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Grande voz da literatura portuguesa contemporânea, Valter Hugo Mãe lança Homens imprudentemente poéticos, obra ambientada no Japão antigo e na qual o autor proporciona uma imersão idílica na cultura milenar japonesa. Com sua habitual escrita poética e desconcertante, Mãe traz à tona os temas da morte e do suicídio, em um contexto em que este ato possui um ponto de vista distinto ao do ocidente. Segundo o autor, no Japão, “um suicida não é visto como um fraco ou desistente, é visto como alguém que entendeu sua existência e se sente preparado para se entregar à natureza”.
Mãe situa seus personagens em uma aldeia no sopé do monte Fuji, próximo da região conhecida como a Floresta dos Suicidas, lugar que visitou enquanto escrevia a história. Os vizinhos, o artesão Itaro, que está em fase de preparação para a morte, e o oleiro Saburo são inimigos, mas devido às circunstâncias da vida, relativizam a discórdia e se opõem com cordialidade. De acordo com o escritor e jornalista Laurentino Gomes no prefácio do livro, “o mesmo olhar microscópico sobre a aldeia japonesa confere ao livro o tom de obra universal, de conteúdo profundamente humano, cujo enredo diz respeito a cada uma dos sete bilhões de pessoas que hoje habitam o planeta”.
Tal como em seu romance A desumanização, que teve a Islândia como cenário, Mãe escolhe um lugar longínquo para retratar a história, levando o leitor ao Japão profundo, um ambiente sagrado que partilha o mesmo universo das fatalidades e da miséria. Diante das dificuldades e conscientes do valor da natureza exuberante que os cerca, os personagens passam a valorizar as pequenas alegrias do cotidiano e a espera da morte.
A morte também está no próprio modo do autor tecer sua literatura e não apenas nos enredos de suas histórias. Homens imprudentemente poéticos nasce da necessidade de retornar a um momento de descoberta, como se estivesse escrevendo seu primeiro livro. Mudou, então, seu processo de escrita – em vez de corrigir e retocar o texto, ele escolheu reescreevê-lo. “É como se eu escrevesse vários livros ao mesmo tempo. Nunca se esgota o livro”, afirma.
Agraciado com os prêmios José Saramago (2007), Grande Prêmio Portugal Telecom de melhor romance e livro do ano (2012), o escritor recebeu elogios de José Saramago, ganhador do único prêmio Nobel da língua portuguesa, que o definiu como um “tsunami literário”.
168 pages, Kindle Edition
First published October 3, 2016
“Escogía palabras como si cambiase la realidad según su modo de hablar. Si lo contase con cuidado, pasaría más cerca de la solución. Las palabras lo cambian todo.”Los dos enemigos, Itaro el artesano y Saburo el alfarero, también dos formas de entender el arte, seguirán caminos opuestos y llegará a metas distintas. Itaro lo recorrerá de forma ascendente: desde la ansiedad y el deseo de muerte que le provoca el poder que tiene desde niño de descubrir el futuro, siempre infausto, en los restos de los seres vivos que él mismo se encarga de aplastar, proceso que empezará a partir de su episodio en un pozo, posiblemente el capítulo más bello del libro. Saburo, por su parte, lo transitará en sentido descendente: desde un estado de amor feliz al lado de su mujer Fuyo, su vida se irá tornando más sombría y asesina a partir de la muerte de esta, vaticinada por su vecino Itaro.
"Qué humillante la soledad del amante… qué humillante el corazón que queda de sobra. El amor dejado solo es una condición enferma."La ceguera es el otro gran personaje de la novela. Será el destino iluminador de uno de los personajes y el estado de Matsu, la hermana pequeña de Itaro que también profetizó así su nacimiento. Esa oscuridad en la que vive desde niña le permitirá un mejor acceso a su interior, mirar al otro de una forma más verdadera, crear, a través de las palabras, un mundo propio por el que se siente agradecida pues “El sufrimiento nunca podría impedir a alguien ser feliz”.
“Mis juguetes son las palabras. Persigo el encantamiento de que son capaces.”