A sua publicação em 1958 valeu-lhe um mandado de captura e a apreensão de todos os exemplares, já vendidos, pelo Estado Novo. Tornou-se um dos livros banidos pelo regime de Salazar.



TRANSCRIÇÃO do Relatório/Censura N.º 6282 (7 de Fevereiro) relativo a
"QUANDO OS LOBOS UIVAM" DE AQUILINO RIBEIRO,
no blog Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira
«O autor intitula este livro de romance, mas com mais propriedade deveria chamar-lhe de romance panfletário, porque todo ele foi arquitectado para fazer um odioso ataque à actual situação política.
Escrito numa prosa viril, classifica o governo de "piratas" e descreve várias Autoridades, Funcionários, Polícia, Guarda Republicana e Tribunais em termos indignos e insultuosos.
Um interrogatório num posto da G.N.R. e uma audiência dum Tribunal Plenário, são focados de uma forma infamantes.
São desnecessárias mais citações, porque basta folhear o livro, encontra-se logo matéria censurável em profusão.
É evidente que, se o original tivesse sido submetido a censura prévia, não teria sido autorizado, porque é, talvez, a obra de maior ataque político que ultimamente tenho lido.
Sucede, porém, estou disso certo, que já devem ter sido vendidos muitas centenas de exemplares, e muitos outros também, já devem ter passado a fronteira, por isso, deixo ao esclarecido critério de V.Exa., decidir se nesta altura, será de boa política mandar apreender o livro, fazendo-lhe (...)».
Com base no Relatório, lê-se, foram tomadas as seguintes decisões:
«1) Não autorizada a reedição;
2) Não permitidas críticas em imprensa;
3) Apreender os poucos exemplares que, possivelmente, existam (...)».
Despacho assinado pelo censor.

Uma curiosidade é que enquanto, em terras lusas, o regime tentava amordaçar o escritor, no Brasil era publicado um livro chamado Quando os lobos julgam a justiça uiva – texto integral da acusação e defesa no processo de Aquilino Ribeiro.

António de Oliveira Salazar acabou por reconhecer a mestria de Aquilino:
"É um inimigo do Regime. Dir-lhe-á mal de mim; mas não importa: é um grande escritor."

Desengane-se quem acha que é um escritor fácil, porque não é. A escrita é magnífica, a riqueza do vocabulário exuberante, original e pitoresco - lembrou-me por vezes Camilo Castelo Branco – cheia de regionalismos e arcaísmos que dão força à narrativa. Para um bicho da cidade, como euzinha, alguns termos regionais são praticamente impossíveis de entender, por isso, tive que socorrer-me do Glossário sucinto para melhor compreensão de Aquilino Ribeiro, Elviro da Rocha Gomes.
Bendita internet, fazes milagres quando mais precisamos.

Talvez, hoje em dia, não se dê a devida importância a Aquilino mas sem dúvida que é um dos maiores prosadores da língua portuguesa.


P.S. — Obrigada Teresa pelo livro, já está prontinho para regressar à base 😉

Profile Image for Luís.
2,370 reviews1,358 followers
August 16, 2020
This work by the great Aquilino Ribeiro portrays the struggle of the eaves in defence of vacant lots, during the dictatorship of the Estado Novo in the late 1940s and early 1950s.
However, it lags far behind classic writers of Portuguese literature such as Camilo Castelo-Branco.
Profile Image for Ana.
230 reviews91 followers
October 4, 2016
4,5*

Quando os Lobos Uivam retrata a resistência e revolta do povo serrano da zona das Beiras contra o arbítrio do Estado autoritário que, na década de 1940, expropria as zonas de exploração comunitária convertendo-as em floresta de pinheiros sob jurisdição estatal. Uma medida que ameaça não só a normal subsistência das gentes serranas, mas sobretudo a sua ligação ancestral a um meio natural que lhes está entranhado e que molda a sua identidade.

O livro foi proibido pela censura do Estado Novo por motivos políticos: as críticas ao regime ditatorial, em especial os tribunais plenários (que o relatório da censura refere serem “focados duma forma infamante”). Não obstante o aparente carácter regionalista, o alcance desta narrativa acaba por ser bastante mais universal.

De início estranha-se um pouco a linguagem que usa de modo prolífero vocábulos incomuns, muitos deles inexistentes no dicionário (diz-se que Aquilino fazia uma recolha exaustiva de vocábulos regionais, chegando a recompensar monetariamente quem lhe desse a conhecer novas palavras utilizadas regional e localmente). Não entendi, contudo, que esta particularidade atrapalhasse a leitura que achei deliciosa. Para quem se deleita com a língua portuguesa esta obra é um repasto.
"Manuel Louvadeus dum galão subiu os degraus. Em cima, no patamar, topou a porta fechada e deteve-se, quando ia para bater, como quem toma fôlego. Com a breca, achava tudo tal e qual! Os dez anos de ausência apagaram-se como um sopro perante a obsessiva eternidade que se lhe oferecia ao lance de olhos. (…) Que distância, anos e anos que correram na levada do tempo, e as coisas conservarem-se ali iguaizinhas, estáticas, teimosas no seu ar de encantamento! Talvez mais velhas… Sim, mais velhas, ferradas mais fundo pelos dentes da morte e a despenhar-se na voragem como as telhas do beiral."
(p.11)

"E a evasão ao quotidiano, que parece ser uma necessidade visceral do homem com a sua carga de deveres obrigações, a cada passo atira-o para a serra. Em suma, a psique do meu serrano precisa de penedos, vales reclusos, penhascais, morros esburgados de vegetação, como um cão precisa de ossos. Foi deles, da sua premente visão, que se lhe formou a cartilagem moral."

(p.209)


Profile Image for Iceman.
357 reviews25 followers
December 30, 2012
Publicado em 1958, “Quando os Lobos Uivam” é talvez o romance mais conhecido de Aquilino Ribeiro e um dos últimos que escreveu. Já anteriormente “marcado” pelo regime salazarista, esta obra valeu-lhe um mandato de captura e a apreensão de todos os exemplares editados.

E o que faz deste romance algo “digno” de censura e o seu autor “persona non grata” para o regime?

Serra dos Milhafres, finais dos anos 40, o Estado Novo resolve impor aos beirões uma nove lei: Os terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados para bem comunitário e onde essa comunidade retirava parte vital do seu sustento, seriam agora “expropriados” e esses terrenos utilizados para plantar pinheiros. Assim, sem mais nem menos, o Estado chega e diz que, a partir daquele momento, acabou.

Implanta-se um clima de medo nas gentes e é esse clima que Manuel Louvadeus, que havia emigrado para o Brasil anos antes, vem encontrar quando regressa à aldeia.

Homem vivido e culto devido, segundo o próprio, aos muitos livros que por lá havia lido, Manuel tem uma visão para os dois lados e um sentido de justiça que rapidamente o fazem cair nas boas graças das gentes do povo.

Toma então parte da sua gente, homens honestos e humildes que trabalham de Sol a Sol mas que não deixam de viver em condições miseráveis.

A revolta acaba por suceder e entre mortos e feridos tudo acaba numa caçada aos homens por parte da polícia que leva muitos homens à prisão acusados de serem instigadores e cérebros da revolta. O Estado mostra então todo o seu esplendoroso poder.

Obviamente que mais de 50 anos após a sua publicação muitos não entendem o porquê da censura, no entanto não é necessário grandes pesquisas para entender, até porque Aquilino Ribeiro é directo, não se refugia em metáforas ou alegorias.

Aqui representado está a saga dos beirões na defesa dos terrenos baldios perante a ditadura do Estado Novo.

Representado também, ou se quiserem, brilhantemente retractado, a miséria em que vivia o povo beirão que é apenas a mostra da maioria da população portuguesa da altura, assim como a sua ignorância que, sobretudo, grassava no interior de Portugal.

É normal que o romance tivesse enfurecido o regime. Aquilino Ribeiro é demolidor na forma como denuncia a natureza, prepotência e arrogância do Estado, mas vai mais longe, descreve o funcionamento dos Tribunais Plenários fascistas e a ligação do sistema judicial às classes dominantes do país. Estes tribunais que funcionaram de 1945 a 24 Abril 1974, foram um dos mais tenebrosos mecanismos repressivos. Aquilino denuncia a podridão desse mecanismo e da cumplicidade entre magistrados e polícia política.

Algo que me fascinou em Aquilino Ribeiro foi a sua escrita. Poética a forma como constrói a narrativa, utilizando expressões beirãs (confesso que muitas dessas expressões me eram totalmente desconhecidas) que nos situam temporalmente em simultâneo com uma descrição sublime das gentes, transmitindo-nos a sua humildade e a sua natureza que, no fundo, é a natureza, a raiz do povo português.

Enlevante nas palavras, na graça e ironia que coloca, na arte do saber escrever.

Um livro belíssimo, uma pérola da literatura portuguesa, um verdadeiro mestre da arte da escrita.

Compreendo agora porque José Saramago afirmou, quando ganhou o Prémio Nobel da Literatura, que se Aquilino Ribeiro estivesse vivo seria ele a receber o Nobel.
Profile Image for Luís Paulino.
79 reviews14 followers
November 10, 2014
Li-o logo após “A Selva” de Ferreira de Castro, com a fasquia bem alta, pelo anterior e por Saramago que menciona Aquilino no discurso de agradecimento do Nobel. Do Brasil para Portugal, foi também o percurso de Manuel Louvadeus, regressado após 10 anos – sem dar notícias há 6. O seu início é fenomenal e, para quem prefere a crítica política subtil, Aquilino Ribeiro começa por manter assim as distâncias. No entanto, a obra quer-se inflamada e, pouco depois, sabemos personagens e terra enlevados nos meandros constritores da política no Estado Novo.

Que dizer desta escrita? Por vezes brilhantes, outras vezes, sou eu que não apanho a sua inteireza. Lamento a falta de imparcialidade – melhor, falta de polimento - no tratamento político dos intervenientes: parece-me que Aquilino Ribeiro e Oliveira Salazar eram duas forças contrárias de igual carácter, impondo-se nesse sentido, uma visão mais honesta em certos pontos do livro. Essa “ferrugem” acaba por acusar a sua idade, todavia, sem o comprometer. Começa e acaba em génio absoluto.

O Lobo uiva com fome, de alimento para o corpo e alma. Olhando-o no seu todo, fica o desaparecimento do idealista, a vitória do poder instituído (não sem embaraço) e do indivíduo desligado do progresso social, cujos herdeiros estão condenados a lutar com os animais pelo seu lugar. A linguagem magistral deste autor é a sua maior herança e merece lugar nobre na literatura portuguesa.
Profile Image for Sara.
246 reviews
February 20, 2023
Quando os Lobos Uivam, de Aquilino Ribeiro, foi um livro proibido durante o Regime Salazarista pelo seu caráter crítico e frontal. Atualmente é uma obra aclamada e por essa razão foi a minha escolha para o Contrato de Leitura.
Com esta obra o escritor expôs o modo de vida do Interior do país, nas áreas rurais, e como estas eram afetadas pela negligência e superioridade do Estado. A história centra-se em Manuel Louvadeus, um emigrante retornado do Brasil. Manuel é oriundo de uma pequena aldeia perto da Serra dos Milhafres e no seu regresso depara-se com uma situação que disturba o povo: o Estado ordenou um plano de arborização à Serra dos Milhafres. É desta forma que surge o conflito da história. O caos é semeado pelos serranos dependentes do sustento da serra, já miseráveis devido aos impostos. Apesar dos protestos dos serranos, o Estado não vacila e avança com as máquinas para a desflorestação da serra. Sem outra opção, os serranos revoltam-se num confronto violento para fazerem valer os seus direitos.
Esta sucessão de eventos é utilizada por Aquilo Ribeiro como meio de criticar a actuação do Estado, considerando-o prepotente, opressor e utilizador de meios violentos para atingir os seus fins. A Policia, a Guarda Republicana, os funcionários públicos e os Tribunais são outros organismos criticados no livro. Quando os presos da revolta são julgados é clara a injustiça e a corrupção, sendo que todos os arguidos são sentenciados, incluindo Manuel Louvadeus que era inocente.
Existe uma outra faceta do livro na qual o escritor expressa o modo de vida dos emigrantes portugueses no Brasil. Em analepse, é contada a aventura de Manuel por Mato Grosso onde teve de trabalhar no duro enquanto garimpeiro. Aí fez uma secreta fortuna em pedras preciosas que lhe foram roubadas. Embora tenha morto o ladrão, um amigo português, não sabe onde este escondeu a fortuna. Ao longo de todo o livro, a grande ânsia de Manuel é regressar ao Brasil e encontrar a sua fortuna para que depois com que ela posso cumprir o seu desejo de modernizar a aldeia. Este é outro elemento crítico do livro. O Estado modernizava cidades como Lisboa e Estoril mas as aldeias do Interior careciam do básico, como electricidade ou escolas.
Quando os Lobos Uivam conseguiu ser uma leitura surpreendente. Durante a leitura encarei algumas dificuldades com a escrita apresentada. O escritor utiliza termos rurais, “abrasileirados” e arcaicos. Há períodos de narração extensa que conseguiram ser um pouco desanimadores, mas no fim fiquei contente por ter decidido ler este livro. O que mais gostei foi, sem dúvida, a índole crítica e revolucionária do livro. É uma obra marcante.
Aquilo Ribeiro, neste livro, transmitiu convincentemente a luta do povo português. Ao terminar a leitura, fiquei com a sensação de que a justiça social era feita pelas palavras deste mestre da literatura portuguesa. Admirei-me com a coragem de Aquilo Ribeiro ao publicar uma obra que sabia ser censurada. Mesmo assim é-lhe prestado valor por Salazar, que sobre ele diz: “É um inimigo do regime. Dir-lhe-á mal de mim, mas não importa: é um grande escritor”. Sem dúvida uma leitura que recomendo!
Profile Image for Gonçalo Neves.
14 reviews1 follower
October 25, 2020
Este livro de Aquilino Ribeiro capta a atenção do leitor por duas razões: pela linguagem e pela crítica ao regime.

Em termos de linguagem, faz-se jus à expressão “as primeiras impressões perduram”. A riqueza do vocabulário vai da primeira à última página. Existem parágrafos em que precisamos de um dicionário para assegurar que estamos a ler português. Até porque, segundo reza a história, o autor recompensava quem lhe trouxesse novas palavras ou regionalismos.

O segundo aspecto que mais me marcou foi a crítica ao Estado Novo. Crítica esta que atinge o seu auge durante um julgamento e que é exarcebada pela falta de profundidade das personagens. Teotónio Louvadeus é a personagem com maior profundidade e personifica o sentimento do povo e a diversidade de comportamentos resultantes do sentimento de injustiça.

Recomendo este livro a quem pretenda mergulhar na riqueza da língua portuguesa ou a quem procure um exemplo da leitura censurada pelo "lápis azul”.

Destaco as frases seguintes:

"O Senhor é parvo!
Parvo de todo. Tanto assim que sei que o sou e não me corrijo. Se não o soubesse, era um homem importante e feliz como você!"

"Procura lavar as mãos, como Pilatos, mas não há água que lhas lave"
Profile Image for Afonso.
17 reviews
May 22, 2020
São dois os citaçoes de escritores e personalidades portuguesas do seculo xx que me chamaram a atenção para Aquilino Ribeiro, citadas nas abas deste livro.

O primeiro, suscitou me imediatamente a curiosidade antes de ler o livro. É o testemunho de Salazar em reconhecimento do talento de Aquilino Ribeiro enquanto escritor, apesar de tão fortemente este criticar o Estado Novo (isto em 1958). O primeiro pensamento que tive foi algo do genero, "Quão bom tem de ser um escritor que combatia tão fortemente o Regime Fascista (e o expressava nas suas obras), para o proprio Salazar reconhecer o seu talento, apesar das criticas sagazes à Ditadura?". Fiquei curioso...

"Comece o seu inquerito por Aquilino. E um inimigo do regime. Dir-lhe-á mal de mim, mas não importa: é um grande escritor." (Antonio de Oliveira Salazar)

A segunda citação que mais me chamou a atençao, entre as muitas que se leem nas abas do livro, é de Vitorino Nemésio, que tão bem capta de forma figurada, a prosa de Aquilino, agora que o acabei de ler este livro:

"A força plastica e musical do mundo aquiliano é admiravel. A serra portuguesa, a aldeia patriarcal, o rebanho transumante vivem nos seus livros como a vida flamenga e holandesa nos quadros dos grandes pintores dos Paises Baixos." (Vitorino Nemésio)

Foi bom de se ler
Profile Image for Pedro Rodrigues.
20 reviews12 followers
June 9, 2019
Texto publicado no meu blog: https://aterradevastada.blogspot.com/...

Na recta final da sua vida, Aquilino Ribeiro publicou, em 1958, aquele que é, provavelmente, o seu romance mais conhecido: Quando os Lobos Uivam. Dono de uma personalidade e de uma escrita naturalmente insurrectas, Aquilino Ribeiro conheceu intimamente os agravos impostos por um regime do qual foi sempre opositor: o Estado Novo. Como é evidente, a liberdade que exala das páginas deste livro não passou despercebida ao crivo da censura, uma vez que - e agora cito o censor- "o autor intitula este livro de romance, mas com mais propriedade deveria chamar-lhe de romance panfletário, porque todo ele foi arquitectado para fazer um odioso ataque à actual situação política." Quando os Lobos Uivam é uma obra que, no meu entender, sumariza como poucas as características essenciais do século XX português. Nele encontramos a denúncia feita ao Estado enquanto instituição opressiva e repressiva, incapaz de facultar aos cidadãos que tutela os direitos, liberdades e garantias próprios de um Estado democrático; na linha da corrente neo-realista, Aquilino refere incansavelmente as misérias materiais, intelectuais e espirituais presentes nas comunidades rurais; a eterna condição de "potencial emigrante" do povo português, algo particularmente evidente ao longo da ditadura de Salazar; a eterna oposição entre o mundo urbano e o mundo rural.

Apesar do evidente enfoque na situação socio-política do Portugal de então, seria redutor reduzir este livro a um "mero documento" de combate político. Está muito para lá da questão política. No meu entender, o centro narrativo deste romance é desenvolvido tendo sempre como suporte a ideia de que o mundo rural, pelo menos tal como Aquilino o conhecera, caminhava inexoravelmente para uma desintegração impiedosa. Aquilino sabia perfeitamente que o mundo rural se encontrava num impasse existencial insolúvel, dadas as pressões provenientes de uma economia crescentemente globalizada, eficiente e sofisticada e do "irresistível" pulsar de vida dos centros urbanos.

O enredo de Quando os Lobos Uivam é tecido em torno desta ideia de fim do mundo rural, nomeadamente através da representação de uma disputa aguerrida entre o povo beirão e a ditadura do Estado Novo durante a década de 40, conflito esse que surge devido a um projecto de arborização (plantação de um pinhal) de terrenos baldios na Serra dos Milhafres - local através do qual os beirões retiravam o seu sustento. À medida que a narrativa vai ganhando forma, constatamos que o ocaso do mundo rural é abordado pelo autor de um modo bastante ambivalente. Se por um lado nos é dito que a vida na serra enreda o aldeão numa existência agreste, desesperada e infinitamente miserável, por outro lado não é menos verdade que a relação simbiótica entre o homem e a sua serra é tão profunda que seria absurdo ignorar o apego que este nutre pela paisagens que povoam quotidianamente o seu olhar. Segundo Aquilino, existe aqui uma vertente que transpõe qualquer análise de carácter objectivo ou racional. Não podemos compreender as razões que motivam alguém a amar a fonte da sua miséria, pois não estamos num terreno propício ao florescimento da razão e da objectividade. A relação filial que os habitantes de uma comunidade rural estabelecem com as suas terras, diz-nos Aquilino Ribeiro, é responsável por uma das maiores dádivas que lhes podem ser dadas: uma identidade. Sem a serra, isto é, alterando a geomorfologia da serra, o serrano fica exposto aos quatro ventos, completamente desnudado, incapaz de saber quem é. Numa passagem assaz significativa para a compreensão deste romance (bem como do pensamento de Aquilino), lemos o seguinte: "Os senhores propõem-se cobrir os penhascos de arvoredo, remover o cascalho dos oiteiros, atulhar as ravinas e os barrancos. Vão destruir o retrato da família. Aquilo é o retrato da família serrana. A sua fisionomia vem-lhe dali. E que mal? - estou a ouvir dizer ali ao senhor Streit. - O mal é que o serrano nunca mais sabe quem é. Fica desgarrado. Passa a andar a monte. A ser alma penada. Os penhascos são a âncora do seu próprio sentimento. Querem-no esvaziar, querem-lhe lavar o cérebro, como agora se diz, pois tirem-lhe a serra e onde só havia rocha, espanto, miragem plantem o arvoredo, e terão feito outro homem. Evidentemente que pior. Ouço dizer que a máquina humana tem milhares de anos. Terá. Pois desmontá-la, convertê-la noutra, é tarefa perigosa."

Houve um tempo em que Aquilino Ribeiro era considerado um dos grandes nomes da literatura portuguesa. Hoje em dia, está um pouco esquecido (tal como o Portugal retratado por ele). A linguagem utilizada por Aquilino é, utilizando o título de um livro de Eugénio de Andrade, rente ao dizer (ou seja, a proximidade da fala do povo da Beira e da linguagem de Aquilino é muito grande), estando recheada de arcaísmos e de regionalismos, o que contribui seguramente para que muitos leitores se afastem. Entrar no mundo de Aquilino não é fácil, dizem alguns. Mas qual é o escritor, cuja obra valha a pena ser lida, que é fácil?
Profile Image for Pedro.
27 reviews13 followers
January 26, 2023
Aquilino demonstra um extraordinário domínio da lingua portuguesa e seus regionalismos que nos força a parar para pensar quase em cada parágrafo. A diferença com outros autores é que esta complexidade está associada a grande beleza da escrita e à apresentação de temas profundos da sociedade portuguesa da altura.
Profile Image for Nuno Martins.
111 reviews13 followers
February 7, 2017
Mais uma vez Aquilino não me desiludiu, mestre de uma escrita inigualável, é uma delícia e uma alegria ler os seus livros, a sua linguagem "regionalista", cheia de palavras "esquecidas" e do povo rural, transporta-nos para um tempo e para um Portugal que não existe mais e este livro é a prova disso!
Aquilino neste romance conta-nos a luta de um povo rural, "serrão" perdido pelas serras e penedos da Beira Alta, um povo esquecido praticamente parado no tempo, em que de repente o governo de Lisboa vem "de um dia para o outro" alterar-lhes por completo a vida e retirar-lhes à força o que era deles, a serra, a sua subsistência e a sua liberdade.
É também a história de duas famílias, os "Louvadeus", pessoas de bem cujo "pai" Manuel regressa do Brasil após uma série de anos sem dar notícias e o "avô" Teotônio, homem duro da montanha, caçador furtivo, que encarnam a moral e a razão, e dos "Lêndeas", Barnabé e os seus dois filhos, vigaristas e traiçoeiros e que tentam aproveitar-se da situação para lucrarem com a desgraça dos outros.
Mas este livro é acima de tudo um livro "político", mostra-nos a prepotência do regime fascista, o abuso, a falta de liberdade, a falta de consideração pelo seu povo, a for��a bruta e acima de tudo uma justiça "falsa", onde o povo por mais razão que tivesse nada podia contra o estado e o regime, foi graças a este livro que Aquilino foi perseguido e o livro proibido.
Por todas estas razões aconselho a leitura do mesmo.
Profile Image for Paulo Teixeira.
917 reviews15 followers
February 13, 2020
(PT) Quando o governo decide pegar nos baldios e os florestam, a população sai à rua para protestar, sendo totalmente reprimido à coronhada. Uma familia, os Louvadeus, vê chegar o seu filho depois de dez anos de Brasil, julgando-o morto. Fala de riquezas que teve e deixou escapar, mas o seu pai, Teotónio, fala de coisas mais terrenas e das cobiças que uma terra que ele têm por parte dos que desejam plantar árvores.

"Quando os Lobos Uivam" foi agitado no seu tempo. Fala sobre as injustiças que os serranos passavam no "quero, posso e mando" do regime do Estado Novo, e de como pessoas eram injustamente acusadas e passavam tempo na prisão por denuncias, muitas vezes movidas por vingança. A obra é mais uma denuncia do que uma peça de literatura, mas não deixa de ser interessante lê-la, embora não seja propriamente dos melhores livros de Aquilino Ribeiro. Cumpriu a sua função no seu devido tempo, mas como as coisas são ciclicas, poderá ver a ser novamente útil.
Profile Image for Diana Rodrigues.
178 reviews2 followers
March 29, 2021
Interesse/comoção: 2
Escrita e estrutura: 3
Aprendizagem: 2

+ A escrita de Aquilino Ribeiro prevalece sobre os aspetos menos bons.
+ As pequenas histórias encaixadas (a das desventuras do emigrante no Brazil e a dos lobos) empolgaram-me.
- A denúncia das arbitrariedades políticas e judiciais é pertinente, mas feita numa verborreia cansativa. A problemática de justiça converte-se numa vingança pessoal.
- Fui-me desconsolando do meio para o fim: um final mal embrulhado e personagens importantes deixadas sei-lá-onde a meio do percurso.
Profile Image for Joaquim Igreja.
115 reviews1 follower
August 5, 2024
Acabei de ler este livro, adiado já tantas vezes. E fico rendido. Que inveja desta capacidade de escrever, de desvendar a alma beirã numa história de revolta dos povos, de autenticidade e vingança! E que vocabulário magnífico, que reconciliação com esta Beira Alta, a Beira de Teotónios rijos como os penedos da Serra dos Milhafres e de Manuéis Louvadeus, apesar de tudo idealistas e prontos a partir. A máquina trituradora do Estado Novo esmagava mas não desfazia, julgava e condenava a seu bel prazer mas não conseguia destruir o pensamento e a identidade.
Profile Image for Antonio Coelho.
325 reviews6 followers
December 29, 2024
Este livro conta-nos a revolta das populações da serra dos Milhafres contra a arborização ordenada pelo Estado Novo em 1938, tendo como protagonista uma família, a dos Louvadeus.
Muito interessante e particularmente notável a descrição do julgamento ocorrido na sequência da revolta.
Fiquei destroçado ao dar conta das inúmeras palavras e expressões usadas por Aquilino que eu desconhecia. Mas, enfim, mesmo de dicionário ao lado lá fui apreciando e gostando bastante deste livro.
Profile Image for Manuel Caetano.
24 reviews5 followers
January 1, 2025
Um clássico da literatura portuguesa. Adoro a maneira como é retratada a opressão do Estado Novo sempre apelando aos interesses nacionais mas contrariando a vontade do povo. A escrita é rica e as personagens são muito bem escritas. O final é arrepiador e dos melhores finais que já li. A maneira como Aquilino Ribeiro compara os serranos aos lobos e de como estas duas forças opostas entram em conflito é de génio.
Profile Image for Lu.
41 reviews
April 29, 2025
Uma palavra para descrever este livro: raiva.
Raiva pelos pobres aldeões que foram encurralados pelo estado novo e não se conseguiram defender. Isto é ficção mas é a história de muitas pessoas reais que viveram na ditadura. Aquilino Ribeiro denuncia aqui a ditadura e os regimes autoritários e ensina nos muita coisa. Por isso é que devemos celebrar sempre o 25 de abril pois este foi um dos dias mais importantes da nossa história.
3 reviews1 follower
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January 12, 2021
A linguagem de Aquilino Ribeiro mistura sem esforço nenhum o erudito e o corriqueiro, o moderno e a antigo. Este é um dos grandes romances portugueses que li, pela sua profundidade, múltiplos temas tão interligados na experiência portuguesa: emigração e o retorno; o campo e a cidade; o poder do estado e a anarquia da comunidade.
Profile Image for Silvia Cardoso.
77 reviews1 follower
April 8, 2025
Um romance sobre Portugal, e os portugueses. Ambientado no período do Estado Novo, os beirões lutam contra a expropriação da serra.
A importância do território e da geografia como memória e identidade de um povo.
Acho importante ler hoje para compreender várias lutas por exemplo, sobre as minas de lítio, ou os incêndios nos pinhais/eucaliptais.
O conteúdo e enredo são bons e a escrita de Aquilino é extraordinária. A riqueza do vocabulário, dos adjectivos, com o calão e os regionalismos mostram uma língua viva que é mais uma das personagens da história.
Convém ainda lembrar que estamos a falar de um dos mais emblemáticos livros proibidos pela Censura. Mais uma razão para o lerem.
Profile Image for Emanuel.
Author 4 books7 followers
April 30, 2021
Um relato de um povo de outros tempos, talvez também de agora. Um povo de lutas e refutar de revezes, por vezes cegos e impostos.
Profile Image for Rui Matias.
18 reviews1 follower
January 8, 2025
Confesso que só consegui ler este livro até à página 108.
Não tiro nenhum crédito ao grande Aquilino, mas não consegui de todo entrar neste livro a fundo.
Irei tentar outra vez mais tarde.
Profile Image for João Novo.
29 reviews
August 15, 2019
Como viseense, sempre tive curiosidade de ler alguma obra de Aquilino Ribeiro. Atraído pelo título e pela época retratada, comecei por ler “Quando os lobos uivam”. Não posso dizer que me tenha surpreendido ou que me tenha prendido muito com a sua história, porém reconheço que a escrita é muito bem conseguida. Este livro mostra a união de um povo na proteção feroz do que é seu por direito ainda que as consequências dos seus atos sejam negativamente irreparáveis.
Profile Image for Florbela Soares Fernandes.
30 reviews
September 17, 2020
Já havia decidido ler este livro, mas ainda não tinha tido a disponibilidade mental para me dedicar a Aquilino Ribeiro. Tinha-o na minha lista por causa do tema atual da floresta e dos dos incêndios.

A paisagem da Beira Alta e a questão dos Baldios, terras de todos e ninguém que o governo quer tomar posse para plantar floresta, um emigrante no Brasil que regressa passados 10 anos, mais culto, um Advogado Republicano que defende os camponeses prestes a ficar sem os baldios e um engenheiro enviado pelo governo que se apaixona pela camponesa filha do emigrante no Brasil, são os ingredientes para o desenrolar de toda a trama.

Confesso que os primeiros capítulos não me cativaram em especial, no entanto a partir do julgamento, não consegui largar mais o livro. Está tudo lá, o problema político e social da época do Estado Novo, a miséria dos povos serranos, a injustiça do sistema versus justiça pessoal. Quando pensava que o livro iria continuar a seguir a linha da penalização de todos quanto se manifestam com ideias contrárias às do sistema, o autor muda de direção e foca-se em Teotónio Louvadeus e em toda a sua vingança...
Profile Image for Joao.
198 reviews4 followers
December 20, 2015
Bom livro, explica a história de uma serra no interior centro norte de Portugal onde a ruralidade impera e as parcas condições de vida no fim dos anos 50 mostram como Portugal do pós guerra era a nação menos desenvolvida da Europa ocidental os 3 F a funcionar podem ser de fome, frio e fuga! Aquilino mostra como o regime fascista tratava mal o Portugal Rural com o objectivo deste ficar ainda mais pobre e parado no tempo! Vale a pena ler não admira ter sido censurado nos anos 60
Profile Image for Cobramor.
Author 2 books19 followers
April 19, 2020
O Aquilino não tem culpa, mas o gajo é difícil de ler por causa daqueles regionalismos todos. Mas descontando esse trabalho todo, a escrita é exímia e a narrativa não fica atrás.
Displaying 1 - 30 of 32 reviews

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