Bordéus, anos 80. Um casal transmontano recebe uma proposta irrecusável para voltar à sua terra. José, o filho mais velho, resultado híbrido da diáspora lusitana, luta a cada dia para encontrar a sua identidade perdida. Nos seus sonhos, reencontra o Douro e a liberdade dos horizontes abertos onde voam águias e grifos. Revoltado com o desprezo da sociedade francesa e a rudeza dos pais, este adolescente vai refugiando-se da realidade nos braços da namorada, também filha de emigrantes, e no futebol. De repente, tem a oportunidade de regressar com os pais à sua terra e terá de tomar a mais importante decisão: ficar ou partir.
Nasceu em 1969 em Bordéus, onde viveu e estudou até aos 17 anos, quando regressou a Portugal e às raízes transmontanas. É professor do primeiro ciclo há duas décadas, licenciado pela Escola Superior de Educação da Guarda, trabalha e reside em Paços de Ferreira. Este é o seu primeiro romance.
Estamos em 1985 José vive com os pais pessoas de trabalho muito rígidas e com um pensamento retrógrado e o irmão mais novo rapaz pacato em Bordéus, emigrados de terras transmontanas as diferenças culturais e a maneira como os franceses diminuem os portugueses são tidos como normais , os homens trabalham nas obras e as mulheres fazem limpeza é este o estereótipo pelo qual são conhecidos e que lhes é relembrado a toda a hora e que ainda hoje permanece bem vincado por lá. O autor apresenta-nos aqui um jovem adolescente muito retraído e psicologicamente destruído, que tem o sonho de ser futebolista. Embora o autor não o diga este livro pareceu-me bastante autobiográfico e assim é-me difícil escrever sobre ele mas temas como violência fisica e psicológica , o rebaixar constante de uma forma cruel e doentia nomes como bandalho, falhado, e outros que me recuso a transcrever eram diariamente proferidos por parte de alguém que devia dar amor e carinho a uma criança. Como emigrante que sou nascido na Alemanha revi-me em muitas coisas do José, como a inocência ou ignorância de certas coisas que se passam nas aldeias como os palavrões a liberdade de estar no campo coisas que quem era criado no estrangeiro nas grandes cidades confinado a um apartamento não aprendia naqueles tempos , o guardarmos na cabeça os nomes das terras no regresso a Portugal o pormenor da GNR na fronteira e o excesso de zelo com os portugueses tudo coisas que a minha geração viveu. Gostei que tenha metido nos diálogos palavras em francês no meio (que tanto me irrita) mas é um facto que os filhos dos emigrantes falavam e falam assim , o tema do racismo que ainda hoje existe nas escolas em vários países e é muitas vezes camuflado com um "é para o bem deles " O José tinha tudo para ser uma crianca feliz, mas quem podia contribuir para isso não quis e este miudo podia ter acabado num abismo sem retorno. Uma Historia emocionante que revolta e mexe com as entranhas de qualquer um . Nota-se na escrita uma grande revolta em cada palavra em cada página, uma dor constante que não deixará ninguém indiferente. E volto ao principio para dizer que não sei se é autobiográfico mas se for é preciso uma coragem enorme para contar a história incrivel do José. Leiam vale muito a pena
Acabei por ficar presa ao livro para perceber o desenvolver da história da personagem principal mas acabei por ficar desiludida com final, uma vez que deu a sensação que ficou tudo da mesma forma, apenas se mudaram para Portugal.