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Trilogia dos Lugares Sem Nome #3

O Deslumbre de Cecilia Fluss

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"O que acontece ao amor quando envelhece ou definha ou é trocado pela indiferença? O que aconteceu à mulher jovem que está naquela fotografia a olhar-me como se nunca me tivesse visto, que coisa é esta, tão cruel, este sussurro do passado, este perfume de ontem? Ouço Lars subir as escadas, pata após pata, arfando pesadamente - não vai para novo, o meu cão. Entra, sorrateiro, e vem deitar-se aos meus pés. Parece que suspira, deixa a cabeçorra cair sobre as patas, no seu mundo de eterno presente, de infinito amor. Sorrio. Chego a cadeira à frente, a noite caiu há muito, e há uma voz que me chama, Matias, Matias, batatas com enguias."

Aos catorze anos, Matias Fluss é um adolescente preocupado com três coisas: o sexo, um tio enlouquecido e as fábulas budistas. Vive com a mãe e a irmã mais velha, Cecilia, numa espécie de ninho onde lambe as feridas da juventude: a primeira paixão, as dúvidas existenciais, os conflitos de afirmação. Sempre que sente o copo a transbordar, refugia-se na cabana isolada do tio Elias.

Cedo, contudo, a inocência lhe será arrancada. Ao virar da esquina, encontra-se o golpe mais duro da sua vida: o desaparecimento súbito de Cecilia que, afundada numa paixão por um homem desconhecido, é vista pela última vez a saltar de uma ponte.

Muito mais tarde, Matias será obrigado a revisitar a dor, quando a sua pacata vida de professor universitário é interrompida por uma carta vinda das sombras do passado, lançando a suspeita sobre o que aconteceu realmente à sua irmã — sem saber ainda que regressar ao passado poderá significar, também, resgatar-se a si mesmo.

No final desta «trilogia dos lugares sem nome», iniciada com O luto de Elias Gro, João Tordo explora, através de personagens únicas e universais, numa geografia singular, os temas da memória e do afecto, do amor e da desolação, da vida terrena e espiritual, procurando aquilo que com mais força nos liga aos outros e a nós próprios.

333 pages, Paperback

First published May 3, 2017

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394 people want to read

About the author

João Tordo

44 books1,750 followers
João Tordo was born in 1975. He has published twenty-one books - novels, crime novels and essays - and received several awards, including the José Saramago Literary Prize 2009, the Fernando Namora Prize 2021 and the GQ Prize. He was a finalist for many other awards, including the European Literary Prize, the Fernando Namora Prize, the Oceanos Prize and the PEN Club Prize. His books have been published in several countries, including France, Italy, Germany, Hungary, Spain, Croatia, Serbia, Czech Republic, Mexico, Argentina, Brazil, Uruguay and Colombia.

João Tordo nasceu em Lisboa em 1975. Publicou vinte e um livros - divididos entre o romance, o policial e o ensaio - e recebeu diversos prémios, incluindo o Prémio Literário José Saramago 2009, o Prémio Fernando Namora 2021 e o Prémio GQ. Foi finalista de muitos outros prémios, incluindo o Prémio Literário Europeu, o Prémio Fernando Namora, o Prémio Oceanos e o Prémio PEN Club. Os seus livros foram publicados em diversos países, incluindo França, Itália, Alemanha, Hungria, Espanha, Croácia, Sérvia, República Checa, México, Argentina, Brasil, Uruguai, Colômbia.

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8 (2%)
1 star
3 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 50 reviews
Profile Image for Anabela Mestre.
94 reviews43 followers
December 8, 2019
Comecei pelo último título da trilogia, mas mesmo assim fiquei deslumbrada com este livro. E de uma intensidade e de um interesse que é difícil encontrar em muitos escritores. Com esta obra João Tordo subiu ao patamar dos meus autores preferidos. A história de Matias Fluss tem a ver com o seu passado não resolvido e a sua doença, pelo que em vez de viver o presente, ele está sempre a lembrar o que já passou, como o desaparecimento precoce da irmã. Gostei muito e já sei que o meu destino é ir ler os dois primeiros livros da trilogia.
Profile Image for Ana.
753 reviews174 followers
July 3, 2018
João Tordo escreve maravilhosamente bem - continua a ser um dos meus autores favoritos - , mas desta vez abusou (na minha opinião, entenda-se) em crenças budistas e possibilidades de reencarnação...

NOTA - 08/10

Opinião completa aqui:

http://osabordosmeuslivros.blogspot.c...
Profile Image for João M. de Loureiro Ferreira.
42 reviews2 followers
June 26, 2017
É costume ler, naquelas imagens da Internet feitas para trazer consolo e "closure" ao que de triste e injusto nunca passará, que somos, transportamos, um pedaço de todas as outras pessoas com quem partilhámos um momento - o recordar de um tempo passado, porque recordar é reconhecer que o passado não volta, nem tão pouco o presente. Da mesma forma, as pessoas levam fragmentos do nosso ser, que por vezes nos deixam incompletos, revoltados, corrompidos, mas sempre humanos; ser humano é ser.

O mesmo não se pode dizer dos livros. Não podemos ser pedaços de livros que lemos, passagens dos mesmos; os livros são eternos e nós somos um passado por vir, um futuro morto. Os livros, sim, contêm a expiação de carregar todos os pedaços de cada um dos seus leitores.

Resta-nos prestar-lhes a singela homenagem de os ler, de os celebrar. Ainda que com a prévia noção de que acabaremos um livro cada vez mais incompletos, visto haver um tirar, que é roubar, por não haver devolução.

Este livro, e esta trilogia, roubam muito. Passagem a passagem, soco no estômago a soco na alma. Com o tempo saberei quanto.
Profile Image for Luís Queijo.
322 reviews26 followers
March 27, 2023
Sem grandes delongas acerca da escrita do João Tordo - pela qual nutro uma enorme admiração (não me canso de o dizer), encerrei a trilogia. Continuo a achar o primeiro livro o melhor dos três ainda que este não fique muito atrás.
Deste realço apenas o facto de as “considerações” budistas se tornarem enfadonhas, ao fim de algumas e de me ter sentido completamente desconcertado ao tentar (se calhar com pouca convicção, de minha parte) estabelecer uma linha temporal e não ser bem sucedido. Por fim, cheguei à conclusão de que nada disso interessa.
Tenho algum receio de escolher um novo livro de João Tordo pois sei que não será fácil igualar o grau de profundidade na análise humana conseguida ao longo destes três volumes.
A ler, definitivamente.
Profile Image for Os Livros da Lena.
298 reviews319 followers
January 15, 2021
Review O Deslumbre de Cecília Fluss, de João Tordo
76/2020

Cá estou eu a dar mais uma oportunidade a este autor com o qual (acalmem-se os fãs desenfreados com os archotes) ainda não me consegui conectar totalmente.

Depois de até ter gostado bastante d’O Luto de Elias Gro, e sendo que é o primeiro de uma trilogia, decidi dar uma oportunidade a este último d’Os Lugares Sem Nome, que estava disponível na biblioteca, uma vez que os livros não têm uma história contínua e dependente, mas são antes histórias diferentes em que se cruzam personagens de uns noutros. Um pouco à semelhança do que faz Gonçalo M. Tavares na tetralogia O Reino. No entanto, esta é a única semelhança entre eles.

De resto, este livro é uma amálgama de pulsões sexuais, budismo (por vezes meio deturpado), luto e doenças mentais. Estranho, não é? Também achei. Nada contra livros estranhos, este só não é um livro de que tenha gostado. As personagens não me conseguiram cativar, e a história, muitas vezes pouco fundamentada, também não.

E vocês, já leram? O que acharam?
Profile Image for Sara Jesus.
1,673 reviews123 followers
June 1, 2021
Uma obra que me deslumbrou completamente, que conclui-a em três dias. Tal como nos anteriores o tema da solidão está bem presente. O começar do livro parece-nos banal, o adolescente Matias falando das suas primeiras descobertas, das suas paixões e da sua curiosidade pelo budismo. Aliás reflexões sobre o budismo, principalmente as fábulas que são contadas fazem com que estejamos mais conectados com a historia.

A segunda e a terceira parte jà nos mostram um Matias completamente diferente. Alguém que teve de lidar com a perda da irmã Cecília e a loucura do tio Elias. Conduzindo a que ele tivesse uma terrível doença. O seu isolamento numa ilha permite dar espaço a seu sonho de ser escritor e finalmente libertar-se todo essa dor e sofrimento.

A conclusão desta trilogia faz-nos repensar na nossa própria vida e no modo como lidamos com os outros.
Profile Image for Ana Carvalheira.
253 reviews68 followers
June 18, 2017
Da Trilogia dos Lugares Sem Nome, apenas não li “O Paraíso Segundo Lars D e, confesso que, depois de “O Deslumbre de Cecília Fluss” já não tenho coragem de abordar, conhecer, refletir, rever-me me nos pressupostos concetuais de João Tordo e que tanto construíram a forma como absorvo a sua literatura pois sempre cri, e continuo crendo, que o João é um dos maiores autores portugueses nossos contemporâneos. Fiquei desapontada, fiquei desanimada, quase devastada e até invadida por alguma tristeza por Tordo, na minha perpetiva, não ter conseguido criar uma narrativa mais absorvente mais consentânea mais identificadora com o primeiro livro da trilogia “O Luto de Elias Gro”, As personagens estão lá, na sua maior parte, mas, a meu ver perderam o seu carater de novidade, de pulsão que nos faz perder nos devaneios de temas universais e que nos tocam a todos como todas as dores das histórias de vida, nossas ou alheias mas que nos fazem refletir e, vivendo a experiência alheia, com ela nos identificarmos-mos, procurando sinais, indicadores, coeficientes comuns que nos permitam perceber que não estamos sós nas dores, no sofrimento, na desilusão ou na solidão que encerram a maior parte do quotidiano de muitos de nós.

De certa forma e na sempre periclitante angústia que enforma almas mais sensíveis, esses predicados encontram-se todos ao longo da narrativa. Só que desta vez, Tordo desviou-se para a patologia da demência crónica e degenerativa incindo a tónica do enredo em dois personagens, talvez três, ou quatro, ou seja quase todos que enformam uma galeria de loucos no sentido menos obstrutivo da palavra: o narrador, Matias Fluss, o seu tio Elias, a sua irmã Cecília e a sua mãe, Alma. Todos portadores de idiossincrasias múltiplas e que apontam para uma loucura instalada, como um quadro genético perpétuo, mas também elemento de ligação de uma família da pequena burguesia, numa cidade pequena. Obviamente que se poderá argumentar que, na demência, encontram-se os estados de solidão profunda, de tristeza infinita, o que por vezes traz o aterrador sentimento de que o conhecimento de algo, ou algos, muito importante se vai perdendo, vai desaparecendo inopinadamente e que quanto a isso há muito pouco a fazer. A não ser escrever um livro sobre o assunto. Há uma frase, já quase no fim da narrativa que resume o comportamento de Matias: “um pobre desmemoriado que parece ter-se perdido num lugar qualquer muito distante, o último lugar onde fora capaz de amar”.

Recheado de traumas existências, onde nem a filosofia budista parece conseguir contribuir para uma paz urgente de espírito e, ao contrário de “O Luto de Elias Gro” onde vi e senti uma mensagem positiva de fé e esperança que, muitas vezes, surge da tragédia e dos dramas que sem parcimónia atingem a nossa existência, aqui encontrei precisamente o oposto, uma mensagem de rendição e amargura que se manifesta da seguinte forma: “talvez o propósito da vida seja este, renunciarmos ao propósito, deixarmos que o esquecimento vença, que a memória esqueça, para que quando o final, inelutavelmente chegar, tudo mergulhe numa abençoada vertigem e um sorriso trocista assome aos nossos lábios e possamos saber que, finalmente, que se esgotaram as existência, que tudo é sagrado, que o que foi feito foi feito, nada a pôr, nada a tirar, e será então que poderemos finalmente acolher a imundice humana e a insuportável beleza deste mundo como acolhemos o cálice de uma flor que sabemos morta de antemão, mas que sangra, porque está viva, porque está morta, porque está viva”.

Há muitas perguntas para as quais gostaríamos de encontrar uma resposta que nos descansasse, que nos redimisse do nosso pesadelo contínuo e que se manifesta justamente por as formulamos.
Profile Image for Cat.
1,161 reviews145 followers
August 10, 2017
Tenho sempre pena quando não gosto muito de um livro de um autor de quem gosto. No entanto, gostar de um autor não significa que se tenha de gostar de todos os seus livros e é preciso sermos honestos em relação a isto.

Este último livro de João Tordo, terceiro numa trilogia, não encantou. Tem frases lindas e o autor deve ter feito imensa pesquisa.

Mas eu achei a história chata. Não me prendeu. Deu-me sono em certos momentos. Houve dias em que nem abrindo livro, nem uma linha foi lida.

Em suma, não foi a pior história de sempre, mas este "deslumbre" foi só para a Cecilia.
Profile Image for Ana Cruz.
49 reviews16 followers
January 10, 2022
O Deslumbre de Cecília Fluss segue a receita de João Tordo que tenho vindo a conhecer (e que funciona), mas usa os ingredientes que tanto me desiludiram no segundo volume da Trilogia dos Lugares sem Nome. No entanto, porque gostei mais deste do que do Paraíso segundo Lars D., tenho um pouco mais a dizer desta vez.
Este livro fala sobre temas comuns a toda a obra do autor: a depressão causada pela desilusão de viver, a insatisfação e a frustração provocada pela incapacidade de conciliação entre o que é vivido ou imaginado ou fantasiado e a realidade, fonte de um sofrimento muitas vezes herdado. Neste volume, instala-se a dúvida, qual a razão para a melancolia, qual o propósito da existência e surge uma sede de ir ao seu encontro no meio da confusão e do aleatório. Em particular, como fugir ao sofrimento e ao trauma? Como lidar com a sede? A religião (cristianismo, o budismo), a resignação, o esquecimento, a fantasia, o prazer sexual, o isolamento, a morte são todas abordadas como possíveis soluções mas no final a mensagem que prevalece é que não nos devemos render, mas aceitar, que muitas vezes não iremos compreender nem controlar o caminho que tomamos, nem onde este vai dar. Podemos abraçar o mistério de viver, abraçando também um companheiro na viagem… e no fundo, repetir o ciclo vida/morte em paz.
Outro tema bastante interessante (e novo) é quanto somos o que nos lembramos e paradoxalmente o esquecimento é inevitável. Pelo menos, o esquecimento das memórias boas. O esquecimento do trauma pode ser também um mecanismo de sobrevivência, mas o trauma irá sempre moldar-nos. A degeneração da memória, a retirada para dentro do próprio e a rejeição da verdade são portanto outras formas de tentar fugir ao sofrimento.
Na minha opinião, o maior problema destes dois terços finais da trilogia é tratarem da evasão ao sofrimento e à dor da realidade como uma fantasia puramente machista.
Todas as personagens, que são masculinas, mesmo as femininas, debatem-se com depressão (excepto uma..) em vários graus e em várias etapas da vida. Isso leva-os a terem uma estranha relação com sexo, com os seus parceiros, com o desejo sexual e o prazer. Em contradição com os ensinamentos budistas que impregnam a narrativa, as personagens procuram muitas vezes um escape no sexo. Procuram este prazer, ou quiçá até uma ligação íntima com outra pessoa, mas especialmente um alívio, nunca o encontrando verdadeiramente.
São homens sexualmente frustrados. Não há nada mais desagradável. Especialmente, quando a narrativa é dominada pelo male gaze, pelo machismo e por perturbadoras fantasias de mulheres jovens contentes por satisfazerem (ou outra vez “aliviarem”) homens velhos, nojentos, desinteressantes, sem nada a oferecer e que acabaram de conhecer tal santo enviado ao mártir.
Sinto sempre uma estranheza quando o narrador é uma personagem feminina nas obras de João Tordo porque a voz masculina, o machismo e o male gaze não nos abandonam, são perpetuados pela personagem mesmo em relação a si própria, o que a torna muito menos credível e menos suscetível à empatia. Remete-as, num ciclo vicioso, a um patamar inferior às personagens masculinas, por parecerem tão planas, a sua existência, pensamentos e comportamentos apenas justificados no contexto da ação masculina. Isto é especialmente evidente neste livro.
Posto isto, outro tema: a demência. Mais uma vez, a doença mental adquire muita importância, no entanto, o seu retrato no livro sofre, a meu ver, de algumas incongruências. Em primeiro lugar, um dos narradores sofre da doença, pelo que esperava que isso fosse evidente na sua narrativa. Embora ele descreva episódios credíveis acerca das suas confusões e esquecimentos, estas perturbações nunca chegam verdadeiramente ao domínio narrativo, o que acho que seria interessante. Quando narra, não se esquece de palavras, não confunde nomes, não deixa de reconhecer outras personagens embora conte como isso acontece frequentemente. Existe um único episódio em que este narrador nos transmite algo que não corresponde à realidade, mas que corrige logo a seguir, de forma demasiado lúcida e relacional. Isto contrasta imenso com a forma como a mesma personagem é descrita por outro narrador, o qual, vendo de fora, é capaz de relatar episódios que revelam um estado muito mais avançado da doença.
Para além disso, a demência no livro assume muitas formas, muito variadas, desde o Alzheimer à insanidade. Penso que se os personagens partilham a mesma doença e se esta é ainda para mais hereditária, as personagens deveriam partilhar sintomas de forma mais consistente, pois isso também serviria para reforçar os paralelos estabelecidos.
Finalmente, sendo o Deslumbre de Cecília Fluss o terceiro livro da trilogia, é aquele que os une, outro aspeto de que desgostei, pois revisita e recontextualiza o Luto de Elias Gro, um dos meus livros preferidos, com o desenlace de uma narrativa, na minha opinião, bastante inferior.
Apesar dos pontos negativos, gosto sempre da escrita de João Tordo e aprecei as fábulas e os ensinamentos budistas que ele trouxe à obra. Apesar disso, recomendaria em vez deste O Luto de Elias Gro e o Ensina-me a Voar Sobre os Telhados.
Profile Image for Carolina Paiva.
Author 3 books112 followers
May 9, 2017
Opinião da Holly Reader.

A família está reunida. E é bonita.

A trilogia chegou ao fim e eu cheguei ao fim dela. Com "O deslumbre de Cecilia Fluss", e à medida que o ia lendo, os círculos iam-se fechando e, no entanto, fico com a sensação que o autor podia continuar a escrever esta trilogia para sempre porque, na verdade, nada acaba. A busca não tem fim e a luta continua. Há lições importantes para todos os personagens (e também para o leitor). O livro é uma jornada impressionante e só mesmo um grande escritor para fazer com que todos os pontos se encontrem e, ainda por cima, de forma sublime. De uma forma muito geral fala-se de adolescência, amizade, amor, perda, medo, solidão e demência. Mas isso são apenas os meios de transporte utilizados para falar da vida e da condição humana - de que é que somos feitos? O que é que nos magoa (e porquê)? O que é que procuramos? E portanto é um convite à auto-análise, ao sentido das coisas, ao sofrimento que nunca parece terminar.

Escuso-me a falar da história porque acho que as sinopses, por vezes, acabam por diminuir um livro e este é grande, mesmo grande. Não consigo apontar nada de mau, ou sequer menos bom, o livro é brilhante. Partilhei o sofrimento com o Matias, a solidão com o Elias, a insatisfação com a Cecilia e um pouco de loucura com todos eles.

Vale muito a pena ler esta trilogia, desconfio que não haja nada tão verdadeiro como ela.

"Precisamos, como disse um poeta, de ter paciência com tudo o que está por resolver nos nossos corações, de tentar amar as perguntas como se fossem livros escritos numa língua desconhecida, abraçar a inquietação como o território onde a nossa vida se desmultiplicará para, um dia, se unir em torno de uma resposta, à semelhança de uma família novamente reunida."
Profile Image for Lúcia Fonseca.
299 reviews54 followers
July 7, 2023
"O deslumbre de Cecilia Fluss" é um livro fascinante e envolvente que mergulha o leitor numa jornada de autodescoberta e redenção e e que nos transporta para um mundo rico em emoções e reflexões.

A história gira em torno de Cecilia Fluss, uma mulher atormentada por seus demónios internos. É também uma personagem complexa e multifacetada, cuja jornada nos leva a questionar as diferentes facetas da natureza humana.

A escrita, para não variar, é cativante e está repleta de imagens vívidas que nos transportam para os cenários em que a trama se desenrola. O autor domina a arte de criar atmosferas e transmitir emoções, tornando cada página uma experiência sensorial.

Além da protagonista, o livro apresenta personagens secundárias igualmente fascinantes e bem desenvolvidas. Cada uma contribui para a construção do enredo e acrescenta camadas de significado à história. Os diálogos são autênticos e revelam as motivações e os conflitos internos das personagens de forma convincente.

Um dos pontos fortes do livro é a abordagem de temas profundos, como a busca por identidade, a solidão, a culpa e a redenção. O autor explora essas questões com sensibilidade, evitando respostas fáceis. É uma obra que combina maestria narrativa com profundidade nos temas que aborda

João Tordo mostra mais uma vez sua habilidade em criar personagens complexas e histórias que nos tocam profundamente.
Profile Image for Lénia.
Author 6 books761 followers
January 21, 2018
Falham-me as palavras. Ao João, não falham nunca. E acontecem livros que se entranham em nós, histórias que ficam e perduram muito para além do momento presente. Debaixo da pele. É aqui que guardo este livro - e os dois que o antecedem. Acho sempre que vai ser difícil fazer melhor... Mas Março está quase aí e sei que o João vai novamente provar que estou enganada.
Profile Image for Sara Oliveira.
55 reviews8 followers
March 5, 2023
Que forma maravilhosa de terminar esta trilogia. Ficará para sempre como o meu preferido do João Tordo.

"Restamos somente na memória daqueles que amámos e que nos amaram."
Profile Image for Graciosa Reis.
537 reviews52 followers
January 17, 2024
Com este livro termino a trilogia dos Lugares Sem Nome. Três romances com personagens que transitam de uns para os outros, mas que podem ser lidos sem qualquer ordem.

E continuo a achar que estes livros marcam uma viragem na escrita de João Tordo, tal como o enunciei aquando da leitura do Luto de Elias Gro, o primeiro que li e o primeiro da trilogia. A escrita continua sublime e bela, e tal como nos anteriores predominam os sentimentos, o questionamento a procura do eu.

Neste livro em concreto, o autor explora a temática da perda da memória, do isolamento, da loucura. É Matias Fluss, adulto, numa tentativa de resgatar a sua memória, que nos conta a sua adolescência conturbada, a solidão e a loucura do seu tio Elias, a insatisfação e o desaparecimento da sua irmã Cecília.

“Antes de começarmos a esquecer, temos de recordar, de começar por recordar, e aquele que começa a recordar, inversamente, começa também a esquecer” (p. 194)

Mas o envelhecimento e o avanço da demência baralham tudo e é uma aluna de Matias que o ajuda a confrontar o passado e a revisitar a dor ao descobrir a verdade sobre a sua irmã. Trata-se de um complexo caminho para levar o leitor ao questionamento sobre a vida, sobre a condição humana.

Nos três livros temos a fuga e o isolamento como meios de esquecer o passado. Em todos, o leitor vive o desespero da personagem, assiste à sua decadência, à loucura, à dor, por vezes à esperança.

“Caminhei até à praia, via as gaivotas saltarem empoleiradas nas suas perninhas ridículas, o mar entrava lentamente pela areia dentro. Nada nos aprisiona, concluí. Somos nós que construímos a cela, que nos enclausuramos, e isso dói. Mas é preciso que doa, que doa muito, até que a dor de abrir uma brecha nesse muro seja menor que a dor de permanecer preso lá dentro, Na maior parte das vidas, tal nunca sucede.” (p. 326)
Profile Image for José Carlos Gomes.
Author 1 book7 followers
August 19, 2017
O "O Deslumbre de Cecília Fluss" encerra a trilogia iniciada com "O Luto de Elias Gro" e prosseguida com "O Paraíso Segundo Lars D.". É o mais intenso livro deste tríptico, mas é, provavelmente, também a obra mais profunda da bibliografia de João Tordo.

O escritor prossegue a sua demanda dos "homens sem luz" ou das áreas menos iluminadas, mais sombrias, do ser humano. "O Deslumbre de Cecília Fluss" leva-nos a reflectir sobre a trilogia da vida humana: as dúvidas e as esperanças da adolescência, a consciência da idade adulta e o definhamento da velhice. Coloca-nos ainda perante a reflexão sobre o que é ou não é a demência. E deixa claro que a natureza da vida não perdoa: estamos condenados a perder.

É uma obra de grande dureza, mas escrita com imensa sensibilidade.
Profile Image for Manuela.
173 reviews
July 30, 2018
O que seria da nossa juventude se um dia tivéssemos desejado ser budas?
Houve, por certo, uma Nádia e um Matias na nossa adolescência e esse confronto com a religião, as paixões, o amor, as emoções, o que somos, desejamos ser e aquilo em que nos tornamos. O modo como lidamos com a perda e o que preenche a nossa memória.
E de que são feitas afinal as memórias? Emoções ou factos? Talvez se todos tivéssemos uma cabana numa ilha e uma certa dose de loucura (ou chamemos-lhe deslumbre) fosse mais fácil ir ao encontro do que realmente importa.
Profile Image for Alexandra  Rodrigues.
236 reviews
February 26, 2020
O Deslumbre de Cecilia Fluss

4/5

Li este último volume da trilogia com alguns anos de intervalo, face aos anteriores e, ou porque, está mais próximo do presente que sinto e cogito, ou porque os restantes se instalaram numa modorra memória de um passado difuso, passou a "eleito".

"Os anos ensinaram-me que a vida é o caminho percorrido; a angústia é a ilusão de terem existido outras possibilidades.
(...)

Mas...e a rotina, o tédio? Dia sim, dia sim, cumprirmos os mesmos rituais, executarmos os mesmos gestos, aprisionados numa ideia de nós, conscientes de que qualquer desvio é notado, que, ao mais pequeno sinal de diferença daquilo que fomos ontem (...), para aquilo que somos hoje, alguém reparará, nos fará ver que já não somos os mesmos, que alguma coisa mudou. Como se existisse uma ideia daquilo que somos (,,,,) e fosse inadmissível que nos desviássemos dela. Neste sentido, a rotina representa essa ideia, enquanto a memória representa a excepção, uma vez que conserva, porfiando, os momentos em que nos atrevemos a ser outra coisa qualquer. Talvez o exercício mais proveitoso não seja relembrar os acontecimentos extraordinários, mas precisamente o contrário; relembrar o que aconteceu sempre (...), recordar a rotina e como nos sentimos ao vivê-la, resgatar o aborrecimento infindável dos dias (...). Recebemos o tédio com a mesma disponibilidade com que recebemos a excepção, para que finalmente possamos reconciliar as duas coisas, a regra e a fuga, aquilo que julgamos ser e aquilo que também somos.
(...)

E continuo a perder, disse ele, mas, sabes que mais?, quanto mais perco, menos medo tenho. Temos tanto medo porque achamos que há muito a perder, mas não é assim tanto, as coisas que achamos que nos trazem felicidade também nos trazem o contrário da felicidade, que é a terrível angústia de nos faltarem. (...), lembra-te que o medo é só medo, não é real, e pensa que ascoisas chegam ao fim porque é a maneira que a vida tem de fazer chegar as outras coisas, as novas, as que ainda não conhecemos, as que nos servem melhor (...)
(...) bem diferente, é a resistência que fazemos dentro de nós. Perder passa, também, por abandonar a resistência e a perseguição das coisas que se perderam.

(...) nessa altura, eu fazia menos perguntas e era mais feliz. Ou, pelo menos, não sofria tanto, porque quem faz menos perguntas e aceita as coisas como elas são acaba por conseguir uma paz que os perguntadores não obtêm.

Não são as coisas que sabemos que nos mantêm vivos (...). São as que não sabemos que nos fazem querer viver, essas é que são a vida.

Mais feliz ainda se, de vez em quando, escolher não atender o telefone, porque é um disparate pensarmos que temos de estar sempre disponíveis, como se tudo fosse uma emergência. As verdadeiras emergências são raras, quantas temos na vida? Quatro, cinco? E isso justifica estarmos sempre à mão? (...) E, por último, se eu regar as plantas agora, sou alguém que está tão presente para as plantas como para qualquer outro ser vivo, alguém que quer nutrir e não somente ser nutrido, e o Universo, porque é bastante inteligente, para não dizer que é um espertalhão, agradece a simpatia e retribui-nos com felicidade."
Profile Image for Gonçalo S Neves.
Author 2 books35 followers
November 15, 2017
Na verdade, é um 3,5*.
Ainda é cedo para explicar tudo isto. Uma leitura com personagens muito ricas e personalidades distintas, perdidas numa ilha-sem-nome. Uma história pouco resoluta, que -nota-se - se foi escrevendo. Mas que, para mim, marca a primeira leitura deste novo registo de João Tordo e da sua trilogia. Sem que tenha sido delicioso, foi uma leitura agradável. Venha O Luto de Elias Gro.
Profile Image for João Mendes.
290 reviews17 followers
June 5, 2023
'também nos haveremos, um dia, de encontrar alguma coisa que nos traga a verdadeira felicidade, da duradoura, (...), o tipo de felicidade que encontramos quando estamos precisamente onde devíamos estar, que não é contaminada pela nossa incansável cabeça de contradições'
Profile Image for Cristina.
45 reviews2 followers
July 24, 2017
Porque é que o João Tordo é o meu escritor favorito? Porque encontro nos livros dele, tudo o que procuro: uma história brilhantemente imaginada e uma escrita irrepreensível que me tocam a alma.
Como se não bastasse, os livros dele têm uma revisão exemplar e por isso o prazer de os ler é sempre imenso porque não me aborreço ao detectar alguma falha.
Profile Image for Ana Mendes Luz.
30 reviews5 followers
June 18, 2017
O autor, como sempre consegue mastigar uma filosofia penosa e devolve-nos o seu conteúdo de forma apaixonante e prática. Quando o desenlace final parece óbvio o autor consegue, de uma forma subtil, pregar-nos uma partida e tornar tudo muito mais interessante.

Li este livro no momento certo. Gostei muito da criatividade com que o autor conseguiu relacionar os livros antecedentes desta trilogia. A trilogia evoca muitas questões existenciais que são comuns a todos.

Só houve apenas um excerto que me deixou um pouco desconcertante. Na parte final do livro, quando este é narrado por uma voz feminina, penso que o autor não conseguiu desligar-me totalmente do seu pensamento masculino e tornou a personagem Deanie, um tanto ou pouco, como uma homem desejaria.

Deixo transcrito dois excertos que gostei:

" ... não estamos apegados aquilo que obtemos, estamos apegados ao fim da dor de não ter, à cessação de um obstinado querer, e esse querer, ao mesmo tempo que nos corrói, mantém.nos vivos desta maneire em que nos encontramos vivos, na permanente ansiedade de vir a ser qualquer coisa que ainda não somos"

"Também nós haveremos, um dia, de encontrar alguma coisa que nos traga verdadeira felicidade, da duradoura, o género de satisfação que os pássaros encontram quando fazem o ninho, ou as toupeiras escondidas nas suas tocas do subsolo, o tipo de felicidade que encontramos quando estamos precisamente onde devíamos estar, que não é contaminada pela nossa incansável cabeça de contradições. "
Profile Image for Andreia Morais.
449 reviews33 followers
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July 9, 2023
TW: Linguagem Explícita, Depressão, Demência, Referência a Suicídio, Morte, Mutilação

O final da trilogia dos Lugares Sem Nome deixou-me sem chão, porque é inacreditável como o autor nos faz sentir os dilema, os debates internos, os fragmentos de dor e a subtileza do amor nos pequenos gestos. Além disso, é fascinante perceber como costurou cada elo dos exemplares anteriores, de modo a que as histórias - ainda que independentes - tenham uma lógica muito própria, transportando-nos para o seu universo.

Neste livro, há reviravoltas que nos desconcertam, que nos deixam boquiabertos e que nos fazem querer descobrir o destino de cada um dos envolvidos. Depois, há um protagonista a descobrir o mundo e a carregar nos seus ombros o peso da perda, de uma vida em suspenso, de uma filosofia que o pretende deixar mais sereno e de um legado familiar que não é capaz de controlar. Regressando sempre ao passado, é evidente que há muitos assuntos que tem por resolver.

A solidão volta a funcionar quase como uma personagem do enredo e, pelos seus caminhos paralelos, faz-nos pensar sobre a maneira como nos relacionamos com os outros e, acima de tudo, sobre o pouco poder que temos, quando as nossas capacidades cognitivas enfraquecem. É um verdadeiro deslumbre. Talvez estejamos todos a tentar não cair nos seus braços.
Profile Image for Carolina Nobre.
107 reviews8 followers
April 10, 2021
Tal como nos tem habituado, o autor conseguiu construir personagens extremamente completas e complexas, desta vez ainda mais evidenciado pelo grau de ligação entre os cada um dos livros desta trilogia (que li com grande espaçamento temporal). Uma leitura muito reflexiva sobre a vida, as memórias e a nossa capacidade (ou não) de definir o que acontece na nossa vida.

"O mundo, respondeu, é um lugar muito grande feito de coisas muito pequenas."
Profile Image for Sonia Almeida Dias (Peixinho de Prata).
682 reviews30 followers
December 28, 2022
Apesar de não ter lido os outros livros da trilogia, gostei muito deste. Mesmo muito. Já há algum tempo que não lia um livro tão delicado e que tivesse ficado no meu pensamento.

Foi o primeiro livro que li do autor, e fiquei com vontade de ler mais.
Profile Image for Mónica Leirião.
129 reviews
February 13, 2018
cada vez mais rendida à escrita de Tordo!
"Porque importa a maneira como construímos o amor. Se o fazemos porque nos dispomos a sermos vulneráveis, ou se, por outro lado, o confundimos com segurança, ou conforto, ou controlo.Pode não passar de um apêndice do nosso ego"
Profile Image for Rosario Oliveira.
203 reviews
June 18, 2018
Terminei a trilogia e gostei de ler estes 3 livros deste escritor recentemente descoberto. Nestes livros há muitas referências literárias e artísticas de que gosto e também muitas referências filosóficas e religiosas com que me identifico. O autor escreve bem, muito bem. Buscou inspiração nos melhores, vê-se que lê muito também. Tem uma imaginação fluida, cativante e leva-nos a deambular pelas páginas, a reconhecer uma coisa aqui e outra ali. A vida, os renascimentos, as repetições, o fim, o princípio, o que se leva, o que se deixa ficar. Ler este livro foi como ler um catecismo (no bom sentido) com frases que eu podia ter interiorizado noutro princípio de mim.
"Sim, estou aqui, (…) um homem nasce, faz um caminho enorme e depois, ao chegar ao fim há o quê?, o mar, o sono e as horas que cessam, uma a uma, iguais aos dias, contados desde o princípio do tempo".
Displaying 1 - 30 of 50 reviews

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