Diz-se que o melhor design é o invisível, o neutro. Mas é ilusão, claro. Seria paradoxal uma disciplina tão dedicada à sua identidade não ter também a sua. Esta construção de identidade é o design que o design não vê: um processo contínuo, contraditório, obsessivo, instituído, mas inconsciente.
Mário Moura, blogger, conferencista, crítico. Escreve no blogue ressabiator.wordpress.com. Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design. Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.
Um conjunto de ensaios sobre design que nos fazem refletir não só sobre a disciplina e as suas idiossincrasias mas também sobre a sociedade portuguesa no geral e o nosso rumo social em itálico.
Interessante sobre o papel do design nos dias de hoje, porque acho que todos podemos concordar que há uma estranha quantidade de designers em Portugal, e o porquê de haver tanta formação para uma arte que é de certa forma elitista e díficil de definir. Embora tal como muitas artes exercidas em Portugal, o perfil do designer muitas vezes é herdado por familia. No entanto, estamos a experienciar uma mudança de paradigma em que cada vez mais um pixel-pusher pode ser designer. O livro é importante para quem está em design, tem alguma ligação á àrea em Portugal, pois explica muito como foi criada esta vertente da arte, como evoluiu, os pilares históricos não tão bonitos em que foi construído (sexismo e racialismo); e como continua a evoluir nos tempos de hoje. Admitindo, não obstante, que certas partes parecem dissertações sobre o nada, sobre um ponto azul na parede, que acabam por ser demasiado extensas, quando todos sabemos que é apenas uma mosca como calças de ganga. Enfim.
Achei giro, mas alguns dos textos por vezes afastavam-se daquilo que procurava com este livro. Ainda assim, alguns ensaios são verdadeiramente fascinantes, abordando exemplos e obras com um imenso potencial de exploração como leituras futuras.