Rita, professora universitária, começa a ter visões de uma realidade paralela, como se estivesse o tempo todo mergulhada num aquário. Em casa, no trabalho ou na rua, ela se vê rodeada por seres aquáticos e especialmente pelo "grande peixe", uma criatura fantasmagórica que a persegue, mas que ninguém mais enxerga. Como se não bastasse, sua pele é tomada por escamas aos poucos, de forma dolorida e fantástica. Brânquias surgem em seu corpo, e isso pode significar o início ou o fim de uma jornada.
No Desafio Leia Mulheres desse ano, uma das categorias são autoras da região Centro Oeste. Tento considerar a diversidade quando escolho minhas leituras (apesar de nem sempre resistir àquela zona de conforto que gostamos tanto), e me dei conta de que nunca considerei as regiões brasileiras na minha escolha de livros. Olhando minha estante reparei que raramente saio do eixo Sudeste-Sul. Então numa busca pela internet, descobri Patrícia Baikal e seus livros.
Mulher com brânquias conta a história de Rita, uma mulher de 32 anos, dona de uma loja de porcelanas e professora universitária que vê um peixe perseguindo-a enquanto tenta seguir seu cotidiano. Além do pavor que essas visões causam, Rita passa a sofrer mudanças físicas que a aproximam dessa criatura de uma forma perturbadora.
A construção do enredo te faz ficar em cima do muro, ao menos eu fiquei, até o último capítulo. Tinha horas eu tinha certeza de que Rita esta alucinando e colocava em xeque sua sanidade, apenas para que no capítulo seguinte eu mergulhasse nas visões e as aceitassem como algo capaz de modificar nossa realidade. Essa característica do realismo mágico é o que mais me encanta no gênero. Conseguimos desvendar, compreender, o mistério por trás das visitas do grande peixe junto com a personagem, e ela mesma parece em certo nível desejar essa fantasia.
Nos primeiros capítulos, as coisas vão acontecendo, ao que parece, sem conexão. Porém, conforme vamos conhecendo os demais personagens e, principalmente, quando Rita precisa encarar algumas pontas soltas de seu passado com sua família, vamos compreendendo o mosaico que está sendo construindo.
O livro nos indaga, nos faz questionar a personagem e os fatos apresentados. Num ritmo cadenciado, mimetizando ondas, a história vai se somando. E o final ele consegue ligar tudo, perfeitamente colocado. Se quando comecei o livro eu não sabia para onde a autora estava me levando, só posso dizer que fiz bem em confiar no seu senso de direção.
Quando comecei a leitura desse livro, lembro-me de sentir pena de Rita. Todas as escamas, as visões com o Grande Peixe, os traumas de infância, a perda da tia amada tudo parecia prestes a levar a protagonista para um buraco. Em momentos otimistas, pensei que as escamas representavam a preparação de Rita para o funeral de Virgília e para a posterior experiência de quase morte, mas me enganei. Acredito que essa pode ser, sim, uma interpretação, mas acho que o final do livro explica bem melhor todo o processo de mudança da personagem. Cada escama, cada brânquia, cada bolha era, na verdade, um grande quebra-cabeça que, ao ser montado, exibia um dos maiores medos (e desejos) da personagem, e a cola de tudo isso eram as entranhas do Grande Peixe. Posso dizer com segurança que esse livro carrega uma das melhores metáforas que já vi, e que cada capítulo, parágrafo e linha existem para garantir nossa submersão nessa história, banhando-nos em águas turvas e, por fim, levando-nos para as praias de mar calmo, onde o futuro de nossa Rita reside.
MULHER COM BRÂNQUIAS Livro da autora brasileira Patricia Baikal, obra de mistério e suspense, com uma ótima narrativa em primeira pessoa, onde fantasia e realismo se mesclam naturalmente. Rita, uma mulher de 32 anos que começa a ter visões estranhas e constantes de um grande ser em forma de peixe que só ela consegue ver, causando-lhe grande medo, e numa dessas visões acaba sofrendo um corte profundo em sua mão, e estranhas escamas começam a aparecer em seu corpo, e essas transformações não são apenas físicas, mas também psicológicas, com medo de estar enlouquecendo sua introspecção a impede de relatar tais acontecimentos por vários receios. Após essas visões recebe a noticia da morte de sua tia, e Rita se vê obrigada a voltar a sua cidade natal onde as lembranças do passado são inevitáveis e algumas recordações dolorosas, como lembranças do velório de sua mãe, e nessa viagem de volta para casa se vê no meio de um mistério que circunda o passado das mulheres de sua família como o seu próprio, tento que lidar com lembranças a muito esquecidas por ela quando criança e no decorrer da história sua visões e transformações se agravam a um ponto onde se esconder não é uma opção. O livro fala sobre os sentimentos de amizade, família, medos, morte e transformações, história cheia de significados, metáforas e referências, onde a personagem entra num processo de autoconhecimento e descobertas.
Eu tinha muitas expectativas positivas para este livro que estava há anos me aguardando no Kindle e fico satisfeita em saber que não fui decepcionada.
Mulher com brânquias é um livro que se desenvolve no campo psicológico, sem muitas ações concretas ou corridas narrativas e mesmo assim é um livro super fluido, que me manteve presa a cada página. Só não li mais rápido por causa da correria da rotina diária.
Passei muito tempo tentando decifrar o gênero do livro, sem saber se a obra se tratava de um suspense psicológico ou de realismo mágico. Criei algumas teorias e fiquei aguardando uma confirmação. Qualquer dos caminhos que a autora seguisse seria interessante. Ela construiu um bom livro de realismo mágico que funciona bem mesmo para os leitores que não costumam gostar do gênero.
Eu gostei bastante dessa leitura e a partir de agora ficarei muito mais atenta ao que a Patrícia Baikal escrever.
Na verdade, não. A Rita foi só uma pobre mulher que ficou vendo um peixe gigante flutuando no mundo ao seu redor e agora, nos seus 30 anos, percebe que começou a ter escamas em sua pele, depois brânquias.
Isso mesmo ela tá virando uma piranha!!
O livro é legal, não achei nada de inovador nem incrível, mas curti ouvir o audiobook. Tem algumas coisas que eu achei meio sem sentido estarem ali, outras que eu queria que tivessem um pouco mais de desenvolvimento, mas como ele tem menos de 200 páginas, dá pra entender.
Não me conectei com nenhum personagem, então não fiquei triste ou abalado com o que aconteceu, mas mesmo assim valeu a leitura :)
Uma leitura estranha, embora eu já soubesse que seria assim. Esse livro gero bastante burburinho no ano em que foi lançado, e eu não esperava encontrar uma narrativa muito convencional. Apesar da empolgação do início, o meu entusiasmo com a história foi diminuindo com o passar do tempo e comecei a ler cada vez mais devegar. Não sei dizer o que quebrou a expectativa, acho que esperava mais a exploração do lado psicológico da personagem, sem tantas interações com outros de seu círculo social; talvez um pouco mais de horror ou de fantasia. Apesar disso, é um livro bem escrito, com temática e enredo bem diferentes do que se encontra por aí, e vale a leitura.
Primeiro queria falar das ilustração desse livro que é incrível e deixa a historia ainda mais imersiva. Foi um livro complicado de entender, toda essa historia de algo "sobrenatural", que carrega todo o pesar da solidão e de uma herança que é carregada ao passar dos anos. O prólogo do livro deixa tudo mais enigmático e a sensação de pesar e e de enfrentar seus próprios demônios deixam tudo a tona.
O livro é fluido de ler, mas as vezes fica despropositado e/ou perde o ritmo. Não é ruim, mas eu esperava mais. Explora-se pouco o processo reflexivo sobre de onde vem o processo fantástico (apenas no fim entende-se o que a autora queria dizer e, mesmo assim, a relação com os passaros fica incognita) e parte do que é só brevemente falado (como ela falar com a irmã sobre o que estava passando e abordar reflexivamente os momentos em que o fantástico aparece) poderia ser melhor explorado.
Uma feliz surpresa com esta história, uma aventura emocionante e intrigante. O livro faz uma grande alusão as frustrações do amadurecimento, como criamos bloqueios em nossa mente ou até fantasiamos desfechos improváveis por puro medo de encarar a realidade da vida.