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A Paixão Segundo Constança H.

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A obra literária de Maria Teresa Horta tem frequentemente contribuído para alterar os modelos estéticos ou comportamentais instituídos e tem muitas vezes sido, ao longo das últimas décadas, um sinalizador de mudanças essenciais, quer no âmbito literário, quer inclusivamente de alcance social.

A Paixão Segundo Constança H. traz consigo toda a violência e todo o sofrimento daquele a quem coube em sorte viver num mundo em transformação, onde os valores tradicionais da família e os afectos a que nos tínhamos habituado a considerar mais estáveis resvalam, gradualmente, para um terreno movediço e irrespirável.

304 pages, Paperback

First published January 1, 1994

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357 people want to read

About the author

Maria Teresa Horta

73 books144 followers
Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros was a Portuguese feminist poet, journalist and activist. She is one of the authors of the book Novas Cartas Portuguesas (New Portuguese Letters), together with Maria Isabel Barreno and Maria Velho da Costa. The authors, known as the "Three Marias," were arrested, jailed and prosecuted under Portuguese censorship laws in 1972, during the last years of the Estado Novo dictatorship. The book and their trial inspired protests in Portugal and attracted international attention from European and American women's liberation groups in the years leading up to the Carnation Revolution.

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5 stars
66 (32%)
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86 (42%)
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8 (3%)
1 star
4 (1%)
Displaying 1 - 30 of 39 reviews
Profile Image for Cláudia Azevedo.
390 reviews214 followers
November 29, 2020
Não conheço outra autora portuguesa que escreva e descreva tão bem o erotismo e a loucura. Algumas passagens são pura poesia. Puro prazer.
Infelizmente, Constança H. cansou-me e não conseguiu a minha empatia. Sei que não precisa dela, dirão. Nesse caso, não se incomodará com as minhas tímidas 3 estrelas. Mas são três estrelas que não esquecerei.
Ahh! Já me esquecia: não gostei da utilização do cão como arma do crime.
Profile Image for Carmo.
725 reviews564 followers
December 29, 2017
description
O Grito - Edvard Munch

"...já não sabe se terá sido ela quem lançou aquele lamento,aquele grito. Um único grito quase contido no princípio, a soltar-se, pouco a pouco.
Um único grito longo.
Dilacerado."


A prova de que este livro está muito bem escrito, é que também eu senti a impulso do grito do inicio ao fim da leitura.
Já com as personagens e a história delas não senti proximidade nem empatia. Mas isso deve-se à minha maneira muito pessoal de encarar estes amores/paixões (doença? distúrbio?) que levam as pessoas a perder o amor- próprio e a descer aos abismos em espirais de sofrimento e destruição.
Profile Image for Claudia.
345 reviews206 followers
November 12, 2017
Foi uma leitura intensa, entregue às emoções.

A história da Constança remexe os sentidos e permanece finalizada a leitura. A loucura assolapada da protagonista entranha-se gradualmente. Através de poemas, pedaços de diários e momentos narrados na terceira pessoa ficamos a conhecer a paixão da Constança por Henrique.

A descoberta da sexualidade, no espirito conservador da família. Constança desde cedo que é curiosa, procura respostas nos livros e observa atentamente o que desconhece. Demonstra uma personalidade forte, embrenhada em conflitos interiores.

Há uma inexistente ligação com a mãe que parece ter um desgosto relativo à personalidade desafiadora da filha. No hospício a mãe retira-lhe os poemas, alegando que a escrita é causadora pelos transtornos psicológicos. Inferniza, reprime, humilha.

"A mãe murmura às vezes quando me vem ver: "Ela está completamente louca", numa voz neutra, tal como agora são os seus cabelos, bem arranjados, as unhas rosadas perto do seu rosto rosado."

"... mas aqui longe, por escrito, tenho mais coragem para dizer o que penso, torna-se mais fácil enfrentar certas coisas que por hábito calo."

Surpresas trágicas unidas de erotismo são mergulhos absolutos na maravilhosa escrita de Maria Teresa Horta. Os mais atentos vão para além do que é dito, sentirão o peso da paixão na vida da Constança. O amor por um homem à frente do amor pelos filhos perturba e pode determinar os sentimentos do leitor em relação a esta mulher.

Constança é uma mulher apaixonante, louca e perturbada. Lê Clarice Lispector, Virgínia Woolf e Sylvia Plath. Escreve, expõe fragilidades. Vê na paixão nua e crua a única condição para viver. Foi surpreendentemente uma leitura visceral que deixou marcas. Fez-me enfrentar fantasmas do passado, entregar-me ao escuro da noite e ter pesadelos.

Recomendo muito. Quero ler tudo desta autora fantástica. Este livro foi lançado pela Bertrand, está à venda por apenas cinco euros.

(livro para o projeto Ler os Nossos)
Profile Image for Ensaio Sobre o Desassossego.
426 reviews215 followers
April 4, 2024
Constança apaixona-se perdidamente por Henrique. Esta é a história dessa paixão, a paixão segundo Constança H ❤️‍🔥
Publicado em 1994, com uma linguagem crua e erótica, que fala - pasmem-se! - da sexualidade feminina, presumo que tenha chocado muito boa gente no pequeno Portugal dos anos 90. Mas nada que Maria Teresa Horta já não estivesse habituada... esta mulher come conservadores ao pequeno-almoço 😉

Segundo a própria autora, este livro é o retrato das situações extremas a que as mulheres são levadas ao longo da vida. A violência, discriminação e desigualdade que as mulheres sentem acabam por levar a situações de distúrbio.

Constança vai contra os padrões da sociedade, foi reprimida durante toda a vida até que... acaba internada. Este é um livro muito violento, muito duro de ler, sobretudo as descrições da vida de Constança no hospital psiquiátrico.

Não é um livro com uma estrutura linear, não pensem que vão ler um romance típico. Há a narração típica, mas também poemas, passagens de diários, cartas, frases soltas.
É um livro muito intenso, é preciso ir de mente aberta e é necessária muita atenção. Eu adoro a escrita da autora, adoro os temas levantados, adoro a sensibilidade em contraste com a dureza da história.

Ao mesmo tempo que estava a ler este livro, estava a ler também - e por pura coincidência - "A Campânula de Vidro", de Sylvia Plath. É curioso porque estes livros encontram-se várias vezes, tem o mesmo tema principal.
Não é por acaso que neste livro Maria Teresa Horta menciona Sylvia Plath, mas também Clarice Lispector, Marguerite Duras e Emma Santos. MTH menciona mulheres fortes da literatura, mulheres loucas, apaixonadas, que não cabiam nas normas da sociedade.

Este foi o terceiro livro que li de Maria Teresa Horta - já li "Ema" e o livro de poesia "Estranhezas", e estou cada vez mais fã desta autora. Sei da importância enorme que MTH teve e tem na vida das mulheres portuguesas, a revolução causada pelas Três Marias e estou em pulgas para ler "A desobediente" 😍

Constança é uma personagem que não se esquece e este é daqueles livros que ficam para sempre na memória ❤️
Profile Image for Teresa.
1,492 reviews
October 23, 2019
Gostei muito da prosa e da estrutura do livro; a personagem principal, Constança, além de a detestar, não a compreendi. Percebo que uma mulher não tenha muita vocação para ser mãe — e, por isso, os filhos não sejam prioritários na sua vida — e que ame um homem com loucura; só não percebo, ou não aceito, que uma mulher use, engane, maltrate e fira outra mulher, a qual nem sequer tem qualquer culpa das suas dores.

Não consigo decidir se gostei ou não deste livro. Quero acreditar que não entendi, e por isso deturpei, o que Maria Teresa Horta pretendia transmitir com este romance.
Profile Image for Cata.
482 reviews79 followers
December 2, 2017
Último livro lido para o #lerosnossos. Recomendado pela @claudiaosimoes, A Paixão Segundo Constança H é uma viagem vertiginosa por uma paixão avassaladora, um ódio puro e visceral e uma boa dose de loucura.
Pecou somente na repetição desnecessária do capítulo referente à morte de Henrique. Quantas vezes tenho que ler a mesma coisa? Se na primeira gostei imenso da cena, à terceira vez já nem me dei ao trabalho de ler.
Também é importante referir que, não sendo propriamente puritana, as cenas de sexo me deixaram desconfortável, sentido-me uma voyeur.
Profile Image for Maria Ferreira.
227 reviews49 followers
December 29, 2020
É um livro que nos conta a história de Constança, o relacionamento moribundo com a mãe, que fugira com outro homem, abandonando a família, quando ela era ainda criança. Esta separação lhe deixou marcas que de certa forma justifica a sua loucura, a sua incapacidade para amar, de perdoar, de viver e ser feliz.

A paixão assolapada por Henrique, pela carne, pelo físico e pelo medo de o perder enlouquece-a e enlouquece todos à sua volta. A infidelidade de Henrique foi a gota de água que transbordou, inundando o mundo de Constança, transformando o amor em ódio.

Na mente abre-se lascas de cólera, que incendiam o cérebro fazendo-o parar de raciocinar, a sede de vingança leva à loucura. A loucura é o abismo habitado por aqueles que deixam o odio entrar dentro de si.

É uma história diferente, contada de forma diferente de todas as outras histórias. A narrativa é um conjunto fragmentado de ideias, narrado pela própria Constança, que nos dá conta do seu pensar e sentir, juntando fragmentos dos diários de Constança, Henrique e mãe de Constança, poemas escritos por Constança e Henrique. Apesar de fragmentado, as ideias estão encadeadas dando compostura ao livro não sendo por isso fastidioso.
Profile Image for João Barradas.
275 reviews31 followers
March 7, 2017
Paixão é herança
E também comunhão,
Paixão é amor
E também possessão,
Paixão é família
E também emoção,
Paixão é partilha
E também alucinação,
Paixão é prazer
E também invasão,
Paixão é abandono
E também confissão,
Paixão é perda
E também separação,
Paixão é ódio
E também confusão,
Paixão é loucura
E também negação,
Paixão é morte
E também cão,
Paixão é veneno
E também punição,
Paixão é sangue
E também perdição,
Paixão é lobotomia
E também electrocussão,
...
Uma lâmina que, no gume limado, reflecte o fogo que arde e se vê com o coração, deixando a descoberto uma mente feminista, que confusa pela literária composição musical, ficará toldada por um ponto de interrogação?
Profile Image for Janete Silva.
67 reviews16 followers
March 20, 2025
Constança C. é simultaneamente um grito de revolta e uma incrível metáfora de empoderamento. Retratar este perfil é resgatar as mulheres das masmorras da delicadeza e passividade.
Profile Image for Cristina | Books, less beer & a baby Gaspar.
452 reviews117 followers
December 11, 2017
O meu primeiro contacto com Maria Teresa Horta não poderia ser melhor! É uma escrita poética que referencia temas muito importantes e de alguma forma ainda actuais.

Conta a história de Constança, uma mulher casada, oprimida e que nos retrata as vivências dela através de memórias difusas, internada num hospital psiquiátrico. A relação dela com a mãe não é muito visível e o marido vê-a como uma louca. É um livro muito intenso, difícil até, com algum erotismo presente, que vai ter interpretações diferentes de acordo com as vivências de cada leitor/a, no entanto, penso que quem é mulher vai de certeza assimilar melhor este livro.

Adorei a poesia e vou ler mais dela!

Deixo aqui duas opiniões, em vídeo, que não são minhas. Uma é da autora (https://www.youtube.com/watch?v=VGVlK...) e a outra de Cláudia (https://www.youtube.com/watch?v=5jozs...).

#VouComprarEsteLivroPorCausaDoBooktube
Profile Image for Babi.
126 reviews24 followers
June 11, 2023
3,5*
Esta foi uma leitura angustiante. A autora conseguiu transmitir plenamente as emoções vividas pela Constança.
Profile Image for Telma Castro.
132 reviews6 followers
March 8, 2024
Este livro é um grito do universo feminino. Um grito dilacerante, cru, sem filtros, que ressuscita dores ancestrais. Um grito que dá voz a Constança, a protagonista, à sua paixão obsessiva, ao seu desejo, à traição, à sua dor e loucura. Ao mesmo tempo a autora invoca outras figuras femininas do universo literário que pretende exaltar, como por exemplo: dá voz à mudez de Maina Mendes(de Maria Velho da Costa, a quem tenho de voltar); a Mariana Alcoforado (As Novas Cartas Portuguesas, de Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno); a Lola Valérie Stein (Marguerite Duras); a Lilith, figura mitológica representativa do feminino.
Além disso, a sua prosa entrelaça-se com A paixão segundo GH, de Clarice Lispector, a quem faz um tributo, a Sylvia Plath, pela temática da saúde mental, a Virginia Woolf e à nossa Florbela Espanca.
Maria Teresa Horta faz-nos um retrato sem pudor, de uma mulher mergulhada no caos, que caminha para o abismo de olhos fechados. Como se não houvesse outra saída, como se fosse um desígnio a cumprir. Entre a euforia, o transe e apatia total, Constança lê e escreve para expurgar a dor e a solidão da ala psiquiátrica. Tudo isto numa escrita amoralmente bela e profunda, com muito para ler nas entrelinhas.
Recomendo muito.
Profile Image for Cat.
800 reviews86 followers
March 20, 2019
a forma que a autora utiliza para contar a história (excertos de diários, poemas, frases soltas, etc etc) são extremamente interessantes e o destaque deste livro. porém, tendo em conta os temas e emoções fortes retratadas, devo dizer que me deixou muito pouco impressionada ou tocada. peca pela repetição e execiva "mastigação" dos mesmos momentos e sentimentos. e admito também que o tema da loucura de paixão não me captiva assim tanto.

de qualquer das formas, uma leitura rápida e muito interessante.
Profile Image for Marta Clemente.
747 reviews19 followers
August 2, 2024
Desconcertante!
Constança, internada numa instituição psiquiátrica, vai-nos dando a conhecer os seus pensamentos, a sua história, as suas reflexões. Com alguns apontamentos de "voz off" pelo meio. Com poemas da "sua autoria" perdidos nestas páginas.
Tão bem escrito! Tão cru!
Gostei tanto!
Profile Image for Sónia  Teixeira.
163 reviews16 followers
September 4, 2018
Inesperado e intenso, este livro lembra-me muitas escritoras latinas e que já li e o seu sempre presente elogio à mulher, mesmo quando mostra os seus piores lados.

Da mesma escritora já tinha lido o "Meninas" e que gostei muito, e este iguala-se em narrativa forte, deixando no ar um perfume suave a conspiração e o leitor com um pensamento intrigante sobre o que realmente se terá passado.
Profile Image for Beatriz.
23 reviews
October 8, 2024
Reads so well, mixing different timelines and poetry which is super cool. Also, really appreciate the way the author explored female sexuality and desire in such an honest way despite the censorship that usually follows female pleasure.
The story itself though... I didn't love it. It's a bit too long, and I didn't feel the main character had much of a personality besides being obsessed with her lover. Cool for a while, then stale.
Profile Image for David Pimenta.
373 reviews19 followers
January 28, 2015
Maria Teresa Horta lançou A Paixão Segundo Constança H. em 1994, um dos óptimos livros de prosa lançados por uma escritora tão reconhecida pela sua obra de poesia. Maria Teresa é oriunda, pelo lado materno, de uma família da alta aristocracia portuguesa e um dos seus famíliares é a celebre poetisa Marquesa de Alorna. Leonor de Almeida, nascida a 1750 em Lisboa, foi alvo de uma das obras mais recentes e reconhecidas da escritora, As Luzes de Leonor. Um livro que está na lista dos meus desejos mas a leitura ainda não foi concretizada pelas mais de mil páginas de romance sobre esta marquesa. Por essa leitura estar longe de acontecer, decidi comprar este livro em promoção na Bertrand (por vezes os saldos são demasiados tentadores!).



A Paixão Segundo Constança H. foi relançado em 2010 pela Bertrand Editora e é mais uma prova pela igualdade entre homens e mulheres e pela liberdade do sexo feminino. Uma liberdade retratada na forma como a autora escreve, nos poemas colocados nesta obra e na forma como está escrita e dividida. Não é livro propriamente fácil e com uma lógica simples. Em quase 300 páginas, cada “capítulo” está condensado, no máximo, em quatro páginas. O leitor fica a conhecer partes do diário da protagonista, Constança H., cartas enviadas ao marido, na loucura dos seus sentimentos e sensações, e outras com descrição dos acontecimentos no presente.

Constança é uma mulher movida pela força dos desejos. Casada com Henrique H, por quem tem uma paixão ferverosa e fatal em algumas ocasiões. Uma paixão que a leva a cometer loucuras, a esquecer o instinto maternal, na minha opinião. Pode ser castrante observar na balança da relevância dos filhos para Constança: por um lado é devota aos filhos, preocupada e com medo de ser levada deles e por outro é consumida pela paixão que sente pelo marido, pela paixão da sua vida. Uma paixão que a leva à loucura a partir do momento em que Henrique lhe admite que dormiu com outra mulher, uma única vez em que não houve significado nenhum. A partir desse momento, o amor misturado com a força da paixão leva-a a cometer atrocidades. Desde o início que o leitor não sabe se ela está internada no hospício ou não. A loucura balança nas descrições de Maria Teresa Horta e pode, em certas alturas, confundir o leitor. Até chegar a um final cheio de brutalidade, consequência da paixão. Uma consequência que pode não ser vista de uma forma negativa, atenção!

Deixou-me a pensar, a refletir sobre a intensidade das relações entre seres humanos. É sem dúvida aconselhável.

4/5
Profile Image for Catarina de Vasconcelos.
58 reviews12 followers
April 17, 2019
Li este livro em menos de 24 horas. Comecei no sábado à noite e terminei no domingo à tarde. Talvez só isto seja suficiente para explicar o quanto este livro mexeu comigo e o quanto me deixou atordoada, ao ponto de não conseguir desligar até ter chegado ao fim [se é que se pode dizer que este livro tem um fim].

Quando li a sinopse, e vi que se tratava de uma história de uma mulher traída e levada à loucura, nunca pensei na enxurrada de emoções que este livro trazia guardado em si. Porque é mesmo esse o termo que, para mim, melhor o define: uma enxurrada de emoções.

Ao longo das páginas, vamos acompanhando Constança H.: a paixão avassaladora, louca e obsessiva de Constança por Henrique. Mas também mais, muito mais do que isso. Vamos acompanhando uma Constança profundamente sozinha, uma Constança que foi abandonada, primeiro pela mãe, que saiu de casa, depois pela avó [o seu porto seguro] que morreu e, por fim, por Henrique, que a traiu. Vamos acompanhando [e vivendo, e sentindo] a crescente "loucura" de Constança, uma loucura que a leva a cometer um crime e à consequente clausura num hospital psiquiátrico, onde recebe um tratamento atroz que só serve para aumentar ainda mais a sua angústia.

Ao chegar ao fim, percebi que Constança não é só uma personagem de um livro. Constança - mulher, esposa, amante, filha, neta, mãe, poetisa, apaixonada [irremediavelmente apaixonada], solitária, amargurada, abandonada, triste, louca - representa muitas e muitas mulheres, quem sabe um pedacinho de cada uma de nós. A loucura de Constança, provocada por uma paixão também ela louca, é-nos familiar. Porque nós, mulheres, desde o início dos tempos que amamos em demasia, que nos entregamos sofregamente a esse sentimento tão contraditório. E quantas e quantas mulheres não enlouqueceram ou foram consideradas loucas por sofrerem de amor, por se levarem até ao limite desse sentimento que tem tanto de belo como de destrutivo se não for doseado na medida certa. E, pergunto-me, haverá uma medida certa?

Reflexões, muitas reflexões que este livro provocou em mim. Ainda tenho o coração em sobressalto, só por recordar algumas passagens. Mais um livro que recomendo e que ficará gravado na minha memória [e que, certamente, quererei voltar a ler daqui a uns anos].

Quanto a Maria Teresa Horta, não tenho palavras suficientes e adequadas para descrever essa mulher tão genial. A sua obra é magnífica e a sua história uma lição e um exemplo para todas nós, mulheres.
Profile Image for Graciosa Reis.
532 reviews52 followers
June 1, 2025
𝑨 𝑷𝒂𝒊𝒙ã𝒐 𝒔𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒐 𝑪𝒐𝒏𝒔𝒕𝒂𝒏ç𝒂 𝑯., de Maria Teresa Horta (MTH), é um romance poderoso e perturbador que mergulha no universo feminino, tal como em toda a sua obra, explorando temas como amor, ódio, loucura, traição, identidade e morte. A narrativa acompanha a paixão de Constança H., e explora a sua transformação emocional após descobrir a traição de Henrique H., o seu marido, levando-a a um estado intenso de emoções e reflexões que lhe permite desenvolver um obsessivo desejo de vingança. A transformação interior de Constança H. é levada ao limite, marcada pela dor da traição e pela obsessão erótica do desejo e do corpo. “ (E o desejo? Que dizer do desejo; sempre a formular o corpo…)” (p.79)

A obra está estruturada por textos breves entre páginas brancas e integra poemas, múltiplas epígrafes colocadas entre parêntesis, títulos e citações de outras obras que espelham paixões, registo de sonhos e de alucinações, cartas ao marido, excertos de diários, referências a obras de escritoras que se alinham com o seu pensamento, como Clarice Lispector, Sylvia Plath, Mariana Alcoforado, Virginia Woolf, Maria Velho da Costa, Marguerite Duras, Florbela Espanca, …
Todos estes fragmentos funcionam como ecos de verdade e evidenciam a fragmentação do “eu”, a busca de identidade perdida na dor que a deixará “consumir pela paixão até ao sangue” (p. 295), a perda e o ódio que a conduzirão à loucura, ao abismo.
“E a dor continuava, tumefacta. A sensação de perda envenenando-a, espalhando a morte dentro de si.
O ódio.
O começo do ódio a engrossar, sem remédio, no seu peito, tentacular, repetitivo (…)”. (p. 23)

Ao longo das páginas, assistimos ao grito dilacerante de uma mulher traída e vulnerável. Assistimos ao medo da sua “desorganização interior”, ao medo dos tratamentos e dos choques eléctricos, ao medo dos seus fantasmas. Assistimos à paixão doentia de Constança H.. Assistimos ao crescendo da sua loucura e ficamos arrasados.

A escrita poética e erótica de MTH é marcada pela sua sensibilidade e pela profundidade com que aborda as relações humanas e os desafios da mulher na luta contra as convenções sociais, nomeadamente na forma de encarar a sexualidade. Ela subverte a ideia de pecado associada ao acto sexual e exalta livremente o corpo e a descoberta do prazer feminino.

Pelo título e pela epígrafe inicial posso intuir que este romance estabelece um diálogo com 𝑨 𝑷𝒂𝒊𝒙ã𝒐 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒐 𝑮.𝑯., de Clarice Lispector. Como ainda não o li, fica a promessa de o fazer brevemente para descobrir as consonâncias e dissonâncias presentes nas duas obras. Vai ser, certamente, uma leitura prazerosa porque também gosto da escrita de Clarice Lispector.
Profile Image for Gonçalo Ferreira.
283 reviews11 followers
December 4, 2024
(...)
Ouve o arrastar dos passos das doentes do lado de fora de quarto, ao longo do corredor. Os gritos são logo abafados quando alguém os solta. Treme de frio sob os cobertores demasiado finos que não defendem do gelo que a madrugada assume durante o Inverno. Por isso sabe que é Inverno, pelo enregelamento que a faz soluçar baixinho. Desde que Henrique morreu que ninguém a vem visitar. Lê e relé os livros que ele trouxera a seu pedido: Duras, Sylvia Plath, Clarice Lispector... Vidas femininas que se alinham ali, à sua beira, que vai desfolhando, quem sabe se pela loucura... Emma Santos, Florbela Espanca, Zelda Fitzgerald...
O silêncio morre fora dali. Daquele enclausuramento de paixões e inquietação, (...)
Morrer seria um bálsamo?
(...) Reconhece-se em cada parágrafo: na mudez de Maina ou na insanidade apaixonada de Lola Valérie Stein, na imponderabilidade de Mariana Alcoforado....
E permanece acordada, madrugada dentro, rememorando as cartas que lhe traziam o seu nome de volta e o de Henrique, como se ao longo dos séculos se tivessem encontrado, ciclicamente amado e morto.
Dilaceradamente."
(...)
Maria Teresa Horta, A Paixão Segundo Constança H.
(pág.56)
Profile Image for Joana.
889 reviews23 followers
May 12, 2024
I've been reading my big share of good toxic books this year, this one joins the list with a beautiful entry!!!
A capacidade de entrar dentro da cabeça da Constança H. é uma dor linda e magnífica, a possibilidade de vermos a obsessão e a sede e o querer pelo Henrique, mas todas as outras emoções que vêm, e o aumento da tortura na mente dela... e depois toda a relação com a Adele é tão boa e doentia - eu quero o pov da Adele!!! - fez me lembrar, para quem leu A Song of Ice and Fire, as cenas entre a Cersei e a Taena, e em como nunca é sobre quem está contigo.
A nível da construção do livro, o facto da história em si não ser linear e de ter aquelas pequenas entradas passadas no futuro, num momento que é claramente após-algo, cria uma antecipação no leitor, e um efeito próximo do terror muito interessante e inquietante, em que faz uma pessoa não querer parar de ler!!!
Uma grande recomendação para todos que gostam de boa dose de toxicidade nas vossas relações (ficcionais apenas, eu espero), e mais uma vez, agradeço à minha amiga Sandra pela ótima sugestão!!
Profile Image for Inês Botelho.
Author 9 books77 followers
September 26, 2018
A história de Constança H., da paixão que lhe pulsa, arde. Cruzam-se no livro capítulos narrativos, poemas, epístolas, e passagens diarísticas, numa linguagem com repetições propositadas que redemoinha, se entranha, contribuindo para a compreensão do caminho de Constança, da sua luta quer pela sanidade quer pelo direito à loucura, a pelo menos um certo tipo de loucura de algum modo tornado fonte de evasão e liberdade perante os limitados percursos que durante séculos constrangeram as mulheres. E nesse sentido de consideração da experiência feminina, entre intimidades, erotismos, e memórias, a narrativa evoca uma panóplia de mulheres reais e personagens feminis ligadas às letras, à música, às várias artes. Um texto multifacetado que se abre a diversas leituras.
Profile Image for Ana Isabel.
75 reviews
July 9, 2018
Uma leitura carregada de emoções, onde sentimos as angústias da protagonista.
Uma escrita estremamente gráfica onde a autora nos transporta para o mundo de Constança através de descrisões repetitivas de acontecimentos, dos poemas e de partes do seu diário.
É uma história sobre relações. Uma história profunda, confusa, angustiante.
Gostei imenso da escrita da autora.
Recomendo.
Displaying 1 - 30 of 39 reviews

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