Jump to ratings and reviews
Rate this book

Memorial de Aires

Rate this book
Memorial de Aires (1908) é o último romance de Machado de Assis, e o segundo atribuído ao último dos seus autores ficcionais, o conselheiro Aires, diplomata aposentado que já aparecera no romance anterior, Esaú e Jacó (1904). Aqui, encontramos o diário do conselheiro nos anos de 1888 e 1889, curso de anotações em que Aires segue e comenta sobretudo a vida do velho casal Aguiar e as peripécias da peculiar relação com a bela viúva Fidélia e o jovem Tristão. Ainda digressivo e irónico, vive mais da escrita do que do enredo, magistralmente tecido sem tensões nem conflitos. Prevalece a melancolia sobre a galhofa, mas sempre num tom de serenidade e com uma agudeza que fazem de Memorial de Aires um dos mais belos testemunhos da velhice da literatura em língua portuguesa.

180 pages, Paperback

First published January 1, 1908

40 people are currently reading
1060 people want to read

About the author

Machado de Assis

915 books2,448 followers
Joaquim Maria Machado de Assis, often known as Machado de Assis, Machado, or Bruxo do Cosme Velho, (June 21, 1839, Rio de Janeiro—September 29, 1908, Rio de Janeiro) was a Brazilian novelist, poet, playwright and short story writer. He is widely regarded as the most important writer of Brazilian literature. However, he did not gain widespread popularity outside Brazil in his own lifetime.
Machado's works had a great influence on Brazilian literary schools of the late 19th century and 20th century. José Saramago, Carlos Fuentes, Susan Sontag and Harold Bloom are among his admirers and Bloom calls him "the supreme black literary artist to date."

Ratings & Reviews

What do you think?
Rate this book

Friends & Following

Create a free account to discover what your friends think of this book!

Community Reviews

5 stars
316 (25%)
4 stars
479 (38%)
3 stars
344 (27%)
2 stars
88 (7%)
1 star
15 (1%)
Displaying 1 - 30 of 93 reviews
Profile Image for David.
1,682 reviews
August 27, 2019
Words to remember: “The dead are depressing; old people are even more depressing.”

This book starts in a cemetery. Rita and the retired diplomat Aires are commemorating their lost ones; her departed husband and his parents. Aires has just returned from thirty years in Europe. Back to Brazil where he plans to retire, and of course, die.

They see a young widow, daughter of a Baron and who is also paying tribute to her husband in the cemetery. A bet is made. Will the young widow marry again? Ah something for the old people to gossip about. After all, what else do they have to look forward to in their old age? Card games, dining together and of course, telling stories.

What should be a rather bleak story is surprisingly amusing love story. Rita and Aires’ good friends are the godparents to Tristão, who has returned from Lisboa. He wants to enter into Portuguese politics and this is just a visit. The widow Fidélia vows she will never marry again but she is attractive, plays piano and paints. Will the young couple meet and fall in love?

Aires tells his story via a diary over the course of 1888 to 1889. This is a tumultuous times in Brazil as they have voted in to abolish slavery. Brazil wants to forge ahead, looking to America as an example while Portugal is still the homeland.

During the two years, the old people attend funerals. Some are stuck at home when their rheumatism acts up. Friendships end abruptly. Their old ways are changing. So how can one not get caught up in the drama of young love?

Considered to be Machado’s last novel, this one entertains. Sometimes, a little depressing as I get closer to the ages of the “old people” but still enjoyable to the end. What best way to record life as a memorial? Perhaps a distraction from one’s life is best. At least a good story ensues.

Thanks Luis once again!
Profile Image for Paula Mota.
1,662 reviews563 followers
October 16, 2021
#emsetembrolemosBrasil

3,5*

Gosto de diários, preferencialmente publicados em vida ou ficcionados, quer relatem acontecimentos e observações, quer meditem sobre a vida ou falem de minudências. “Memorial de Aires” tem todas essas componentes.

Deixei-me ficar a condenar o meu pobre jantar, que foi ruim, só o frango prestou e a fruta, menos as peras...

Que pode valer a loja de um barbeiro que eu via por esse tempo, com sanguessugas à porta, dentro de um grosso frasco de vidro com água e não sei que massa? Há muito que se não deitam bichas a doentes; elas, porém, cá estão no meu cérebro, abaixo e acima, como nos vidros. Era negócio dos barbeiros e dos farmacêuticos, creio; a sangria é que era só dos barbeiros. Também já se não sangra pessoa nenhuma. Costumes e instituições, tudo perece.


Este diarista, porém, não é totalmente sincero e confessa-o:

Fique isto confiado a ti somente, papel amigo, a quem digo tudo o que penso e tudo o que não penso.

Na verdade, não simpatizei com este Conselheiro Aires. Achei-o um pouco frio, dissimulado e até malicioso. Partindo de uma aposta que fez com a irmã Rita em relação ao possível casamento de uma viúva muito bela que vêem no cemitério e que faz parte do seu círculo de amizades, não me parece que os seus comentários sejam os mais graciosos ou generosos.

Quem sabe se aquela afeição de Dona Carmo, tão meticulosa e tão serviçal, não acabará fazendo dano à bela Fidélia? A carreira desta, apesar de viúva, é o casamento. (...) Ela entregue a si mesma, poderia acabar de receber o noivo, e iriam ambos para o altar; mas entregue a Dona Carmo, amigas uma da outra, não dará pelo pretendente, e lá se vai embora o destino. Em vez de mãe de família, ficará viúva solitária, porque a amiga velha há-de-morrer.

Importante notar que Dona Carmo tem 50 anos e, mesmo sabendo que a esperança de vida no século XIX não era a mesma de hoje, muita impressão me causou que Aires se referisse a ela sempre como a velha, a boa velha, aquela que não pode viajar porque está muito velha. Se ele próprio tem 60 e muitos e Fidélia 30 e tal, não compreendo este epíteto. Além de velhinha caquética, Carmo Aguiar é uma senhora cheia de qualidades cujo maior desgosto é não ter sido mãe e que transfere o seu afecto e instinto maternal para dois “filhos postiços”: a bela viúva Fidélia e o jovem Tristão que em pequeno partiu para a Europa com os verdadeiros pais. Aliás, todas as personagens femininas são descritas de forma tão benévola que se tornam unidimensionais e parecem uma só pessoa. Não é por isso de estranhar que muitos críticos vejam Rita, Carmo e Fidélia como versões da mesma pessoa, a mulher de Machado de Assis, Carolina, que havia morrido poucos anos antes. Também ela nunca teve filhos, mas foi dona de um cãozinho que muito estimava, como se conta acerca da senhora Aguiar nesta obra.
A única mulher que destoa das restantes em “Memorial de Aires” é a Dona Cesária, que anima um pouco os serões.

As duas senhoras não sofrem comparação entre si, e para conversar Dona Cesária basta e sobra. Eu conheci na vida algumas dessas pessoas capazes de dar interesse a um tédio e movimento a um defunto; enchem tudo consigo.

Tendo lido somente contos e novelas de Machado de Assis de que muito gostei, confesso que esta obra não ficou entre as minhas preferidas. Arrasta-se um pouco no convívio típico de serões, jantares e almoços, e o pouco enredo, aquele que previa praticamente desde o início, só se desenvolve mais para o final e, ainda assim, de forma muito suave, havendo entretanto, e compreensivelmente, muitas referências a mortes, viúvos, cemitérios e velhice.

Nada há pior do que gente vadia – ou aposentada, que é a mesma coisa; o tempo cresce e sobra, e se a pessoa pega a escrever, não há papel que baste.
Profile Image for Jonfaith.
2,145 reviews1,745 followers
November 13, 2013
In fact if it really was a tear, it was so fleeting that by the time I was aware of it no longer existed. All is transient in this world If my eyes were not so bad I'd set about composing another Ecclesiastes, a modern version, even though after that book nothing can be considered modern. He said that there was nothing new under the sun, and if there wasn't then, there wasn't before and never will be again. Everything is contradictory as well as confused.

The Wager is comprised of the journal entries of a widower, a retired diplomat returning to Brazil from a career spent in the capitols of Europe. Hs entries contrast with what he purports to say publicly. This creates an interesting tension. The title arrives in a challenge between he and his sister about the fate of a young widow. One should not harbor images of Dangerous Liaisons as this is something placid. It isn't epistolary like de Laclos, though similar passing comments are extended to peasants, in this case newly freed slaves. There is a remarkable poise to this work. The diarist remains rather self critical, especially in regards to how matters should be represented. I admired that. He complains and admits to being petulant, he ascribes such to being afforded a childhood, free from having to carry things.

The song Silent Boatmen by Parliament arrived on my shuffle yesterday while I was driving home. This unexpected statement fell into accord with the whispered core of The Wager. I must warn thee, the conclusion isn't for the meek.
1,212 reviews164 followers
July 13, 2020
If Merchant and Ivory could have"gone Brazilian"

Counselor Ayres, the character, was first found in Machado de Assis' previous novel, "Esau and Jacob" just as Quincas Borba appeared in "Epitaph of a Small Winner" before becoming the main character in another novel. The present volume is rather slow, perhaps "slight" is a fair word, and may leave action-oriented modern readers a little bored. The author shuns his usual catchy chapter titles in COUNSELOR AYRES' MEMORIAL, but he still uses his usual format of dividing the text into short sections because the novel is written in the form of a diary. While Machado de Assis shows in his usual, subtle way, that love is the glue that can hold both individuals and society together, the progress of the novel is languid and the text lacks entirely the wit and irony of his earlier works. Yet I found beauty in the book and sensed the nostalgia for a slower time.

We read a gentle story of an older diplomat (retired) watching the relationships develop and change among four or five other people in the Rio de Janeiro upper class of 1888-89. There is an attractive widow dedicated to her dead husband whom she had married against the wishes of her family; the godson of a doting old couple, who had been childless, who returns to Rio after many years in Europe; the old couple themselves who love both widow and godson equally as the children they never had; a sister, an uncle, a malicious gossip---these are the characters we find moving in slow motion through the pages of a diary that reveals, but only slightly, the state of society in Brazil at the time. Slavery was abolished, the Empire had just come to an end, but Machado de Assis wrote more of playing cards, oil painting, piano recitals, and attendance at very European tea parties. It is a novel of a class that ignored the times, a class entirely wrapped up in its own interrelationships.

If you like the films of Merchant and Ivory or perhaps of Indian director Satyajit Ray, if you have a taste for novels that unfold slowly, at their own pace, you may like COUNSELOR AYRES' MEMORIAL because great events and intricate plots are not everything. Personally, I liked this novel, but as I found myself getting a little impatient at times, (and I like those Merchant and Ivory films) I wonder if it would appeal to many in our more-rushed age, hence the three stars. If Jorge Amado's wonderfully-descriptive novels of 20th century Brazil recall the samba and sexual vitality, Afro-Brazilian religion, change, and violence, this novel is more evocative of the piano adagios heard from afar on long-forgotten, hot January afternoons in bougainvillea-filled gardens of the vanished Brazilian aristocracy, and of people too "cultivated" to ever reveal their feelings in public.
Profile Image for Celeste   Corrêa .
381 reviews322 followers
October 22, 2020
«Memorial de Aires», publicado em 1908, ano da morte do escritor, é o último dos nove romances de José Machado de Assis.

É um diário de factos, impressões e ideias (talvez com alguns dados autobiográficos) escrito pelo conselheiro Aires, diplomata aposentado, que regressa definitivamente ao Brasil em 1887, instalando-se no Rio de Janeiro.

Com um humor simultaneamente subtil e melancólico retrata a sociedade carioca do final do II Império; cria personagens inesquecíveis e conta uma história muito terna e muito humana.


Recorre a alusões literárias nas situações mais imprevisíveis e comoventes, daí que o seu sentido de humor seja sofisticado e requintado.


Talvez o livro mais nostálgico de Machado.



«Ao fundo, à entrada do saguão, dei com os dois velhos sentados, olhando um para o outro. Aguiar estava encostado ao portal direito, com as mãos sobre os joelhos. D.Carmo, à esquerda, tinha os braços cruzados à cinta. Hesitei entre ir adiante ou desandar o caminho; continuei parado alguns segundos até que recuei pé ante pé. Ao transpor a porta para a rua, vi-lhes no rosto e na atitude uma expressão a que não acho nome certo ou claro; digo o que me pareceu. Queriam ser risonhos e mal se podiam consolar; consolava-os a saudade de si mesmos.»
Profile Image for Luciana.
516 reviews160 followers
April 29, 2021
Última obra publicada em vida por Machado, Memorial de Aires traz de volta ao leitor a influência e semelhança de seus primeiros romances publicados: Ressurreição e A Mão e a Luva; uma vez que com uma narrativa menor, mas não menos interessante, narra os pormenores que acompanham um típico romance da época.

Ambientada no Rio de Janeiro, como é de praxe, estamos diante de uma espécie de diários do conselheiro Aires, diplomata aposentado que se fez presente na obra Esaú e Jacó, sempre servindo com discrição para solucionar ou lançar luz as questões que afligiam os jovens.
Não diferente é o que ocorre na presente obra, Aires está em todos ambientes, cercando-se da família Aguiar, amigo querido desses, acompanha os infortúnios e felicidades com a volta dos moços tão bem-quistos pela família.

Com a presença da viúva Fidélia e com a volta de Tristão de Portugal, a narrativa sofre uma espécie de reviravolta, dado que os planos do casal Aguiar mesmo se concretizando, não saem como o esperado. Ademais, como é caro de Machado, em Memorial de Aires, é possível observar as principais mudanças da época, como o fim da escravidão, assim como foi possível observar a mudança de regime monárquico para republicano em Esaú e Jacó, culminando, portanto, em uma ótima obra, que muito relembra, quanto a forma, A Trégua, de Benedetti.
Profile Image for Oziel Bispo.
537 reviews85 followers
April 26, 2019
O Conselheiro Aires depois de se aposentar retorna do exterior para o Rio de Janeiro para viver com sua irmã Rita .Aires começa então a escrever um diário, correspondente a um período de dois anos 1888-1889. Aires que fora Diplomata é uma pessoa muito calma, sossegada e usa isso muitas vezes para resolver questões suas e de seus amigos que exigem um pouco de tato.

Nesse diário Aires coloca todas as suas observações pessoais a respeito das pessoas do seu convívio onde tece opiniões a respeito dos personagens como uma forma de se relacionar com  os mesmos e fugir da solidão da velhice.

Assuntos não faltam ,pois há vários personagens da qual o Sr Aires se ocupa .

Há a bela viúva Fidélia  que não consegue esquecer o marido morto. Há o casal Aguiar (sr. Aguiar e Dona Carmo), que sentem um vazio muito grande porque não têm filhos. Há Tristão, filho de amigos de D. Carmo. Enfim há muitas pessoas para Aires e sua irmã fofocarem.

O livro é também autobiográfico, pois retrata a solidão de Aires assim como também Machado de Assis teve esses momentos de solidão,pois quando da escrita desse livro  tinha se tornado recentemente viúvo. Esse foi o último livro de Machado de Assis (1908). O autor morreu também neste mesmo ano.

Um livro que apesar de ser moroso , nos  brinda com a exuberância e inteligência com que o conselheiro  Aires penetra na alma ,na vida dos personagens deixando os quase nus. É   uma delícia de se ler.
Profile Image for Steven R. Kraaijeveld.
559 reviews1,925 followers
September 28, 2017
"There is nothing like the passion of love to give originality to what is commonplace and novelty to what is dying of old age. (146)
The Wager or Memorial de Aires is de Assis's final work, completed several months before he died. It is written in diary form, containing the daily accounts, reflections, and memories of a retired, ageing, and solitary diplomat named Aires. Not much happens in the way of plot; the story begins with a wager between Aires and his sister Rita that a beautiful widow whom they observe in a cemetery will or will not remarry; the rest of the novel traces the wager's outcome. There is a kind of circularity to the story, which does not move far from its starting point—not much changes, physically, in the end—yet its beauty resides in the little changes that do occur, and these will be perceived and felt by those who appreciate subtlety. It was an emotional ending for me, which was partly due to the story itself, but mostly because this was—and truly felt like—Machado's last statement. It is not to be missed, especially if you love the man (as you should).
"...the young have the right to live and to love, and to leave the dead and the aged behind them with no regrets. (165)
Profile Image for Laura.
7,132 reviews606 followers
October 23, 2017
Title: Memorial de Ayres

Author: Machado de Assis

Release Date: October 23, 2017 [EBook #55797]

Language: Portuguese

Produced by Laura N.R. & Marc D'Hooghe at Free Literature (online soon in an extended version, also linking to free sources for education worldwide ... MOOC's, educational materials,...) (Images generously made available by the Internet Archive.)


Free download available at Project Gutenberg.

I made the proofing of this book for Free Literature and it will be published by Project Gutenberg.

Opening lines:
1888

9 de Janeiro.

Ora bem, faz hoje um anno que voltei definitivamente da Europa. O que me lembrou esta data foi, estando a beber café, o pregão de um vendedor de vassouras e espanadores: «Vae vassouras! vae espanadores!» Costumo ouvil-o outras manhãs, mas desta vez trouxe-me á memória o dia do desembarque, quando cheguei apozentado á minha terra, ao meu Cattete, á minha lingua. Era
o mesmo que ouvi ha um anno, em 1887, e talvez fosse a mesma boca.
Profile Image for Carolina.
68 reviews
November 13, 2024
Machado de Assis é daqueles escritores que tudo dele que leio acho bom, ainda que às vezes a leitura seja um pouco cansativa. Mas como escrevia bem e como sabia descrever os costumes e analisar a alma humana!

O livro é um diário dos anos de 1888 e 1889 do Conselheiro Aires, personagem que aparece em outras obras, e que observa alguns poucos amigos, em especial a relação de um casal mais velho, os Aguiar, com seus filhos “postiços”, Fidélia, também conhecida como viúva Noronha, e Tristão.

É um livro sobre relacionamentos, envelhecimento e solidão com um pano de fundo que passa pela abolição da escravatura e pelo cenário do Rio de Janeiro do Século XIX, em especial os bairros de Botafogo, Flamengo, Catete, Centro e Andaraí, com uma passada em Petrópolis.
Profile Image for Mariana.
367 reviews53 followers
April 13, 2022
https://www.instagram.com/p/CcTcojXJHj9/

Ler Machado de Assis é sempre uma experiência inesquecível, garantia de boas risadas e altas críticas sociais.

Em “Memorial de Aires”, último livro publicado pelo autor, tem um ritmo de leitura propositalmente lento e enfadonho, mimeses de um senhor aposentado onde não há aventuras extraordinárias diárias e sim um quotidiano com um círculo pequeno de amigos e ocorrências da vida e a sensação de sua finitude.

Para mim, o mais interessante, foi observar como o autor tratou da questão história da escravidão. A abolição acontece no decorrer do livro e no dia “10 de abril”, com o ponto de vista burguês, ele transforma a inevitável perda de patrimônio (escravos) em uma virtude (oferecendo-lhes alforria) para permanecer ganhando no jogo social. No dia “13 de maio” vem as considerações de M de A - Machado de Assis ou Marcondes de Aires? - sobre o evento:

“(…) Nunca fui, nem o cargo me consentia ser propagandista da abolição, mas confesso que senti grande prazer quando soube da votação final do Senado e da sanção da Regente.
Ainda bem que acabamos com isto. Era tempo. (…)”p.47

Ele mostra através de relatos de senhores de terras como a lei áurea desobrigou os “donos” de suas responsabilidade se como a elite passa um verniz na realidade e têm o poder de fazer um apagamento da história que não lhes parece aprazível.

A entrada do dia 09 de setembro, à tarde” foi um dos que mais me marcou, Aires passa por dois grupos diferentes de crianças pela rua: um rico que lhe causa admiração por sua beleza e alegria e outro pobre que lhe dói ao vê-las cansadas e sem esboço de um sorriso. Ainda assim, nosso narrador chega em casa e não gosta de ver seu criado à porta que diz estar ali a sua espera, mas ele sabe que o criado foi distrair as pernas na rua e “magnanimamente” o perdoa pela falha e mentira. Impossível não pegar essa ironia e passar horas refletindo sobre o comportamento de Aires, que ainda reflete em muitas pessoas que vivem em pleno 2021.

Eu poderia escrever muito mais sobre esse tema e outros levantados no livro, mas o limite de caracteres não me permite.

Gostei muito dessa leitura, ainda que tenha previsto o final do romance.
Profile Image for Miguel.
Author 8 books38 followers
January 5, 2016
Um romance escrito em forma de diário, escrito por um diplomata aposentado que vai anotando as peripécias sociais e românticas que se vão desenvolvendo no seu círculo de relações pessoais. Um enredo quase mínimo, sem grandes tensões ou conflitos, mas uma narrativa magistralmente tecida, e uma escrita perfeita, ponteada de humor e ternura. Tratando-se do último romance do autor, é um exercício impressivo sobre o envelhecimento vivido por dentro, ou seja por quem está a envelhecer.
Profile Image for Paulla Ferreira Pinto.
265 reviews37 followers
April 24, 2020
A deliciosa escrita de Machado de Assis é uma prazerosa descoberta que envolve as histórias que partilha num encanto tão generoso capaz de transformar a mais melancólica circunstância em apenas outra das voltas que torneiam a existência: não lhe retira a tristeza mas veste-a de belos paramentos literários e de uma naturalidade que, não a despindo de profundidade e não afastando a reflexão que se impõe , a torna suportável à emoção e compreensível à razão.
Profile Image for Laura.
7,132 reviews606 followers
December 23, 2015
Amargo e sarcástico observador dos costumes e da condição humana, Machado de Assis produziu muitas obras-primas na literatura brasileira. Em Memorial de Aires (1908), o narrador, Conselheiro Aires, conta o episódio da vida de um casal e a aventura amorosa de outros personagens.
Profile Image for Tiago Maranhao.
83 reviews9 followers
February 27, 2022
O livro é estruturado em forma de diário, então que não se espere um grande enredo. Mas é um pequeno vislumbre da vida social ao final do século XIX, conduzido por um personagem/autor divertido e afiado, com tiradas deliciosas.
Profile Image for ;larissa.
105 reviews2 followers
November 22, 2025
Eu juro que eu amo um homem!!
A história deste livro em específico não é assim tão envolvente. As personagens são todas muito interessantes e gostei de praticamente todas, mas faltou algo que me deixasse mais ligada ao enredo.
No entanto, dou-lhe quatro estrelas porque a maneira de escrever deste homem é simplesmente BRILHANTE. A passagem do dia 24 de agosto 1888 é das cenas mais bonitas que já li.

"Qual! não posso interromper o Memorial; aqui me tenho outra vez com a pena na mão. Em verdade, dá certo gosto deitar ao papel coisas que querem sair da cabeça, por via da memória ou da reflexão. Venhamos novamente à notação dos dias. Desta vez o que me põe a pena na mão é a sombra da sombra de uma lágrima...

Creio tê-la visto anteontem (22) na pálpebra de Fidélia, referindo-me eu à dissidência do pai e do marido. Não quisera agora lembrar-me dela, nem tê-la visto ou sequer suspeitado. Não gosto de lágrimas, ainda em olhos de mulheres, sejam ou não bonitas; são confissões de fraqueza, e eu nasci com tédio aos fracos. Ao cabo, as mulheres são menos fracas que os homens, — ou mais pacientes, mais capazes de sofrer a dor e a adversidade... Aí está; tinha resolvido não escrever mais, e lá vai uma página com a sombra da sombra de um assunto.

Também, se foi verdadeiramente lágrima, foi tão passageira que, quando dei por ela, já não existia. Tudo é fugaz neste mundo. Se eu não tivesse os olhos adoentados dava-me a compor outro Eclesiastes, à moderna, posto nada deva haver moderno depois daquele livro. Já dizia ele que nada era novo debaixo do sol, e se o não era então, não o foi nem será nunca mais. Tudo é assim contraditório e vago também."

B-R-I-L-H-A-N-T-E


Update: 5 estrelas
Profile Image for Guilherme.
89 reviews6 followers
April 25, 2017
Machado de Assis terminou sua vida como escritor com uma obra prima. O "Memorial de Aires" possui uma série de elementos que lembram suas melhores obras (dos romances como Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba), como a narrativa digressiva, metalinguística com um narrador distanciado dos fatos narrados. Contudo, o velho conselheiro de Aires, o narrador da obra, escreve um diário em um estilo que, diferente de Brás Cubas, em suas memórias póstumas, ou Bento, em Dom Casmurro, está em busca de observações medidas, longe da acidez tradicional do narrador machadiano.
O acontecimento principal da narrativa (o conhecimento e relacionamento entre Tristão e a viúva Fidélia Noronha) é comentado com distância e medida, raramente com teor irônico, mas sim com um confessional. Assim, é claro, o conselheiro se aproxima a Brás Cubas e Bento, já que também está em um ambiente privado em que pode revelar sua verdadeira intimidade e persona, porém, em Memorial de Aires, esta experiência é elevada ao máximo.
Além disso, o caso dos apaixonados ainda se mistura com relações familiares postiças: Tristão e Fidélia são apadrinhados pelo casal Aguiar que não conseguiu ter filhos, e assim, se aproximam apaixonadamente aos filhos postiços, tentando-os fazê-los de fato filhos e compensar sua velhice, especialmente a velha D. Carmo. As relações sociais são passadas rapidamente, mas é possível vislumbrar excelentes passagens que comentam os fatos históricos e sociais do final do século XIX, como a libertação dos escravos.
Profile Image for Tania Cunha.
168 reviews14 followers
June 10, 2024
3,5
Em forma de diário, do aposentado diplomata Aires, passa-se na altura da efetiva abolição da escravatura no Brasil, aspeto que, a espaços, vai surgindo na narrativa, a propósito do destino da fazenda herdada por Fidélia.
A escrita é, como sempre, magistral, mas achei que se arrastou um bocado, sobretudo na primeira metade do livro. Estava também à espera de um maior enfoque num quotidiano mais variado, talvez, do que aquele que é retratado.
Mas é um livro divertido, em que acho particular graça às características de Aires, que se dá com Deus e com o demónio, não fosse ele um diplomata aposentado.
Profile Image for Leandra.
499 reviews16 followers
January 22, 2023
Neste "Memorial de Aires" tive o privilégio de ler o diário que Aires escreveu durante pouco mais de um ano e meio.
Fiquei a conhecer a sua vida e a dos das suas relações.
Aires relata sobretudo as vivências de Fidélia e de Tristão, os filhos postiços do casal Aguiar.
Além desta cuscovilhice da vida alheia, gostei sobretudo das reflexões que são feitas acerca de variadíssimos assuntos tais como a morte, a abolição da escravatura, o amor...
Profile Image for Vitória.
37 reviews
November 19, 2025
da forma de escrever à história, não desilude, bom de mais

4.5
Profile Image for Felipe Beirigo.
210 reviews19 followers
April 24, 2024
LOOOOOOOOOOOOOOOOOOKO DEMAIS! DIPLOMATA ENTEDIADO ESCREVE EM SEU DIÁRIO AS FITAS DE SUA QUEBRADA. FLERTE TÍMIDO, AFILHADO BOYZÃO, VIÚVA CHATINHA E VÁRIAS CANETADA LOKA. MACHADO TE AMO
Profile Image for tiago..
462 reviews135 followers
June 23, 2024
O Memorial de Aires é um romance voyeurístico. Escritas pelo subtil Conselheiro Aires (que, dizem as más línguas, já tinha sido personagem noutro romance do autor, Esaú e Jacó), estas entradas de diário glosam sobre a vida do Casal Aguiar e dos seus dois filhos de estimação - Tristão e Fidélia. O primeiro, quando começa o romance, anda desaparecido, estudante em Portugal; e a segunda, vemo-la por primeira vez recém-viuva em frente ao túmulo do falecido marido, afundada num poço de amargura. Mas parece-me que apesar de a história glosar sem fim sobre Tristão e Fidélia, os verdadeiros protagonistas da história são o casal Aguiar, esses grandes amigos do Conselheiro Aires.

Mas vejo que não terminada ainda esta resenha me vejo obrigado a contradizer-me: porque o grande protagonista não é afinal este casal, nesta história lenta e carente em grandes emoções, mas o escritor em si, cuja perfeição de estilo e inteligentíssimo sentido de humor, não poucas vezes acompanhado de um instinto para o lirismo fora do vulgar, tornariam até um manual de Excel numa leitura muitíssimo aprazível. Oportunidade de carreira perdida para Machadão, suponho; ainda que, provavelmente, tenha sido pelo melhor.
494 reviews25 followers
August 23, 2011
If the back of the book is to be believed The Wager is by the greatest Brazilian author; and is of timeless quality of themes of broken dreams, love and obsession.

The story is told by Aires in the form of a diary around 1888. He is a returning retired diplomat from Portugal to Rio. He tells us of a childless aged couple who have finally had the return of `adopted' children now grown up: Fidelia an attractive youthful widow and later Tristao, a dashing politician and family friend. The wager in question is between Aires and Rita, his sister, that Fidelia, though still too attached to her dead husband, will remarry (Aires perhaps hopes it'll be him). Though there are a couple of other characters guess who ends up getting hitched.

I started off being annoyed by this book even before the `start'. The introduction tells us `that the story is virtually non-existent' and secondly the inattentive reader may miss the bet between Rita and Aires - the book's called "the wager" for goodness sake!

I have read Dom Casmurro and that's better by a long way. The Wager though interesting isn't captivating. Aires isn't obsessed by Fidelia, nobody particularly has dreams for the future and so Fidelia and Tristao end up loving each other - no news there. The diary format wasn't - Aires doesn't really tell us about his thoughts and given the diary is private no deep personal feelings come out. A Brazilian classic may be but it's dry, unemotional and indistinct. The only novel angle of the book is the abolition of the slave trade in Brazil. Quality perhaps but uninspiring.
Profile Image for Walter .
463 reviews6 followers
February 17, 2018
Achei Memorial de Aires um romance bastante leve em todos os sentidos. Em obras anteriores nos era apresentado mais do autor tanto no quesito do enredo como da ironia e crítica. Neste narrativa Machado, na minha opinião, Machado foi simplesmente correto e simpático. Limitou-se a contar-nos uma estoriazinha sem muitas reviravoltas e momentos cúspide capazes de nos tirar o fôlego. Sem falar daqueles clássicos momento de reflexão machadianos que, se existem, foram pouquíssimos. Talvez, em outro momento, teria gostado mais de Memorial de Aires, mas, por enquanto, achei-o pouco.
Profile Image for Amanda Alexandre.
Author 1 book56 followers
March 26, 2015
Definitely the less impressive of Machado's works. None of the things I like about him is present in this novel: no humor, no acute critique, no spirited characters, no language playings... None of it. I couldn't care much for the characters. Feels like Machado burned all of his best in previous works and there was nothing left to make up for this.
Profile Image for Gláucia Renata.
1,305 reviews41 followers
September 11, 2014
Último romance do autor, o livro tem traços autobiográficos. Escrito poucos anos após a morte de sua amada esposa e companheira, conta a história de um casal de idosos, suas alegrias e a grande tristeza de não terem tido filhos. Como Machado e Carolina.
Profile Image for Juliana.
116 reviews
September 8, 2023
Few authors combine humor and melancholy the way Machado does. When I first read this so many years ago and re-reading it now it showed me the importance of revisiting old favorites. This was everything I remembered and more.
1 review
Read
December 7, 2016
Interessante. De leitura fácil, nos remete ao Rio de Janeiro do século XIX, padrões e costumes daquela época.
Profile Image for Danilo Teobaldo.
10 reviews
April 1, 2025
Gostaria de dar um 3.5 e acho que me falta um pouco de idade para aproveitar o livro em sua totalidade. Percebi tarde que, apesar de lento, o livro é bastante ambíguo e repleto de metáforas e personificações; e talvez é nisto que esteja a graça. Diria que Tristão representa Portugal e o casal Aguiar, o Brasil, mas isso são apenas ideias minhas...
Displaying 1 - 30 of 93 reviews

Can't find what you're looking for?

Get help and learn more about the design.