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Os Loucos da Rua Mazur

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Quando as cinzas assentaram, ficaram apenas um judeu, um cristão e um livro por escrever.
Paris, 2001. Yankel – um livreiro cego que pede às amantes que lhe leiam na cama – recebe a visita de Eryk, seu amigo de infância. Não se veem desde um terrível incidente, durante a ocupação alemã, na pequena cidade onde cresceram – e em cuja floresta correram desenfreados para ver quem primeiro chegava ao coração de Shionka. Eryk – hoje um escritor famoso – está doente e não quer morrer sem escrever o livro que o há de redimir. Para isso, porém, precisa da memória do amigo judeu, que sempre viu muito para além da sua cegueira.

Ao longo de meses, a luz ficará acesa na Livraria Thibault. Enquanto Yankel e Eryk mergulham no passado sob o olhar meticuloso de Vivienne – a editora que não diz tudo o que sabe –, virá ao de cima a história de uma cidade que esteve sempre no fio da navalha; uma cidade de cristãos e judeus, de sãos e de loucos, ocupada por soviéticos e alemães, onde um dia a barbárie correu à solta pelas ruas e nada voltou a ser como era.

Na senda do extraordinário Perguntem a Sarah Gross, aplaudido pelo público e pela crítica, o novo romance de João Pinto Coelho regressa à Polónia da Segunda Guerra Mundial para nos dar a conhecer uma galeria de personagens inesquecíveis, mostrando-nos também como a escrita de um romance pode tornar-se um ajuste de contas com o passado.

312 pages, Paperback

First published November 1, 2017

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About the author

João Pinto Coelho

6 books564 followers
João Pinto Coelho nasceu em Londres em 1967. Licenciou-se em Arquitetura em 1992 e viveu a maior parte da sua vida em Lisboa. Passou diversas temporadas nos Estados Unidos, onde chegou a trabalhar num teatro profissional perto de Nova Iorque e dos cenários que evoca neste romance. Em 2009 e 2011 integrou duas ações do Conselho da Europa que tiveram lugar em Auschwitz (Oswiécim), na Polónia, trabalhando de perto com diversos investigadores sobre o Holocausto. No mesmo período, concebeu e implementou o projeto Auschwitz in 1st Person/A Letter to Meir Berkovich, que juntou jovens portugueses e polacos e que o levou uma vez mais à Polónia, às ruas de Oswiécim e aos campos de concentração e extermínio. A esse propósito tem realizado diversas intervenções públicas, uma das quais, como orador, na conferência internacional Portugal e o Holocausto, que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, em 2012. Perguntem a Sarah Gross é o seu primeiro romance.
Em 2017, venceu o Prémio Leya com o romance Os Loucos da Rua Mazur.

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Community Reviews

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1 star
10 (1%)
Displaying 1 - 30 of 141 reviews
Profile Image for Filomena Clercq Faria.
5 reviews11 followers
December 1, 2017
«Em choque», escrevi eu quando acabei de o ler.
Volto aqui para mais uma ou outra coisa.
Alguns saberão o quanto gostei da Sarah Gross. E esses saberão o que significa para mim dizer que este novo livro do João Pinto Coelho é tão extraordinariamente melhor do que o primeiro. Ainda estou à procura de palavras para descrever a humanidade que descobri nas personagens deste livro, para a dureza crua do horror e dos demónios que, afinal, nos habitam a todos. Um romance colossal. Agora, amanhã, depois, é tempo para regressar aos sublinhados.
Profile Image for Carmo.
727 reviews566 followers
June 28, 2018
O anti semitismo deve ser tão antigo quanto a própria religião judaica, e as atrocidades cometidas contra judeus estão registadas na memória coletiva da maioria dos povos deste mundo. Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Rússia, Alemanha, por todo o mundo os homens acossaram, maltrataram e executaram pessoas, movidos por intolerâncias religiosas. E continuam a fazê-lo…

O que se conta neste livro é uma pequena amostra de tantas crueldades cometidas em nome de uma ideologia. E crueldade, maldade, desrespeito, raiva, não são coisas bonitas nem é possível fazer delas poesia. Ou falamos delas cruamente, ou perdem a força e corre-se o risco de mascarar a realidade.
Este livro é duro, cru, difícil de digerir. E porque parece-me estar construído sob uma pesquisa histórica muito sólida não podia ser de outra maneira.

João Pinto Coelho escreve aqui ainda melhor que em Sarah Gross.
Profile Image for Luís.
2,371 reviews1,364 followers
March 28, 2021
A fictional and very original account of the lives of Christians and Jews intersected for varying periods from 1934, in northeastern Poland, to Paris in October 2002. Another work on Judaism by the author and also on World War II, but not only. To discover.
Profile Image for Claudia.
345 reviews207 followers
August 29, 2018

Não é um livro que recomende a toda a gente. Não é aquele livro de leitura super fluida, para devorar nas férias, cheio de peripécias. Pelo contrário, a experiência é árdua. Pela espera, pelo desenvolvimento e pela narrativa. No entanto, se te deixares cobrir pelas personagens e não andares a cem à hora, terás direito a uma boa história sobre judeus perseguidos durante a Segunda Guerra Mundial. Feridas abertas, vozes ensurdecedoras, dramas tão fortes que tornam os nossos problemas em míseros pormenores. Preprarem-se para episódios muito violentos.



Não tinha ficado rendida ao primeiro e aclamado livro do João Pinto Coelho, Perguntem a Sarah Gross. Sem pedido de desculpas, assumo que nunca me deixei envolver pela história, senti que o tempo de espera para o grande final fora muito longo. Andas, andas, e quando devias explodir de emoção, não sentes nada. Sei que foi o livro preferido de muita gente, mas sinceramente já li livros mais cativantes. Neste romance, vencedor do Prémio Leya em 2017, o autor volta à mesma formula, só tens direito à emoção no final.



A escrita é riquíssima. O que me agrada. Tem personagens interessantes, algumas surpresas pelo meio e nada neste livro é cliché. Sabem quando não fazem ideia para onde o autor vos quer levar? É exactamente isso. Não sabes que história anda o Eryk a escrever há mais de vinte e dois anos. Não sabes qual é a importância do livreiro cego Yankel no meio disto disto. Mas queres descobrir e perceber o que se passou na Polónia.



Gostei um bocadinho mais deste romance, mas não fiquei com os olhos a brilhar nem aos pulos por ter encontrado o livro da minha vida. Encontro claramente um grande talento, muito estudo relativamente a este pedaço da História Mundial e há uma evolução evidente em relação ao primeiro. No entanto, a história tem um ritmo lento, é aborrecida em determinados momentos e contém personagens imensos.



Recomendo para os leitores persistentes.
Profile Image for Teresa.
1,492 reviews
December 4, 2017
“Os alemães intrigam-me. Valerá a pena dominar um mundo tão miserável e cruel?"
Jerzy Kosiński , "O Pássaro Pintado"

"No dia 10 de Julho de 1941, em Jedwabne, pequena cidade do nordeste da Polónia, um grupo de cidadãos, na sua maioria cristãos, reuniram à força os seus vizinhos judeus na praça principal e, num festim de violência, conduziram-nos até um celeiro próximo que incendiaram, queimando vivas centenas de pessoas, incluindo muitas crianças."
João Pinto Coelho , "Os Loucos da Rua Mazur"

O tratamento do facto histórico narrado neste romance desagrada aos polacos que desmentem, não a sua veracidade, mas os seus autores. Segundo o embaixador da Polónia, existem provas de que os "instigadores desse assassínio foram quatro antigos colaboradores do NKVD soviético". A ambiguidade desta frase, ao contrário do pretendido, dá credibilidade à pesquisa de João Pinto Coelho sobre o crime cometido pelos polacos. Ninguém duvida de que o ser humano - independentemente da raça, da nacionalidade, da religião - é capaz de cometer as maiores atrocidades contra o seu semelhante. Principalmente em tempo de guerra, em que o sofrimento enlouquece e a ânsia de vingança procura culpados, mesmo entre os inocentes. Não acredito que os polacos sejam diferentes. Ainda tenho bem presentes na memória os horrores por que passou a criança do polaco Jerzy Kosiński, narrados n'O Pássaro Pintado.

As três estrelas com que avalio a obra, e não as cinco que esperava e gostava, resultam de vários factores:
A. Comparando com "Perguntem a Sarah Gross", acho que a prosa do autor enriqueceu, privilegiando a descrição em detrimento dos diálogos. O problema, para mim, é ter demasiadas personagens. A certa altura, já não sabia quem era quem, acabando por me desinteressar e centrando-me apenas nos acontecimentos. O que me impediu de sentir empatia, ou sequer simpatia, com quem quer que fosse. Nem com a personagem principal que, segundo o Júri do Prémio Leya 2017, "irá ficar como figura inesquecível da nossa ficção mais recente."
B. Fez-me muita confusão as várias alusões a uma determinada necessidade fisiológica. Contei doze. Estou convencida que o próprio autor não perdoaria este descuido a outro.
C. Por fim, a Violência. Na página 274 (sobre Tauba e Perla) há um parágrafo que li e reli, reli, reli. É extremamente chocante mas, simultaneamente, comovente. Não pela descrição, mas pela imagem que me implantou no cérebro. Há nele muita beleza e delicadeza e uma profunda mensagem sobre o Amor absoluto. As páginas 267 e 268 gostaria de não as ter lido. São a negação da sensibilidade revelada na 274. Só um escritor Genial pode ousar narrar tal acto medonho sem resvalar para a obscenidade. E João Pinto Coelho não o é. Pelo menos, ainda.

No entanto, apesar de ter gostado mas não muito, recomendo a leitura desta obra, porque nunca é demais relembrarmos o poder do Mal e aos limites terríveis a que pode ser levada qualquer pessoa quando permite que o ódio domine o seu coração.
Profile Image for Jose Garrido.
Author 2 books21 followers
February 20, 2025
Foi de um fôlego. Faz-me pensar naqueles memes imbecis que começam, invariavelmente, com qualquer coisa do género “com que idade descobriste que as toalhas de papel ao lado do lavatório são para enxugares as mãos?”.
Eu: como foi possível deixar passar tantos anos, desde a publicação sem ter lido este livro?
Que prémio mais bem merecido!
A escrita de João Pinto Coelho é sublime. Vem imbuída de uma beleza e de uma elegância superlativas que apimenta com vocábulos incomuns, esquecidos nas páginas dos dicionários – daqueles que encontrávamos fascinados quando nos perdíamos folheando em papel, largos minutos depois de encontrado o significado procurado.
Há uma parte de mim, reconheço, que se pergunta sempre, ao ler JPC, como também a Joana Bértholo e escassos outros: será que lhes ocorrem estas palavras com naturalidade ou antes as escolhem pela poesia, pela sonoridade, ritmo e métrica e as integram nos parágrafos como um marchetado de madrepérola?
Esta é uma estória sobre uma coisa terrível. Uma coisa que tentamos sempre negar: a verdadeira natureza da humanidade.
JPC criou um mosaico de uma beleza inefável, puxando com artes de bonecreiro e muita magia os fios que fazem ganhar vida os três personagens fundamentais desta história, depois, salpicou-a generosamente com dezenas de outras personagens, quase sempre apenas nomes, profissão ou lugar de origem, para realçar a universalidade da tragédia que nos desvela. Todos estamos lá. É desnecessário entrar em detalhes: todos.
Respiguei algumas frases pela originalidade e beleza, pela maneira como me sensibilizaram:
“O livreiro valia-se então das trivialidades que restavam, o que é natural quando a vida e o homem se vão despedindo por mútuo consentimento.”
“O shtetl era um buraco, um pedaço de floresta sujo de humanidade, a mais vulgar das maldições.”
“Porque é que hei-de saber logo o fim da história? Tenho tanto direito a divertir-me como o leitor.”
“Só quero escrever e acabar de escrever, é uma chatice se a morte me apanha com um livro a meio.”
Ide. Correi a lê-lo! 😉Faltaram-me estrelas.
Profile Image for Cláudia Azevedo.
394 reviews218 followers
August 6, 2018
"Os Loucos da Rua Mazur" é um livro duríssimo, daqueles que nos ficam presos aos nossos pensamentos e à nossa memória. Não deixa dormir, quase nos faz desistir, obriga-nos a abrir os olhos e a questionar a verdade histórica, deixa-nos de rastos no final, reduzidos a uma compaixão póstuma e ineficaz.
Confesso que desconhecia a polémica à volta das atrocidades infligidas aos judeus polacos pelos cristãos polacos durante a II Guerra Mundial. Jamais ouvira falar na localidade de Jedwabne, palco de uma chacina abafada, como tantas outras, por tempo demasiado, uma mancha na toalha retalhada de uma nação exposta.
Ao longo de 300 páginas, o autor faz desfilar uma galeria de personagens e emoções complexas: Yankel, o judeu cego, Eryk, o cristão e seu melhor amigo, e Shionka, a "filha da bruxa" e amada por ambos. Encontramo-los quando jovens, no Nordeste da Polónia, antes da Guerra, numa localidade onde a convivência era "áspera: dois deuses, duas línguas, muita gente de costas voltadas". Povoam-na Roman Skiba e Salomão Finkelstein, símbolos dessa rivalidade, Tadeusz Orlosk, o presidente da Câmara, Zygmunt, o ferreiro judeu que lembrava Lenine, a inocente Tauba Sandberg, o padre Kazimierz, o professor Pasternak e tantos outros.
Em 2001, Eryc (convertido no escritor Paul Lestrange) procura Yankel (agora um livreiro cujas amantes nunca deixaram um livro a meio) para finalizar a história desses anos de terror e ajustar contas com o passado. Nessas linhas recorda-se a ocupação soviética, o encarceramento dos inocentes e a deportação indiscriminada para os campos de concentração gelados da Sibéria. Quando Hitler rasga o acordo com a URSS, os alemães ganham terreno, mas são os polacos cristãos que se viram contra os judeus, acusando-os de "comunistas, traidores e bufos" e culpando-os pelas mortes e pelo exílio forçado como "vassalos da Revolução". Em julho de 1941, dá-se o massacre. Cercados por uma multidão em fúria, os judeus soçobram às centenas, incluindo grávidas e recém-nascidos, encurralados e calcinados pelo fogo demente.
O episódio é mau de mais para ser ficção. João Pinto Coelho inteirou-se e reabriu uma ferida que ainda não tinha sarado. As autoridades polacas não admitem o ocorrido e, em 2018, decretam como criminosos os que insinuarem a participação ou cumplicidade dos polacos no Holocausto.
Pessoalmente, não compreendo a tentativa de ocultação dos factos nem a sanha oficial. Fica a certeza de que as vítimas também podem ser carrascos e vice-versa e que, mais do que alimentar o ódio e lamber a ferida, importa evocar os mortos e reescrever o futuro.
Profile Image for Plano Nacional de Leitura 2027.
345 reviews552 followers
March 31, 2021
Prémio Leya 2017
RESUMO:
A obra centra-se à volta das personagens Yankel e Eryk e Shionka. Eryk, escritor, procura o amigo judeu, em Paris, para que este, a partir das suas memórias, o ajude a escrever o livro, que, crê, o irá redimir. A narrativa ocorre em dois tempos: 2001 e 1934/41. Eryk, Yankel e Shionka, amigos de infância, vivem numa aldeia polaca no tempo da ocupação nazi. A perseguição e a violência exercida sobre os judeus pela população da aldeia, maioritariamente cristã, gente comum, gera atrocidades. De leitura envolvente, em que o real coexiste com a ficção, e a crueldade e o Mal coabitam entre vizinhos.
[Resumo da responsabilidade do Plano Nacional de Leitura 2027]

ISBN:
978-989-660-457-8
CDU:
821.134.3-31

Livro recomendado PNL2027 - 2018 1.º Sem. - Literatura - dos 15-18 anos - Fluente
Profile Image for Daniela Marcheva.
115 reviews60 followers
June 12, 2022
Когато лудостта надделее над човека в „Лудите от улица „Мазур“ от Жоао Пинто Коелю

Писала съм за войната, днес ще пиша пак. Не, не за войната – за човека ще пиша по-скоро. Обичам да изследвам човешката психика, да наблюдавам тихо и мислено (и не само) да анализирам, а литературата ми дава необятно море от герои и ситуации – материал за моите изследвания.

В „Лудите от улица „Мазур“ Жоао Пинто Коелю вади наяве слабостите ни, тези, прикритите зад силата, която мислим, че показваме, предоставя ни едно своеобразно огледало, в което да се видим – колко сме гнусни и урорливи, колко не можем да устоим да бъдем по-долу, колко не можем да устоим да стъпчем и да погазим, да покажем превъзходство, когато ни се удаде възможност. И майсторски прави това, развивайки две успоредни линии – една лична история, разказваща заплетените отношения между три деца, приятели, и общата история – тази, отразяваща развитието на тълпата или всъщност - точно обратното.

Любовта винаги ни сварва неподготвени – за това, което ще се случи, за трансформацията, през която ще преминем, обезоръжава ни и ни оставя податливи на най-големите ни страхове, като например - да бъдем отхвърлени, да не бъдем обичани. Ако тези страхове се сбъднат, в така оголената ни същност много лесно се загнездват злобата и идещият след нея стремеж към отмъщение, още по-силен, когато си дете. Това се случва и с нашите главни герои – Ерик, християнското момче, Янкел – слепият му приятел, евреин, и Шионка – дъщерята на вещицата, както наричат всички майка ѝ. Любовта идва при тези деца, но трима са твърде много за нея.

За фон на личната история на тримата герои, авторът ни въвежда в света на улица „Мазур“ чрез множество образи, сред които: Тадуеш, кметът на общината – „болен човек, страдащ от мании“; Шломо Пастернак – учителят, който къса кориците на книгите си, когато остане сам, само за да може после да ги подвърже наново; бащата на Ерик – златарят, за когото казват: „В един момент си бил добре, в следващия вече бил луд.“; Птицеубиеца, който със славата си на умопобъркан „определено оправдаваше прякора си“; Криша, която „вместо човешки същества, виждаше животни, и какво от това?“.

Всички тези образи са само подготовка за кулминацията, върха на човешката надменност, и всъщност показват контраста между лудите и истински лудите – тълпата от наглед нормални хора, но таещи злоба и потиснато его, желание за надмощие над другия, тези, които не могат да създават, но за сметка на това, намерили сили да рушат. Силата на омразата не трябва да се подценява – тя гнезди търпеливо и в момент на съмнение намира пролука, излиза и се вдига рязко като вълна, повдига всички страхливци и мерзавци на гребена си и в еуфоричен пристъп на безумие, бляскъв момент на величие, помита всичко, изпречило се на пътя ѝ. Омразата, за разлика от любовта, не освобождава, а напротив – приковава, пристрастява, защото дава само временна наслада, наслада, която не може да трае дълго. Омразата е наркомания за болни души. И в моменти на явна нейна изява трябва бързо да вземем страна – мразим или обичаме.

Даниела,
12.06.2022 г., София
Profile Image for Carla.
184 reviews25 followers
April 22, 2018
Não é tarefa nada fácil para um leitor fazer um comentário sobre este livro, porque nem sempre se consegue traduzir em palavras os sentimentos, as emoções e os pensamentos sobre as histórias que lemos, e uma vez mais, tal como aconteceu com a leitura de "Perguntem a Sarah Cross", o escritor João Pinto Coelho volta a deixar-nos uma tarefa muito difícil. Penso que foi uma "grande partida" que pregou, fazer-nos pensar sobre temas tão fraturantes, dolorosos e actuais, porque mais do que ler, escrever obriga-nos a uma delicada reflexão.

Antes de entrar propriamente na trama e nas suas personagens, quando acabei de ler o livro, pensei imediatamente no seguinte: há poucas semanas atrás o presidente polaco promulgou uma lei, aprovada no parlamento, que proíbe e pune com pena de prisão todos aqueles que disserem que os cidadãos polacos estiveram envolvidos no Holocausto e que mataram judeus, pois, de acordo com uma versão alternativa da história, o governo da Polónia quer fazer crer ao seu povo e ao mundo que no seu país e durante a Segunda Guerra Mundial os nazis alemães foram os únicos responsáveis pelos massacres de judeus em solo polaco. Ora, este livro, como outros que já li, demonstra o contrário, não obstante os cristãos polacos terem sofrido muito com as ocupações russa e alemã e terem também ajudado bastantes judeus polacos a esconderem-se dos nazis, com risco da própria vida.

Este livro cativa-nos desde as primeiras páginas, pois João Pinto Coelho tem uma escrita cinematográfica. Enquanto estava a ler, surgia-me frente aos meus olhos a pequena cidade do Nordeste da Polónia, com as suas casas, as suas ruas, a praça do mercado, a igreja, a sinagoga, a câmara municipal, a floresta que a envolvia, o lago, bem como a vida diária dos seus habitantes, os cristãos e os judeus, duas comunidades que se toleravam havia séculos, mas que não só não se queriam misturar, limitando muito a sua convivência, com regras bem definidas, existindo uma tensão latente entre ambas. E observei também Erik, Yankel e Shionka, as três personagens principais da história a brincarem, a crescerem e a apaixonarem-se.

Nos anos trinta do século XX, naquela pequena cidade polaca, dois amigos de infância, um cristão, Erik, e um judeu cego, Yankel, calcorreiam a cidade, percorrem o bosque, nadam no seu lago e tornam-se amigos de Shionka, filha de uma espécie de bruxa, também ela judia, habitando ambas sozinhas numa cabana no bosque. Shionka é aparentemente muda e os três amigos vivem muitas aventuras e vão descobrindo os segredos dos habitantes das duas comunidades, nomeadamente, do presidente da câmara, um homem sem escrúpulos, muito ambicioso e com complexos por ser baixo, uma beata com segredos, um cristão e um judeu imensamente ricos, que representam as suas comunidades e que lutam ambos pela posse de uma "mão encarquilhada", com muito valor simbólico, quer para judeus, quer para cristãos, um padre e um rabino que só não são amigos para não melindrarem os seus fiéis, e Pasternak, um livreiro judeu, que ensina os dois amigos Erik e Yankel, mas que um dia desaparece misteriosamente, regressando novamente para vender tudo o que tem, fundar um "manicómio", a fim internar os "doentes mentais" da cidade, e volta a sumir-se para paradeiro incerto.

Contudo, Erik e Yankel crescem, apaixonam-se ambos por Shionka, que, por sua vez, enamora-se por Yankel, iniciando os dois últimos uma relação amorosa, que muito sofrimento causa a Erik, que se vê dividido pela amizade a Yankel e pelo amor a Shionka.

Em 1939, a Polónia é invadida pela Alemanha e pela União Soviética, que dividem o território da primeira em duas partes até 1941, data em que a Alemanha invade a União Soviética e ocupa toda a Polónia. Durante esses dois anos, Erik combate primeiramente no exército polaco contra o exército alemão, regressa a casa depois da derrota dos polacos, assiste à cidade onde vive a ser ocupada pelos soviéticos e, tal como muitos homens, mulheres e crianças polacas, fossem cristãs, fossem judias, é enviado para um campo de trabalhos forçados na Rússia, de onde um dia foge.

Nesse período, o exército soviético prende por todos e nenhuns motivos quem bem entende, internando os prisioneiros no "manicómio" da cidade em condições desumanas.

Quando Erik regressa a casa, vem muito diferente, e Yankel e Shionka não entendem os seus silêncios. Aquele, cada vez mais desgostoso com o amor dos seus dois maiores amigos, sente muita raiva de ambos, sobretudo de Yankel, e afasta-se.

Até que num fatídico dia de julho de 1941, após a fuga dos soviéticos e da invasão alemã, os cristãos, que acusam os judeus de terem sido colaboracionistas dos comunistas, planeiam e executam um plano diabólico de massacre dos seus vizinhos judeus, sob o comando do execrável presidente da câmara, reunindo a população judaica, desde bebés de colo a idosos, na praça principal da cidade, levando-os de seguida para o "manicómio", onde os prendem, incendiando depois aquele local, onde a maioria dos judeus morre esmagada, asfixiada ou queimada.

Erik assiste a tudo aquilo sem nada fazer, não ajuda Yankel, que o procura desesperadamente, mas salva Shionka e foge com ela, primeiro para o sul da Polónia, e após o final da guerra, para França, dizendo à primeira que Yankel morreu.

Yankel acaba por ser salvo pelo sacerdote cristão, que tenta evitar o massacre dos judeus, mas sem sucesso, questionando-se a si próprio o que é que aconteceu a todos aqueles homens e mulheres a quem baptizou, viu crescer, casou, assistiu ao nascimento dos seus filhos, que pensava conhecer bem, pois eram homens e mulheres pacíficos e trabalhadores e cujo ódio étnico e religioso os fez transformar em verdadeiros monstros.

Todos estes acontecimentos são-nos narrados por Erik no ano de 2001, o qual se naturalizou belga e construiu uma carreira como escritor bem sucedido, e pela sua mulher Vivienne, uma editora parisiense sofisticada, com muitos segredos por revelar, que continua a contar a história daquele após a sua morte.

Erik, pouco tempo antes de falecer, começou a escrever um livro sobre a história da sua cidade, dos seus habitantes, de si próprio, da sua amizade por Yankel e da relação de ambos com Shionka, e para o conseguir, foi à procura e encontrou Yankel, quando ambos eram já idosos e doentes e Yankel era há muitos anos livreiro em Paris, com a finalidade deste o ajudar a narrar os acontecimentos passados na Polónia durante as suas infâncias e juventude.

Quero confessar que a minha personagem preferida no livro é Erik e não Yankel, apesar deste parecer ser muito melhor pessoa que o primeiro, já que não ajudou o seu amigo no momento mais difícil da sua vida e lhe ficou com a mulher amada, não obstante saber que esta nunca o amaria.

Simpatizei com Erik desde o primeiro momento, pois gosto de personagens controversas, cheias de conflitos interiores, que nem sempre tomam as decisões corretas. De facto, os seres humanos não são perfeitos, estão cheios de defeitos e têm que viver com os seus erros.

E não consigo deixar de pensar que a história se repete com a deriva autoritária e nacionalista de muitos países europeus que, em pleno século XXI, por causa do medo e da insegurança, agarram-se como pretextos à etnia e à religião para retirarem muitos dos direitos fundamentais aos cidadãos e continuarem com as perseguições às minorias, tratem-se de judeus ou de muçulmanos. O ódio de uns fomenta o ódio dos outros e os extremismos de todos os diferentes povos que vivem na Europa está a crescer muito rapidamente, os moderados são cada vez menos, e receio que o futuro nos traga novos massacres, como os que ocorreram nos anos 90 do século XX na Croácia, na Bósnia-Herzegovina e no Kosovo.

Pelo que, devemos agradecer a João Pinto Coelho por ter escrito este livro num momento tão oportuno. Pode ser que faça despertar as mentes mais adormecidas.

Foi muito difícil para mim classificar este livro, até porque as classificações numéricas são redutoras e nao espelham tudo o que pensamos: 4, 5 em 5.
Profile Image for Ana.
754 reviews174 followers
May 23, 2020
Por incrível que pareça, para alguém que é obcecada pela 2GM, aquilo que mais me agradou nesta obra e que vai ficar comigo foram os laços muito especiais entre 3 adolescentes do Nordeste da Polónia de etnias/religiões diferentes.

Desenvolvo em breve!

NOTA - 8,5/10
Profile Image for Ana.
230 reviews91 followers
January 27, 2018
Yankel, Eryk e Shionda são três jovens amigos que vivem numa pequena cidade do nordeste da Polónia onde as comunidades judaica e cristã se relacionam de forma pacífica. Eryk é cristão, Yankel é judeu e cego e ambos rivalizam pelas atenções e pelo amor de Shionda, judia e muda funcional.

O equilíbrio e a concórdia aparentemente reinantes na comunidade virão a ser corrompidos e destruídos por acção das forças invasoras, primeiro soviéticas e depois alemãs, as primeiras deportando cristãos para os gulags, as segundas fazendo eclodir um antissemitismo reprimido que culmina no massacre da população judaica da cidade por parte dos seus concidãos cristãos.

Eryk sobrevive ao gulag e Yankel sobrevive à chacina, os seus destinos apartam-se e, após o final da Guerra, acabam por estabelecer-se ambos no Ocidente, Eryk na Bélgica onde, sob o pseudónimo de Paul Lestrange, se torna um escritor conceituado, e Yankel em Paris, onde passa a exercer a actividade de livreiro.

Décadas volvidas, Eryk velho e doente quer publicar o seu livro derradeiro que o libertará do peso do passado - um livro sobre os acontecimentos vividos na cidade natal. Com esse propósito, acompanhado da sua mulher e editora, Vivienne, procura Yankel - "o amigo judeu que sempre viu muito para além da sua cegueira" - para que este o ajude a preencher as lacunas e os espaços cinzentos.

Estes acontecimentos têm por base um acontecimento verídico, como explicado por João Pinto Coelho em Nota do Autor no final do livro:

No dia 10 de Julho de 1941, em Jedwabne, pequena cidade do nordeste da Polónia, um grupo de cidadãos, na sua maioria cristão, reuniram à força os seus vizinhos judeus na praça principal e, num festim de violência, conduziram-nos até um celeiro próximo que incendiaram, queimando vivas centenas de pessoas, incluindo muitas crianças. Nos dias que se seguiram, sucederam-se as pilhagens e apagaram-e para sempre os traços seculares da presença judaica na cidade.

Com uma narrativa meta-ficcional e fragmentada, que alterna o tempo presente da acção, com o passado que haverá de dar corpo ao livro de Paul Lestrange, João Pinto Coelho conduz-nos por uma das facetas menos abordada da Segunda Guerra Mundial - a forma como as forças invasoras em confronto foram capazes de romper equilíbrios e desencadear segregações e hostilidades entre concidadãos e vizinhos, afervorando o ódio e a xenofobia. Paralelamente uma história de amor e amizades resilientes que sobreviveram à passagem do tempo e às impiedades da História.

Pareceu-me que, mais uma vez João Pinto Coelho faz uma excelente reconstituição ficcionada de um facto histórico, patente em toda a construção do cenário histórico, social e político. A ideia de criar um meta-romance pareceu-me original e, mais importante, bem efectivada, gostei da escrita e da arquitectura narrativa que, aos poucos, foi encaixando as peças e me sugou para dentro da história, tornando-se, a partir de certo ponto, difícil pousar o livro. Gostei ainda das histórias paralelas e dos personagens secundários e figurantes que ajudaram à construção e enriquecimento do cenário. Em nada me defraudou.
Profile Image for Cat.
1,161 reviews145 followers
February 5, 2018
João Pinto Coelho parece gostar de escrever histórias lentas e de deixar toda a emoção para o final. E, neste caso, foi mesmo no finalzinho.

Não me arrebatou. O tema é interessante e tremendamente brutal. Eu não conhecia estes acontecimentos e gostei que não fosse outra história passada em campos de concentração; a Segunda Guerra Mundial deve ter sido campo de tantas bestialidades... É bom que haja pessoas que escrevam sobre elas.

Mas o estilo de João Pinto Coelho não me encanta. Nem as suas personagens (talvez com excepção de Tauba e Perla?), que são imensas e algumas tão parecidas, que me baralhavam.

O livro lê-se bem, vê-se que o autor fez imensa pesquisa (foi muito interessante ler a descrição do casamento judaico), mas, lá está, para mim não é aquele tipo de história que me agarra logo.

Também não consegui perceber qual a obsessão com uma determinada necessidade fisiológica, que é imensamente mencionada para aí na primeira metade do livro. Acho que teria sido dispensável.

A caminho do final, as coisas descambam e eu teria preferido que o autor tivesse escrito o que acontece entre o final da página 265 e o início da 269 de outra forma. Não está em particular concordância com outras descrições. E eu acredito que há formas e formas de descrever a violência.

Em suma, ainda não foi desta. Seja como for, palmas para João Pinto Coelho por nos continuar a dar a conhecer momentos tenebrosos da nossa História. E por ter escolhido um evento tão trágico, quanto controverso.
Profile Image for Ana Goulart.
209 reviews36 followers
September 6, 2021
Que livro! Terrível e belo.
Não é um livro fácil de ler, logo de início. A descrição dos lugares e dos personagens é rica, mas densa, o que torna a leitura menos fluída. Mas à medida que a narrativa se vai desenrolando vamos ficando presos ao livro, que fala de uma pequena cidade da Polónia, habitada por cristãos e judeus, aquando da sua ocupação pelos russos e pelos alemães, durante a IIª Guerra Mundial. Voltei muitas vezes atrás, sobretudo para reler os episódios que caracterizavam as personagens antes da guerra, na sua vida habitual, para perceber melhor as tristes transformações que as suas vidas sofreram. É um livro que nos fala do mal que os homens são capazes de fazer uns aos outros, da loucura da guerra, da sobrevivência em situações limite. Mas é um livro que também nos fala do poder da amizade e do amor que, apesar das cicatrizes, resistem à adversidade.
Profile Image for Tania Cunha.
168 reviews14 followers
August 5, 2019
Comecei a ler o livro com a ideia preconcebida de que não iria gostar tanto dele como de Perguntem a Sarah Gross, quiçá por ter já lido algumas críticas que me conduziram a esse juízo prévio.
Não podia estar mais enganada.
A meu ver este livro é bastante superior ao Perguntem a Sarah Gross, que já de si é muito bom.
Desde logo, gosto imenso do facto de o livro se situar em vários tempos, técnica que aprecio sempre.
A história é de uma intensidade impressionante.
Muito bem escrito, transporta-nos a uma verdade histórica menos falada, em termos de anti-semitismo.
É um livro duro, mas de uma riqueza incomensurável.
6 estrelas, sem dúvida
Profile Image for Matilde Alves.
5 reviews3 followers
February 20, 2021
Demorei um pouco a pegar-me ao livro mas depois não o consegui largar. Uma história de partir o coração, muito difícil de ler. É um livro maravilhoso, com uma escrita fora daquilo a que estou habituada.
Profile Image for Joana’s World.
645 reviews317 followers
May 3, 2018
Este livro remete para a segunda guerra mundial e para um conjunto de histórias gerais e pessoais que aconteceram na altura com personagens carismáticas.
Profile Image for Bruno Paula.
27 reviews24 followers
March 12, 2018
Depois de ler "Perguntem a Sarah Gross" achei que seria muito difícil ao autor manter uma tal qualidade nas suas obras! Enganei-me redondamente!



Caro João Pinto Coelho: Bravo! Bravo, por um livro que nos enleva, por um livro que nos mergulha na vida das personagens. Bravo, por um livro que nos deixa incomodados! E bravo, por um livro que, após terminada a sua leitura, nos deixa numa ressaca imensa!

Profile Image for Monica Cabral.
249 reviews49 followers
December 12, 2021
..."Os judeus! Andavam a dar cabo dos judeus. Uns dias antes, tinha sido em Radzilow, a três horas de caminho, falava-se numa tragédia, um massacre nunca visto. E agora era a vez deles, não tinha dúvidas. Não vira o que se passara com o guarda-livros? Não dera conta dos desacatos? Havia ódio lá fora; sentia-se nas ruas, nas vozes, nos olhares; de tão escaldados, os judeus já não se deixavam enganar..."
..."Alemães? Gritou o rabino, esquecido do recato. Queria lá saber dos alemães, estava a falar dos polacos..."
João Pinto Coelho com uma escrita soberba, precisa e cheia de conhecimento, brinda-nos com este livro maravilhoso mas ao mesmo tempo, duro e revoltante.
A partir do encontro de dois amigos de infância Yankel (judeu) e Eryk (cristão) vamos saber o que de tão terrível aconteceu na Polónia a partir de 1934 até 1941 e descobrir que o antisemitismo polaco, começou antes da invasão dos alemães. A narrativa ocorre em dois tempos 2001 e 1934/ 41 e fornece-nos factos históricos e a história de 3 amigos, Yankel, Eryk e Shionka e como uma guerra e o ódio religioso destroi amizades, amores e vidas para sempre.
⭐⭐⭐⭐⭐
Profile Image for Susana.
191 reviews3 followers
October 27, 2022
Muito bem escrito, descrições que nos fazem mergulhar no livro e que fazem as personagens, locais, momentos, ganharem corpo, sem nunca cansar. Personagens interessantes, a história um puzzle que se vai construindo. Gostei de como vamos conhecendo as personagens e de como se revelam, a pouco e pouco, ao longo da história. Gostei que mesmo as personagens 'secundárias' tivessem algo a dizer ou a fazer ou a fazer-nos pensar, todos têm um papel relevante, que nos ajuda a ver de forma mais clara o que se passou numa Polónia que foi ocupada por russos e por alemães e onde compatriotas se mostraram por vezes mais violentos e sem coração do que os ocupantes. Que tristeza me dá às vezes, que revolta me provoca o género 'humano'...
Tive que parar a leitura algumas vezes, até por alguns dias. Este livro tirou-me o sono - umas vezes por não conseguir fechá-lo, outras por certas passagens não me saírem da cabeça.
Primeiro livro que li deste autor, lerei seguramente outros e recomendo a quem goste de literatura realista.
Profile Image for Sara.
614 reviews67 followers
March 29, 2020
Faço parte do "grupo" de pessoas que adorou o primeiro romance do autor (Perguntem a Sarah Gross) e que por essa razão sempre tive muito interesse em ler este segundo.
Embora também aborde o tema da Segunda Guerra Mundial, fâ-lo baseando-se num acontecimento que é muito pouco falado - a participação de cristãos polacos no massacre de judeus.

Gostei bastante. A estória é-nos contada alternando passado e presente, no entanto, é fácil seguir o autor assim que todas as personagens importantes estão apresentadas. Os capítulos curtos ajudam também na absorção da narrativa que tem relatos duros e que poderão deixar o nosso estómago às voltas.
Achei um livro triste que nos fazer refletir e ser grato por tudo aquilo que hoje podemos desfrutar e dar por garantido.

*Lido em época de COVID-19. As emoções e estado de ansiedade poderão afetar a capacidade de desfrutar da leitura.
July 31, 2024
“- 𝚀𝚞𝚎𝚛𝚘 𝚌𝚘𝚖𝚎çá-𝚕𝚘 𝚙𝚎𝚕𝚊 𝚒𝚗𝚘𝚌ê𝚗𝚌𝚒𝚊 - 𝚍𝚎𝚌𝚕𝚊𝚛𝚘𝚞 𝙴𝚛𝚢𝚔, 𝚙𝚊𝚜𝚜𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚊 𝚖ã𝚘 𝚙𝚎𝚕𝚘 𝚌𝚊𝚋𝚎𝚕𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚎𝚜𝚟𝚘𝚊ç𝚊𝚛𝚊 𝚌𝚘𝚖 𝚊 𝚊𝚛𝚊𝚐𝚎𝚖. (…) - 𝙸𝚜𝚜𝚘 𝚚𝚞𝚎𝚛 𝚍𝚒𝚣𝚎𝚛 𝚘 𝚚𝚞ê? - 𝚙𝚎𝚛𝚐𝚞𝚗𝚝𝚘𝚞.(…) - 𝙰𝚜 ú𝚕𝚝𝚒𝚖𝚊𝚜 𝚙á𝚐𝚒𝚗𝚊𝚜 𝚟ã𝚘 𝚜𝚎𝚛 𝚘𝚋𝚜𝚌𝚎𝚗𝚊𝚜 - 𝚍𝚒𝚜𝚜𝚎 𝙴𝚛𝚢𝚔. - 𝙰 𝚒𝚗𝚘𝚌ê𝚗𝚌𝚒𝚊 é 𝚌𝚛𝚞𝚌𝚒𝚊𝚕. 𝚂𝚎𝚖 𝚎𝚕𝚊 𝚗𝚎𝚗𝚑𝚞𝚖 𝚕𝚎𝚒𝚝𝚘𝚛 𝚊𝚌𝚎𝚒𝚝𝚊 𝚘 𝚊𝚋𝚜𝚞𝚛𝚍𝚘 𝚍𝚘 𝚍𝚎𝚜𝚏𝚎𝚌𝚑𝚘.”

Eryk, um escritor afamado, e a sua mulher Vivienne, editora, procuram Yankel, um velho judeu cego, dono da Livraria Thibault, em Paris. Eryk e Yankel são velhos conhecidos de infância, Eryk cristão e Yankel judeu, tendo ambos crescido numa pequena aldeia no nordeste da Polónia, palco principal desta história.

Nesta aldeia polaca, que desenhava um círculo perfeito dividido numa metade cristã e outra judia, ao fim de escaramuças que resultaram nalgumas dezenas de mortos, a paz e a tolerância instalaram-se. Mas podres. Os cristãos diziam em surdina “cada judeu é um prego espetado em Cristo”.

Eryk propõe a Yankel escrever um livro sobre o que se passou nessa aldeia utilizando as memórias do amigo. Quais memórias? Entre a verdade, alguma fantasia e acertos de contas, o livro vai sendo composto, sob o olhar atento de Vivienne, uma personagem que guarda um segredo.

Iniciamos a história com a inocência da infância dos nossos personagens principais.

Assistimos à entrada dos russos em 1939, às atrocidades cometidas contra todos, cristãos e judeus, em nome da revolução. O Manicómio da Rua Mazur começa aqui a ganhar força de personagem para, no final, ser palco do culminar da violência.

Um livro duríssimo, que às vezes apetece atirar pelo ar por tornar tão reais os indescritíveis atos de crueldade. Uma violência vivida em crescendo, para acabar num massacre final, perpetrado por pessoas vulgares como nós, mas que passam uma vida a alimentar ressentimentos contra o que é diferente e incompreensível. De repente, com uma pequena desculpa, ou mesmo sem ela, o ódio emerge e materializa-se no pior que a humanidade consegue fazer. Pior. Esta história aconteceu. Várias vezes, sempre com o mesmo alvo. O holocausto não aconteceu só por causa dos nazis. Atual? Muito.

A escrita deste livro difere dos que li do autor. Igualmente brilhante, mas mais complexa. Mas soberba, sempre.

Questionei-me muitas vezes. Porquê?

Precisarão de ler o livro para conseguirem perceber. Talvez nunca se saiba porquê, mas é preciso saber porque não. Porque não devemos alimentar mitos criados apenas com o propósito de destruir quem nos ameaça. Mesmo que a única ameaça seja existir.

Recomendo vivamente esta leitura, a terceira que faço de João Pinto Coelho, já um autor favorito!
Profile Image for Magda Pais.
Author 4 books81 followers
December 7, 2017
Gosto, honestamente, do facto de estar a acompanhar o nascimento de um escritor que, tenho a certeza, ficará para a história (bem, e do facto de ter os dois primeiros livros dele autografados, também mas isso são outras histórias). É o caso de João Pinto Coelho (só lamento que demore dois anos entre cada livro mas pronto, também não quero literatura de pronto a vestir, prefiro literatura de alfaiate).

Perguntem a Sarah Gross é, sem dúvida, o número 1. Primeiro livro do autor, primeiro livro que li dele e, para mim, o melhor dos dois. Não que Os Loucos da Rua Mazur não seja bom, que é (ou, suponho, nem teria ganho o Prémio Leya 2017) mas porque me identifiquei mais com o primeiro. Coisas de leitores, nada a fazer. E nem sequer tem a ver com a violência retratada neste segundo livro (há livros muito violentos sobre a segunda guerra mundial, alguns dos quais me deixaram com nós no estômago e que até já reli).

Os Loucos da Rua Mazur leva-nos à Polónia e à França, numa viagem no tempo e no espaço. Perde, quanto a mim, um pouco, na quantidade de personagens que nos são apresentadas a cada trecho. Às tantas dei por mim a voltar atrás para perceber quem era quem, coisa que me desagrada sempre um pouco (principalmente quando estou a adorar a leitura, como era o caso, porque tenho sempre a sensação que perco tempo precioso).

Este é um livro violento, que retrata uma noite louca, em que cristãos chacinaram judeus, os seus vizinhos, pessoas com quem tinham relações de amizade de anos. E nem sequer podem culpar os nazis que não estavam na cidade, o que vem provar que qualquer ser humano, seja qual for a nacionalidade, o credo ou a raça pode cometer actos de pura barbárie.

Estranhamente (ou talvez não) a imagem que me ficou foi a sensibilidade e a ternura em contraponto à violência que rodeava Tauba e Perla e os seus filhos bebés. Mais do que tudo o resto, é esta a parte do livro que me irá acompanhar.

Nota-se, sem dúvida, um crescimento na escrita de João Pinto Coelho neste Os Loucos da Rua Mazur que nos apresenta uma escrita mais madura, com menos diálogos e mais descrições, mais emotiva e ainda mais interessante. Claro que ainda há margem para melhorar (todos temos essa margem, pena que nem todos a aproveitem) e eu cá estarei para acompanhar esse crescimento, lendo todos os livros que editar (mesmo que tenha prometido a mim mesma comprar menos livros...)
(ver também em http://stoneartbooks.blogs.sapo.pt)
Profile Image for Raquel Silva.
126 reviews15 followers
February 15, 2018
Custou a avançar na primeira metade. Mas depois, li sofregamente a última. Alturas houve em que achei que era tudo doloroso demais e parava para assimilar as palavras, recuperar o fôlego ou o ânimo, já não sei.
Acabei de lágrimas nos olhos.
Profile Image for Mª João Monteiro.
958 reviews82 followers
March 16, 2024
É um livro que fala de histórias horríveis e de atrocidades tão mais horrendas por terem sido feitas por pessoas normais movidas pelo ódio.
Em Paris de 2001, o escritor Eryk, ou Paul Lestrange, procura o livreiro cego Yenkel para que o ajude a escrever o seu último livro,o desses acontecimentos terríveis na sua vila natal. Empreendem então uma viagem ao passado, uma viagem fragmentária e com vários focos. Alternando os tempos históricos, vamos conhecer outras personagens e outros locais. Por vezes é difícil manter o rumo e a concentração a leitura, tal como,de certa forma, acontece com quem nos conta a história. Da infância das personagens, aliadas à muda Shionka, filha de uma bruxa, a um início de idade adulta com o descobrir do mundo e o início da guerra e a ocupação russa que antecede a alemã daquela vila polaca, vamos conhecer várias personagens e os seus destinos até à noite em que a população enlouquece e faz o impensável. Esse impensável é pressentido e anunciado pelos acontecimentos ao redor.
Não leio muito sobre o Holocausto nem sobre as atrocidades decorrentes da II Guerra, muitos são pura exploração do horror. Já sei parte do que se passou e continuo a dispensar horrores. Este livro é uma das exceções que faço de vez em quando. Mostra pesquisa elaborada e sensibilidade à situação. Conta coisas horríveis que aconteceram e foram feitas por pessoas normais, não por nazis. Para mostrar que qualquer um de nós pode ser levado ao limite.
Profile Image for Betina.
90 reviews
March 7, 2021
Uma leitura que começou branda, mas que, a passo, me prendeu irremediavelmente. Cheguei a ler à pressa para chegar aos momentos antecipados. E reli muitas partes, porque as palavras, por diferentes motivos, me exigiam demora. Ainda o estou a ler sem o olhar, mas sei que o lerei novamente.
Profile Image for Sara Jesus.
1,673 reviews123 followers
March 25, 2021
Um judeu, um cristão e a filha da bruxa. Dois amigos apaixonados pela mesma mulher. Um escritor que precisa da ajuda de um cego para terminar seu livro. Mas o desfecho desse livro trará a memoria um crime imperdoável.

"Loucos da rua Mazur" expõe a verdade por de trás do massacre dos judeus na Polónia, revelando que a crueldade encontra-se onde menos se espera.
Profile Image for Manuel Cardoso.
10 reviews
December 14, 2020
O melhor livro que li este ano. Não entendo a crítica que tenho visto mais do que uma vez, de que o escritor guarda a emoção toda para o fim. É certo que o fim é algo que agarra muito mais o leitor, e esperava um pouco mais na verdade, mais umas horas de leitura, mais uma oportunidade de ver o que acontece a Yankel. Mas toda a história e a maneira como é narrada são ingredientes que facilmente me farão voltar a avaliar novamente com 5 estrelas este autor, sendo esta a segunda vez. Duro, cruel, mas de alguma forma delicioso.
Profile Image for Isabel.
171 reviews
December 6, 2021
"Sozinho no meio da rua, aquela hora esquecida, o padre vestido de negro, com a barba a drapejar, procurava a quem rezar."

E seria assim, a vender cartas....escrevia-as noite e dia, sem nunca se repetir, e fazia-se pagar à linha...."

"No dia 10 de julho de 1941, em Jedwabne, pequena cidade do nordeste da Polónia, um grupo de cidadãos, na sua maioria cristãos, reuniram a força os seus vizinhos judeus na praça principal e, num festim de violência, conduziram nós até um celeiro próximo que incendiaram, queimando vivas centenas de pessoas,incluindo muitas crianças. Aquilo que se passou em Jedwabne ocorreu noutros lugares das cercanias e, a coberto dos invasores alemães, pos a nu um antissemitismo virulently havia muito reprimido."
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