Raul é um morador de rua, um homem invisível e desgraçado como tantos os outros. Como se sua desgraça não fosse suficiente, Raul contrai a maldição da licantropia, tornando-se um lamentável lobo de rua. Tito Agnelli não compartilha do abandono de Raul, mas conhece muito bem a sensação de ser rasgado por dentro, todos os meses, pela coisa vil que se abriga nele. Assim, compadecido com o sofrimento do recém-transformado, Tito acolhe Raul na Alcateia de São Paulo, extinta até então por falta de lobisomens residentes na Pauliceia. Depois de décadas de contaminação, Tito conhece cada detalhe da maldição que o transforma em lobisomem. Além disso, conhece também a Galeria Creta, um lugar em São Paulo onde ele e outros dos seus são bem vindos nas noites de lua.
Jana Bianchi é escritora, tradutora, editora na revista Mafagafo e cohostess do Curta Ficção. Em português, além de Lobo de rua (2016), publicou diversos contos em revistas e coletâneas. Em inglês, tem ou terá textos publicados nas revistas Strange Horizons, Clarkesworld e Fireside. É aluna da turma de 2021 do workshop de escrita Clarion West. Jana mora no interior de São Paulo com os pais, duas cachorras e suas várias tatuagens animadas.
Embalado pela Maratona Literária que o blog Me Livrando organiza de vez em quando, resolvi apostar em um livro nacional curtinho, com menos de 100 páginas, mas muito bem recomendado!
Lobo de Rua, que faz parte do universo da série A Galeria Creta, escrito pela autora Jana P. Bianchi, conta a história de Raul, um guri adolescente que mora abandonado à própria sorte nas ruas de São Paulo, vivendo cada dia como se fosse o último. Ao mesmo tempo que busca explicações para o que está acontecendo, Raul é resgatado das ruas por Tito, um imigrante italiano que mora na cidade e é bem mais do que parece. Ele é o que Raul está se tornando: um lobisomem.
Munida de uma narrativa bem detalhada, temos uma obra onde todos os cinco sentidos são explorados, fazendo com que o leitor sinta-se lá dentro da cena, junto de Raul, como se fosse parte do cenário, principalmente nos momentos em que as transformações para lobisomem ocorrem.
Aliás, transformações essas que tiveram um bom destaque no desenrolar da trama de Lobo de Rua. O corpo sendo rasgado por dentro, os pêlos crescendo, ossos se quebrando para formar novos, enfim, tudo está ali, narrado do jeito que deveria ser feito, preparando o leitor para o que virá.
Para Raul, acostumado a passar fome e viver em perigo constante, ser um lobisomem é uma dádiva ou uma maldição? O que é pior, quase morrer de fome ou matar outras pessoas para saciar a sua sede? São questionamentos dessa magnitude que o leitor se encontrará fazendo durante a leitura.
"O registro da desgraça eterna do menino não podia ser mais apropriado: manchando sua cama improvisada, a lágrima de sangue simbolizava, ao mesmo tempo, o desemparo de seu presente e a maldição que o aguardava no futuro."
E é isso que faz essa "prequela" para a série A Galeria Creta ser tão boa. Permeada por um humor ácido e descobertas novas a cada página, a relação de Tito e Raul vai se desenvolvendo aos poucos, com o italiano tentando mostrar ao guri o quão complicada pode ser uma vida dupla, quais são as consequências de seus atos e que nem tudo está perdido. Sempre há uma saída. Sempre há uma escolha a ser feita, como vocês perceberão nos capítulos finais, bem imprevisíveis, por sinal.
Reunindo diversas citações a locais conhecidos dos habitantes da capital paulista, também temos alguns aspectos da História do Brasil sendo levemente comentados, os quais eu espero saber mais nas próximas obras, principalmente no que se refere aos Lobos Farrapos. Cobrarei depois, Janayna!
"— Além de ilustrações fudidas — continuou Tito, fechando o volume —, o livro tem anexos que enumeram os primeiros lupinos que emigraram do Velho Mundo, a lista dos bandeirantes devorados por lobisomens do interior e as participações das alcateias mais clássicas nas principais escaramuças do país. Dizem que licantropos Farrapos lutaram ao lado de Garibaldi na Revolução, sabia?"
Sem contar que o livro menciona outros tipos de criaturas, como "vampiros que não brilham", minotauros, chupa-cabras e assim por diante. Imagino que eles aparecerão nos livros posteriores!
Os personagens de Lobo de Rua, mesmo sendo tão poucos, foram bem construídos e tiveram os seus desfechos encaminhados, o que é sempre complicado de se fazer em um livro de poucas páginas. Ao conversar com a autora, descobri que um desses personagens será de grande importância no livro #1 da série, A Galeria Creta, que deve ter o seu primeiro volume publicado no 1º semestre de 2016.
Para um livro de estreia, a qualidade do texto é muito boa, explorando muito bem a narrativa, de forma que ela não ficasse entediante e sempre trouxesse algo novo e importante para a trama, trocando pontos de vistas constantemente e, ao mesmo tempo, não deixando o leitor confuso.
Poderíamos ter mais alguns aspectos explorados se a obra tivesse mais páginas, é claro, como alguns caçadores de lobisomens cujos nomes foram apresentados e parecem ser parte importante no decorrer da história d'A Galeria Creta, mas o resultado final foi muito satisfatório.
Essa releitura da lenda dos lobisomens, aliada a uma ambientação urbana simples e bem atual, faz com que A Galeria Creta seja uma das séries nacionais a se observar e apreciar nos próximos anos!
Fico feliz de ver novos autores escrevendo fantasia urbana no Brasil. E mais ainda de saber que esses autores conversam entre si, trocam ideias, escrevem juntos compartilhando seus universos. Algo me diz que virá um bom material daí no futuro.
Sobre Lobo de Rua, ele é uma apresentação sincera do universo da Jana, uma porta de entrada. Um texto curto que vai direto ao ponto consciente de sua função, se permite contar uma história com fim, e abre a porta para um próximo "capítulo". O Tito, um dos protagonistas, é uma preciosidade com suas angústias.
Me deixou curioso para ver como a Jana lidará com um texto mais longo, onde possa distribuir melhor diálogos, narrativas, ambientação e viradas de trama.
Hmmm... eu pensava que já tinha avaliado esse livro por aqui. Mas de qualquer jeito, vamos falar um pouco sobre porque você deveria ler o INCRÍVEL Lobo de Rua:
1. Descrições. A Jana é sensacional descrevendo o que acontece na história, desde cheiros a transformações. É de arrepiar.
2. Lobos! Eu sempre torci o nariz para histórias de lobisomens, mas essa me encantou por completo. É diferente de tudo que já vi.
3. Fantasia urbana. Eu amo que a literatura nacional está ganhando força e amo ver livros de fantasia urbana se passando por aqui. Temos cenários incríveis para boas histórias.
4. Construção de mundo. Ao início de cada capítulo, temos trechos de um livro sobre lobisomens que são MUITO BEM ESCRITOS. Cheguei a jurar que eram reais.
5. A autora. A Jana Bianchi é uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci. Ela é co-host do Curta Ficção, autora e editora de coletâneas e uma revista. Que mulher!!
Lobo de Rua é uma “novella” de cerca de 72 páginas escrita pela autora Jana P. Bianchi e belamente ilustrada por Renato Quirino. A história funciona como uma introdução para o universo da série A Galeria Creta. E que introdução! A autora nos entrega uma história redonda e muito bem escrita, sem quaisquer defeito aparente que possa ser apontado.
No começo da história encontramos Raul, um garoto de rua, agonizando de dor em uma calçada do centro de São Paulo. O jovem não entende o que poderia estar causando tanto sofrimento, mas sabe que essa não é a primeira vez que isso acontece. Aquilo já havia acontecido no mês passado e as consequências haviam sido violentas, mas sua mente se recusa a processar tudo o que aconteceu em uma conclusão lógica.
"Daquele jeito, logo seu corpo iria se romper. A coisa dentro dele estaria livre mais uma vez, e, com ela, voltaria o terror. Já se sentira daquele jeito no mês anterior, e nem mesmo a dor era capaz de fazê-‐lo esquecer do que acontecera em seguida."
No auge de toda a dor uma figura misteriosa se aproxima de Raul e começa a conversar com ele. Tito, o homem misterioso com um sotaque italiano, se compadece de Raul e decide levá-lo para um local mais apropriado. Pela manhã, em um pensionato e depois de um bom banho, Tito começa a explicar para Raul o que essa dor que ele significa. Raul é um lobisomem, assim com ele.
Tito aceita Raul na Alcateia de São Paulo, da qual o próprio Tito é o Alfa e formada naquele momento apenas por eles dois devido a escassez de lobisomens na cidade. O homem mais velho passa então a ensinar o mais jovem sobre a vida de lobisomem, como a maldição pode ser transmitida, como se alimentar, como evitar atacar pessoas e ser rastreado por caçadores, entre outras coisas. A relação paternal que começa a se formar entre os dois é muito bonita, principalmente por ser algo que Raul nunca teve na vida.
"—Ah. . Quem diria! “Tito Agnelli, poderoso alfa da grandiosa alcateia de São Paulo”.. —Gargalhou. —São Paulo tá mal de lobisomem, hein? Nunca achei que fosse chegar a esse ponto."
A história segue a partir desse ponto mostrando um pouco mais dos elementos fantásticos presentes no livro. Há menções a vampiros e outras criaturas mágicas escondidas em nosso mundo. No final do livro temos um vislumbre ao cenário que empresta o seu nome a saga, a Galeria Creta, local dirigido pelo próprio Minotauro. Também temos um vislumbre do caminho que a série pode seguir com a apresentação do personagem Téo. O final em si não é exatamente feliz, mas é compreensível, embora eu tenha me sentido muito triste pela forma como tudo terminou.
Não sei se Lobisomem: O Apocalipse foi uma inspiração para a autora, mas a ambientação me lembrou em muito o Mundo das Trevas da White Wolf. No entanto, Lobo de Rua tem seus elementos próprios que o torna algo único. Algo que precisa destacar é que, embora o personagem principal do conto seja um adolescente, a história não tem uma narrativa voltada para o público jovem adulto. Espero que a autora siga essa linha de fantasia urbana mais adulta também no decorrer da série.
Recomendo fortemente a leitura e mal posso esperar pelo primeiro romance de A Galeria Creta
3,5 estrelas. A Jana consegue usar a língua portuguesa de uma forma muito interessante, com descrições legais, vívidas e coerentes. Gostei da história, é bem triste, embora tenha achado um pouco corrida, mas entendo que a proposta era de uma novela. Toda a mitologia apresentada é muito legal, e quero mais histórias da Jana e da Galeria Creta.
Jana é incrível. O ritmo da narrativa e as escolhas de palavra transporam o leitor diretamente para o universo de Raul. Eu amei este conto e mal posso esperar por um romance ambientado na Galeria Creta. Adorei como ela conseguiu inserir um universo fantástico inteiro em São Paulo.
Lobo de Rua introduz o leitor ao universo de A Galeria Creta (livro ainda em processo de escrita) nos apresentando a Raul, um jovem morador de rua com uma condição que torna sua vida ainda mais difícil: a licantropia. Porém, ele é acudido por Tito Agnelli, que, até onde se sabe, é o único outro lobisomem que habita São Paulo nos dias atuais, e com a ajuda dele, compreende o que é ser um lobisomem — desde a contaminação até as consequências de abrigar uma fera incontrolável em seu interior.
Essa premissa simples se desenrola em uma trama bem elaborada, que vai aos poucos ampliando o universo apresentado pela autora, ao mesmo tempo em que deixa o leitor querendo mais, com uma surpresa no final que provavelmente abre caminho para a provável premissa de A Galeria Creta. E, falando em universo, apesar de apenas alguns pequenos detalhes terem sido apresentados nesta novela, vê-se que ele foi muito bem construído: os lobisomens, a Galeria Creta e diversos seres fantásticos (como vampiros e videntes) que foram citados rapidamente na história foram mesclados de forma tão coerente com um cenário real (São Paulo) que não fica difícil imaginar que eles possam existir.
Outra coisa que me agradou muito foi a escrita. Livros de novos escritores (e não somente de escritores brasileiros e independentes) geralmente apresentam a escrita um pouco imatura, muitas vezes relatando a história em vez de mostrá-la e deixar que o leitor a sinta, mas isso não aconteceu com Lobo de Rua. A narrativa apresenta todos aqueles detalhes necessários para me fazer sentir como se estivesse vivendo uma história, ao mesmo tempo em que é fluída, fazendo as páginas se virarem sozinhas (li toda a novela em uma única “sentada”). O único ponto negativo que eu poderia citar é que faltaram descrições, tanto de lugares famosos de São Paulo quanto da Galeria Creta.
Os personagens são poucos, mas bem construídos. Ainda que as motivações de alguns deles não tenham ficado claras, ou que o mistério tenha se mantido, é possível perceber que existem. Além disso, a maneira como a autora retratou seus dramas (especialmente os de Raul, um menino de rua) os tornou mais críveis e humanos.
Também destaco a maneira como foi abordada a licantropia. Podemos reconhecer o mito do lobisomem, que nesta história também se transforma com a lua cheia, mas a autora inovou na forma como a licantropia é transmitida, e também em alguns detalhes sobre as consequências de se transformar em um lobo todo mês. Não falarei muito sobre isso para não estragar a surpresa.
O final encerra essa história de maneira que, embora não previsível, soou adequada à trajetória de Raul. Ao mesmo tempo, deixa algumas pontas em aberto, encaminhando o leitor para as histórias que estão por vir e fazendo-o ansiar por elas. A revisão é impecável, e todo o cuidado de Jana com os aspectos da obra (que possui excelentes ilustrações) nos prova que a publicação independente é uma alternativa, e não a falta dela.
São poucas as coisas que não me agradaram em Lobo de rua. Já me adianto e digo que este livro, curtinho como é, é o equivalente brasileiro de Entrevista com o vampiro, introduzindo o leitor a um gostinho do mundo perceptivelmente maior e mais fantástico do que o pouco que vemos em suas páginas — e agora eu só quero que a Jana escreva algo com vampiros, que são mencionados na história e, de longe, meus "monstros clássicos" preferidos.
Entre o que me incomodou, ficam e, pontualmente, — sim, é realista; sim, é algo que acontece, mas é o tipo de coisa que me incomoda, mesmo.
De resto, Lobo de rua foi uma leitura mais mais que boa, me deixando muito curioso pelo que a Jana ainda vai fazer com a Galeria Creta.
Lobo de rua é uma novela de introdução à Galeria Creta, conta um dia da história de Raul, um menino duplamente miserável - miserável por viver nas ruas, sem casa, sem família, amor, amizade ou esperança, e novamente miserável por ter sido contaminado pela terrível maldição lupina - e de Tito, um lobisomem com mais de 1400 luas cheias, que se torna tutor do menino e tenta ajudá-lo em sua transformação e orientá-lo a respeito da maldição. A novela também faz uma breve menção a personagens que serão importantes na continuação dessa incrível história.
Se você gosta de histórias melosas e finais "felizes para sempre", essa história provavelmente não é para você, mas se, assim como eu, você prefere histórias com aroma metálico e sabor quente e salgado (roubei a expressão do prefácio do livro, créditos pra Paola Siviero), você definitivamente tem que ler esse livro.
Sou grande fã da fantasia e o que mais gosto na literatura fantástica é quando as histórias são abordadas com o devido realismo (Como assim? Nas guerras as pessoas morrem, na vida acontecem coisas boas e coisas ruins, as pessoas nunca são 100% boas nem 100% más). O que eu mais gostei nesse livro foi exatamente isso, e que habilidade da Janayna para transformar toda a mitologia a respeito dos lobisomens enquanto conta o cotidiano de um menino nas ruas de São Paulo.
As descrições dos sintomas e das transformações são extremamente bem feitas e detalhadas, mas não se engane achando que é aquele tipo de detalhamento que torna a leitura maçante, muito pelo contrário, faz você se sentir dentro da cena, vendo tudo aquilo acontecer. A narrativa é caprichosa e a linguagem é simples e atual, tornando a leitura prazerosa.
Os personagens são bem construídos e nas poucas páginas o livro consegue abordar a chocante realidade das ruas e a esperança das pequenas boas ações transformando isso em uma mistura homogênea, tudo com um leve toque de humor.
"- Quer dizer, hoje sai exatamente à uma da manhã - corrigiu-se, em um sussurro, enquanto avançavam pelo corredor. - Por quê? - perguntou Raul, apressando o passo para acompanhar a caminhada vigorosa de Tito em direção à rua. (...) - Ora. - Deu um sorriso. - Porque maldição de lobo não segue horário de verão."
E quanto aos defeitos? Na minha opinião só teve um (pequeno), o uso excessivo de explicações de quem disse o que e o que estava fazendo ou pensando nesse momento. Não é uma coisa absurda, tanto que na primeira leitura eu estava tão cativada pela história que nem percebi, mas se existe algo que poderia ser melhor, na minha opinião, seria isso, os diálogos poderiam ser mais diretos.
Sem dúvidas, um dos melhores livros que já li. A escrita, embora às vezes rebuscada, não é de modo algum pesada, e a leitura corre leve. Gostei também da maneira como ela apresenta a maldição da licantropia, porque foge do lugar comum. Ela trata o assunto de maneira quase científica, o que dá mais veracidade à fantasia. A autora descreve a transformação em lobo com tal riqueza de detalhes que me senti realmente na pele do pobre Raul. Vê-se também que ela se preocupou com os detalhes do mundo de sua história. E embora os elementos tenham sido tocados apenas de leve, é possível ter uma boa noção do universo construído. Não tenho o que reclamar deste livro. Maravilhoso.
Essa foi, sem dúvida, uma das melhores histórias que li esse ano. A escrita da Janayna é deliciosa, fluida, te traz para dentro das cenas de uma forma quase assustadora. Não consegui parar de ler até terminar, e a cada parágrafo fui surpreendida com a criatividade do universo criado e a complexidade dos personagens.
Essa é uma história de fantasia que se passa em São Paulo, e confesso que no começo fiquei com o pé atrás de ler fantasia urbana nacional. Não podia estar mais enganada; foi muito legal reconhecer os lugares que a autora descrevia - me senti em casa. E o mais gostoso, o final é surpreendente!
Para quem gosta de fantasia no geral, dark fantasy, fantasia urbana, vale muito a pena! Super recomendo!!!
Tenho que começar dizendo que não curto lobisomens e afins. Dito isto, gostei bastante de Lobo de Rua. É uma história curta, bem contada e acho que o grande acerto da autora foi focar no essencial. Não se perde tempo com descrições longas, contextualizações, etc. O escopo do livro é bem pequeno, poucos personagens, mas muito bem explorados. Gostei do Raul, mas gostei mais do Tito. O final é surpreendente e deixa abertos muitos caminhos que podem ser explorados em outras obras.
Praticamente todos meus amigos sabem que lobisomens são meus monstros favoritos. Coloco minhas mãos em qualquer coisa que tenha essas criaturas - e volta e meio acabo assistindo ou lendo filmes, seriados e livros terríveis em tudo quanto é sentido. Mas Lobo de Rua foi, justamente, uma daquelas obras que fazem valer a pena esse meu desespero. Do nível pular direto pros primeiros lugares na lista logo que li as primeiras páginas.
O primeiro livro (ou novela) de A Galeria Creta tem uma escrita muito boa. As descrições são tão detalhadas que você se sente dentro da ação. Cada capítulo é iniciado com um trecho de um livro do universo que explica a licantropia da melhor maneira possível, o que por si só já prepara o leitor para o que está por vir. Ainda assim, esse não é um dos tópicos que eu mais gostei no livro. O que eu amei mesmo, de verdade, do fundo do coração (que doeu muito lendo esses 14 capítulos) foi a construção do monstro lobisomem. Em pouca mais de uma hora de leitura, Jana consegue explicar e expor a licantropia de um jeito maravilhoso sem soar didático. Mesmo quando Tito, o lobisomem mais velho, explica a licantropia para Raul, o recém-transformado, a conversa dos dois é tão verossímil e real que você não se sente um aluno em uma aula chata ouvindo um professor mecânico. Os palavrões e as reações de Raul a cada nova descoberta eram deliciosas, mesmo sendo de cortar o coração. E a transmissão da licantropia como a de uma doença sexualmente transmissível foi uma mudança inesperada e chocante nessa mitologia.
Os poucos personagens que aparecem também são incríveis e nos deixam cheios de curiosidade. Raul, o protagonista, me destruiu. Tito, o italiano centenário, é tão bem escrito que eu mal posso esperar para ler mais sobre ele. Minotauro, Téo e Soraia, então, nem se fala. Mesmo não sendo o foco dessa história, dá pra ver que eles ainda têm muito a nos contar. E eu mal posso esperar pra descobrir mais, principalmente quando lembro das referências a vampiros e chupa-cabras.
Fantasia urbana é um dos meus gêneros favoritos e, quando ela é tão bem feita e ainda por cima tão brasileira, a única conclusão é que eu vou amar - mesmo não sendo grande fã de lobisomens sanguinários e sofredores como os de Jana (muito menos dessa história de que mulheres não podem se transformar).
Sempre que preciso avaliar um livro, me vejo diante de um dilema: apreciar como teórico ou como diletante?
Isso faz muita diferença, pois o pomo de ouro da análise estética é justamente ser capaz de analisar objetivamente coisas que você não gosta (mas entende que são bem construídas) e apontar erros (ainda que doa) em coisas que você gosta; o segundo, por sua vez, é o leitor que mede uma narrativa com sua régua customizada: o gosto. O teórico avalia clinicamente; o diletante só quer se apaixonar por um livro. O primeiro precisa que o livro lhe proporcione um almoço de bom tamanho; o segundo exige uma noite de amor com luz de velas, pétalas de rosa e Marvin Gaye de trilha sonora.
Com Lobo de Rua, não passei por esse dilema. Me apaixonei pelo livro tão logo comecei a leitura, e ainda tenho dificuldade em encontrar nele problemas de formais ou temáticos. É talvez o livro mais "sabonete" que li em 2015. Melhor que isso: é um livro sobre lobisomens, que se passa em São Paulo e eu, que morro de medo de narrativas de terror e suspense e costumo não gostar de fantasia urbana, grudei obsessivamente nele.
Em Lobo de Rua, Janayna Pin nos apresenta um mundo profundamente sinestésico - cada textura e odor nos é descrito com riqueza de detalhes, e isso quase nunca é agradável, mas é satisfatório pra p*rra.
Neste mundo pitoresco, a licantropia é uma triste realidade, uma aflição, uma doença. Aqui, não podemos esperar por lobisomens completamente "alterizados" - nós os vemos, em sua forma humana, lamentando o que fazem quando se tornam monstros sob a influência da lua cheia: sim, eles se arrependem e tentam se controlar - o que não é possível.
Por outro lado, também não podemos esperar "monstros conscientes" aqui - ao contrário da opção de muitas narrativas de horror e ação mais recentes, os lobisomens descritos por Pin, tão logo estão transformados, são tomados pelo que há de mais básico em seus seres e se rendem por completo à fome e à libido. Nada pode parar seu avanço animalesco contra o que estiver em seu caminho.
Neste contexto, somos apresentados ao jovem morador de rua Raul (com um nome estranhamente onomatopaico) e ao italiano expatriado Tito, e só eles importam para esta análise. Não me entenda mal, outros personagens são apresentados, com destaque para o Minotauro, um ser mitológico que rege um submundo fantástico sob São Paulo - ele é uma mistura dos personagens interpretados por Tom Wilkison em Batman Begins (Chris Nolan, 2005) e Denzel Washington em Dia de Treinamento (Antoine Fuqua, 2001), sem contar a cabeça de bovino, evidentemente.
Entretanto, "carisma macho" à parte, dois terços do livro enfocam as interações entre o italiano e o menino, enquanto o primeiro tenta educar o segundo a respeito do que é ser um lobisomem - em suma, uma vida amaldiçoada e desprovida de romantismo, uma vida cujas dores psicológicas e físicas Pin descreve com muito detalhe clínico e nenhuma misericórdia. Sentimos, junto aos dois pobres diabos, o desconforto das mandíbulas em plena expansão e de um rabo brotando na base da espinha.
Aliás, falando em carisma macho, é curioso notar que a autora criou um universo extremamente masculino aqui. Há apenas duas personagens femininas, e embora ambas sejam motores tão essenciais para a trama quanto os demais, são nitidamente obscurecidas. O próprio Tito observa que ser lobisomem é uma condição irremediavelmente masculina, sem qualquer poesia ou romantismo. Com efeito, o mundo que a autora criou reflete isso duramente: um mundo de suor, acotovelamento no transporte público, feridas abertas e sanduíches de mortadela.
Mas nem tudo é presente em Lobo de Rua, e este é um de seus maiores trunfos. Pin estabelece uma história para além da história, brindando o leitor com migalhas de um suposto passado. Pelos olhos de Tito temos um suave vislumbre do que se passou em outras épocas deste, que é um mundo real, mas um tipo de real 2.0.
Problemas? Um só. Janayna Pin não é uma leitura fácil. A autora tem vocabulário e não poupa o leitor de descrições meticulosas. As descrições são tão meticulosas, na verdade, que em muitos momentos parecem saídas de um relatório médico/policial. Leitores que apreciem ação em colheradas fundas também encontrarão dificuldade com este livro de lobisomem - não há lutas ou perseguições. Trata-se, enfim, do drama de dois caras que sabem que são doentes e fazem o possível para enjaular sua doença, de forma que não venham a ferir ninguém. Se você não chorar ao fim dessa narrativa, me parece provável que você não seja capaz de chorar com muitos livros.
Quando digo que esses pontos são problemas, quero dizer que são problemas para certos tipos de leitores. Para mim, que aprecio narrativas de experiência, de ponto de vista e de busca de identidade, foi um belo de um banquete.
E, além do mais, lendo essa pérola, me senti indo mais uma vez a São Paulo, cidade que amo como só um paranaense interiorano e deslumbrado seria capaz de amar. Não tem como não gostar desse livro.
Uma novela de fantasia urbana nem muito curta, nem muito longa, "Lobo de Rua" conta a história de um garoto de rua transformado em lobisomem. É, então, descoberto e adotado por um lobisomem mais experiente, o italiano Tito, que passa a lhe guiar durante estas primeiras vezes do novo mundo que se desdobra frente ao jovem sofrido.
Pela própria natureza do protagonista e a situação em que é colocado, pode-se esperar uma narrativa sem "dedos" de abordar uma certa perspectiva mais crua e violenta da situação do lobisomem. Nada de romantismo exacerbado; há o sangue, há as atrocidades, mas, também, há a culpa advinda de uma situação bestial da qual não se pode escapar. E, no entanto, o relacionamento do protagonista com seu mentor passa uma sensação de conforto, de um oásis no deserto, uma pequena ilha de afeto em uma vida de desolação - agora acentuada pela maldição à qual Raul, o garoto, foi submetido.
Vim a descobrir que a história serve como uma introdução a um livro porvir, e esse papel ele desempenha bem. A princípio, fiquei incomodado um pouco pelo fato de que toda a primeira metade da história era composta mais de exposição em relação ao funcionamento da maldição, a situação dos lobisomens e da vida dos personagens do que acontecimentos presentes e instigantes, mas esse brotar da relação entre Raul, o garoto, e Tito, seu mentor, o "alfa" da alcateia de dois, é gostoso de ler a ponto desse aspecto não chegar a se tornar cansativo.
Esse aspecto introdutório fica claro também nas últimas partes do livro, quando a introdução de um novo personagem e uma promessa de sua importância futura toma certo espaço na obra. Talvez essa introdução de Téo, o dito cujo, tenha ocupado tempo demais em uma obra na qual quis ver mais dos outros protagonistas, e achei que no final das contas, por [spoiler], esse núcleo poderia ter se desenvolvido mais, quiçá com uma história mais longa só para eles, antes dos acontecimentos no final de "Lobo de Rua".
Mas, no geral, gostei bastante e espero para ver o que mais se passará nesse pequeno grande universo urbano.
Lobo de Rua é uma novela, ou livro curto, do futuro livro da Janayna, Galeria Creta. Apesar de não saber os detalhes dele, achei Lobo de Rua um prólogo estendido.
Pra mim, um dos problemas de prólogos é o despejo de informações. Por ser uma introdução, o autor geralmente enche essas páginas iniciais com descrições excessivas e explicações desnecessárias sobre a "mecânica" do mundo, como ele funciona. De certo modo, isso acontece em Lobo de Rua, mas sem exagero e com um diferencial: a escrita de Janayna. Ela insere as exposições bem espaçadas, em diálogos e pontos de vista dos personagens. Sua prosa é leve e divertida, bem humorada em alguns momentos e mais sombria em outros, acertando o tom das passagens. Aliás, um detalhe (ou falta dele) que eu gostei muito foi a Janayna ter optado por não descrever cada canto de São Paulo. Essas descrições, que me parecem mais ligadas às emoções do autor que ao propósito das cenas, faz a leitura se arrastar, ao menos pra mim.
A única coisa que me incomodou um pouco, mas acredito que seja picuinha minha, porque não vi mais ninguém falar sobre isso, foi a constante troca de pontos de vista dos personagens, especialmente no capítulo 2. Trocamos entre a cabeça de Raul e Tito de um parágrafo para o outro, às vezes. Esse pingue-pongue me deixa um pouco confuso — eu gosto de manter o foco nos pensamentos e motivações de um personagem pelo menos durante o capítulo inteiro. Claro, nada disso tira o mérito da grande história de Janayna e de sua escrita maravilhosa.
Recomendo à todos. Fantasia nacional em belíssimo nível, feita com talento e dedicação.
Um ótimo livro (ou melhor, novella) de fantasia urbana nacional. A autora desenvolve uma mitologia bastante inovadora sobre o tema (lobisomens), os personagens são muito bem construídos (levando-se em conta que se trata de uma obra curta), e a escrita é bem simples, no sentido de que ela se preocupa acima de tudo em contar uma boa história, e não em impressionar o leitor com firulas literárias como muitos autores iniciantes. Essa é uma característica que admiro muito em um dos meus autores favoritos, Brandon Sanderson, e a autora de Lobo de Rua faria muito bem em continuar nesse caminho.
A única razão pra eu não dar 5 estrelas é por que às vezes (muito raramente) era difícil definir de quem era o POV do narrador, pois ele podia mudar de um parágrafo para outro.
Preciso fazer uma "menção honrosa" ao Tito, nosso lobo velho, que é um personagem apaixonante. Espero ver ele novamente, e vou aguardar ansioso o primeiro livro "de verdade" da série.
Mais uma história da editora Dame Blanche que vale demais a pena. Acho que poucas vezes fiquei tão sensibilizada com uma transformação lupina - digamos que Crepúsculo faz lobisomens parecerem super sexies e quentes, quando sempre imaginei o contrário (vide professor Lupin, esse lindo).
Foi minha primeira visita ao universo da Galeria Creta, e talvez esse seja meu único porém com relação à narrativa: tive uma pequena dificuldade com o desfecho, que é abrupto, mas tenho certeza que flui melhor para iniciados, que já entendem a mecânica dessa magia. Recomendo demais a entrevista com a autora no fim do livro, que sem dúvida tornou tudo mais claro.
De resto, fica um sentimento parecido com o que vivi ao terminar "A Casa de Vidro"; uma melancolia agridoce, um vestigio de magia no ar e principalmente, um grande bem querer pelos personagens. Tito ♡
O cenário familiar é o que mais se destaca em Lobo de Rua, de Jana Bianchi. Só que eu achei a primeira metade descritiva demais. A autora precisou explicar muito como funciona a licantropia no seu universo literário. Achei que ela conseguiu fazer isso muito melhor durante a visita à Galeria Creta e a história de Teo. Aliás, fiquei curioso em saber o que vai acontecer a Teo.
O livro é curto, mas a narrativa é super interessante e não dá pra parar de ler! Além disso, a autora faz um trabalho tão bom em construir o mundo que serve de pano de fundo para a história que já estou ansioso para ver o que mais poderá surgir daí... Isso sem falar no desfecho, que é de cortar o coração :( hahaha Recomendo!
Foi uma leitura sem expectativas de minha parte. Nunca me interessei muito por lobisomens e afins, mas aqui eles são um mero detalhe. O drama está na vida de Raul e em suas dificuldades como morador de rua que descobre ter licantropia. Os diálogos são bons e as resoluções de cenas são interessantes.
Tudo isso promete ser uma introdução para uma série de romances. Eu pretendo ler cada um deles.
Me senti um pouco perdido no começo e a São Paulo dos lobisomens foram bem leais de ser exploradas, mas pessoalmente não gostei muito. Foi tudo muito introspectivo e a ação chegou só no final bem quando acaba o livro.
adorei a escrita, a construção de mundo, o ritmo (muita gente vai achar lento demais, mas gosto de introspecção), e o final me surpreendeu! apenas duas coisas: - gostaria que o dito final surpreendente tivesse tido um pouco mais de construção em cima antes de chegar naquela conclusão - pelo modo que certos personagens foram introduzidos para obviamente serem o foco de uma continuação, não sei se tenho interesse em continuar a série (se ela continuar), porque os ditos personagens não me agradaram muito. não tenho a mínima vontade de ler um livro com o téo como protagonista, por exemplo. mas o minotauro parece interessante.
Eu não sou de ler sobre criaturas de terror e morro de medo livros que possam me dar, bem, medo. Mas sou muito fã do trabalho da Jana fora dos livros (os textos no Medium, os podcasts etc), então peguei esse livro com total certeza de que iria gostar e não me decepcionei.
A Jana é muito talentosa em organizar as informações de cenário, personagens e enredo de modo que você se sinta imerso já nas primeiras páginas. Imagino que não seja fácil dosar a quantidade certa de tudo num livro com páginas contadas (uma novela, afinal), mas ela faz você sentir que conhece Raul, Tito e a mitologia lupina em medida suficiente pra te deixar interessado nessa história (destaque pros trechos “documentais” que abrem cada capítulo – eu amo esse tipo de recurso!), mas ainda escondendo o resto do mundo pra que você queira outros livros (como o passado de Tito, mais informações sobre outras criaturas, como a comunidade de lobos vive em outras cidades etc etc etc).
E sobre o que eu tinha medo: os lobisomens aqui não dão medo nenhum, pode ler tranquilo se você for como eu AHHAHAHAHAH A Jana mostra como eles são imponentes, violentos, torturados e sofridos, o que causa estranhamento, nojo, surpresa e outras emoções que mexem com o leitor (e isso tudo é ótimo, o legal é ler livros que despertam as coisas mesmo), mas nada que tire seu sono, obrigado!
Fiquei muito em dúvida se dava 4 ou 5 estrelas, acho que por ele ser tão diferente dos que normalmente leio. A história mistura a vida de um morador de rua com a de um lobisomem, passando por tristeza, transformação, aceitação. Da para traçar vários paralelos entre o real e a fantasia, achei muito bom!
Lobo de Rua tem uma prosa leve e divertida, bem humorada em alguns momentos e totalmente sombria e dolorosa em outros, o que nos deixa naquela montanha russa de sensações deliciosa, nos fazendo querer mais e mais em cada página lida. E o fator principal da história, é que fica impossível não notar a maestria na escrita de Jana, quando ela conduz, amarra e cria uma introdução espetacular para um universo urbano já conhecido por nós moradores da cidade, mas totalmente desconhecido ao mesmo tempo.
Não encontrei problemas na narrativa de Jana, que me ganhou logo nas primeiras páginas, ela nos dá uma história rápida, uma escrita fluida e ideias inteligentes e interessantes no meio de uma trama bem elaborada, que vai aos poucos ampliando o universo apresentado pela autora. Os personagens são bem construídos, num trabalho incrivelmente bem feito a autora transformou seus personagens em humanos reais, com motivações críveis e sinceras. E pra completar a roda de elogios preciso enaltecer a forma como Jana resolveu abordar a licantropia de uma forma muito original.
É uma fantasia nacional em belíssimo nível, não vejo a hora de poder embarcar em mais histórias da Galeria Creta.
Não é tão legal quanto eu pensava... É ok a história, sabe? Só isso. Ok. É tipo uma apresentação do universo. Muito interessante, escrita gostosa de se ler, mas só isso.
Agora tem uns probleminhas que eu não gostei. E isso vai ter spoilers.
Tá bom que são preconceitos DOS personagens (machismo e homofobia), mas isso não é trabalhado no conto. Então a cena em que o Raul tenta provar que não "é bicha" ficou só uma cena cômica com uma piada que não é tão legal assim.
O outro problema foi sobre a autoestima e saúde mental de pessoas em situação de rua. Bem delicado mesmo, mas... O "suicídio" do Raul ser basicamente "não tenho motivos para viver"... Olha, eu não gostei nada disso não. Fica parecendo que a situação de rua é uma maldição tal qual como a maldição da licantropia. Algo irreversível. É justamente essa crença que a gente precisa combater, sabe? "Que peninha", não, não é pra ter peninha. A situação de rua é responsabilidade social de todos nós. Num sistema de explorar ou ser explorado, sobra isso.... então eu não consigo gostar da "solução" para o Raul.
Apesar disso, o universo da Galeria Creta é legal. Espero ver mais coisas.
Lobisomens, vampiros e afins são temas recorrentes na literatura mundial, então é de se esperar que muitos ignorem "mais um" livro sobre o tema. Entretanto, não dar uma chance a Lobo de Rua é perder uma grande oportunidade.
O livro conta a história de Raul, garoto de rua que se torna enfermo de licantropia. Aqui, ser um lobisomem é uma disfunção, uma mazela, uma enfermidade, bem diferente dos lobisomens romantizados e super-poderosos que vemos por aí. O relato de Janayna é brutal e visceral ao nos levar ao submundo de São Paulo, onde habitam criaturas horrendas.
Ah, e se não bastasse, a escrita dela é excelente. Muito acima da média dos escritores independentes nacionais que já li.
Lobo de Rua é uma obra fantástica que me deixou animadíssimo para ler mais sobre a Galeria Creta. A Jana tem um prosa muito gostosa e bem estruturada, diálogos que soam naturais e personagens que saltam das páginas. Além disso o tema mistura fantasia urbana com assunstos sociais, que raramente são vistos nesse gênero literário, com muita sensibilidade. A trama do livro termina com alguns ganchos que dão muita vontade de saber como alguns personagens se relacionam e como essa história vai progredir, entretanto ele tem um fechamento para a história do personagem principal, e um que me deixou muito surpreso. Recomendo fortemente a leitura.