Nó Cego é hoje um clássico da literatura portuguesa. É objecto de estudo e de atenção nos meios universitários, mas é, continua a ser, antes de tudo, um grande e poderoso romance dos nossos dias. É um romance essencial para as actuais gerações de portugueses viverem o período crucial da nossa História que foram os anos da guerra e o fim do regime de ditadura, mas é-o também para conhecer os dramas, as angústias, as alegrias e as tristezas duma geração que fez a guerra e que a terminou, duma geração de portugueses que abriram Portugal à modernidade. Nó Cego transformou-se num romance de culto duma geração que esteve envolvida na guerra colonial e que, a partir dela, entrou em ruptura com o regime português de ditadura. Carlos Vale Ferraz fez, nesta edição, uma profunda revisão. Mantendo a estrutura da obra, tornou a narrativa mais intensa, com uma linguagem mais depurada, com as situações mais definidas na sua complexidade. Um texto onde o leitor se sinta melhor situado dentro da acção. E é assim que Nó Cego participa simultaneamente do documento e do monumento, do poderoso testemunho e da excelente literatura.
Carlos Vaz Ferraz, pseudónimo literário de Carlos Matos Gomes, nasceu a 24 de Julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha. Fez os estudos secundários no Colégio Nun’Alvares Pereira, em Tomar. Foi oficial do Exército, cumpriu comissões durante a guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné nas tropas especiais «Comandos». Publicou os romances Nó Cego, ASP, De Passo Trocado, Os Lobos Não Usam Coleira, O Livro das Maravilhas, Flamingos Dourados, Fala-me de África e a novela Soldadó. O romance Os Lobos Não Usam Coleira foi adaptado ao cinema por José-Pedro Vasconcelos com o título Os Imortais. É autor do argumento do filme Portugal SA, de Ruy Guerra. Colaborou com Maria de Medeiros no argumento do filme Capitães de Abril. É autor do guião da série de televisão Regresso a Sizalinda, com base no romance Fala-me de África.
É um livro duro de ler, desenrola-se em plena guerra colonial, com ação em Moçambique.
Acho que não me encontrava no estado de espírito certo para ler este livro na altura em que o li, o que não ajudou a entrar na leitura.
Acompanhamos uma companhia militar que tenta tomar uma base da Frelimo. São muitas personagens, muitas patentes militares, no meu caso, senti-me um pouco perdida e pouco motivada.
Consegui terminar com alguma dificuldade. O livro está bem escrito, com uma linguagem acessível, mas só me conseguiu prender em algumas passagens.
Obra canónica e representativa da literatura sobre a Guerra Colonial/Guerras de Libertação “Nó Cego” é um clássico da literatura portuguesa contemporânea. Este é um poderoso retrato ficcional de um dos momentos mais intensos da história portuguesa. Para que possamos conhecer a importância deste conflito armado, este romance pode ser uma excelente porta de entrada pois presenteia-nos com uma escrita crua sobre alguns momentos do mesmo.
Como descrição do conflito que marcou o final da ditadura e que envolveu uma longa geração de portugueses mobilizados para os teatros de guerra este livro nasce desse carácter ficcional para se tornar numa representação que retrata essa geração de jovens homens, as suas tristezas e alegrias, os dramas do seu quotidiano e a angústia das suas famílias que permanecem na terrinha.
Publicado em primeira edição em 1982, o livro foi premeditadamente revisto em 2018, aquando da sua 5º edição, em que o autor mantém a estrutura da obra, mas inscreve uma narrativa mais intensa com uma linguagem mais depurada que prende o leitor numa teia, diria, quase perfeita. PJV
Em Mueda, Moçambique, durante a guerra colonial, uma companhia de comandos rude, indisciplinada, mortífera, vê-se envolvida num emaranhado de operações mal preparadas pela burocracia militar instalada em Nampula, bem longe do perigo. Cada soldado, cada sargento, cada oficial da companhia, tem a sua história de vida. O cabo Cabral é "chico" porque precisa alimentar a família, o alferes Lino fugiu do seminário, o Brandão veio provar que um homossexual também é homem, o Lencastre fartou-se de ser menino-bem,... todos voluntários, todos comandos, todos na mata para matar o passado, mais que o inimigo. E é um capitão muito especial que une este grupo improvável, uma figura paterna forte que muitos deles nunca conheceram.
O contraste entre a tropa portuguesa e os guerrilheiros da Frelimo não poderia ser mais marcante: onde os primeiros se mostram amadores, medíocres, sem estratégia, ou pior, carreiristas e interesseiros, os segundos são apresentados como sagazes, matreiros, ideologicamente muito seguros. Mas as coisas não vão acabar bem... e a companhia acaba por se esboroar tal como acabaria por se desmoronar o "império colonial" português no decorrer de uma guerra inútil.
Um romance muito realista, muito bem conseguido, de quem viveu no terreno este tipo de experiências e sabe o que se sente e se sofre.
Antes de mais, gostava mesmo era de poder atribuir quatro estrelas e meia a este livro. Não podendo, opto por honrar os livros da minha vida e as grandes obras-primas da literatura e dou quatro a Nó Cego.
Gostei bastante desta leitura, afligindo-me contudo o pessimismo, desta vez retrospectivo, que tende a cobrir tudo o que sai de um "bom" português. Não o partilho e incomoda-me. No que toca a abordagens romanceadas a temas da história militar portuguesa então é uma desgraça. Quem leia e acredite e credite o tom dominante deste e de outros livros nesta linha nunca poderá acreditar que um pequeno povo vivendo num local periférico construiu um dos maiores dez impérios da história da humanidade. Há quem diga, no meio académico, que foi precisamente a perda gradual desse império que construiu este estado de espírito. É provável.
Voltando a Nó Cego, gostei de quase tudo. O autor esteve lá. Viu e viveu. Isso dá-lhe um crédito imenso mas não o impede de aqui e acolá cair na armadilha dos anacronismos, quer factuais quer linguísticos. Problema menor, esquecido pela boa construção da história, pelo rico definir das personagens principais.
A importância deste livro de escrita irregular é retratar o pico da actividade militar e o pico do desespero político da guerra colonial, para o efeito situado no Norte de Moçambique. Há pouca ficção na literatura nacional que o faça, e isso contribui para esta obra se destacar.
A irregularidade da escrita e o pouco talento do autor para criar atmosferas efectivamente emocionantes e surpreendentes, contrastam com a ambição de ser um fresco "definitivo" sobre a guerra e a sua irracionalidade, principalmente para quem a vive. Parte destes altos e baixos do livro talvez radiquem nas alterações que o autor fez à edição de 1983, mas para o comprovar era necessário ler a versão original, o que, pelos motivos apontados seria irrelevante.
Baseando-se na actividade de uma companhia de comandos em 1969, vai construindo/desconstruindo personagens, estripados, desiludidos ou desaparecidos.
Bom contributo para a História recente, fraco para a literatura em geral. O velho problema do romance "histórico": a História vem à frente e os personagens que se arrastem como puderem
Há mortos e feridos q.b. bem como diálogos elaborados no meio da floresta, entre tiros e mosquitos ...
Em Portugal, praticamente não há ficção escrita ou filmada sobre a guerra colonial (tal como sobre os retornados). E é muito estranho pois ambos os acontecimentos foram muito impactantes e afetaram muita gente. Parece que verdadeiramente nunca se fez a catarse destes acontecimentos ao contrário do que aconteceu noutras paragens (e.g. nos EUA com a guerra do Vietname ou em França com a guerra da Argélia). Este livro aborda a guerra colonial no norte de Moçambique (Cabo Delgado) e o autor é um oficial do exército que viveu por dentro esta realidade e é também autor de um livro que documenta esta operação militar – Operação Nó Górdio.
Embora seja uma obra de ficção como o autor acentua logo no início, os acontecimentois são muito próximos da realidade e apenas em muito poucas situações o autor opta por não nomear efetivamente as situações – designa M (para Mueda), general K (para general Kaulza de Arriaga) e operação Nó Cego (para a operação Nó Górdio). Como obra literária que foca o dia-a-dia de uma companhia de Comandos num teatro de operações, retratanto com crueza e desapiedadamente os limites com que os homens se confrontam constantemente, é interessante e como referi, bastante rara na ficção portuguesa. O contraste entre as “fraquezas” dos soldados portugueses e a superioridade moral (e não só) dos guerrilheiros é um pouco exagerada e desnecessária, mas deve refletir a visão do autor. Em resumo, uma obra rara e interessante para quem tenha vontade de conhecer um pouco sobre estes acontecimentos que fizeram parte integrante da nossa história recente. Classificação: 7 / 10
Esbarrei ocasionalmente neste autor que, infelizmente, desconhecia. Foi dos livros que mais me impressionaram. A escrita é fluente, fácil de ler e que nos prende. Não é estilisticamente "virtuosa", mas a brutal honestidade e clara percepção de ser uma história contada por quem a viveu dão a este livro uma densidade difícil de igualar. É um relato cru do absurdo, no sentido camusiano do termo, da aleatoriedade e crueldade da guerra e do que ela fez (inutilmente) a uma geração de jovens. Um livro importante demais para ser tão pouco falado.
Um livro sem personagens principais é muito difícil de ler. O esforço de guerra é coletivo, mas isso prejudica uma narrativa. Não consegui preocupar-me verdadeiramente com nenhum dos personagens. O narrador alterna constantemente entre soldados, capitães, sargentos e é terrível ler algo em que nos sentimos perdidos. Este livro não é bem uma ficção, é mais um documentário disfarçado de ficção. Como registo histórico é bom, como narrativa é terrível.
Não estava preparada para a quantidade de personagens deste livro - devia ter começado a tirar logo desde início, tenho a certeza que seria uma experiência diferente de leitura. Ainda assim, gostei muito! É uma obra literária recheada de crítica social em tempos de guerra, num país colonialista e recente na liberdade trazida após a ditadura.
À minha amiga Rita, se vires isto, vais gostar! 4.25⭐️