Aos 98 anos, com a saúde debilitada, a mãe mal ouve e quase não vê. A filha, que se vê no papel de mãe da própria mãe, questiona os médicos, as religiões, tudo. Para quê manter vivo alguém que já não vive? Num relato comovente, em forma de diário, a filha descreve as peripécias do dia-a-dia com a mãe; ao Um livro forte, uma reflexão gritante de tão actual, A Mãe Eterna apresenta-nos um dilema que mói a alma e nos faz questionar a vida, a morte e a relação mãe-filha.
Betty Milan é uma escritora e psicanalista brasileira.. Autora de romances, ensaios, crônicas e peças de teatro. Suas obras também foram publicadas na França, Argentina e China. Colaborou nos principais jornais brasileiros e trabalhou para o Parlamento Internacional dos Escritores, sediado em Estrasburgo, na França. Em março de 1998, foi convidada de honra do Salão do Livro de Paris, cujo tema era o Brasil. Antes de se tornar escritora, formou-se em medicina pela Universidade de São Paulo e especializou-se em psicanálise na França com Jacques Lacan.
O que fazer quando se tem uma mãe com 98 anos, que insiste em fazer o que bem lhe apetece, e se espera que a morte a leve a cada virar de esquina? A brasileira Betty Milan decidiu escrever uma espécie de diário, que relata as dificuldades que enfrentou nesta situação e os pensamentos que lhe passaram pela cabeça.
A primeira coisa que me ocorreu após terminar este livro é que foi precisa muita coragem da parte da autora para publicá-lo. Porque está cheio de reflexões politicamente pouco corretas, repletas do confronto entre a vontade de resguardar a sua mãe de perigos e a vontade que ela finalmente descanse em paz, pela nostalgia da mulher que fora outrora e que já não era, fruto da decadência física. E se, à primeira vista, esta abordagem pode parecer algo chocante, o leitor acaba por se render à sinceridade destas palavras.
A Mãe Eterna confronta-nos com a realidade de termos de ser pais dos nossos pais, a partir de determinada altura das nossas vidas. Faz-nos refletir sobre o direito a uma velhice digna, mas também sobre a forma como encaramos a morte iminente de um ser amado. Betty Milan revela neste livro os seus sentimentos de desespero e irritação pela situação em que ela e a mãe se encontram, num relato que por vezes parece demasiado duro para com a sua mãe mas que, no final de contas acaba por ganhar pela autenticidade.
"Comovi-me com as dúvidas que assaltavam a autora e com a antítese que a acompanha ao longo dos seus textos: o medo de perder a mãe mas a ideia de que a vida que esta tem já não pode ser realmente chamada de vida, mas apenas de sobrevivência."
3.5 Estrelas Uma leitura difícil, que me comoveu e fez pensar na ordem natural da vida e no sofrimento que ela implica, juntamente com as alegrias que nos trás graças a um sentimento que é a base de tudo: o Amor.
A perda de um ser tão fundamental é avassaladora e, por isso, compreendo alguns comentários a respeito da protagonista (sobretudo de quem decidiu ler a história após passar por essa perda). Mas acho que o ponto forte da trama é justamente mostrar o quão assustada, angustiada e revoltada está essa filha com a morte iminente da mãe. Não vejo as ações e pensamentos dela como um desejo de se livrar da mãe o quanto antes, pelo contrário, aponta para a devoção que ela tem por essa figura, uma devoção que a leva a não conseguir concebê-la em sofrimento, em miséria, em um papel destituído de si. Por isso, o tom de revolta. Acredito que fique mais nítido se o leitor se atentar ao quanto o irmão afeta a protagonista. Não é uma leitura tranquila, mas é interessante.
Betty Milan é uma psicanalista brasileira que foi pupila e analisanda de Lacan. Ela escreveu "A mãe eterna" para aceitar que sua mãe de 98 anos poderá deixá-la a qualquer instante. Ela fala sobre os conceitos budistas de impemanência e como é difícil aceitar que tudo passa, quando temos que aceitar a morte de um ente querido.
Sua mãe é engraçada e em alguns momentos do livro eu ri de coisas trágicas. Nada melhor que o humor para lidar com a tragédia que é a vida.
Uma ótima leitura. Leve e nos faz refletir sobre a vida, morte, medicina e a impermanência dos seres e coisas neste universo. É um relato real da relação da mãe e a autora do livro.
É um livro extremamente atual, dado que cada vez mais as pessoas vivem mais tempo, e muitas vezes com pouca qualidade de vida, acabando por ficar dependentes dos filhos e de outros cuidadores.