(ver série Grandes Livros - BICHOS - Miguel Torga > http://ensina.rtp.pt/artigo/bichos-de... « "Bichos" de Miguel Torga é um universo desenhado em catorze contos, onde humanos e animais partilham características e também as vicissitudes da vida, colocando questões fundamentais sobre a sociedade e a própria existência. Este clássico da literatura portuguesa, foi publicado pela primeira vez em 1940. Cada um dos catorze contos tem uma personagem: um animal humanizado ou um humano que é quase animal e todos vivem em luta com a natureza, Deus ou consigo mesmo. Diferentes entre si nas suas particularidades, estes “bichos”, animais e humanos, estão todos na mesma “Arca de Noé”, a terra mãe, irmanados numa luta igual pela vida e pela liberdade. As suas histórias, apelam à interpretação porque representam dilemas muito humanos mas partilhados quer pelos homens quer pelos animais. O Homem é, neste livro, mais um bicho entre os outros e não ocupa um lugar privilegiado na criação. Para Miguel Torga, a evolução afastou o Homem da natureza, condenando-o à perdição e, viaja com “Bichos” em busca da sua essência selvagem, da pureza dos instintos, pondo em causa Deus, liberdade, sociedade e a relação do individuo com elas.[...] » ver mais at http://ensina.rtp.pt/artigo/bichos-de...
Miguel Torga, pseudonym of Adolfo Correia da Rocha was one of the greatest Portuguese writers of the 20th century. He wrote poetry, short stories, theater and a 16 volume diary.
He was born in a village in Trás-os-Montes, northern Portugal, to small-time farmer parents. After a short spell as student in a catholic seminary in Lamego, also in Trás-os-Montes, in 1920 his father sent him to Brazil where he worked on the coffee plantation of an uncle who, finding him to be a clever student, paid his high school there and afterwards his medicine graduation (1933) at the University of Coimbra, in Portugal (to where he returns in 1925).
After graduation he worked in his village and in other places in the country, publishing his books from his own pocket for a number of years. In 1941, he established himself as an otolaryngologist physician in Coimbra. His agnostic beliefs seems to reflect in his work, that deals mainly with the nobility of the human condition in a beautiful but ruthless world where God is absent or is nothing but a passive and silent, indiferent creator.
After the value of his work was being recognized, he went on to receive several awards, as the Prémio Camões in 1989 and the Montaigne award in 1981. He was several times nominated for the Nobel Prize of Literature, being the last one in 1994, but he never won.
This work is a collection of fourteen short stories, published in 1940 by the Portuguese writer Miguel Torga. As a fable, throughout Os Bichos, the author focuses on the characters - animals whose names will shape each of the stories, as human beings with the ability to act and react to the environment through the trickeries that characterize Man.
Este pequeno livro contém catorze contos, a maioria deles protagonizada por animais. Foi uma boa surpresa a leitura destes pequenos textos. Gostei mais de uns que de outros, como é natural, e apreciei sobretudo a forma como o autor consegue descrever os sentimentos dos animais, atribuindo-lhes características que se consideram apenas dos humanos.
Algumas descrições fizeram-me sorrir como a de Mago, um gato que foi resgatado da rua e vivia agora como um lorde, mas que se queixava que tinha perdido a sua "street smart", mas não se importava de ser um lorde. :D
É claro que os mimos da D. Sância lhe haviam deformado o gosto... (...) Quanto a ratos, que necessidade tinha de perder o tempo, debruçado três horas sobre um buraco, sem mexer sequer a menina dos olhos, à espera dum pobre diabo qualquer que ressonava lá no fundo? Deixá-los viver! As coisas são o que são. Em todo o caso, ainda comia a sua pescada crua e deitava honradamente a mão a uma ou outra borboleta branca, sem falar nas andorinhas novas e nos pardalecos que filava por desfastio na primavera. Que demónio! Mais seria exagerar.
Também gostei muito da forma como galo Tenório se orgulhava de ser o manda-chuva lá da sua capoeira. A sua modéstia é avassaladora! :D
Galo! Galo e duma maneira tal, que agora no quinteiro, mal franzia a testa, tremia tudo! E então lindo! A crista caía-lhe dobrada sobre o ouvido. Um rico brinco de cada lado. E em todo o peito, sobre o papo redondo, um avental de penas que pareciam de um pavão! Sem falar nas asas, um primor de beleza, nos esporões que, de brancos, lembravam marfim, e naquela rica voz, legítimo orgulho da dona.
Senti pena do boi Miura, foi o conto que mais me impressionou, pois consegue transmitir a tristeza e sofrimento de um animal que é atirado para a arena para uma diversão estúpida e sem sentido.
Subitamente, o adversário estendeu-lhe diante dos olhos congestionados o brilho frio dum estoque. Quê? Pois poderia morrer ali, no próprio sítio da sua humilhação?! Os homens tinham dessas generosidades?! Calada, a lâmina oferecia-se inteira. Calmamente, num domínio perfeito de si, Miura fitou-a bem. Depois, numa arremetida que parecia ainda de luta e era de submissão, entregou o pescoço vencido ao alívio daquele gume.
This is delightful classic of Portuguese literature.
Published in 1940, Miguel Torga wrote 14 short (3-7 page) stories all based on what he calls his “Noah’s Ark” of animals. The stories center around a specific animal with a human name. Instead of anthropomorphizing the beasts, the stories involve some human interaction.
Bambo the toad and Uncle Arruda enjoy life; Miura the bull stares down a bull fighter; Tenorio the rooster bothers the neighbors with his early morning cawing; Clara asks the cuckoo how many years she must wait for her love to arrive. Cats, dogs, cicadas, and a host of birds round off the “beasts.”
Winters were cruel and the summers hot. The people are poor and life is hard. Faith and rural life underline the simple life. Torga’s stories reveal this reflection between humans and nature.
Yet the stories I liked best were the final two. The life of senhor Nicolau, the zoologist, is recounted, tying together all the previous stories with his thirty years obsession with recording nature. But Vicente, the crow, who escapes Noah’s ark, in search of freedom was a gem. Nothing worse than the wrath of god. Poor Noah, shaking in his boots.
A special thanks to Susana who steered me in this direction. Sorry it took so long to read.
Tinha lido este livro na adolescência e dele tinha-me ficado alguma nostalgia e a expressão do Tenório, o Galo, desafiado pelo Garnisé – “Cegou-se”. Expressão tão portuguesa, tão cheia de sentido, para quem como eu a pronuncia com um sotaque beirão em que o ditongo “ou” é arredondado e exageradamente prolongado. É uma palavra que nos enche a boca e a alma.
Nesta minha visitação de adulto à obra de Miguel Torga, tive com era de esperar uma leitura e uma visão completamente diferente da que retive na adolescência. Por ser diferente, e por saber que a mesma está referenciada para o plano nacional de leitura, tive o cuidado de verificar para que idades. Pareceu-me, assim, pelo menos no site que consultei, estar incluída para o 7º ano, ou seja para crianças com 12 anos. Este ponto para mim é importante porque ler esta obra aos 12 ou 13 anos é infantilizá-la, é fazer-lhe uma leitura literal. É ler a história e atender pouco ao significado. Para nos apercebermos das dimensões das histórias, é preciso maturidade. Eu não a tinha enquanto adolescente e duvido que as nossas “ciber” crianças estejam mais bem apetrechadas. Acompanhei a leitura do livro com as recensões que muitos utilizadores do “Goodreads” deixaram como rasto da sua actividade. Muitos deles, tal como eu releram o livro na idade adulta e o sentimento que se lhes sobrou foi de nostalgia. Mas a curiosidade é a mão cega do pecado. E não resisti a ler os comentários de quem lhes tinha dado a pontuação mínima. Não sei se era um comentário frequente, creio te-lo visto numa ou duas “recensões”. Tinham lido o livro e este tinha-lhes deixado um vazio! Não sabiam o que pensar! Não “viam” qualquer propósito naquelas histórias!
Ora este é o principal motivo pelo qual entendo não ser esta uma leitura para aquelas idades. As histórias incluídas nesta publicação foram escritas a duas mãos. Foram registadas pelo punho de Miguel Torga, mas quando lidas têm forçosamente de ser reescritas por quem as lê. Sem a cumplicidade do leitor são histórias que não atingem a sua plenitude. Estas são roteiros de uma viagem que o leitor quer fazer, e ninguém viaja nos sonhos de outrem. Os bichos de Miguel Torga, são um guia que nos leva, pelo menos em mim teve esse efeito, a um mundo rural, à nossa (minha) infância, a uma ruralidade de dificuldades, à ruralidade de um Portugal dos anos 30. Todo esse mundo está retratado nas várias histórias. Mas a viagem não fica por essas geografias. Entra no universo de humanos e outros animais, num universo de senciência, onde os sentimentos se misturam, onde humanos têm comportamento de “bichos”, e bichos têm a nobreza de humanos. É uma viagem por este universo, pela consciência de “Gaia”, mas é também um canto à universalidade da vida à sua interligação e interdependência. Não tenho a pretensão de lhe querer dar uma roupagem de “greenwashing” com que hoje se reveste tudo quanto se quer ver como politicamente correto. Mas não cometerei nenhum exagero se lhe reconhecer um amor à terra, à mãe natureza e a todos os companheiros de viagem. Um amor agreste, impulsivo e genuíno porque sem agenda. Miguel Torga era assim. Era genuíno.
Das quatorze histórias aqui colocadas, gostei como seria inevitável, mais de umas que de outras, mas há duas, a do sapo Bambo e a do toiro Miura que me deixaram os olhos embargados. Os Bichos de Miguel Torga, um livro a reler ao longo da nossa viagem, um livro cujo sentido se ilumina conforme o nosso caminho.
14 contos pequeninos, quase todos protagonizados e narrados por bichotes, como um gato, um cão, um jerico ou até um sapo.
Gostei de todos eles, mas o meu favorito é aquele que parece que não "encaixa" na colectânea, pois é protagonizado por uma jovem mulher. Falo do conto "Madalena".
Sorri perante a linguagem e os vocábulos tão típicos do mundo rural e daquele que está para além dos Montes :)
Nunca pensei que uma obra escrita no ano de 1940 fosse tão actual.
O mérito desse feito é claro fruto de Miguel Torga, o único escritor que até hoje me cativou com a sua poesia e por esse motivo decidi partir para a prosa.
Em 14 contos são abordados temas como o aborto, a velhice, a tourada, a amizade, a liberdade e até religião, entre muitos outros. Miguel Torga descreve os sentimentos e pensamentos dos animais de forma tão subtil que desde cedo percebemos que o objectivo não é defender os direitos dos mesmos mas sim os deveres dos humanos para com a Terra.
Através das pequenas histórias as crueldades e as felicidades da natureza e do homem são postas a nu, num grito de quase desespero para alcançar a mente da sociedade tão devota de si mesma.
Um dos meus contos preferidos é sem dúvida o de Madalena. Tentei adivinhar qual seria o bicho representado, quando me apercebo que sou eu, ali, no meio daquela bicharada. O Homem encontra também o seu lugar. Lugar esse para mostrar o preconceito da sociedade perante uma jovem solteira e grávida. Que subiu a montanha o quanto conseguiu para dar à luz o seu filho e enterra-lo lá para de seguida descer a montanha e regressar à sociedade civilizada.
Mas ainda acima disso eu destacaria o último conto, em que Vicente, o corvo, é a meu ver, nem mais nem menos, a representação quase imperceptível do próprio Miguel Torga. Um pássaro livre das trivialidades, da religião, da compaixão de Deus, que não precisa de nenhuma Arca de Noé para sobreviver, mesmo sabendo “Que, para salvar a sua obra, fechava melancolicamente, as portas do céu.”
30 anos depois da primeira leitura, o livro cresceu ainda mais. Ter-me tornado professora de História fez-me compreender, agora, como cada um destes contos revela um episódio alegórico da realidade portuguesa da primeira metade do século XX. Recomendado para quem não se importará de fazer pesquisa extra sobre o autor e sobre as razões pelas quais este livro foi censurado pelo Estado Novo.
Sobretudo depois de ter lido os Contos da Montanha e Novos Contos da Montanha. Este Bichos, ainda que forme uma leitura agradável e tenha personagens memoráveis, como Ramiro, o pastor, Miura , o touro, Tenório, o galo ou o Senhor Nicolau, o coleccionador de insectos, este volume fica um pouco aquém das outras duas obras de Miguel Torga.
Não deixa contudo de ser uma leitura agradável, cuja escrita congrega muito bem a arte que é contagiar de poesia a prosa, ao mesmo tempo que atinge fundo as particularidades dos Homens, muitas vezes através dos bichos.
Revisitar um dos textos mais clássicos da literatura portuguesa do século XX. Um texto que, debaixo da sua aparente candura, revela um fino olhar sobre a vida e os costumes. Através da vida dos bichos, mergulhamos na vida milenar das gentes do interior. Através das histórias benfazejas ou malfadadas dos bichos que nos conta, Torga leva-nos a olhar para a vida dura das aldeias. Feita da relação implacável da natureza - o galo mais garboso passa a ser bicho de tacho quando começa a perder o fôlego. Das tradições milenares, vistas pelo olhar de um toiro condenado à morte na arena, sem compreender o porquê. Dos pequenos amores e desamores, das vidas interiores de gentes que sendo rudes, não são por isso desmerecedoras da condição humana. Torga, na sua obra, retratou-as diretamente em contos e romances. Nos Bichos, olhamo-las de baixo, revemos as suas maneiras de viver através do olhar e pensamento dos animais que partilham com elas os espaços das aldeias serranas.
Com este livro senti uma forte ponte de ligação entre humano e animal e é sobressaído o lado animal no ser humano e o lado humano e consciente de si próprio no animal. Do ponto de vista de um animal destaca-se, mais facilmente, a pequenez de alguns comportamentos humanos face a estes e no geral, enquanto a vida do ponto de vista animal embora feita de pequenas actividades, às vezes às escondidas, é valiosa e pura.
O livro tem uma mão cheia de contos pequenos, mas que, embora pequenos, isso não põe em causa a robustez das histórias. A escrita de Miguel Torga é interessante, dá gozo ver como ele brinca com algumas palavras e faz umas frases deliciosas, embora existam partes que exigem alguma paciência para se compreender.
Foi o primeiro livro que li de Miguel Torga e a sua escrita conquistou-me logo, devido logo à nota introdutória, mas fundamentalmente à capacidade do autor de ir, gradualmente, "mudando o tom" da narração e ir tornando a coisa mais séria, começando na morte de um simples cão pachorrento e terminado num corvo que desafia a omnipotência de Deus.
Apesar de se tratar de um livro de contos, dos quais não sou a maior apreciadora, todos os presentes nesta obra tinham um ponto em comum: falarem sobre bichos e "construirem" uma pequena Arca de Noé. Ao longo da leitura tive sempre a sensação de que estes "bichos" não eram mais do que metáforas, essas que não tenho bem a certeza de ter entendido, e talvez por isso tenha apreciado mais o livro, mais que não seja por me ter despertado esta sensação de dúvida quanto à sua compreensão e talvez me levar a lê-lo de novo daqui a uns tempos.
De todos os contos, sem dúvida que "Jesus" foi o meu preferido, pela sua simplicidade e (consequente?) beleza.
Nunca tinha lido Miguel Torga. Admito que tenho um desconhecimento enorme sobre escritores portugueses do século XX, principalmente até aos anos 70, 80. E tenho, confesso, uma ideia errada da escrita, dos temas e do tipo de escritores que são. Na minha cabeça são chatos, complicados, cheios de palavras desnecessárias e pesados... Não sei quando e como é que este preconceito se instalou em mim mas acho que o estou a quebrar porque, na verdade, tenho tido grandes, e boas, surpresas quando os leio. Desconheço a maioria dos escritores da época e a verdade é que nos muitos anos de escola estes pouco ou nada são mencionados... Como é que só recentemente ouvi falar de Maria Judite de Carvalho?! Acho, sinceramente, que saímos todos a perder.
Decidi ler "Bichos" depois de ter visto na RTP1, o episódio do "O Leproso", que faz parte da mini série "Histórias da Montanha", onde cada episódio é baseado num conto de Miguel Torga. Gostei imenso do que vi e intuí que muito do que tinha gostado era fruto da qualidade de Miguel Torga e não apenas da qualidade da produção. E não me enganei.
Em "Bichos", Miguel Torga, presenteia-nos com contos sobre animais, sobre animais de duas patas mas principalmente sobre os outros animais. A maioria dos contos são contados na perspetiva dos próprios animais o que torna tudo mais interessante, curioso e muito divertido.
Gostei muito da escrita, rica e cheia de vida, muito visual, sem ser excessivamente descritiva e adorei as histórias, muito bem estruturadas e criativas.
Recomendo sem reservas e, faço questão de ter uma cópia física deste "Bichos", e também dos "Contos da Montanha". Acho que Miguel Torga merece um espacinho nas minhas estantes. :)
Vejam a mini série na RTP. São cinco episódios e está disponível na plataforma RTP Play. Vale muito a pena.
"Se eu hoje me esquecesse das tuas angústias, e tu das minhas, seríamos ambos traidores a uma solidariedade de berço, umbilical e cósmica; se amanhã não estivéssemos unidos nos factos fundamentais que a posteridade há‑de considerar, estes anos decorridos ficariam sem qualquer significação, porque onde está ou tenha estado um homem é preciso que esteja ou tenha estado toda a humanidade."
Trata-se de um livro de contos cuja leitura foi obrigatória na escola, o que não significa que não tivesse sido uma leitura agradável. É um clássico e um livro bastante interessante, que toda a gente devia ter na sua biblioteca.
Contos que me encantam sobretudo pela linguagem e o olhar genuíno dos Transmontanos. Torga perseguia regionalismos pesquisando, conversando e interrogando a sua gente, para que ficassem para sempre registados.
Foi o primeiro livro do Miguel Torga que li. De facto, imensamente bem escrito!
Os contos são de fácil leitura e muito curiosos. A personificação ajuda a que nos aproximemos das vidas dos bichos, antevendo-se até algumas reflexões interessantes sobre a vida. Mas não muito claras.
Gostei, não me arrependo de ter lido, especialmente pelo tipo de escrita. Mas não adorei. Sendo tão falado e aclamado esperava mais.
[Review from Nov 2016] Too hard for me: this one's going back on the shelf till I learn a bit more!
[Review from Nov 2017] A minha mulher trouxe uma cópia bonita deste livro quando chegou aqui no reino unido, há anos. A beleza não é porque a capa e colorida ou chique, mas sim por causa da simplicidade da capa. É branca com o nome do livro em letras vermelhas e o nome do autor em letras pretas. A contracapa é completamente limpa, sem números, sem palavras, sem código de barras.
Tentei lê-lo um ano atrás e o resultado foi humilhação. Pois, exagero, mas podes crer que não entendi patavina. Mas hoje em dia, o meu português está muito mais forte. Consegui ler muito com ajuda do dicionário. Assim como o "A Costa Dos Murmúrios", havia umas palavras desconhecidas que não se encontram no dicionário porque o seu vocabulário é muito rural, e muito antiquado. Até uns amigos portugueses disseram-me que tiveram problemas com as obras do Torga. É isso que faz o livro ficar mais interessante!
Li o livro dentro duma semana. Às vezes, li rápido em voz alta, para praticar leitura, pronuncia e compreensão. Entretanto, acenei ao comboio de vocabulário enquanto ele andava por frente de mim. Noutras vezes, li mais devagar e fiz grandes esforças para entender tudo.
Não entendi tudo. Claro que não, mas segui o enredo (mais-ou-menos) da maioria dos contos e havia momentos de claridade em que consegui ver a beleza do seu estilo. Mas havia poucos. O que mais chamou atenção foi o seu método de terminar uma historia. Não quero dar "spoilers" mas a ultima paragrafa do conto "Morgado" foi arrebatador!
E ainda por cima, o conto que acaba o livro inteiro deixou-me sem palavras. A historia decorre no Arca de Noé. Na Bíblia, Noé enviou um corvo para buscar terra não inundada, mas o corvo não voltou. Desesperado, o Noé mandou um pomba em vez do corvo e afinal o pomba voltou para a arca com uns folhas. Mas o enredo do conto de Torga é bastante diferente. O Corvo é um rebelde contra Deus e contra a sicofanta Noé. O pássaro preto não aceite o seu destino, preso num barco por causa dos pecados dos seres humanos. Arrisca a sua própria vida para voar longe do arca. Noé não ousa contar a verdade a Deus por causa do seu cobardia. Compreendendo a autonomia do corvo, Deus tenta destruí-lo com ondas e com raios e... ah, desculpa, eu disse que não queria dar spoilers...
Cando comecei a ler "Bichos" non me imaxinaba que me gustaría tanto. Tiña a idea de que era un libro menor de Miguel Torga, enfocado a lectores novos. Aí demostro que nunca antes lera nada del e que tiña pouca idea da súa obra. Ao cabo, pareceume unha estupenda colección de relatos, que casa cun tema que me interesa moito na vida e na literatura: a relación entre as persoas e o seu medio natural (ou viceversa, como neste caso). Existe moita literatura protagonizada por animais, pero nestes relatos atopei algo novo (para min) que me gustou moito: a pesar de partir da premisa, supoñemos que fantástica, de que os animais poden contar o que pensan e sinten, neste libro o que lles pasa e como o contan é moi real. Coa excepción de "Vicente", o último dos contos, diría que todos eles son relatos realistas. Podes atoparte na vida con cans, gatos, galos ou sapos aos que atribuirlles sentimentos como os de Nero, Mago, Tenório ou Bambo. Nese sentido, o libro transmíteme humildade, a dun escritor que dá o protagonismo para os animais tentando imaxinar como ven eles a súa relación coas persoas. Non nego que os contos poidan ter unha lectura simbólica, pero o que o meu ver os fai valiosos é o exercicio de tentar contar o punto de vista dos bechos, sen tratalos como metáfora de algo. Apunto tamén como aspecto moi positivo a linguaxe, non só o vocabulario, senón a construción das frases, que imaxino que será a propia de Tras-os-Montes. E polo lado negativo, só podo apuntar a sorpresa de que todos os animais fosen machos, agás unha muller.
Já andava para ler este livro há algum tempo, depois de ter lido Novos Contos Da Montanha. Após ter visto um espetáculo de dança do grupo Dançando com a Diferença que admirei bastante, achei que tinha mesmo de ler, até para entender melhor a dança e perceber de ode vinham aquelas personagens. Foi muito interessante reconhecer no livro as histórias dos bailarinos, que segundo o diretor artístico, foram escolhidos de acordo com o seu percurso pessoal para encaixarem nas personagens.
Os contos falam quase todos da morte, mas não são negros. Alguns são tristes, outros contentes, outros ainda desafiantes. São muito diversos, tal como o grupo de dança, tão diferentes e tão unidos no palco. Um zoo literário e dançante.
O que mais me fascinou nos «Bichos» foi a convergência entre o bicho e o humano. Bichos têm emoções humanas. Humanos vivem como bichos. Em cada história, o leitor perde-se ao ponto de já não saber se está a ler sobre um humano ou sobre um bicho, o que, no fim de contas, se torna uma questão irrelevante. De todos os «Bichos» de Miguel Torga, apreciei a especial subversão da cigarra Cega-rega, do touro Miura e do corvo Vicente, que se revoltaram, cada um à sua maneira, contra a moral que a tradição lhes impôs.
Este livro traz-nos catorze contos em que os animais são as personagens principais.
Eu tenho tendência a gostar pouco de contos, normalmente acho as histórias demasiado curtas, há pouco desenvolvimento de personagens, tornando-se difícil criar empatia com as mesmas.
Neste caso, achei as histórias difíceis de seguir, parecem um conjunto de divagações sem fio condutor. Acabou por ser uma leitura difícil e pouco prazerosa, mas pode ter a ver com o facto de não me identificar muito com contos.
A prosa magníficamente límpida e cantarolante da natureza na sua pujança, Miguel Torga no seu melhor! The incredibly luminous and musical prose of Miguel Torga, bringing us Nature and ita Creatures in all their might and impetus.
"Mas um dia Tio Arruda morreu. E, com a sua morte, veio novo caseiro e foi-se de Vilarinho o único homem que sabia de ciência exata quem era Bambo, o sapo."
"um homem cansa-se de regar milhão a vida inteira. Uma existência triste, a sua... Sempre a trabalhar por conta dos outros."
Neste compêndio de 14 contos, escritos de forma tão humanista e fabulística, o Homem e a sua relação com a Natureza é ponto chave. São emprestadas caraterísticas humanas aos animais e animalização ao ser humano.
Há um retrato do sofrimento, da pobreza, a fome e resistências às intempéries e crueldade do outro.
Não tenho por hábito ler contos, porque gosto de me prolongar nas histórias e desenvolver uma relação com a narrativa, mas "Bichos" surpreendeu-me. É um gesto de resistência, de ânsia de liberdade, um marco da literatura nacional :)
"A gente entende pouco do semelhante. Cada um de nós é um enigma, que a maior parte das vezes fica por decifrar."
Sinto-me dividida nesta minha opinião. Se por um lado como amante de animais senti-me incomodada com alguns dos contos, por outro entendo que em 1940, data em que foi publicado este livro pela primeira vez, existissem pessoas que vissem nos seus animais de estimação apenas um ser com o objetivo de ser útil ao "seu dono".
No entanto é curioso que Torga tenha optado por colocar esses ditos seres irracionais (que na minha opinião são por vezes mais racionais que alguns seres humanos) como narradores da sua própria história. E mais, esses narradores não veem os humanos com que vivem como "donos" mas sim como parceiros de vida.
Mas embora eu reconheça a maestria na escrita de Torga não posso deixar de me sentir incomodada com algumas histórias- o do cão de caça Nero, o do Touro Miura... Este último deveria ser lido pelos ditos amantes da tourada para terem noção do quanto fazem sofrer o outro ser que deveria merecer um pouco mais de respeito.
Este foi o primeiro livro que li de Miguel Torga, e não posso dizer que fiquei entusiasmada, de todo. Estava com bastantes expectativas, pois sempre ouvi falar muito bem sobre as obras deste autor mas, ou escolhi a obra errada para começar ou sou mesmo eu que não me sinto atraída pela sua escrita. A narrativa é bastante maçadora, apesar dos contos serem interessantes (tal como a sua perspectiva), mas de uma maneira geral agradeci o facto de os contos serem pequenos, senão não sei como seria capaz de os ler. Achei tudo bastante confuso, motivo pelo qual não recomendo esta obra.
Somos todos bichos. Uma obra fascinante e icónica da nossa literatura. Os contos têm uma sensibilidade muito própria, violenta, até cruel e procuram recriar as dificuldades da vida para além dos montes. Histórias sobre o instinto, a sobrevivência, a lealdade, traição e a natureza da vida ou da vida na natureza. Fiquei sobretudo emocionado com a serenidade perante a morte, ou com a inevitabilidade da mesma e a relação dessa perspetiva com a profissão do autor.