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Furriel não é nome de pai - Os filhos que os militares portugueses deixaram na guerra colonial

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«Filhos do vento»: as crianças que os militares portugueses deixaram na Guerra Colonial
Chamavam «resto de tuga» a Fernando e ele não percebia porquê; Adulai era acusado de tudo pelos irmãos e era sovado todos os dias pelo padrasto por ter nascido com a pele mais clara; e os gémeos Celestina e Celestino guardam, aos 40 anos, uma fotografia desbotada de um jovem militar que não os quer conhecer, nem com o incentivo da «Exma. Mana» portuguesa. Foi para ir atrás destas histórias que Catarina Gomes partiu para a Guiné-Bissau em 2013, levando na mala um dos maiores tabus entre os militares portugueses: os filhos da guerra, crianças que ficaram para trás depois da Guerra Colonial, e que chegaram ao mundo como filhas do «inimigo» e condenadas a não conhecer os pais. Além do círculo masculino de silêncios que os mantém afastados, estes filhos africanos são também ignorados pelo Estado português, que nunca fez um esforço por conhecer a dimensão desta realidade ou por lhes garantir quaisquer direitos. Estão há anos em busca de uma identidade perdida, mas esta é a primeira vez que alguém conta a sua história.

236 pages, Paperback

First published May 1, 2018

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About the author

Catarina Gomes

6 books154 followers
Catarina Gomes é autora de quatro livros de não-ficção e do romance «Terrinhas» (Gradiva, 2022), ao qual foi atribuído o Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís.
«Coisas de Loucos» (Edições Tinta da China, 2020) tem como fio condutor uma caixa de objectos pessoais de antigos doentes deixada no hospital psiquiátrico Miguel Bombarda. Em «Furriel não é nome de pai» (Edições Tinta da China, 2018) quebrou um tabu, contando a história dos filhos que os militares tiveram com mulheres africanas e que deixaram para trás. Em «Pai, tiveste medo?» (Matéria-Prima Edições, 2014) aborda a forma como a experiência da Guerra Colonial chegou à geração de filhos de ex-combatentes. As três obras foram incluídas no Plano Nacional de Leitura. Tem contos publicados na revista Granta (Sono/Sonho, 2021) e no livro «Contágios» (editora Visgarolho, 2022). No seu último livro, «Um dedo borrado de tinta» (2024), editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, conta a história de pessoas que nunca puderam aprender a ler.
Jornalista do Público durante quase 20 anos, as suas reportagens receberam alguns dos prémios mais importantes na área, como o Prémio Gazeta (multimédia). Foi duas vezes finalista do Prémio de Jornalismo Gabriel García Márquez e recebeu o Prémio Internacional de Jornalismo Rei de Espanha.
www.catarina-gomes.com

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Displaying 1 - 30 of 37 reviews
Profile Image for Fátima Linhares.
934 reviews340 followers
September 19, 2021
Um relato de mais um dos lados podres da guerra, as crianças que ficaram nas barrigas das mães e que nunca conheceram nem nunca conhecerão os seus pais. Crianças que, na terra dos pretos eram brancas, e na terra dos brancos eram pretas. Crianças que não pediram para vir ao mundo, mas que foram concebidas, não por amor, mas por instinto animal dos "pais" e necessidade das mães. Apesar de tudo, neste livro, temos um pai que de facto amou a mãe do seu filho e foi procurá-lo, quarenta anos volvidos. Não apaga o passado, mas aponta para um futuro menos mau. Outros nem isso fizeram.
Profile Image for Joana da Silva.
471 reviews780 followers
September 1, 2025
Um bocadinho mais perto de concluir a missão de ler tudo o que a Catarina Gomes tão bem escreve, e de conhecer todas estas histórias que andam por aí escondidas e que só parecem poder ser contadas por ela. Que maravilha poder viver num mundo onde existem os livros da Catarina.
Profile Image for Inês | Livros e Papel.
622 reviews184 followers
May 5, 2021
Lido para o Clube de @leiturasdescomplicadas de Abril.

O resultado do trabalho de investigação da jornalista Catarina Gomes sobre os chamados "Filhos do vento"

Filhos que os militares portugueses tiveram com mulheres africanas na Guerra do Ultramar. Calcula-se que serão bastantes, comparando as estatísticas que existem de outras guerras.

Vamos conhecer esta realidade da qual pouco ou quase nada se fala. De tantos filhos que nunca conheceram os seus pais, portugueses, que serviram na guerra nas ex-colónias.

Conhecemos o testemunho de várias pessoas, hoje com mais de 40 anos, que nos explicam a sua dupla mágoa que sentem: terem sido ostracizados pelos seus por serem mestiços e ignorados pelos seus pais.

Alguns portugueses nunca souberam das crianças, outros souberam mas não puderam ou não quiseram trazê-la consigo. Outros nem sequer as reconheceram como filhos. Muitas mães não quiseram dizer aos pais com receio que as levassem para Portugal...

Um relato muito triste e que me tocou bastante. Uma vida vivida na dúvida, onde a maioria das pessoas tem escassos dados dos seus pais, muitos até dados incorrectos. Um busca inglória pelas suas identidades.

Mas no meio de tanta mágoa e incerteza há também alguns casos felizes de encontros.

Um livro muito bem escrito e interessante sobre um assunto esquecido também pelo Estado Português, que desconhece a dimensão desta realidade.
Profile Image for Sónia Carvalho.
196 reviews18 followers
May 4, 2022
Catarina Gomes considera-o um "livro de pós-reportagem", que fala do que aconteceu por causa de duas reportagens que fez sobre os filhos que os portugueses deixaram na guerra colonial. Durante 4 anos, a escritora deixou-se enredar por estes "filhos do vento" e conta-nos a história de alguns deles.

O direito à identidade está na Declaração Universal dos Direitos do Homem: "os filhos nascidos da guerra sofrem com a falta de conhecimento acerca dos seus pais biológicos. Os governos, assim como as instituições nacionais e internacionais, são incentivados a estipular medidas que garantam o seu direito à identidade e, tanto quanto possível, a conhecerem os seus pais."

Muitas destas crianças, nunca tiveram direito à sua identidade e foram discriminadas porque eram "filhos do inimigo". Eram olhados e tratados de forma diferente por causa da sua cor e a família tentava escondê-los. "Todos os filhos de portugueses são tímidos, não ousam falar". Catarina conta-nos a história de Fernando, que toda a vida tentou descobrir quem era o seu pai e que criou a Associação "Filho de Tuga", cujos membros têm o mesmo pai, Portugal. Um dos objectivos desta Associação era "reagrupar e fortalecer os "fidju di tuga" na Guiné-Bissau com uma visão sociocultural comum" que os unia. Consideram-se irmãos, por serem todos filhos de uma história compartilhada. Alguns conseguiram encontrar as famílias portuguesas, tias e irmãs, mas a maioria dos pais não quiseram saber deles porque os faziam lembrar de uma guerra que provavelmente queriam esquecer. No final do livro, emocionei-me com a história de António, o único pai do livro que procurou o filho angolano, fruto da sua relação com Esperança.

Citações:

"Expulsos os militares brancos, tinham ficado para trás estes inimigos íntimos. Havia também numa outros, mais pequenos: as crianças de pais portugueses que tinham partido. Na altura, os "filhos de tugas", como lhes chamavam, ouviam variações da frase "já corremos com os vossos pais, o que é que vocês ficaram cá a fazer? Vão para a vossa terra".

"O que se trauteava, ao fim aí cabo, era que "os tugazinhos" não podiam permanecer no país novo. Quem tinha ligações a esse passado, corria riscos. Fernando só chegou ao sentido da letra quando já não tinha de a entoar, muito depois desses anos em que tudo o que estava ligado com "os tugas" tinha de ter três destinos, enumera: 1) Ser mandado de volta para Portugal; 2) Ser destruído; 3) Ser escondido. A Fernando só restava a hipótese três."
"Com Fernando e Luís, e outros como eles, porque nasceram "coloridos" durante a guerra ou logo a seguir, em zonas de quartéis de portugueses, não havia firma de encobrir que eram "filhos de tuga". Mesmo que as mães quisessem: "não há maneira de esconder a pele. A claridade não engana".

"A caminho dos 50 anos, Fernando continua a ser, pelos sítios por onde passa, apenas "o tuga". E é uma alcunha que, ao mínimo pretexto, se transforma em insulto, como acontece com um estrangeiro. O pai para sempre ausente está para sempre presente. Invade-o. É dele a culpa de na sociedade guinneense o fazerem sentir que não pertence, como um "sem raça".

"Muitos eram rapazes solteiros, nos seus vintes, alguns nunca tinham estado com uma mulher". Vinham de um país conservador, com moral católica, em 1963 Salazar tinha acabado com as casas de passe, recorda. Prostituição organizada quase só em Bissau, no "interior não havia". Diz que não procuravam só sexo. "Íamos sentir a pele de uma mulher, ter algum afecto, conversar."
Profile Image for Marta Silva.
301 reviews104 followers
August 6, 2023
“Como é que se chama o teu pai?” E Fernando, recém-chegado, mal falando português, respondeu com o nome que a mãe deixara escapar: “Furriel. O meu pai chama-se Furriel.”

Fui em busca das reportagens que deram origem a este livro. A partir daí conheci os rostos, a vontade destes em ver o seu BI completo, de deixarem de ser cidadãos de segunda, marginalizados.
Mais uma vez fui surpreendida pelo excelente trabalho de investigação, pelo envolvimento das histórias, mas infelizmente também me deparei com a impotência de muitos dos protagonistas destes relatos nunca conseguirem realizar o seu sonho: conhecerem os seus pais e mostrarem ao mundo que afinal já não são meias-pessoas.
Profile Image for Cat .classics.
279 reviews121 followers
April 5, 2024
4,5
Senti uma diferença entre a 1a parte, um pouco menos estruturada e confusa, até a precisar de revisão de texto, e as restantes partes.
O melhor deste livro é a sensibilidade com que a Catarina trata um tema tão tabu, a escrita literária do seu registo de reportagem e a pertinência do seu trabalho de investigação.
Devo confessar que quase deitei uma lágrima na última história.
Profile Image for Sara V..
33 reviews6 followers
May 30, 2024
Gosto imenso da escrita de Catarina Gomes e, sobretudo, do seu excelente trabalho de investigação!
Profile Image for Catarina Preda.
40 reviews3 followers
October 19, 2024
Desculpem, tive de alterar a minha pontuação pois já se passaram 15 dias e ainda continuo a pensar no conteúdo deste livro
Profile Image for Tânia Dias.
166 reviews14 followers
May 20, 2021
Jornalismo de excelência aliado a histórias verdadeiramente tocantes. Um livro que não permite espaço à indiferença.
Profile Image for Marta Clemente.
750 reviews19 followers
December 28, 2023
Que boa leitura esta!
Neste "Furriel não é nome de pai" Catarina Gomes fala-nos de alguns filhos deixados no ultramar. Filhos feitos em plena Guerra Colonial pelos seus pais militares brancos nas mulheres nativas que a bem ou a mal se lhes submetiam.
Catarina Gomes é uma excelente contadora de histórias e tráz-nos estas, de pessoas verdadeiras, contadas como se fossem um romance. Fernando, Oscar, a mana Emília, os gémeos Celestino e Celestina, António Bento e o seu filho Jorge... E mais umas quantas personagens que nos deixam a torcer por um final feliz para estes "meninos", renegados na sua terra por serem "filhos do tuga" e, na sua maioria, esquecidos pelo seu pai e pelo seu país.
Profile Image for Cristina Delgado.
255 reviews72 followers
December 19, 2023
Quando li da Catarina o "Coisas de Loucos", fiquei sua fã. Da sua escrita tão pessoal que nos faz aproximar dos personagens reais que descreve, da forma como consegue prender o leitor através de uma investigação que supomos demorada, dos pormenores relatados que nos fazem viajar para a época descrita.

Aqui, o mesmo sucedeu. Pouco mais tenho a dizer sobre a sua forma tão peculiar de tratar um assunto, do seu envolvimento palpável nas linhas que escreve. Escreve com o coração sem deixar que este interfira ou julgue. Descreve a dor, o amor, a razão, a loucura.

Capa soberba, com as características que a Tinta da China já nos foi habituando, e um título fantástico que muito tem a ver com uma das histórias narradas e que acaba por representar todas as outras. Meninos fruto da Guerra Colonial que vieram a um mundo sem que a ele pertencessem. Filhos de soldados portugueses e nativas que nunca foram aceites na terra onde nasceram e foram objecto de discriminação. Filhos de tugas, "filhos do vento", a maior parte deles registados como filhos de "pai desconhecido". Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

É impressionante em como todas estas histórias há um denominador comum: a dor de não saber quem é o pai, a esperança de um (re)encontro, o querer colocar um ponto final numa vida toda ela feita de esperança, incerteza e dor. Estes são apenas alguns nomes a que Catarina conseguiu atribuir um rosto.

Sei que há algumas reportagens sobre este assunto que quero muito ver. Vou tratar disso!
Profile Image for Margarida Galante.
464 reviews41 followers
September 25, 2021
As histórias de alguns "filhos do vento", como alguém lhes chamou, os filhos que os militares portugueses tiveram com mulheres africanas, durante a Guerra do Ultramar.
Vidas marcadas por terem a pele mais clara e por serem filhos de "tugas". Muitos nada sabem sobre o pai, a outros foram contados alguns detalhes, nem sempre verdadeiros ou que permitam a sua identificação. Filhos de pai incógnito ou de um nome a quem nunca conseguiram dar uma cara, que nunca conseguirão encontrar.
Uma grande reportagem em livro sobre um assunto de que nunca se falou. Escrito de forma factual mas também bastante emotivo. Afinal, são histórias reais, muito poucas com finais felizes, contadas pelos próprios.
Gostei muito e recomendo.
Profile Image for Daniela Santos.
30 reviews2 followers
August 3, 2025
Mais um trabalho jornalístico fantástico da Catarina Gomes. Dar voz a estes filhos de ninguém, filhos do vento. Impressionante o impacto que pode ter a procura de um pai, mais do que isso, a procura da própria identidade. Mais do que uma procura, passa a ser uma necessidade, uma urgência, o encerrar de um capítulo da própria história, conseguir paz sobre uma dúvida existencial, uma dúvida que pode condicionar toda uma vida.

Ao mesmo tempo, é duro, sentir que muitos destes pais, seja porque motivos for, conseguiram avançar com as suas vidas sem olhar para trás. Aqui Catarina faz mais uma vez um trabalho profissional extraordinário, sem qualquer tipo de julgamento inerente.

“Mesmo que tenha visto o artigo, decidiu ignorá-lo. Tudo o que tem a ver com guerra acabou. Talvez o afastamento destes filhos aconteça porque eles estão dentro desse capítulo da sua vida. “

“Quando se junta a pobreza com a solidão... A nossa tropa não esteve protegida. Ao mato não chegavam preservativos. Era a lavadeira, não viviam juntos. A minha mãe compreendeu as circunstâncias. Quem lá esteve, percebe melhor: pessoas que estão sempre à espera de morrer às vezes procuram conforto.”
Profile Image for Susana.
145 reviews14 followers
June 15, 2024
mais um livro da Catarina que me deixa arrebatada. o carinho com que estas duras histórias são contadas, e a dignidade que coloca em todos os pormenores, fazem com que me esqueça que estou a ler não ficção.
Profile Image for Maria.
92 reviews1 follower
November 10, 2022
Finalmente tive coragem de pegar neste livro e tocar em feridas geracionais. Voltarei aqui quando tiver os pensamentos mais organizados.
Profile Image for CARLOS NEVES.
121 reviews1 follower
June 13, 2018
Excelente documento sobre um assunto que é verdadeiramente tabu na sociedade portuguesa, isto para não falarmos na Guerra colonial que a partir do 25 de Abril foi apagada da memória dos políticos deste país. Estive em Moçambique e este assunto aqui abordado vivi-o com alguns camaradas. Parabéns à Catarina Gomes pelo excelente trabalho desenvolvido esperando que continue.
Profile Image for Andreia Morais.
449 reviews33 followers
Read
November 30, 2024
TW: Referência a Violência, Violação, Morte e Aborto

Que livro extraordinário!

É triste, pela realidade representada, mas a autora fez um trabalho de empatia inspirador, que me deixou logo comovida na introdução. Sinto que li sempre de coração nas mãos, mas, por outro lado, também senti que dignificou muito bem estas histórias. Não é possível anular o que viveram, no entanto, Catarina Gomes traz um aconchego diferente por sabermos que estas pessoas não estão esquecidas.
Profile Image for João Mendes.
290 reviews17 followers
April 12, 2025
Leituras de Abril - #6

Este livro é resultado de uma extensa pesquisa jornalística sobre um tema ainda tabu em Portugal: os filhos que os militares portugueses fizeram e abandonaram na guerra colonial.
O tema é muito interessante e bem retratado. Nota-se o rigor e o cuidado que a autora pôs na escrita do livro. Há histórias realmente impressionantes mas confesso que senti alguma "repetição", o que me fez perder forças para continuar. talvez a mensagem seja essa?
25 reviews
January 15, 2022
Uma realidade que Portugal não quer conhecer.
Passaram-se mais de 40 anos e estes filhos da guerra nem direito têm à nacionalidade portuguesa se a desejarem.
O caso de Óscar é inacreditável!
A cor da pele distingue-os e são ostracizados na sua própria terra e desconhecidos na dos seus pais
Profile Image for Luísa Magalhães.
2 reviews2 followers
October 1, 2020
Uma “História” de um passado muito recente que não nos deixa orgulhosos. A autora descreve, muito isenta de opinião própria, deixando-nos a nós leitor a tarefa de interiorizarmos e pensarmos.
Profile Image for Vera.
13 reviews6 followers
March 10, 2021
Jornalismo é isto! ❤️
Profile Image for Patricia Caetano.
198 reviews1 follower
July 5, 2021
“Se cada um destes filhos, que luta para sobreviver, se pudesse deitar num divã ocidental, haveria material para anos de sessões.”
60 reviews3 followers
July 27, 2021
Um livro importante, no desbravar do tabu da Guerra Colonial. Histórias comoventes por uma escrita que se nota dedicada no seu esforço em chamar a atenção para este tema!
Profile Image for Ana Sofia Filipe.
272 reviews2 followers
February 27, 2023
Alguns tópicos de pensamentos que me acompanharam:

- A jornalista fazia as vezes do Estado português, nas antigas colónias, a ouvir e registar aquelas histórias. “O nosso pai é o mesmo, Portugal”. “Nunca namorei com uma pessoa clara, tinha medo que fosse filha do meu pai”.

- Muitas pessoas entram em contacto com ela. Todo o tipo de pessoas, menos os pais.

- Desde 1977, em Portugal, é proibido haver filhos de pai incógnito e abrem-se corriqueiramente “processos de averiguação oficiosa de paternidade”. Não merecerão a nacionalidade portuguesa?

- Era tudo normal. Até antes da guerra colonial, fazia parte da miscigenação própria do colonialismo.

- Direito à identidade. Direitos. Identidade.

- Ou escondidos. Ou discriminados. Perseguidos. Ostracizados. Apedrejavam os miúdos, atiravam-lhes sacos do lixo. “Já corremos com os vossos pais, o que é que vocês ficaram cá a fazer? Vão para a vossa terra”.

- Muitas vezes, separados das mães pelos estados colonos/da guerra, prometendo-lhes uma vida melhor. Mas deixando-os, sem pai, e agora também sem mãe. Em orfanatos, onde os queriam reeducar aos seus costumes e “integrar”.

- Contende com o direito à privacidade daqueles homens. E acham estranho que os pais tivessem receio de contar às mulheres em Portugal: o homem impunha-se sempre e a mulher obedecia; era normal, em vários cultos, a poligamia na Guiné; um homem, quanto tem 1 filho, assume-o, não há questão de honra ou cultura maior.

- E há casos de filhos oportunistas, que querem ser filhos do primeiro que aparecer com dinheiro.

- Romantizavam sempre a figura do pai, como não tendo culpa ou como não tendo-os abandonado propositadamente, etc.

- Os filhos diziam que só queriam saber o nome ou ter uma foto, ficariam satisfeitos. Outros queriam ser perfilhados, ter o nome do pai. Outros queriam ir a Portugal ou que fosse ao seu país.

Termina com o caso mais raro, um pai à procura do filho. Uma história bonita e redentora, ainda que no final terminemos percebendo que encontrar e aceitar um filho não significa conhecê-lo.
Profile Image for Ana Rodrigues.
181 reviews12 followers
December 10, 2024
Este é um livro pós-reportagem que Catarina Gomes fez para o jornal Público, cujo tema são os filhos de ex-militares portugueses com mulheres africanas feitos na Guerra Colonial (conflito que se arrastou durante cerca de 14 anos, 1961-1975). Filhos deixados para trás, com as mães, na Guiné-Bissau, em Angola, em Moçambique.

A autora rumou para a Guiné-Bissau em 2013 e 2015 pois não encontrou nada escrito sobre esta realidade em Portugal.
O assunto sempre foi considerado “melindroso” ou até mesmo “tabu”.

Estas crianças começaram a ser chamadas por José Saúde, um ex-furriel, de “filhos do vento”, porque lhe parecia que não eram filhos de ninguém, crianças com mãe guineense, que ficou por lá, e sem pai conhecido, que regressou a Portugal depois de terminada a comissão.

Não há números exatos para a quantidade de crianças que se encontram nesta situação, mas estimam-se serem mais de 500 pessoas na Guiné (onde estiveram cerca de 200 000 homens). Contudo, para a Guerra Colonial foram mobilizados cerca de um milhão de militares portugueses…

Estas crianças são filhos de portugueses, não têm testes genéticos nem fotografias para comprovar, mas têm uma vida inteira de discriminação como prova.

Foi uma leitura bastante interessante, tanto pelos testemunhos destes homens e mulheres que cresceram sem pais, em busca da sua identidade, como pelo conhecimento dos factos ocorridos durante a Guerra Colonial.

Para quem tiver interesse nestes temas e goste de ler livros de não ficção, este é uma excelente opção.
Uma verdadeira lição de história, escrita pela mão da maravilhosa Catarina Gomes.
Profile Image for Sónia Santos.
182 reviews32 followers
March 28, 2024
“Como é que se chama o teu pai?” E Fernando, recém-chegado, mal falando português, respondeu com o nome que a mãe deixara escapar: “Furriel. O meu pai chama-se Furriel.”

O impacto e a importância de um nome e da identidade.

Com estas histórias e reportagens percebemos mais um tipo de vítimas das guerras: os filhos nascidos entre os militares e as locais, que sofrem, ainda hoje, várias formas de discriminação. São mais claros, são filhos do inimigo, são “tugas",...

“O pai para sempre ausente está para sempre presente".

Pessoas incompletas enquanto forem filhos de pais incógnitos. Órfãos de pais vivos, talvez seja esta uma das maiores perdas e uma das grandes violências.

"Com Fernando e Luís, e outros como eles, porque nasceram "coloridos" durante a guerra ou logo a seguir, em zonas de quartéis de portugueses, não havia forma de encobrir que eram "filhos de tuga". Mesmo que as mães quisessem: "não há maneira de esconder a pele. A claridade não engana".
Profile Image for Raquel Alves.
20 reviews2 followers
July 23, 2023
Um livro que me deixou nostálgica por me fazer relembrar que um dia também eu sonhei ser jornalista para poder ouvir as pessoas, contar as suas histórias e ajudá-las através da minha escrita, como a autora deste livro tão bem fez.

Para além disso, acho que este livro aborda uma temática muitíssimo importante que pouco ou nada é falada (pelos vistos muitos tentam até escondê-la “em baixo do tapete”) mas que é uma realidade e faz parte da história do nosso país.
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