Os Éguas, de Edyr Augusto, é um romance policial diferente. Trata-se de um thriller regionalista que conta uma história de sexo, drogas, corrupção policial e morte. Em seu centro, um delegado alcoólatra "de mediana inteligência e vastos sofrimentos".
O cenário é Belém do Pará, surpreendentemente violenta e decadente, retratada sem qualquer condescendência. Os Éguas é um romance que não deixa nada da cidade de fora, indo da grã-finagem à patuleia, mostrando bares, botecos, restaurantes, delegacias, clubes e motéis. Sua linguagem é coloquial, típica da região, compondo um retrato perfeito da oralidade local. O título da obra define com ironia a fauna humana que cafunga e geme na história de aterradora violência narrada.
A trama de Edyr Augusto tem ecos de romance policial com um detetive, o delegado Gil, e seu parceiro, Bode, investigando um suicídio que mais parece homicídio. Gil não é um detetive cerebral, tampouco agüenta beber, sendo derrubado por umas poucas cervejas. É um personagem diferente do habitual das histórias policiais, sem glamour ou força. Mediano, e, por isso mesmo, mais verossímil.
Os Éguas avança para além da mera trama policial e mergulha na realidade e nos horrores de uma cidade povoada de violência, corrupção, crueldade e hedonismo. Edyr Augusto envereda pela trilha que aprofunda a violência e faz, ao mesmo tempo, um retrato e uma reflexão sobre a criminalidade, as transgressões éticas e a impunidade desses tempos. Por tudo isso é um grande romance, que choca e comove, fazendo o leitor torcer e pensar.
Edyr Augusto é um escritor e jornalista paraense, vencedor do prêmio Caméléon. Nascido em Belém, em 1954, inicia sua carreira como dramaturgo no final dos anos 1970. Escritor e diretor de teatro, Edyr trabalhou como radialista, redator publicitário, autor de jingles além de produzir poesia e crônicas. Filho do escritor e radialista Edyr de Paiva Proença, sua estreia como romancista se dá em 1998, com a publicação de Os éguas. Quadro desolador da metrópole amazonense, o "thriller regionalista" mergulha no ritmo frenético da decadência e da violência urbana.
Muito apegado à sua região do Pará, Edyr Augusto ancora lá todas as suas narrativas. Em 2001 lança Moscow, seu segundo romance, seguido de Casa de caba, em 2004. Seu mais recente romance é Selva Concreta (2012). Os thrillers escritos por Edyr Augusto são conhecidos por representarem o que há de mais interessante na literatura contemporânea paraense, mas com temas identificáveis em qualquer cenário urbano. Sua linguagem é coloquial, típica da região, compondo um retrato perfeito da oralidade local. A temática urbana, com uma trama de suspense que se desenrola por bares, botecos, restaurantes, delegacias, clubes e motéis, ecoa a tradição policialesca noir. É nesse encontro que se configura o estilo singluar da obra de Edyr Augusto.
Em 2013, com a publicação de Os éguas em francês (sob o título Belém), a obra de Edyr ganhou grande destaque na cena literária parisiense. Amplamente aplaudido pela crítica, o romance recebeu, em 2015, o prêmio Camaléon de melhor romance estrangeiro, na Université Jean Moulin. Concorreram com ele Milton Hatoum (Orphelins de l’Eldorado), Adriana Lisboa (Bleu corbeau) e Frei Betto (Hôtel Brasil). No mesmo ano, Edyr participou do festival Quais du Polar, em Lyon. O evento é mundialmente conhecido por celebrar o gênero noir na literatura e no cinema e recebeu neste ano cerca de 65 mil visitantes e nomes consagrados como Michael Connelly e Harlan Coben. Em 2014, o escritor também participou como convidado e palestrante do festival Étonnants Voyageurs em Saint-Malo, e em 2015, foi convidado a participar do Salão do Livro de Paris. Desde então, seus romances vêm sendo traduzidos para o francês. Em 2014, foi a vez de Moscow (2014) e em 2015, Casa de caba (publicado com o título Nid de vipères).
O estilo marcante, a escrita alucinante e implacável de Edyr já havia chamado a atenção de editoras internacionais, a começar pelo romance Casa de Caba, publicado na Inglaterra com o título Hornets’nest pela Aflame Books, em 2007. O paraense também teve alguns contos traduzidos no Peru, pela editora PetroPeru, e também no México, pela editora Vera Cruz. E dois de seus livros estão sendo adaptados para o cinema.
Havia lido 'Pssica' antes deste e já tinha achado uma porrada, um livro tão foda que deixa você meio desnorteado e em desencanto com a vida e, por outro lado, faz agradecer por viver da forma que vive e tendo o que tem.
Acho que uma das funções da literatura é isso, servir de espelho de carne, mostrar sem medos ou dedos a crueza e natureza pouco honrosa da vida humana, Edyr cumpre isso com maestria. Sua escrita parece um desses folhetins policiescos, é concisa, bruta, direta, não tem floreios nem rodeios, quem busca fuga acha confronto com a realidade.
Pode até causar estranhamento, não é assim um mundo nosso, da cidade grande que constrói e destrói coisas belas mas faz pensar em quantos países existem dentro de um mesmo país. As frases curtas de Edyr são lanças certeiras, não buscam tecer o belo mas apenas mostrar o óbvio da vida miserável humana.
Há ecos de 'Pssica' aqui e ali, o tema é quase correlato mas aqui, temos um Quixote lutando contra os moinhos que, se não são de vento, lhe impõe derrota não menos amarga. Talvez o grande 'twist' da trama tenha roubado um pouco do brilho ao final da obra, fica meio parecendo solução fácil mas não deixa de surpreender e não desanima ao demolir a torcida que, inconscientes, fazemos.
Meu primeiro contato com o autor. Gostei muito do ritmo frenético. Gostei muito dos personagens multidimensional e da fragilidade do herói . E gostei mais ainda da imersão em Belém do Pará . Quero conhecer outros livros do Edyr, e quero voltar a Belém .