Nesta trilogia, João Anzanello Carrascoza oferece um panorama que se estende através do tempo para falar da relação fragmentada das famílias. No primeiro livro, Caderno de um ausente (vencedor do prêmio Jabuti 2015 e reeditado agora pela Alfaguara), o pai João escreve uma longa carta para a filha recém-nascida, Beatriz, para o caso de não estar presente no futuro dela. Já no segundo volume, Menina escrevendo com pai, é Bia quem responde, narrando a vida e o relacionamento dos dois. Por fim, em A pele da terra, Mateus, filho mais velho de João e irmão de Bia, narra sua relação com próprio o filho, outro João, durante uma peregrinação. Um olhar tríplice sobre os vínculos entre pais e filhos, e sobre como pequenas ações do cotidiano nos marcam para sempre.
João Anzanello Carrascoza (Cravinhos, interior de São Paulo, 1962) é um escritor e professor universitário brasileiro.
Estreou-se com o livro Hotel Solidão (1994). Publicou vários livros de contos, como Duas tardes (2002), Espinhos e alfinetes (2010), Amores mínimos (2011), O volume do silêncio (2006, prêmio Jabuti) e Aquela água toda (2012, prêmio APCA).
Em seu primeiro romance, Aos 7 e aos 40 (Cosac Naify, 2013), Carrascoza escreveu que “o presente é feito de todas as ausências”. Em Caderno de um ausente (Cosac Naify, 2014), essa ideia se materializa de forma contundente, alçada por um lirismo poucas vezes visto na literatura brasileira.
Começo essa resenha com a tranquilidade de pode dizer que esse livro todo mundo merece ler! E merece porque é um livro tão bonito e tão sensível, que a gente termina se sentindo bem. As palavras de Carrascoza me abraçaram e me despertaram a vontade de conhecer mais do trabalho do autor.
Em “Caderno de um ausente”, publicado pela Companhia das Letras dentro de uma trilogia (Trilogia do Adeus), encontramos um caderno de anotações de um pai para uma filha, que acaba de nascer. A ideia de escrevê-lo surgiu por um medo desse pai: o medo de não ser lembrado. Bia nasce quando seu pai já é mais velho, mais próximo do fim da vida do que do seu começo. Por isso, teme não poder acompanhar toda a trajetória da filha, o seu crescimento e suas descobertas. E é por meio de memórias escritas que tenta ocupar esse espaço que tanto quer evitar. O espaço da ausência que não tem volta.
E, ao contrário do que se poderia esperar, as mensagens do pai não são ilusórias, não tentam falar apenas de momentos felizes e de uma história sem tropeços. Bia receberá um texto real, humano e, às vezes, duro. Mas não é isso que podemos esperar do que vem pela frente?
A escrita carregada de poesia, que nos permite classificá-la como uma “prosa poética”, me lembrou bastante o estilo de Valter Hugo Mãe. Leiam, mas leiam devagar, curtindo a beleza desse texto! O livro foi ganhador do prêmio Jabuti de 2015.
"Vais descobrir por ti mesma que este é um mundo de expiação, embora haja ocasionalmente umas alegrias, não há como negar - as verdadeiras vêm travestidas, é preciso abrir os olhos dos teus olhos para percebê-las.”
“[...]tu descobrirás, filha, que sonhar nos salva da rotina, mas, também, nos desliga da única coisa que nos mantém em vigília: o muro concreto do presente[...]”
A vida passa de um dia para o outro e a cada dia agregamos um novo elemento à nossa coleção de saudades: dos que ainda estão por aqui, mas parece que se foram; ou dos que já se foram, mas parecem ainda estar aqui. Carrascoza usa as suas palavras para nos lembrar o quanto a vida é bonita, mas efêmera, e como as saudades são uma maneira de ressuscitar.
Em algum momento eu vou editar esse review - assim que passar o furor da emoção-, mas sintetizo com a certeza de que é um livro que precisa ser lido.
Livro poético e bonito, mas não me pegou. Achei que falta enredo e não me apeguei a nenhum personagem. Não era um livro que me dava vontade de continuar lendo, me dispersava o tempo todo.
Caderno de um ausente... "Não há borracha para um fato já vivido, pode-se erguer represas e costões, muralhas e fortalezas para barrar o fluxo das horas, mas, uma vez que o sol se torne sombra, que o luar penda no céu em luto, a névoa se disperce na paisagem pendurada a parede, o dedo acione o gatilho, nada mais se pode fazer; nossa jornada, aqui é única, a ninguém será dada a prerrogativa, salvadora ou danosa, da reescrita."
O justo seria sermos presenteados com o caderno do ausente antes de nascermos. Daí por nossa conta e risco a gente seguia ou decidiria não nascer. Assim essa vida seria justa! Incrível, você começa ler e quando se da da por si, já foi o livro todo. Escrita fantástica! Ah e eu passaria a vez do nascimento! ***********************************
Menina escrevendo com o pai... "...ele falou que não havia apenas o triste ou alegre, os dois estavam sempre juntos, um mais intenso, outro menos, às vezes é igual medida, um mais e outro menos, mas já se invertendo, porque a gente é tudo junto ao mesmo tempo, a gente alegre, triste, a gente bom, mau sem parar, mais bom e menos mau nas horas azuis, mas mau e menos bom nas horas escuras, a gente é tudo ao mesmo tempo..."
Incrivelmente poético e triste! ***********************************
A pele da terra... "Leva tempo para morrer em nós o que, há muito tempo, estava morto. Leva tempo - esses anos todos!"
Amei a experiência de leitura! Escrita cativante, quando mal se espera já acabou e só fica o sentimento de saudade.
sensível e tocante, o tipo de livro que você tem que se entregar a cada linha que foi escrita, ler bem devagarinho, degustando cada pedacinho de poesia que lhe foi entregue pelo autor. bom demais
O tempo e nossa constante troca com ele são a costura que nos remenda depois dos inúmeros rasgos que vamos ganhando pelo caminho, com as pessoas. Os três livretos desta obra convidam o leitor a buscar a arqueologia da dor, da saudade, do vazio, da solidão, e também da plenitude da comunhão, do resplendor de sentimentos sobre os quais até se escreve, mas dos quais nunca a verdade se capta. São três pontos de vista sobre o afeto, sobre ceder e exigir, sobre admitir que sonhamos com futuro e recuperamos passado apenas porque somos escravos do presente, ao qual negamos quando pretensamente afastamos de nós o peso do fim e o incômodo do começo. Bonito texto.
Dos 3 livros, o que eu menos gostei. Faltou conexão, faltou eu me importar com o personagem, sentir o que ele sente.. Ao contrário desse pai da história, fiquei ansiosa para que a jornada terminasse logo, pois já estava me sentindo cansada de toda essa embromação sentimental. Sim, tem uma linguagem poética (também como os outros dois) e QUEM ME CONHECE SABE (!) que eu amo uma escrita poética, mas poesia por poesia, só pra soar bonito e obter belas frases de impacto, não me convence. Acaba soando plástico, falso, distante.
Nota: 🌟🌟💫 (5)
Opinião final sobre a trilogia 📚:
E assim, essa é a impressão que a trilogia me deixa. Escrita bonita, poética, mas plástica. Parece-me um livro escrito pela beleza das palavras em si, mas desprovido de sentimentos reais e palpáveis. Destaquei muitos trechos do primeiro livro que realmente são bonitos e o considero o melhor dos 3. O segundo tem algumas passagens legais, mas esquecível. O terceiro, totalmente esquecível. Sinceramente, surpresa que tanta gente ame essa trilogia. Na época, comprei por ver muitos elogios da Mell Ferraz, depois o Pedro (Bookster)... Enfim, superestimado. Não estou arrependida de ter lido e eu não diria que são livros ruins, mas... hummmmm... não é tudo isso.
Nota final da trilogia: 7 + 6 + 5 = 18/3 = 6 (🌟🌟🌟)
Começo dizendo que esta obra é um diamante da literatura contemporânea brasileira. São livros bem curtos e fáceis de serem lidos, todos em primeira pessoa. Os três livros, em especial, compartilham um mesmo tema: a paternidade, tratando de outros temas diferentes em cada livro a partir desse. Todos os livros são espetaculares, mas eu achei o terceiro o mais fraco. Não pela falta de qualidade do terceiro livro, todavia pela perfeita qualidade dos outros dois. No primeiro livro, o que me foi mais marcante, abordam-se diversos temas com enorme sutileza e inteligência, como a certeza da morte diante de tantas outras incertezas da vida e do nosso futuro, o poder das palavras, a importância da memória. O final é inesperado e de fazer chorar. No segundo livro, a qualidade e a comoção igualam-se às do primeiro livro. Aqui, abordam-se temas como a importância da nossa história, ausência de algum dos pais, saudade, importância dos nossos sentimentos, amadurecimento, aprendizado e inúmeras outras coisas. No terceiro livro, não me emocionei e me engajei como nos outros dois, mas não deixa de ser um livro excelente. Aqui, fala-se sobre saudade, divórcio, cotidiano, encontro entre o pai e o filho, dentre outras coisas. Recomendo a todos! Excelente trilogia!
A apresentação já me atraiu... três pequenos livros de capa colorida, letras desalinhadas, texto pontuado por espaços, linhas descontínuas, setas, que estruturam o tom da narrativa. Em sintéticos, densos e poéticos volumes, a história dos laços que unem dois Joãos, Bia e Mateus vão se revelando, sempre parcialmente, sempre envoltos em névoa; projeções de futuro e resgate da hereditariedade entremeados ao momento presente, que se apresenta ora em movimento, ora enraizado. Somos conduzidos a desfechos que retratam os caminhos e descaminhos da vida, e as lacunas no texto - escrita e forma - nos convidam a imaginar mais sobre João, Bia, Mateus. Em Caderno de um ausente João sonha e teme sua relação com sua filha Beatriz, recém-nascida; Bia, em Menina escrevendo com pai, conta como foi - o que sonhamos às vezes é tão menos do que a vida!; e A pele da terra encerra um ciclo: conhecemos melhor Mateus, filho mais velho de João e irmão de Bia, e o afeto por seu filho, o João mais novo, que flui nos passos de uma peregrinação, setas indicando o fluir das relações familiares.
Com uma escrita poética e muito bonita, Carrascoza vai trazer em cada um dos três livros que compõem a trilogia histórias sobre lembranças, despedidas e saudades. No primeiro livro, João, um pai que, com receio de não ver sua filha recém-nascida crescer, escreve para ela sobre todos os aspectos e mistérios da vida. No segundo livro, temos já a filha Bia escrevendo ao pai, recordando o tempo que tiveram juntos. Já no terceiro, é contada a história de Mateus (filho de João, meio irmão de Bia) e a relação que mantém com seu filho João (assim chamado em homenagem ao avô). Mas o ponto alto mesmo dos livros está na forma delicada da escrita do Carrascoza; a escolha e disposição de cada palavra; e mesmo a ausência da palavra quando apenas o silêncio é necessário para se chegar ao verdadeiro sentimento. Uma bela trilogia.
Menina escrevendo com o pai foi de longe o que mais gostei dos 3 livros. Caderno de um ausente é bonito e impactante mas pra mim foi bem difícil a leitura das poucas 70 páginas que ele tinha, pareciam as vezes intermináveis. A forma de escrever do autor não parece ter sido feita pra mim nesse primeiro livro da trilogia, ou talvez seja pelo personagem narrador. Já na segunda parte a leitura fluiu muito bem além de ter achado muito lindo como foi contada a história, simples e poético a forma de descrever da narradora. Na terceira parte "A Pele da Terra" fluiu bem mas a história em si foi bem menos impactante que os 2 primeiros livros.
A primeira parte, caderno de um ausente, me tocou profundamente. Ela fala de nascimento, mas na verdade o que quer tratar é da perda e da separação - a fatalidade dessas coisas que já estão ali desde o começo, desde o encontro. Mas as outras duas partes (são três no total) achei especialmente entediantes. Talvez a temática não tivesse muito a ver comigo, talvez eu tenha ficado cansado do estilo de escrita - que é bem particular, poucos conectivos e quase nenhum ponto final. Enfim, de toda maneira vale conferir. Definitivamente é um dos autores brasileiros mais interessantes da atualidade.
A trilogia de João Anzanello Carrascoza destaca-se pela qualidade da escrita onde os narradores se desvelam, dando-nos a conhecer a sua intimidade mais profunda, numa viagem na qual, mais do que companheiros, nos tornamos cúmplices e íntimos. Os vários volumes refletem sobre a parentalidade e a relação entre pais e filhos, construída com tantos silêncios e não ditos como com palavras trocadas. E é por isso que as cartas escritas por pais e filhos parecem dar voz ao inominável.
A vida é efêmera, nossas vidas transitórias, aproveite a sua jornada junto aos seus queridos, antes do último adeus. Esta é a mensagem mais forte desses três pequenos livros, plenos de delicadeza.
Trilogia extremamente poética desse grande autor da nova geração da literatura brasileira. 4 estrelas!
Acho que ouvi falar muito bem dele e acabei criando uma expectativa. Esperava mais. É um livro mais “poético”, com um enredo mais parado. E gira em torno muito do tema família- enfim acho que vc tem que estar nessa vibe.
Três narrativas bem sensíveis e emocionantes,mas, em alguns fragmentos, senti que a leitura foi um pouco arrastada. O primeiro livro, “Caderno de um ausente”, é o meu preferido da trilogia.
Uma prosa lírica, pessoal e íntima, admito que não é para todos os gostos e momentos, mas para quem quer ter uma conversa com a finitude e as raízes que temos, uma excelente escolha!
vais descobrir por ti mesma que este é um mundo de expiação, embora haja ocasionalmente umas alegrias. não há como negar - as verdadeiras vêm travestidas, é preciso abrir os olhos para percebê-las.
Amei os dois primeiros, o terceiro nem tanto. Retrata uma linda relação entre pai e filha que só me deixou com saudades e com vontade de ter o meu pai juntinho de mim.