Esta antologia serve como uma nova prova de que a literatura brasileira é rica e diversa, dona de facetas insuspeitas. Sim, há ficção científica brasileira, e ela é fértil e digna de toda a atenção. Pode ser agrupada em ondas, eixos historicamente delimitados de produção e recepção. Trata-se de uma opção de valia para um primeiro contato, observando que as ondas se interpenetram – caso da produção de André Carneiro, por exemplo, que atravessa boa parte da história da ficção científica brasileira. Para além dos clássicos justamente sacralizados, há uma infinidade de seres estranhos que habitam o difuso limiar entre o conhecido e o desconhecido. Visíveis apenas aos olhares mais atentos, ignorados (às vezes intencionalmente) pela nossa crítica literária, há décadas e décadas caminham entre os brasileiros esses seres que firmam um pé no presente e outro no futuro. Ou um pé no Brasil e outro nas galáxias além. Ou um no mundo palpável e outro nos confins do ciberespaço. Ou... São incontáveis as possibilidades que esses seres podem nos apresentar, pois a ficção científica tende a esgarçar as fronteiras do que conhecemos. Mesmo quando as narrativas são ambientadas nos nossos arredores, algo de diferente se intromete no cotidiano, renovando nosso olhar e ampliando nossa imaginação para possibilidades outras. Esses seres tão estranhos têm muito a mostrar; basta dar a eles a oportunidade de falar – oportunidade que tradicionalmente tem sido negada pelo nosso conservador ambiente literário. Alguns dos mais significativos desses seres mostram seus contos nas páginas de Fractais Tropicais. Se não os conhece, eis aqui um panorama dos autores de ficção científica brasileiros.
Nelson de Oliveira (Guaíra, 1966) é um escritor brasileiro. Possui o título de doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), e publicou, dentre outros títulos, Naquela época tínhamos um gato (1998), Treze (1999), Subsolo infinito (2000), O filho do crucificado (2001) e A maldição do macho (2002). Organizou duas antologias de contos da geração 90: Manuscritos de computador (2001) e Os transgressores (2003). Tem textos (contos e críticas) publicados nas revistas Cult e Livro Aberto (SP), Medusa (PR) e Bravo, e nos jornais Correio Braziliense, O Globo e Suplemento Literário de Minas Gerais, Jornal Literário Rascunho e Folha de São Paulo.
Apesar de discordar de algumas escolhas do organizador, por exemplo, o fato de ele ter escolhido alguns contos produzidos fora da época que marca seus autores (isso acontece muito com autores da segunda onda, cujas obras escolhidas foram publicadas durante o período equivalente à terceira), acho que a qualidade e variedade formal e temática foi contemplada. Me diverti e aprendi muito com as leituras, e achei o livro muito bonito. Outra coisa que mudaria é a forma de indicar a data de publicação de cada conto. Há a linha do tempo à direita da página de apresentação, mas demora para se localizar com tanta data. A data em questão deveria estar em negrito. Também, deveria haver indicação quando a obra foi publicada em mais de um veículo ou antologia. Acho que esses dados são importantes para quem pretende entender o contexto sócio-histórico de produção do texto. Alguns dos contos são ousados na forma que apresentam a linguagem, ou mesmo em seus temas. E isso dificulta a escolha de poucos favoritos. Desejando que esta seja a primeira de muitas publicações neste estilo.
para uma primeira leitura estou feliz, li quase todos os contos e encontrei novas autorias a buscar em território nacional.
o design é para designers. concordo com amigues da literatura que reclamaram da visualização dos anos de publicação... é esquisito de visualizar as informações mesmo. mas é fácil de perceber como funciona. o projeto propõe esse tipo de esforço de se abrir para uma leitura em outra chave.
um dia poderiam fazer um festival de debates com essas pessoas todas do livro. tantes estão vives e agente aqui bobeando.
Foi legal. Teve alguns contos muito bons como "Cão 1 está desaparecido", "Metanfetaedro", "O molusco e o transatlântico", "Galimatar" e "Chamavam-me de Monstro" mas também tiveram alguns contos não tão bons, alguns contos muito sexualmente apelativos e de forte "male gaze" como "O grande mistério" e alguns contos muito experimentais e abstratos que não explicam direito o que está acontecendo como "Quando Murgau A.M.A. Murgau", "O dia em que Vesúvia descobriu o amor" e "A ficcionista" (eu li este último inteiro mas até agora eu não sei o que é a Ficcionista e o que é um ficcionista no contexto do conto). É chato você ter que descobrir o que está acontecendo só quando a história termina (por exemplo, em "O dia em que Vesúvia descobriu o amor" do Octavio Aragão só no final da história eu descobri que Vesúvia era uma cidade com vida própria que se apaixonou por outra cidade e andou até a sua cidade amada, matando toda a própria população no caminho; no começo e no meio da história não fica claro nada do que está acontecendo). Também fiquei ligeiramente confusa e surpresa com a inclusão de um conto em espanhol, visto que o livro inteiro e o autor do conto, Ronaldo Bressane, são brasileiros.
Eu acho que o Nelson de Oliveira (que tem um conto legal no livro, A última árvore, sob o heterônimo Luis Bras) poderia ter selecionado com um critério mais rigoroso os contos que ele escolheu para o livro. Ainda assim eu gostei do livro, e aplaudo a iniciativa do Nelson e de todos os autores envolvidos em contribuirem para o cada vez mais saudável e crescente cenário da ficção científica, fantasia e ficção weird brasileiras. Gostaria de ver mais coleções desse tipo.
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É uma coletânea bem diversa, dá um bom panorama histórico do sci fi br. A maioria das histórias diverte e traz boas ideias e reviravoltas, teve só uma ou outra arrastada.
Adorei a capa, mas o miolo do livro tem umas escolhas que não entendi: pq deixar um pedaço grande da página em branco e diminuir a fonte? E a linha do tempo que acompanha cada história é meio difícil de entender.
Coletânea dá uma visão geral sobre diversas gerações de escritores, a maioria em plena atividade. Tem contos absolutamente geniais, alguns que já tinha lido, e um ou dois que consegui atravessar a muito custo.
I love sci-fi anthologies, but this book's definition of science fiction is too broad for me. The genre is still considered non existent in Brazil and now I guess why.
"O escritor é, naturalmente, um contraventor. Incomodado com os limites do mundo físico e social, ele subverte na literatura todas as regras que cerceiam nossa liberdade" Interessante panorama pela ficção científica brasileira, passando por ondas e estilos diferentes. Infelizmente, poucos contos me cativaram. Talvez por eu ter começado no estilo por um autor que me encantou muito (Ted Chiang), ficou difícil apreciar autores menos geniais.