Esta é uma história de quando o tempo ainda era cru e a terra era menina.
Um tempo em que as grandes araras coloriam o firmamento.
Um tempo em que o fantástico ainda corria pela mata verde.
Nas sete tribos que fazem parte da Ibi (o mundo dos homens), todas as crianças recém-nascidas passam pelo ritual do aman paba. As Majé, curandeiras capazes de enxergar a linha que costura o tempo, dizem, logo após o parto, quanto tempo as crianças irão viver naturalmente em suas vidas, assim estabelecendo seus papéis na tribo. Quanto mais tempo você irá viver, maior sua posição na hierarquia tribal.
O livro das sementes acompanha o crescimento e o treinamento de cinco crianças mitanguariní (guerreiros aprendizes), que juntas irão ter que provar sua força e honra durante o ritual do Turunã, a jornada de passagem que todo guerreiro deve passar ao completar 17 Motirõ de idade.
No centro da trama está Kaluanã, o menino que recebeu de Monâ, a deusa mãe do tempo, o maior aman paba de todo o mundo. Destinado a ser líder de todas as tribos da Ibi, Kaluanã vive uma vida repleta de mimos e obrigações, muitas das quais ele não compreende completamente. Focado e determinado, ele se vê em uma relação inusitada com o líder de sua tribo, que, para muito desgosto do menino, o assume como se fosse um filho adotivo.
No frio de Ivituruí, treinando sobre os caprichos da neve, a menina Apoema descobre ser dona de uma habilidade ao mesmo tempo maravilhosa e infortuna: sonhar com os amanhãs. Capaz de enxergar aquilo que ainda não aconteceu, Apoema desenvolve um forte laço de amizade com um jovem chamado Akangatu, e juntos eles desvendam os mistérios das entranhas da terra, um segredo que mudará o destino de seu povo.
Além de Apoema e Kaluanã, Araruama - o livro das sementes também segue o treinamento de Eçaí, que nasceu com orelhas de jaguatirica; Batarra Cotuba, o gigante de Buiagu; Izel Pachacutec, a matadora de lbos-guará; e Obiru, o menino rejeitado pelo tempo.
Ian Fraser nasceu em Salvador, Bahia, no ano de 1983. Formado em Cinema & Vídeo e fundador do Teclado Disléxico, seu primeiro romance, O Sangue é Agreste, venceu o prêmio Jovem Autor Inédito pelo Selo João Ubaldo Ribeiro. O romance, um faroeste brasiliense repleto de experimentalismo formal, é o primeiro capítulo na trilogia Os Livros do Sertão. Ian Fraser também escreveu e produziu a peça A Máquina Que Dobra o Nada, sucesso de crítica e vencedor do Prêmio Braskem de Teatro, a maior premiação do teatro baiano, na categoria Melhor Espetáculo Infantojuvenil.
Uma das coisas mais originais que li recentemente. Apoiei esse livro no Catarse porque fiquei interessado na proposta de Alta Fantasia de temática indígena. Fraser escreve com segurança e desenvolve um wordbuilding com controle impressionante, fundindo mitos e costumes tupi-guaranis com o de outros povos pré-colombianos. As vezes sentia que era como se Tolkien tivesse escrito Apocalypto.
Há questões inerentes a ser a primeira parte de quatro ou cinco volumes. A trama toma seu tempo para desenvolver um conjunto de personagens (uma menina que inventa o arco e prevê o futuro, um garoto com orelhas de jaguatirica e olfato aguçado, um rapaz forte e gigantesco, entre outros) até fazer com que se unam para um grande evento que fica para o segundo volume, o que coloca esse O Livro das Sementes como um grande prólogo. Os anhangueras como uma espécie de nazgul nativo são uma sacada genial. A linguagem é rica em termos próprios que parecem originários do tupi-guarani, mas as vezes isso a torna um pouco hermética, até que o leitor se acostume com alguns termos (ou consulte o glossário no final).
Tem uma energia e uma força criativa aqui a serem reconhecidas e respeitadas.
Araruama é, sem dúvidas, o livro mais original que li em toda a minha vida. É difícil expressar o carinho que criei por esta história e seus personagens, Ian está de parabéns por construir um universo único, intenso e extremamente diverso. Muitas coisas me deixaram feliz neste livro, uma delas foi a abordagem dos personagens e como a cada capítulo a história ficava ainda melhor. Todo o enredo deste livro é curioso e é tão gostoso acompanhar o crescimento dessas crianças, os seus sonhos e desejos; esse livro me encantou pela sua simplicidade e coragem em mostrar um mundo fantástico diferente do que temos atualmente. É o tipo de livro que todos deveriam ler ao menos uma vez na vida.
Araruama é um livro rico em detalhes, cultura e acima de tudo: representatividade. Mal posso esperar para ler a sua continuação, obrigado Ian por fazer a minha imaginação flutuar em meio a criaturas tão incríveis e maravilhosas. Um livro nacional de tirar o fôlego.
ARARUAMA ERA O LIVRO QUE EU TAVA PRECISANDO E NEM SABIA!!!!
“O livro das sementes” não foi uma leitura fácil, muito pelo contrário, por diversas e diversas vezes me passou pela cabeça o abandono, mas eis que estou aqui, fascinado por esse mundo tão bem construído e mágico e grandioso e incrível.
A escrita do Ian me lembrou muito as passagens de “Cem anos de solidão” e, quando eu descobri, nos agradecimentos, que o mundo de Araruama foi inspirado no livro do Gabo, só me fez amar ainda mais tudo isso aqui. Os personagens, os povos, os seres místicos, os deuses, os rituais, as expressões... absolutamente tudo conseguiu me fascinar! Há muito tempo que eu não lia uma fantasia tão poderosa, gênero que hoje em dia já não sou mais afeiçoado.
Porém, alguns pontos negativos me fizeram pensar durante a leitura. Acho que os personagens demoraram muito para se encontrarem e se entrelaçarem, apesar de serem conectados pelo grande plot que define o futuro de Araruama. Além disso, alguns sentimentos de alguns personagens para com outros personagens não ficaram muito claros para mim: eu não sabia se estavam apaixonados, se era somente amizade ou quando era raiva e quando não era. Entretanto, preciso confessar que, quando chega a última página, todos esses pontos deixaram de fazer sentido porque Fraser conseguiu me deixar literalmente sem ar e pensando por muito tempo.
“O livro das sementes” é um livro que traz uma massa de representatividade e os diálogos, então, dão uma aula de poesia e fluidez. Recomendo para todos aqueles estão precisando se conectar com mundos fantásticos, como eu estava. E, meu Deus, preciso ler o segundo volume para ontem!!!
Apoema, saiba que eu te amo infinitamente! Pelo amor de Deus, espero que o Obiru fique bem 😭
O livro conta a história de cinco mitanguarini, crianças e adolescentes nascidos em tribos com o destino de se tornarem bravos guerreiros (ou guarini, como são chamados aqui). Através de um texto muito maduro e de um universo muito bem construído e repleto de referência a cultura tupi-guarani e outras tribos sul-americanas, acompanhamos uma trama que fala sobre sementes: aquilo que é plantado no coração dos personagens, que esperam com ansiedade o ritual do Turunã, onde devem completar grandes desafios e retornar a suas tribos de origens como guarinis. Em meio a uma trama de autodescoberta e crescimento, conhecemos Kaluanã, o que parece ser o mais heróico e sábio de todos esses jovens heróis. Seu destino é, um dia, liderar as cinco tribos. Embora ele seja muito carismático, há ainda outros personagens que me despertaram muitas emoções. Apoema e sua trama melancólica e habilidade pesarosa de prever o futuro sem ser capaz de mudá-lo, Eçaí e seu desapego as tradições das quais é nativo, Izel, líder e decidida, Batarra Cotuba, dono de uma força incomparável e Obiru. Este último é o meu favorito. Um miserável, desprezado por todos. Dono da cena mais emotiva do livro e alvo das maiores injustiças de sua tribo e família, seu final é, além de emocionante, uma verdadeira catarse que me fez arrepiar. Ainda sobra espaço para a construção de uma trama misteriosa que já joga algumas promessas do que virá nos próximos dois livros da trilogia. Araruama é a fantasia mais original e bem executada que li nos últimos anos.
Araruama foi um dos primeiros projetos que eu apoiei no Catarse. Quando vi a proposta apresentada pelo Ian Fraser imaginei ser uma jogada arriscada. A gente fica pensando: "ou vai dar algo muito bom ou vai dar algo muito ruim". Fico feliz de que tenha sido o primeiro caso. Já comentei algumas vezes o quanto os escritores nacionais precisam olhar com mais carinho a nossa própria cultura. Mas, não digo isso porque quero ver centenas de histórias baseadas no Brasil colônia ou em lendas indígenas. Por que não pegar essas lendas e histórias e criar algo novo? É isso o que Fraser faz. De uma forma muito inteligente.
Inicialmente eu tive um estranhamento na escrita de Araruama. Isso porque o livro é bem fora da curva e várias das opções criativas que o autor fez foram para favorecer sua forma de contar a história. Esta segue quase que um padrão mítico na sua apresentação. Se vocês tiverem a oportunidade, leiam histórias mitológicas; elas se parecem muito com a escrita do Fraser. Aquela sensação de algo além do normal, que ultrapassa os nossos sentidos. É como se os personagens fizessem parte de algo maior. Quando uma majé fala a um mitanguaríni somos capazes de perceber a sabedoria presente nas suas palavras. Que aquilo que está sendo passado não vai ser compreendido no exato momento por ele, mas que vai ser de alguma utilidade no futuro. Depois que eu me assentei na escrita, esta passou a fluir muito bem. Já havia me acostumado com as passagens, as falas e os momentos transcendentais quando a história se encerrou. E eu queria mais.
A narrativa emprega Pontos de Vista (os famosos POVs popularizados por George R.R. Martin). Estas alternam entre os cinco jovens: Kaluanã, Eçaí, Apoema, Obiru e Batarra Cotuba. Cada um deles tem sua própria jornada a ser completada neste princípio de série até chegar ao ponto onde o autor quer para realizar a virada para o segundo volume. A ideia é encaminhar a todos em direção ao Turunã, que é uma espécie de ritual de passagem rumo a vida adulta. Só vou chamar a atenção em relação a um aspecto narrativo que posteriormente o autor até ameniza: de vez em quando temos dois POVs coexistindo em um mesmo capítulo e não há uma transição clara entre eles. Principalmente nos capítulos onde Obiru e Kaluanã coabitam. Às vezes essa passagem ocorre de um parágrafo para o outro. Há de se ter atenção neste sentido para não causar alguma confusão no leitor.
"O mitanguariní fechou os olhos e concentrou-se no silêncio. O mundo começou a fechar-se, e a esfera do campo sonoro diminuiu ao tempo que as cigarras não cantavam mais e ele não escutava mais os cajus caindo ou o voo das garças. E quando o mundo se resumiu à mudez de sua concentração, o menino deixou-o crescer um punhado."
Outro ponto que alguns leitores podem se enrolar um pouco é a curva de aprendizado. São tantas coisas novas que o autor introduz na narrativa que é preciso um pouco de tempo e paciência. Essa é uma vulnerabilidade e um ponto de força da narrativa. Ao mesmo tempo em que eu me preocupo com o fato de haver muitos conceitos novos, me alegra ver que que o autor saiu do comum e buscou algo seu. Não há como aliviar nesse sentido porque de fato é algo a se perceber. Este primeiro volume também sofre com a síndrome do primeiro volume, mas também é natural. Sem as informações necessárias para compor o universo literário, não há como avançar na história. Só acho que a história poderia ser um pouquinho maior neste primeiro volume para que o autor pudesse apresentar seus conceitos de uma maneira mais amena. Mas, novamente: nesse ponto são mais escolhas do que necessidades.
Cada personagem tem sua jornada e esta se liga muito com a história maior por trás da série. Um dos temas que é muito legal de ver transparecer é a relação diferente que as comunidades tem para criar seu status social. Uma pessoa é importante de acordo com a quantidade de aman paba (tempo de vida) que ela possui. Pode ser um chefe, um caçador, um herbalista. Ou seja, o que diferencia e hierarquiza as pessoas não é a quantidade de terras que ela possui (já que estas são coletivas) ou de riqueza (não tem valor monetário específico aqui já que são realizadas trocas). Fica aquela reflexão de que o homem sempre vai buscar formas de criar classes sociais. Aqueles que possuem pouco aman paba são marginalizados, conhecidos como capanema. Um dos personagens da narrativa é justamente um capanema nascido como filho de um abaete, uma espécie de chefe de uma comunidade. O pai de Obiru sente vergonha de seu filho por ele ser um capanema. É nesse dilema de alguém tentando recuperar seu prestígio ao mesmo tempo em que descola sua imagem da de seu filho que vamos ver a angústia no coração de Obiru. No início ele vê aquilo como sendo o seu castigo e como algo natural dentro daquele universo onde ele vive. Aos poucos ele vai se questionando se não existe um algo mais para ele.
Por outro lado, Eçaí não se importa muito com as convenções sociais. Sua relação com a natureza é tão forte que estas convenções o incomodam. Ele gosta de viver sua vida livremente e à sua maneira. Claro que existe uma explicação sobrenatural para isso, mas é curioso perceber como uma pessoa que questiona o status quo enxerga o mundo como algo completamente alienígena. Não se sente capaz de se encaixar dentro dos padrões fechados.
Temos também o surgimento de um novo tipo de fazer a guerra com Apoema. O legal é perceber como uma pequena descoberta é capaz de mudar toda a dinâmica de uma tribo. Ian poderia ter explorado um pouco mais essa dissonância entre o fazer combate antes e o depois. O engraçado disso é que eu imaginei que seria uma tecnologia e na verdade foi outra (não vou comentar para ver se vocês também tomam uma rasteirinha básica). A própria maneira como Apoema passa a realizar seus combates é extremamente eficiente, mas mal vista entre seus companheiros que possuem um código de combate específico. Porém, quando esta tecnologia se faz necessária para a defesa da vila, os códigos acabam sendo jogados para o alto em prol de derrotar os adversários. Esse tipo de reação é muito semelhante à invenção da gatling gun (a metralhadora de repetição) na Primeira Guerra Mundial. Ela era considerada uma arma desonesta por outros povos. Mas, a necessidade de impor o seu poder diante dos seus adversários acabou por suplantar os receios dos antigos combatentes que passaram a adotá-la.
Tem vários assuntos a serem tratados nesta resenha, mas sinto que ela está ficando longa. Gostaria apenas que vocês dessem uma oportunidade a este livro que é de alta qualidade. Ian tem uma escrita muito acima da média e chegou com o pé na porta com o seu livro de estreia. A proposta toda por trás de Araruama é muito ousada e por isso que fez os meus olhos brilharem. Gosto quando o autor se arrisca e produz algo fora do comum. Por essa razão, eu aplaudo o esforço dele em produzir Araruama. E já apoiei o segundo volume porque eu quero continuar nessa aventura.
Araruama e meu Turunã Bati um papo lindeza demais sobre o livro lá no Multiverso X, então ao invés de escrever por aqui o papo, recomendo que corram lá no site pra ouvir. Ta amarradinho e tem opiniões do livro todo (com spoilers) e com pessoas lindezas demais. :)
Araruama é envolvente - tanto pela trama, quanto pelos personagens (dos principais, não me envolvi com Batarra Cotuba, mas os ananguëra são seres muito interessantes). O Livro das Sementes é um bom livro de introdução à trama. Seu objetivo é basicamente apresentar uma série de tramas que se encontrarão no Turunã. A escrita de Ian é cuidadosa e, muitas vezes, poética. É interessante observar como o narrador parece falar a língua da Ibi (inclusive, o começo da leitura é realmente cansativo por você precisar consultar o glossário ao fim do livro diversas vezes, mas quando você entende os termos principais, o texto flui como um córrego). Para mim, o livro poderia ser mais longo justamente para desenvolver um pouco mais algumas tramas, mas o final fecha bem a história do primeiro livro e entendo a decisão de terminá-lo como terminou. Aguardarei o próximo volume já com vontade de reler o primeiro. Como foi bom ler uma fantasia brasileira tão bem escrita e concebida e, principalmente, inspirada nas culturas ameríndias.
Amei esse livro!!! Já estava doida pra ler ele faz tempo e adorei cada parte. Quando terminei de ler tive a sensação de como assim já é a última folha, não é possível, queria mais sobre estes personagens, sobre este universo. O livro possui glossário das palavras diferentes, mas a história é tão bem contada, o universo é tão bem desenvolvido que no decorrer da leitura tudo vai se encaixando perfeitamente e os personagens são muito cativantes.
A prosa do autor já me pegou nas primeiras páginas e me conduziu durante toda a narrativa. Tive a impressão de que estava sentada em volta de uma fogueira ouvindo histórias fascinantes. Os personagens são muito interessantes e esse primeiro livro funciona muito bem como apresentação do cenário e prepara para o que vem a seguir com o segundo livro. Fico feliz em ver a literatura nacional apresentando obras de tanta qualidade e lirismo!
Otimo livro, categoria jovem adulto. Fantasia baseado nas tribos indigenas! Finalmente uma historia de fantasia recente que não se passa na Europa. Muito bom recomendo!
Esse é outro livro que se destaca pela construção de mundo. O universo criado por Ian é inspirado em diversas culturas indígenas da América, e eu acho essa ideia totalmente válida. Assim como falei na resenha de O homem de azul e púrpura, é um tipo de abordagem necessária, e que se destaca pela originalidade, e pela iniciativa do autor de escrever em um universo fora do padrão Europa medieval. Achei legal que é um mundo muito jovem que está amadurecendo, digamos assim. Ele ainda está em formação, a cultura está mutando, as pessoas estão mudando, coisas estão sendo inventadas, novas ameaças estão surgindo, novas coisas que antes não tinham nome estão sendo nomeadas. Por isso mesmo que o subtítulo da obra é O livro das sementes. É um mundo que ainda florescerá. Ou, como está escrito na sinopse: essa é uma história de quando o mundo ainda era cru.
Eu arriscaria dizer que o tema do livro é mudança e descoberta, e como as pessoas lidam com elas. Por exemplo, algo que marca toda a trama é o Turunã, que é um ritual de passagem que alguns jovens devem se submeter para serem considerados adultos. Ritual de passagem é algo muito presente em culturas mais primitivas, e eu sempre achei interessante. A diferença aqui é que a coisa é realmente perigosa, e alguns podem morrer no processo (c’est la vie), e por isso eles passam a infância e adolescência inteira se preparando para o evento. Outra coisa que achei legal é toda a mística envolvendo o aman paba. Isso seria algo como o tempo de vida de uma pessoa, que seria pré-determinado. Logo após o nascimento, uma Majé (outro conceito muito interessante do livro) lê o aman paba do recém-nascido e diz quantos motirõ Monâ, a deusa do tempo, reservou para aquele bebê. Quanto maior o aman paba, maior será a posição daquela pessoa na hierarquia social. Mas aí fica o questionamento: será que é isso mesmo? A pessoa realmente precisa morrer quando chegar a sua hora estipulada? Não fica claro. Aliás, no que se refere a deuses, eu classifico os universos fantásticos em duas categorias: aqueles nos quais as divindades realmente existe e aqueles nas quais as divindades são apenas mitos. Em Araruama, não está claro em qual categoria estamos. Apesar de alguns personagens questionarem ou outros darem a entender que os deuses são mitos, é também claro que existe magia nesse mundo, e as pessoas realmente morrem no seu “motirõ de Monã”. Esse mistério me agradou. Agora, a maneira como a autor escreve tem alguns deslizes. Primeiro, ele é muito expositivo. O texto tem muito infodump, ou às vezes ele enche o texto com uns diálogos cujo objetivo é explicar algo do mundo para algum personagem (e, por conseguinte, para o leitor). No começo do livro, por exemplo, Ian faz algo que achei horrível, que é contar uma história intercalando narração em terceira pessoa e o relato em primeira pessoa do protagonista da história. Não que isso por si só seja ruim, mas a maneira como o autor o fez ficou estranho. Mas dá para ver que Ian escreve com paixão, e suas palavras têm um quê de poesia. Ele sabe lidar com as palavras. E, aliás, o livro tem todo um vocabulário próprio que achei maravilhoso. Me perdi algumas vezes no meio de tantas palavras desconhecidas, mas nada que atrapalhasse o fluxo da leitura. E há um apêndice no final do livro explicando cada termo. Outro ponto que deixou a desejar foi a trama. A impressão que tive é que o livro inteiro é apenas um primeiro ato de uma história que merecia um livro solo. Ian constrói um senso de ameaça ao longo das páginas, deixando claro que há um conflito inerente. Ele também cria plots menores para cada personagem, cada um com seu próprio clímax, a fim de dar um pouco de ação ao texto. Entretanto, eu realmente senti falta de um clímax maior para a história como um tudo. Em vez disso, o livro acaba num cliffhanger agoniante. Veredito final: para aqueles que desejam ver um mundo amadurecer.
Gostaria de deixar claro que tudo o que retratarei neste Review reflete minha opinião como leitor e meus sentimentos durante e depois da leitura do livro.
Araruama é um livro que traz um universo extremamente interessante. Uma mistura de culturas e idéias que me cativaram logo no início e que combinam elementos novos com elementos que já fazem parte de nosso folclore e da mitologia Sul Americana.
Ao universo interessantíssimo que foi criado, dou minha primeira nota: 5/5.
Porém, a perspectiva da história apresentada se mostrou limitada. Aspectos políticos, sociais, religiosos e econômicos são tratados, mas com pouca complexidade. O continente e civilização em que se passa a história é de pequena escala. Apesar de haver a sugestão de que alguns elementos extrapolem esta perspectiva simples, nunca somos surpreendidos com coisas que realmente poderiam abalar o ponto de vista tanto dos personagens quanto dos leitores. Quanto a personagens, são curiosos e se encaixam bem à história. Uns são meramente presentes, enquanto outros são dotados de características que os destacam do "ruído de fundo" dos demais. Uma pena que vemos algumas destas características passarem injustificadas, como, por exemplo, personagens "inteligentes" deixando a desejar em "questões de inteligência". São fatores aceitáveis, mas deixam a sensação de que um enredo mais complexo e melhor trabalhado faria mais juz ao universo criativo que foi desenvolvido.
À forma como o enredo se desenvolveu, com interações entre personagens e universo criado, dou minha segunda nota: 2/5
Contudo, a leitura de todo o livro foi muito prazerosa e com certeza apoiarei as sequências. E é aqui que encontra-se a última falha da obra: Sequências. Sabia que o livro não era um conto fechado desde quando apoiei o projeto. Isso foi deixado claro pelo autor e, a princípio, não há nenhum problema nisso. Porém, ao acabar a leitura, fiquei com a sensação de que o livro não possui conteúdo suficiente para ser considerado um volume completo.
Percebi então que minha visão foi, talvez, precipitada: não se trata de um primeiro livro como os volumes iniciais de séries como O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Gelo e Fogo, por exemplo. O Livro das Sementes traz conteúdo que aparenta apenas os primeiros capítulos de um livro que só estará completo com os próximos volumes. Se cada volume for como O Livro das Sementes, sinto que teremos '1 livro' a cada '3 livros'.
Entendo que esta análise aparenta bem subjetiva e esse sentimento varia de leitor para leitor. Mas acho importante citar meu descontentaento nesse quesito. Em questões práticas, as diferenças serão preço total da obra, tempo para produção (consequentemente, disponibilidade dos volumes para nossa leitura) e escala da história como um todo, algo que fica extremamente difícil de se estimar sem saber de quantos volumes será composta a série (se já existe previsão de quantidade de volumes, não possuo esta informação).
À estruturação do volume e do que aparentemente será a série como um todo, dou minha última nota: 2/5
Universo: 5/5 Enredo: 2/5 Estrutura: 2/5
Final: 3/5.
Ótimo livro para passar o tempo. Curioso e interessante. Apoiarei os próximos livros e eventualmente finalizarei a leitura da história completa. Recomendo, com resalvas: - Deixa um sentimento de que o universo poderia ser mais complexo e melhor explorado. - Termina sem apresentar conteúdo suficiente pra ser considerado um volume completo.
“Araruama: O Livro das Sementes” conta a história do nascer de um mundo criado por Monâ, a Deusa do Tempo. E nesse mundo, coisas fantásticas, e que nem todas poderiam ser explicadas, aconteciam. Os povos cultuavam seus deuses e tinham seus rituais sagrados. O primeiro deles era o aman paba, que acontecia assim que o recém-nascido ganhava sua luz e as majės, com os olhos que enxergavam o que ninguém mais via, dizia quanto tempo cada criança iria viver naturalmente, assim estabelecendo seus papéis na tribo.
O livro acompanha o crescimento e o treinamento de cinco crianças, que juntas irão ter que provar sua força e honra durante a jornada do Turunã.
A escrita do Autor é bem explicativa e muito envolvente, fazendo com que o leitor seja inserido na Ibi e veja todas as grandiosidade e as maravilhas que os deuses criaram para essa terra e seus povos. Todos os personagens, seja ele homem ou deus, tem a sua construção complexa e carregada de sentimentos e profundidade.
Eu me senti andando no verde de Cajaty, senti o cheiro de Votu, senti o frio de Airequecê e o calor de Aram. Me emocionei com a complexidade dos epônimos dos povos, onde o tempo de vida determinava o seu posto e a sua função no povo, e diante dessa determinação, o personagem que mais fez com que minhas lágrimas viessem a tona foi Obiru, o capanema que tem o aman paba de dezoito motirô (seriam os anos que ele teria de vida nessa terra). Desde que mundo é mundo, a hierarquia, o que cada um pensa do outro, é levado em consideração na formação da sociedade, e nesse livro, essa construção de mundo e dos epônimos faz com que tenhamos muitas reflexões sobre a vida.
Um dos momentos mais marcante e divertido foi o ulama-ariti, uma espécie de futebol dos povos. Foi um momento de muita emoção e de reflexões.
Eu esperei 27 anos pra ler um livro como esse. Eu amei TUDO!
Ian Fraser criou um mundo fantástico fascinante e extremamente sólido. Não tem como você criticar o universo criado por ele. Baseados nas culturas de alguns povos indígenas da América do Central e do Sul e espetacular como ele desenvolve a história.
A escrita do Ian ajuda bastante na imersão do leitor. Apesar de ter muitas palavras e significados que demoram a entrar na nossa cabeça por serem novidades nada atrapalha no desenvolvimento. Há um glossário que ajuda na compreensão dos termos.
Eu estou tão feliz por ter lido esse livro que não sei se conseguiria escrever uma resenha completa e que fale sobre todas as particularidades do livro. Mas acho que se você gosta de fantasia vale a pena dar uma chance para o universo criado por Ian Fraser.
Vale lembrar que O Livro das Sementes é uma obra introdutória. Nela há muitas explicações sobre aquele mundo o que é, o porquê, onde e quando. Muitos podem não gostar porque o Turunã que é o ritual que os adolescentes mintaguariní devem passar não acontece nesse livro. Mas há outros acontecimentos que ainda assim trazem muito fascínio.
Não vou negar que o principal motivo de eu ter gostado tanto desse livro foi o fato do autor ter se baseado nas culturas do povos indígenas e civilizações das Américas. Fazia tempo que queria ler uma fantasia sobre isso.
Não consegui me imergir muito nesse livro apesar de ter alguns personagens muito cativantes. Me liguei bastante ao personagem Obiru e por mim leria um livro inteirinho pelo ponto de vista desse menino que merecia algo melhor na vida (ele conseguiu até me tirar umas lágrimas). Fiquei triste e me mordendo de raiva pelo modo em que os capanemas eram tratados mas além disso? Para mim tanto faz.
No começo tem muitos termos indigenas sem explicação que me fez quase abandonar de tão confusa que eu estava, mas segui firme, forte e na vibe apenas (no final do livro tem um glossario mas nem ferrando vou ficar indo e voltando durante a leitura). Após uns 2 ou 3 capitulos já da de entender os termos pelo contexto.
O livro é basicamente uma montagem do pódio onde a peça ainda irá acontecer. Apresentação de personagens, contexto histórico e religião mas a ação e aventura acontecerá mesmo é na sequencia.
Esse livro tem uma proposta muito inovadora e BOA, achei incrivel a ideia de que cada criança já saiba desde cedo a duração de sua vida. Melhor ainda é que foi baseado nos povos indigenas da America Latina... Fiquei triste de verdade que não foi uma leitura pra mim.
"Araruama: o livro das sementes" é o primeiro livro de uma série de 5. Nele, o autor apresenta o universo em que a história inteira vai se passar. E você consegue se sentir no local, consegue se sentir submerso naquele universo, com aquelas tradições, consegue ver os personagens na sua frente. Nesse sentido, a história é muito boa. Mas parece um livro em que você termina e diz: "tá, e qual foi a história?". Não é que nada acontece, acontecem muitas coisas ao longo das páginas, mas senti como se faltasse enredo central, começo, meio e fim - é como se fossem diversos contos juntos e misturados. Se me perguntarem do que se trata a história, vou ter que dizer que ela contextualiza o ambiente. Talvez eu a achasse perfeita se fosse um livro paralelo a trama. Mas, pra mim, não funcionou como o livro que dá início a história.
Araruama tem um universo de fantasia interessante, bem sincrético, com detalhes de várias culturas indígenas da América Latina, mas também uma mentalidade mais europeia na forma como os personagens interagem com o mundo e a natureza. Não desgostei dele, mas fiquei um pouco desapontada com a história, porque o livro faz várias promessas sobre uma trama épica, além de mencionar toda hora o Turunã, desafio pelo qual os jovens guerreiros dessa terra têm que passar, mas nada disso acontece neste livro. Ele é composto basicamente de cenas soltas da infância e adolescência dos personagens, o que faz o livro inteiro parecer um prólogo para uma outra história.
Talvez seja uma história completa se ler junto com o segundo livro, mas não pretendo. É questão de gosto: acho chato primeiro livro que não tem trama própria e depende da continuação para ficar em pé.
O livro tem uma proposta bem interessante, mas foi uma leitura difícil pra mim. Pra além da grande quantidade de protagonistas e da alternância de pontos de vista entre um e outro sem muito "aviso", que tornavam a leitura extremamente confusa, era difícil saber onde se passava cada história, se todos os protagonistas faziam parte do mesmo povo ou estavam no mesmo local geográfico. O vocabulário criado pelo autor para designar objetos, animais e conceitos abstratos típicos do universo também dificultava bastante: a necessidade de consultar constantemente o glossário no final do livro tornava a leitura lenta e difícil de avançar e fluir. Notas de rodapé teriam sido mais úteis.
O enredo é muito bom, a narrativa fragmentada e os altos temporais confundem no começo, mas o costume vem logo. É bem escrito, tanto em questão de ritmo quanto em questão de vocabulário: os neologismos são bem empregados e o português relembrando palavras de origem indígena presentes na nossa língua ajudam a criar um bom clima. A mitologia é bem construída, mas talvez falta uma descrição melhor da parte física. Acho que criei expectativa demais no livro, mas não posso negar que ele entregou muito. Vale ressaltar a presença de frases/trechos de sabedoria profunda e escrita quase poética.
Livro de fantasia sensacional baseado em cultura indígena. Bem construído e diferente de qualquer outro livro do gênero que tenha lido. Os múltiplos focos e a estética da linguagem utilizada, apesar de muito interessantes, podem tornar difícil a leitura para leitores menos assíduos. Contudo, não é de grande problema depois que se pega o ritmo, levei 3 semanas para ler metade do livro, constantemente consultando o glossário e a outra metade em apenas 3 dias depois que tinha pegado o jeito. A história é bastante interessante e estou muito ansiosa pelo próximo!
DNFed esse livro aos 15%. Eu sei que é bem no começo mas foi info-dumping atras de info-dumping e eu não tava entendendo nada da história pra seguir com ela. Uma pena porque eu queria muito ter gostado.
pra quem diz que brasileiro não sabe escrever fantasia, não sabe fazer sagas dignas de adaptação cinematográfica.... Meu reizinho Ian prova por A mais B que não tem bruxo aí que não sobreviveria a um Turunã
faz anos que nao leio fantasia, esse livro foi como recebe um abraço quentinho. amei do início ao fim, se tornou favorito e mal posso esperar para ler a continuação APOIE A LITERATURA NACIONAL