«Como rei, possuía essa altivez de porte, essa majestade sobranceira que o igualava a Luís XIV e que devia enlouquecer de orgulho a mulher que o visse rendido a seus pés, suplicante e apaixonado. "As Amantes de Dom João V" — um dos festejados títulos na obra literária de Alberto Pimentel — é de 1892. A este rei, que o «sol» francês de Luís XIV iluminou, chamaram O Magnânimo. […] A nobreza encontrava nas barrigas de freira requintes de doçura mas também o percalço de incómodos bastardos. O país encheu-se de infantes escondidos ou mesmo ignorados. D. António, D. Gaspar e D. José eram os que Sua Majestade tinha gerado em madres de convento, uma delas francesa, os seus filhos que a linguagem popular designou por «meninos de Palhavã». Habitavam o palácio do marquês do Louriçal, defendido nessa época pela discrição de um arredor da cidade, mas hoje central e conhecido como sede da embaixada de Espanha. […] Alberto Pimentel passeia de capítulo a capítulo pelas mais notáveis amantes deste D. João V com uma lubricidade que chegou a precisar, para jogos prolongados, da bem recebida ajuda dos afrodisíacos. Teve um dos mais longos reinados da monarquia portuguesa, ou seja, muito tempo para se mostrar ágil, desembaraçado e robusto, as qualidades que Pimentel destaca quando lhe descreve o físico; mas amigas, também, do que lhe foi mais precioso nesta lida consumada em leitos de baldaquino: compreender sem hesitações as mulheres e, a conferir-lhe à corte invulgar eficácia, fazer-se compreender sem delongas.» Aníbal Fernandes
«D. João V foi um rei à altura do seu tempo e, como noblesse oblige, não consentiu que ninguém lhe deitasse a barra adiante em liberdade de costumes. Hoje, que o cesarismo acabou, um rei como D. João V seria o coveiro da sua própria coroa; mas, naquele tempo, um rei que não fosse D. João V ficaria inferior ao último dos fidalgos, não mereceria que os poetas do tempo o emparelhassem com Luís XIV, como quando o autor do Pinto renascido lhe chama o — Sol El-Rei D. João.» Alberto Pimentel
Foi um prolífero escritor portuense da segunda metade do século XIX. Teve uma produção escrita notavelmente extensa e diversificada, abrangendo uma heterogeneidade de obras como: romances, poesias, biografias, peças teatrais, obras políticas, estudo de tradições populares e outros géneros.
Apesar disso, Pimentel é actualmente um autor envolto no esquecimento. As circunstâncias da época e posteriores a esta não contribuíram para sua canonização como grande representante da produção literária em sua época. Alguns dos seus contemporâneos tiveram este privilégio, em especial Camilo Castelo Branco, considerado seu grande amigo e ídolo. Pimentel foi o primeiro biógrafo de Camilo, sendo a partir de então - especialmente pela obra Romance do Romancista (1890) - lembrado como uma das principais referências para os estudos camilianos.