Em 8 de março de 1917, uma manifestação reuniu, na Rússia, mais de 90 mil mulheres contra o tsar Nicolau II e a participação do país na Primeira Guerra Mundial. O evento, que também exigia melhores condições de trabalho e o fim imediato da fome que se alastrava pelo país, tomou proporções inimagináveis e culminou na chamada Revolução de Fevereiro, um prenúncio da Revolução de Outubro, que derrubou o tsarismo, deu o poder aos sovietes e levou à construção da URSS. Para comemorar o centenário dessa data incendiária, a Boitempo publica A revolução das mulheres, antologia com dezenas de artigos, atas, panfletos e ensaios de autoras russo-soviéticas produzidos nesse contexto de convulsão social e política.
Nesses textos de intervenção e reflexão sobre a condição e a emancipação da mulher, destaca-se sobretudo a importância da igualdade entre os gêneros na defesa da classe trabalhadora: a separação entre mulheres e homens interessava apenas ao capital, para a Revolução a luta deveria ser conjunta. A leitura, que percorre temas como feminismo, emancipação, trabalho, luta de classes, família, leis e religião, permite distinguir que houve, de fato, a conquista de direitos desde então, mas também demonstra que diversos critérios desiguais continuam em vigor, o que torna os textos, apesar de clássicos, mais atuais do que nunca. A coletânea vem acrescida de fotografias das autoras e de cenas da Revolução. Este é um livro feito integralmente por mulheres, da capa à edição, passando pela preparação, revisão e diagramação. A organização é da pesquisadora Graziela Schneider, e os textos foram traduzidos diretamente do russo pela primeira vez no Brasil.
meses de leitura e não leria em menos tempo. Feminismo sangue no olho aqui viu. Muito interessante a relação do feminismo com o comunismo, importante entender que por mais que tenha sido importante, as sufragistas e o feminismo burguês não abarcavam as questões das mulheres proletárias. Fiquei com muita vontade de debater essas relações e me intrigou muito o surgimento dessa feminista russa que encontrou no socialismo/comunismo seu primeiro aliado. O que eu entendi é que o movimento feminista na Russia só surgiu primeiro com o pensamento de consciência de classe, por um lado fico pensando que talvez as mulheres na história nunca conseguiram realmente ter um ponto em comum para lutar contra sua opressão sexual pois sempre nos vimos atravessadas por outras opressões como raça e classe o que dificultou o entendimento e a união de um pensamento que pensasse primeiramente o sexo. Mesmo lendo O Segundo Sexo percebo isso, quando Simone de Beauvoir constrói exemplos de opressões da mulher ela se refere a uma mulher europeia e por mais que tenhamos no cerne uma opressão comum, sinto que talvez para outras vivências há sempre um ruído que dificulta essa identificação total com um único movimento feminista. Pois dentro do lar todas passamos pela mesma opressão sexual, porém neste caso, entre a burguesa a operária/camponesa ainda existia uma série de outras questões que não eram abordadas pelo feminismo burguês. Enfim, o livro que me deu muitas perguntas e não termino com muitas certezas, o que o um documento rico para se pensar o movimento feminista.
Excelente coletânea! O livro expõe a realidade das mulheres russas antes, durante e após a revolução de 1917. Esclarecedor, tanto sobre a Rússia da década de 1920, quanto sobre o aspecto retrógrado de nossa sociedade contemporânea.