Escrita por Lima Barreto, a obra Clara dos Anjos (1948) se passa na periferia do Rio de Janeiro no início do século XX e conta a história de Clara - moça de origem humilde, filha do carteiro Joaquim dos Anjos e da dona-de-casa Engrácia dos Anjos. A obra é focada na sensibilidade de Clara e sua frágil personalidade e, além de abordar a questão do preconceito racial, também faz uma crítica de cunho social, político e econômico, utilizando uma linguagem coloquial e direta para retratar o ambiente suburbano carioca da época.
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 1881 na cidade do Rio de Janeiro. Enfrentou o preconceito por ser mestiço durante a vida. Ficou órfão aos sete anos de idade de mãe e, algum tempo depois, seu pai foi trabalhar como almoxarife em um asilo de loucos chamado Colônia de Alienados da Ilha do Governador.
Concluiu o curso secundário na Escola Politécnica, contudo, teve que abandonar a faculdade de Engenharia, pois seu pai havia sido internado, vítima de loucura, e o autor foi obrigado a arcar com as despesas de casa.
Como leu bastante após a conclusão do segundo grau, sua produção textual era de excelente qualidade, foi então que iniciou sua atividade como jornalista, sendo colaborador da imprensa. Contribuiu para as principais revistas de sua época: Brás Cubas, Fon-Fon, Careta, etc. No entanto, o que o sustentava era o emprego como escrevente na Secretaria de Guerra, onde aposentaria em 1918.
Não foi reconhecido na literatura de sua época, apenas após sua morte. Viveu uma vida boêmia, solitária e entregue à bebida. Quando tornou-se alcoólatra, foi internado duas vezes na Colônia de Alienados na Praia Vermelha, em razão das alucinações que sofria durante seus estados de embriaguez.
Lima Barreto fez de suas experiências pessoais canais de temáticas para seus livros. Em seus livros denunciou a desigualdade social, como em Clara dos Anjos; o racismo sofrido pelos negros e mestiços e também as decisões políticas quanto à Primeira República. Além disso, revelou seus sentimentos quanto ao que sofreu durante suas internações no Hospício Nacional em seu livro O cemitério dos vivos.
Sua principal obra foi Triste fim de Policarpo Quaresma, no qual relata a vida de um funcionário público, nacionalista fanático, representado pela figura de Policarpo Quaresma. Dentre os desejos absurdos desta personagem está o de resolver os problemas do país e o de oficializar o tupi como língua brasileira.
Uma ficção poderosa vai além da crônica. No caso de Lima Barreto, é o jornalismo a serviço da ficção. É uma compreensão mais completa do cenário social e da percepção psicológica do brasileiro urbano com um pé no rural. Em Clara dos Anjos, o autor consegue essa proeza de aliar o registro jornalístico em sua descrição e opinião do Brasil na República Velha, modernizador mas negligente, e o apuro literário na construção de personagens cativantes pelo o que são: Cassi, o marginalzinho branco de boa família; Clara, a jovem negra ingênua; Marramaque, espécie de herói ético; Leonardo Flores, o poeta cheio de verniz, uma paródia do artista comprometido com sua arte, mas cego para tanta coisa... Lima Barreto era um apaixonado pelo subúrbio carioca, a terra dos desassistidos (e os subúrbios não continuam assim?), mas, como disse um especialista, era uma paixão crítica, porque ele criticava todo mundo, os poderosos e o povo. Espantosa a atualidade de um texto escrito há quase cem anos, em sua percepção de mazelas que ainda persistem com um engajamento refinado contra o racismo.
O livro apresenta uma ótima crítica, por se tratar de um livro pré-modernista retoma, na forma de sincretismo, o naturalismo. Porém, o foco da história é deixado de lado e retratado somente no último capítulo de forma breve.
#4,5 "O subúrbio é o refúgio dos infelizes." A grande chave de toda a história, é perceber que a Clara, mesmo dando nome ao romance, não é a personagem principal, na verdade o que parece é que o subúrbio ganha vida e se torna o grande personagem do livro. Além disso, a representação que o Lima Barreto dá, para todas as facetas humanas é incrível, a ironia com que ele aborda vários paradigmas da sociedade é brilhante. Esse foi um dos poucos livros nacionais que eu consegui realmente sentir raiva dos personagens, ou pela sua ingenuidade ou pela pura malvadeza. O Cassi e a Clara, mesmo sendo tratados pela sinopse do livro como protagonistas, são apenas pequenos pontos em todo o subúrbio carioca, sendo também opostos, enquanto o Cassi é uma pessoa ruim (de verdade), dissimulada e desonesta; a Clara, mesmo aparecendo menos que o Cassi, é ingenua, iludida e teimosa. O romance está longe de ser uma história de amor, por mais que, inicialmente, minha expectativa pedisse por isso, acabando por se confirmar uma grande denuncia da falsa democracia racial brasileira, das condições que o ser humano se submete e é submetido... Enfim, foi uma ótima experiencia, uma pena esse livro não ser tão reconhecido no Brasil :(
Mais ou menos até a metade, a leitura estava sendo bem cansativa, desinteressante e até um pouco chata pra mim - motivo pelo qual não dou as 5 estrelas. Mas aí eu continuei lendo, em parte por já ter lido "Triste fim de Policarpo Quaresma" - e ter gostado bastante, e em outra porque alguns livros têm a tendência de nos envolverem mais apenas depois de alguns capítulos introdutórios. E, nesse sentido, é o que considero ser o caso dessa obra. Não desistam dela caso não estejam gostando no início, a história em si só começa a andar depois da metade mesmo, já que no começo temos uma descrição muito (mas muito mesmo) detalhada de todos os personagens e ambientes que são citados. Toda essa longa introdução, ao meu ver, torna-se um pouco desgastante. Na verdade, eu gosto de descrições e as acho necessárias de serem feitas, vez que enriquecem a história, só não me interessam as muito longas, e ao longo desse livro elas se encontram presentes com muita constância, o que eu não lembrava ser uma característica marcante em sua outra obra já mencionada. Pelo menos foi essa a impressão que eu tive. Acho que várias partes podiam ter sido reduzidas sem comprometer a história. Por outro lado, o detalhamento e desenvolvimento de alguns personagens são tão interessantes. Destaco aqui o do poeta Leonardo Flores que, mesmo não sendo principal, possui uma história claramente parecida com a do próprio autor e que me cativou, de alguma forma. Durante um diálogo que, penso eu, é muito bem escrito, sensível e marcante, Lima Barreto representa o personagem e representa a si mesmo. O amor do personagem pela poesia e o uso que faz dela, de forma engajada, isto é, um tipo de literatura que se compromete com a realidade social, é exatamente o que caracteriza o autor e suas obras. Sei nem dizer o quanto acho isso muito bonito, digo, isso de transformar toda dor, opressão e sofrimento em arte, mesmo que os contextos sejam trágicos. Ainda assim, trata-se aqui de dar um grito em meio ao caos e passar despercebido, insignificante ou mesmo esquecido. Flores não foi reconhecido como deveria, enlouqueceu e em nenhum momento conseguiu sair da pobreza - ainda que seus volumes de poesia publicados tenham feito sucesso. Muita gente enriqueceu com suas publicações - menos ele, o que mostra que não houve reconhecimento devido. E sua poética se destacava por expressar não só a sua dor, de homem pobre mulato (termo usado pelo autor), que presenciou a violência durante toda a sua vida e viu seus irmãos morrerem, mas de toda uma coletividade, do povo negro que foi relegado à miséria desde que chegou a essa terra. É nesse sentido de literatura, preocupada em denunciar a realidade tal como ela é, que se encontra a temática desse livro. Importante ver que, ainda que seu nome seja "Clara dos Anjos", a história não é essencialmente sobre Clara. Poderia ser sobre qualquer outra mulher negra e pobre. É, antes de mais nada, retrato de uma sociedade que trata seus corpos e suas dores com indiferença, como se não fossem nada. É uma história que expõe as diferenças entre o tratamento ofertado a Cassi, homem branco, mau-caráter e responsável por arruinar a vida de diversas meninas jovens, e o tratamento ofertado a própria Clara. O primeiro sempre se livrou de qualquer punição pelos crimes que cometeu (na época, tirar a virgindade de uma mulher fora do casamento e engravidá-la, o que o obrigaria a casar-se com ela), seja porque sempre tinha alguém que o protegesse, seja porque, na verdade, nenhum delegado da polícia fazia muito esforço pra que ele fosse punido, por não achar "apropriado" que um homem como ele se casasse com uma "pobre mulatinha". Cassi é protegido, enquanto que suas vítimas, são desonradas, mal vistas e até tidas como "culpadas" por terem chegado a tal situação. De fato, não é por coincidência que ele escolhesse como vítima sempre jovens negras, sem condição financeira e com pouco grau de instrução, para logo após abandoná-las. Para ele, não haveria nenhuma consequência grave. Quando ele escolhe Clara como próximo alvo, portanto, é por já imaginar que ninguém poderia protegê-la caso algo desse errado, ninguém (exceto sua família talvez) nem ligaria muito caso algo acontecesse - sua vida não possuía significância. A própria educação recebida por essas mulheres em seus lares era conservadora, repressora e superprotetora, o que favorecia que tipos como Cassi se aproveitassem delas. E, no caso da personagem que dá nome ao livro, a forma com que havia sido educada não foi por pura maldade ou algo do tipo: seus pais a tratavam com todo o carinho, mas reproduziam essa forma de educar privativa e que a restringia ao ambiente doméstico sem a preparar para as inconveniências da vida. No entanto, será que com Clara finalmente os planos de Cassi podem dar, de alguma forma, errado? Poderá ele ter se enganado sobre ela e finalmente pagar por todo o mal que já fez? Não quero estragar a experiência de ninguém, então só me limito a dizer que o final é genial. Destaco, no entanto, que não acho Clara uma personagem cativante, a personalidade dela é desinteressante na verdade (o que também tem haver com o que é descrito dela) mas ela causa o efeito esperado na gente. Aqui entra outro ponto que talvez explique o fato de não serem muitos os capítulos dedicados a ela, em comparação com o que poderia se esperar já que o livro leva seu nome: a ideia do autor não parece ser a de querer ser porta-voz da perspectiva feminina, mas de, novamente, expor o que observava e considerava injusto na sociedade. Por fim, mais uma vez, ainda que Clara e Cassi possam ser tidos como os personagens principais, suas histórias poderiam se encaixar em uma série de outros casos com outras pessoas diferentes e, ainda assim, continuariam sendo relevantes. E ainda que sejam duas personalidades, duas individualidades, a intenção aqui presente é a de denunciar toda uma sociedade machista e racista, muito além de ser entendida apenas em alguns casos individuais. Não é sobre eles, pelo menos não unicamente. Porque nossos problemas sociais não se resumem a pessoas específicas e não devem ser individualizados. Não se trata de culpabilizar uma pessoa ou de, em outro viés, buscar um caso de exceção para dizer que a regra não é legítima e não se aplica. Aqui há algo muito mais complexo, que envolve mentalidades, que envolve a reprodução de comportamentos naturalizados coletivamente, dos quais podemos não estar nem conscientes que sejam problemas. Se não prestarmos atenção na história, na nossa formação social, nas nossas formas de sociabilidade e nos motivos de serem como são, cairemos no risco de reproduzirmos os mesmos comportamentos opressores e formas de conceber a mulher, especialmente negra, que Lima Barreto já denunciava no século XX e que, infelizmente, ainda são atuais. Nessa perspectiva e, voltando para a questão que falava no começo, sobre as muitas descrições que ele faz no livro, entendo (ainda que mantenha a opinião inicial) que o intuito possa ter sido o de oferecer um panorama de como eram os subúrbios na época e tudo mais, a fim de denunciar com propriedade o abandono por parte do governo, a miséria e a exclusão que os caracterizava. Além disso, é história de sonhos quebrados, de desilusões, de pessoas que vão morar às margens porque não conseguiram ser o que idealizaram para suas vidas. Todas essas formas que compõem o livro, desde o título que nos engana ao pensarmos que a história toda é sobre a Clara dos Anjos até as formas de contar a história, fazem com que ele seja inteligente, interessante e singular. Causa revolta e nos faz refletir. Apesar de ter escrito demais até, termino com medo de ter deixado passar alguma coisa. Lamento que essa obra e o próprio Lima Barreto, um dos grandes autores do século passado que temos, não sejam tão discutidos. Gosto demais da forma com que ele escrevia, por vezes irônica ao falar dos costumes da sociedade e ridicularizá-los, e da forma com que tratou de temas sociais ainda extremamente pertinentes em nosso século. Triste que não tenha sido reconhecido em vida e que ainda não o seja suficientemente hoje em dia.
O livro é bom. O enredo é bem interessante mas a forma como é desenrolado é controversa. Por um lado, apesar da brevidade de páginas, envolve muitos personagens e elabora bastante sobre cada um (o que é extremamente chato na minha opinião e, não fosse isso, o livro poderia ter 30 páginas); por outro lado, o desenvolvimento do passado e da psicologia de cada personagem revela uma capacidade fenomenal de Lima Barreto de retratar o brasileiro como o ser hipócrita, complicado, arrogante, ignorante, volátil e incerto que é.
Lima Barreto fazia parte de um período literário chamado pré-modernismo que não chega a ser um gênero, mas sim um termo genérico pros livros e autores (Os Sertões de Euclides da Cunha, Sítio do Pica-pau Amarelo de Monteiro Lobato) que não se encaixavam no realismo e naturalismo vigentes de Machado de Assis e Aluísio Azevedo. Optava pela linguagem mais acessível e sobre os dramas do brasileiro real, aquele dos subúrbios. Afinal, para que linguagem rebuscada se as suas tramas e personagens andassem pelos subúrbios e não pelos palacetes?
O livro é devagar e definitivamente não é um page-turner, mas foi de 3 a 4 estrelas pela capacidade genial do autor.
A narrativa é rica em detalhes sobre o Rio de Janeiro e os seus subúrbios. Muito mais histórico do que um romance. Todos os personagens são intrigantes e mereceram espaço no livro, principalmente Marrameque que desde jovem trabalhava e era um homem muito inteligente mesmo depois dos problemas de saúde não deixava se abater.
Percebe-se a limitação mental de boa parte dos personagens, não possuem nem conhecimento de mundo e nem de conhecimento sobre assuntos gerais. São pessoas que só vivem naquele mundo fechado dos subúrbios.
Não é à toa que a Clara é influenciada por essa limitação, vive a sonhar com um amor por meio das modinhas(músicas da época) e depois casar e viver igual a mãe, servindo o marido ou filhos. Existe o aspecto social e racial, contudo a personagem se deixou sonhar com uma vida de princesa quando o malandro do Cassi nunca deu nada de concreto a essa moça.
Aqui nesse romance acompanhamos a Clara dos Anjos, uma adolescente pobre e mulata do subúrbio carioca, filha de funcionário publico e de uma dona de casa que a protegeu muito, ela acaba se apaixonando por um malandro branco de classe média que está acostumado a se safar sempre por causa da sua posição social.
Eu nem sei por onde começar, sempre que eu leio um clássico brasileiro eu fico abismada com a qualidade e como nunca vou conseguir falar de tudo que o livro tem a oferecer, dessa vez não foi diferente. Comecei o livro sem grandes expectativas pois é um material de estudo para uma prova mas acabei me surpreendendo muito com a profundidade das críticas do autor para a sociedade brasileira, tratando de negritude, papel de gênero, alcoolismo e até feminícidio.
Foi a primeira obra de Lima Barreto que eu li e com certeza quero conhecer as outras, eu amei o tom jornalístico que ele apresenta na escrita e como suas opiniões fortes foram tão a frente do seu tempo. Durante o romance a gente percebe que além da Clara temos outras personagens reforçando a crítica do autor sobre como os homens brancos abusavam das mulheres de situação de vulnerabilidade, tem discussões sobre cor e várias outras críticas e referencias ao Brasil de sua época (que podem ser usadas até os dias de hoje).
“O subúrbio é o refugio dos infelizes”.
Não posso deixar de mencionar em como a edição que eu li me ajudou a ter essa opinião tão positiva do livro, o material extra de apoio é sensacional, destacando e analisando mais afundo as referencias do autor, recomendo muito.
" - Mamãe! Mamãe! - Que é minha filha? - Não somos nada nesta vida."
Um livro pré-modernista, mas que ainda retrata o atual racismo e sexismo que cerca a mulher negra. Achei super interessante a construção dos personagens, como o do Cassi Jones, um homem branco extremamente problemático e doente. Os pais de Clara dos Anjos, extremamente protetores e a própria Clara, uma menina ingênua. Mostrando as influências do naturalismo, que eu, inclusive, gosto muito. "Escolhia bem a vítima, simulava amor, escrevia detestavelmente cartas langorosas, fingia sofrer, empregava, enfim todo o arsenal do amor antigo, que impressionava tanto a fraqueza de coração das pobres moças daquelas paragens, nas quais a pobreza, a estreiteza de inteligência e a reduzida instrução concentram a esperança de uma felicidade num Amor, num grande e eterno Amor, na paixão correspondida. Sem ser psicólogo nem coisa parecida, inconscientemente, Cassi Jones sabia aproveitar o terreno propício desse mórbido estado d'alma de suas vítimas, para consumar os seus horripilantes e covardes crimes; e, quase sempre, o violão e a modinha eram seus cúmplices..."
O único traço negativo desse livro é que algumas partes eram cansativas de ler apenas porque o foco da história só é retratado no final.
mto bom. narrador onisciente é meio chato as vezes, maluco entrometido kkkkk quer me explicar o livro é kkkk, mas ta de boa. mto bom, jóia rara, magia pura da literatura nacional. edição da pinguin foda, da pra conhecer td do rio só com as nota de roda pé. o foda é q lendo, como nunca fui ao rio, não da pra ter mta noção da riquíssima descrição q ele faz da cidade, única coisa q vem a cabeça são as novelas de época da odiosa rede globo, odiosos aparelhos ideológicos do capital..
Nas primeiras décadas do século XX, se desenhava a estratificação socioespacial do Rio de Janeiro a partir da “separação” simbólica entre a região constituída pela região central da cidade e pelos bairros recém ocupados da Zona Sul e os subúrbios que se erigiam ao longo da Central do Brasil, em direção à Zona Norte. Parte significativa dos literatos que vivenciaram a passagem do século, como Machado de Assis, detinham olhares sobre o ethos das elites cariocas, que compartilhavam as adjacências do Centro - com seus elegantes cafés e demais simulacros da noite parisiense - com a boemia de que faziam parte os autores. Não raro, os escritos machadianos, a título de exemplificação, trarão protagonistas que garantem subsistência material ociosamente agarrados em suas heranças, carreiras políticas ou, quando muito, no funcionalismo público, negligenciando a face suburbana da cidade. . Em um contexto como esse, Lima Barreto é autor emblemático pois descoloca o cenário de seus textos para os subúrbios, em que a miséria e a injustiça social são as principais forças niveladoras: “o refúgio dos infelizes”, dirá, “é assim o subúrbio, na sua pobreza e no abandono em que os poderes públicos o deixam. Pelas primeiras horas da manhã, de todas aquelas bibocas, alforjas, trilhos, morros, travessas, grotas, ruas, sai gente, que se encaminha para a estação mais próxima”. Longe da verticalidade homogeneizadora dos planejamentos urbanos, a trama se desenrola nas esquinas, nos bares, nas estações de trem, entre serestas, trabalho e toda sorte de artifício que assegure o mínimo de bálsamo que aquele posicionamento possibilita. . CLARA DOS ANJOS, esboçado em 1904 mas publicado postumamente em 1923, apresenta personagens em cujas biografias o fracasso desempenha papel fundamental. A família da protagonista, que dá título ao livro, é formada por um carteiro que diariamente toma o trem rumo ao centro da cidade, mas que, nos interstícios de seu cotidiano, tem o violão e as modinhas como hobbie; por uma dona de casa que, como 90% da mulheres suburbanas do período, dedicava-se exclusivamente às atividades domésticas, dentre as quais destaca-se a educação da filha Clara. Esta fora educada segundo preceitos morais caros ao período retratado, em uma vida reclusa, com pouca ou nenhuma informação sobre o mundo exterior e destinada à castidade de cunho monástico esperada das mulheres solteiras. . O sedutor Cassi Jones, famoso por suas atividades ilícitas estampadas em capa de jornal - “ultimamente, era agente de jogo do bicho” -, seria a desgraça de Clara e sua família. Ao menos é a previsão do padrinho da moça, Marramaque, quando o famoso malandro e seu violão se tornam o centro das atenções na festa de aniversário de Clara. Cassi tinha em seu “currículo” “perto de dez defloramentos e a sedução de muito maior número de senhoras casadas”, frequentemente atribuídos à forma com que tocava seu violão e cantava. Dali em diante, a figura do dentista clandestino alcoólatra Meneses se torna o adjuvante principal da trama de aproximação entre Clara e Cassi. Fazendo alusão a uma letra de Samuel Rosa, a primeira “procurava um príncipe”, o segundo “procurava a próxima”, enquanto o agenciamento de Meneses, como mensageiro de ambos, assegurará uma catástrofe dupla: a sedução de Clara e a morte de Marramaque. . A tragédia da primeira sobrepuja a segunda, porque revela, a um só tempo, as problemáticas da estratificação de gênero e do preconceito racial como determinantes dos relacionamentos sócio-afetivos, fazendo de Lima Barreto um autor atual como poucos. Há duas cenas, em específico, que poderiam facilmente ter lugar hodiernamente: (i) quando Clara irá conversar com a mãe de Cassi sobre o relacionamento de ambos, esta é taxativa ao responder: “Que é que você diz, sua negra? (...) Ora, vejam vocês, só! É possível admitir-se meu filho casado com esta... casado com gente dessa laia... Qual!... Que diria meu avô, Lord Jones, que foi Cônsul da Inglaterra em Santa Catarina?”; (ii) a mesma Clara é abandonada à própria sorte após o efêmero relacionamento com Cassi Jones e irá refletir, equacionando a circunstância ora vivida e a moralidade segundo a qual fora socializada: “Ele fugira, e ela ficara com o filho a gerar-se no ventre, para a sua vergonha e para tortura de seus pais. Imediatamente, o seu pensamento se encaminhou para o ‘remédio’ que devia ‘desmanchá-lo’, antes que lhe descobrissem a falta. Tinha medo e tinha remorsos. Tinha medo de morrer e tinha remorsos de ‘assassinar’ assim, friamente, um inocente. Mas… era preciso”, indicando um dilema moral frequentemente enfrentado por mulheres grávidas há tempos, mas ainda hoje interditado por tabus de ordem religiosa. . Trama saturada de fraquezas e imperfeições humanas, CLARA DOS ANJOS adota alguma dose do fatalismo característico do realismo brasileiro, atribuindo ao espaço geográfico dos subúrbios uma “quase agência” capaz de replicar padrões biográficos entre seus moradores. Mas um fatalismo necessário para o enfrentamento do real: “nós não somos nada nesta vida”, é a conclusão de Clara que, segundo o diagnóstico de Barreto, carecia de educação para “bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente”.
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A Obra se conjectura como algo inovador e disruptivo do autor, pelo qual o mesmo não realiza uma narrativa que dá papel ao personagem, mas a conta por intermédio de um estilo que muito recorda as fofocas, o livro relata a história (com notória ênfase em cada ínfima característica dos personagens) de Clara dos Anjos, porém por intermédio das pessoas que convivem com ela, apresentando o seu pai e seus amigos de forma que contribui a realizar uma panorama do contexto de uma classe subalterna na década de 1920 no Brasil, e conta como a mesma se apaixonou por Cassi que como já havia feito outrora com outras meninas a abandonou grávida. Especificamente por mais que se conjecture como implícito durante o livro o mesmo se apresenta como um retrato social do Brasil, análogo a uma crítica e uma sociedade que se baseia em privilégios e mentiras para formar uma identidade. Apresentando Cassi como a representação da elite esdrúxula e inferior que realiza inúmeros delitos por décadas e devido ao seu prestígio possui conhecimento que jamais sofrerá nada, em uma sociedade em que pessoas como ele agem como psicopatas ao induzir meninas sem condição e posteriormente tornando a vida das mesmas miseráveis, uma tragédia que o mesmo apresenta como a pior doença do sistema carcerário brasileiro; juntamente com a apresentação de Clara dos Anjos, uma menina mulata e pobre que fora iludida pelos padrões do romantismo ao se instituir uma síndrome de Estocolmo, e como a mesma por suas escolhas e a falta de discernimento torna sua vida miserável. Por fim o livro de trata de uma exposição das características dessa sociedade de privilégios, em que tudo se vale a beleza e status, em que até mesmo entre os pobres ocorre um colorismo e escalas de poder, em que uma pessoa pode acabar com a vida de outra e sair com a impunidade e a injustiça; ao mesmo tempo que como ele apresenta com maestria em seu diálogo final, o pobre não significa nada.
Afonso Henriques de Lima Barreto (1881/1922), ou simplesmente Lima Barreto como ele é mais conhecido nos meios literários, nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Foi jornalista, romancista, contista e cronista. Não conseguiu, em sua breve vida, o devido reconhecimento de seus talentos como escritor e sua obra, por muito tempo, foi considerada irrelevante. Nas últimas décadas, no entanto, sua obra tem sido revista e o valor do escritor como um privilegiado cronista e observador da realidade brasileira tem recebido a relevância que merece, sendo que hoje ele é considerado um “Triste Visionário”, título da excelente biografia escrita pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz publicada em 2017. O romance “Clara dos Anjos”, tem várias versões com “finais alternativos”. Esta versão, publicada como ebook pela editora Paulus é a versão finalizada pelo autor depois de vários esboços que chegaram a ser publicados como conto e novela. Em “Clara dos Anjos” a doce e inocente Clarinha, “quase negra” é seduzida, engravidada e abandonada pelo “quase branco”, sedutor, sádico e inescrupuloso Cassi Jones. O romance denuncia de forma contundente o racismo, também forte entre os habitantes do subúrbio como muito bem demonstra a resposta que a cruel mãe de Cassi Jones dá a uma desesperada Clara que a ela recorre quando descobre a gravidez: “Que é que você diz, sua negra”.
Lilia Moritz Schwarcz, biógrafa de Lima Barreto, declarou o seguinte acerca de “Clara dos Anjos”:
“Este foi, em qualquer uma de suas versões, o texto de Lima mais voltado para as especificidades dos subúrbios e também o mais preocupado em delimitar as divisões espaciais e simbólicas que por lá se estabeleciam”.
O romance é muito bom embora o autor às vezes se perca em tramas paralelas. Lima Barreto já fez muito melhor, por exemplo em “O triste fim de Policarpo Quaresma”, “Recordações do escrivão Isaías Caminha” e “Os bruzundangas”, mas mesmo assim é uma boa pedida.
Muito atual, e já nas primeiras páginas bateu uma sensação dos personagens estarem representando movimentos e contextos históricos. Cassi Jones, branco com sobrenome fake, tem um pai firme mas uma mãe passa-pano, e pela milésima vez, procura uma coitada para se aproveitar, e aí que aparece Clara dos Anjos.
Clara, tem uma ingenuidade aterrorizante, e que mais tarde, provoca mudanças irreversíveis para a família.
Lima Barreto nos dá, vários trechos engraçados, mas que também documentam muito o Brasil e particularidades, tais como "Quick Shays, homem tenaz e cheio de uma eloquência bíblica, que devia ser magnífica em inglês; mas que, no seu duvidoso português, se tornava simplesmente pitoresca. Era Shays Quick ou Quick Shays daquela raça curiosa de yankees fundadores de novas seitas" e adiante, "O povo é avesso a guardar os nomes dos autores, mesmo os dos romances, folhetins que custam dias e dias de leitura. A obra é tudo, para o pequeno povo; o autor, nada.
Cara, olha o Lima descrevendo enterros: "Os de adultos são carregados por adultos. Nestes, porém, há sempre uma modificação do indumento dos que acompanham. Os cavalheiros procuram roupas escuras, senão pretas; mas, às vezes, surge o escândalo da sua calça branca." Como não se identificar? Essa coisa Brasil comédia-trágica. Ao mesmo tempo, a calça branca, que a principio, parece um erro, se torna uma sinalização de paz.
Continuo minha redescoberta da literatura brasileira. Li uma versão em quadrinhos de “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, no ensino fundamental. Sou uma grande apaixonada por livros que têm como título o nome de sua protagonista mulher: “Clarissa”, “Emma”, “Matilda” etc. Por isso, decidi ler este livro.
O começo e o fim de “Clara dos Anjos” é um sólido 5 estrelas, especialmente o final bem shakespeariano com personagens morrendo e a tragédia sem solução. Que ódio eu senti do Cassi, sujeito vagabundo!! Um dos melhores momento do livro, pra mim, foi quando a mulher que foi a primeira vítima do Cassi chamou a mãe dele de “galinha d’Angola”. Finalmente um momento de alívio e reparação (mesmo que leve)! A última cena com a Clara grávida pedindo ajuda à família dele, e a mãe dele sendo racista é atual cem anos depois de ter sido escrita.
Eu sou completamente apaixonada por ler livros ambientados no meu Rio de Janeiro! Conseguir pegar as referências sobre os lugares mencionados e imaginar como eles eram há cem anos é mágico pra mim!
Eu achei o vocabulário e as estruturas gramáticas bem difíceis! Me senti humilhada tendo mais dificuldade pra ler um livro antigo brasileiro do que livros antigos em inglês hahahaha. Lima Barreto também divaga muito, o que me deixava perdida.
No final, “Clara dos Anjos” é um livro potente sobre racismo e machismo, incluindo tópicos como aborto, assassinato, desigualdades sociais, e os perigos da inocência excessiva.
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COMO UMA HISTÓRIA ESCRITA HÁ 100 ANOS CONSEGUE SER TÃO ATUAL???
Eu amo Lima Barreto. Isso é fato desde que li O Triste Fim de Policarpo Quaresmas (se não leu, LEIA!!!). E o que mais amo nele é a capacidade de transmitir todas as sensações que ele deseja com simples palavras.
⚠️ possíveis spoilers a partir daqui ⚠️
Em Clara dos Anjos isso não foi diferente. Nesse livro, na verdade, vamos acompanhar, além de Clara, Cassi Jones um [comentário removido pelo departamento jurídico] que, com todo seu charme e sedução, atrai mulheres, em sua maioria, pretas e as engravida, largando-as logo em seguida. A pobre Clara, infelizmente, também caiu na lábia desse homem, mesmo sendo avisada por todos do tipo dele (além de ela ter ficado toda apaixo). E após ficar grávida, ela percebe que não é nada. “— Mamãe! Mamãe! — Que é, minha filha? — Nós não somos nada nesta vida.”
Uma coisa que me chamou atenção foi a possível psicopatia (???) de Cassi. O homem não sentiu remorso ou quaisquer sentimentos após mandar assassinar Marramaque??? Também não sente nada, que não prazer, ao fazer as moças de brinquedo. Bem, se é psicopata ou tem algum transtorno do tipo não sei, mas que é um grande de um canalha isso é inegável.
⚠️ os spoilers acabam aqui ⚠️
Foi um livro suuuper rápido de ler, o autor consegue prender o leitor do início ao fim. Recomendo a todos!!
Uma leitura reveladora e indispensável sobre os diferentes sujeitos periféricos no Brasil do século 20. Uma narrativa que mapeia dores, preconceitos e a cultura racista e eugenista que vem assolando o Brasil desde que o país se viu obrigado a alforriar os sujeitos escravizados. Os homens pretos no Brasil são sujeitos de segunda classe, relegados a subempregos para não morrerem de fome e de doenças, já as mulheres pretas são violentadas, têm suas dignidades e caráter avaliados em suas belezas exóticas e altamente fetichizadas por homens em sua maioria brancos. Esse país não mudou nada. O Brasil ainda tem várias Claras por aí inseridas num pano de fundo grotesco onde habitam os desafortunados e desiludidos com o país. É por isso que, como homem negro, não-branco, versado em Frederick Douglass e tantos outros autores que formaram meu pensamento crítico, repito e ensino aos meus alunos e amigos: PRECISAMOS DE EDUCAÇÃO. É URGENTE. SÓ A EDUCAÇÃO PODE TRANSFORMAR OS NOSSOS SUBÚRBIOS QUE LIMA DIZIA SER O REFÚGIO DE INFELIZES EM UM LUGAR DE FELICIDADE COLETIVA E DE PERSEVERANÇA.
***Minha única crítica ao livro é a “pressa” no desdobramento da relação entre Cassi e Clara. Lima constrói um suspense e uma grande expectativa em como Cassi vai atingir seu objetivo com Clara e do nada no capítulo 9 descobrimos que ele a desvirginou.
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Um romance breve, curto e pesado de se ler. A desigualdade social, aliada a questão racial e suas complicações evidentes no cenário pós-abolição da escravatura brasileira e a representação dos contrastes sociais e raciais em um Rio de janeiro, bem diferente da ideia que poderia ser imaginada. Embora a crítica nada velada e bem dura ao racismo aconteça, o foco da história é mostrar as mazelas sociais de uma cidade e seus habitantes quase anônimos. É difícil avaliar a obra, ela mostrou-se para mim algo bem dura e a leitura não fluiu tão bem quanto eu desejaria. Meu problema principal com esse livro é a própria protagonista da obra, Clara dos Anjos, além de ela aparecer bem pouco durante a história, não senti uma boa construção da personagem e também não houve sequer uma evolução sequer no decorrer da história. É a típica protagonista sem graça e sem muita profundidade que inundam a literatura. Cassi Jones, o principal antagonista do livro, é odiável, ok, já tinha entendido isso, porém Lima Barreto insista tanto através de sua narração e das falas de seus personagens o quanto ele é mau, cretino, bandido, vagabundo, sem caráter, etc etc que se tornou maçante, eu já tinha entendido desde o início sobre isso. O final do livro é bem apressado e parece até mesmo que algo está meio perdido, a narrativa mais realidade dá espaço para um melodrama cansativo e cenas bem lugares comuns. Perdeu a força demais do tom de denúncia que o livro estava carregando até aquele momento. Queria ter gostado mais deste livro, reconheço seus méritos e suas qualidades, porém não foi tão bom quanto eu desejei que fosse.
Clara dos Anjos Essa obra de Lima Barreto, um clássico da literatura nacional, mantém-se relevante até os dias atuais. Principal fator que torna uma obra um clássico, na minha opinião. A história é curta, e parece simples à primeira vista, mas não se mantém simples, ao contrário a profundidade dos temas tratados e dos acontecimentos é excepcional. A versão que li contém comentários da Lilia Moritz e Pedro Galdino, que visa ajudar estudantes no vestibular e facilitou muito o meu entendimento. A história localizada no Rio de Janeiro, conta a história de Cassi Jones, um rapaz branco, de comportamento e personalidade que o deixaram com uma má reputação na vizinhança. O violeiro aplica golpes em mulheres e depois as engravida fugindo sem assumir os filhos. Já Clara, é um jovem mulata, filha do pai carteiro, a garota é descrita como ingenua da vida e de coração mole. Seguimos toda narrativa de como os dois se aproximam. E o desenrolar do romance dos dois mesmo com a proibição dos dois de se encontrarem. A leitura é muito bom e fluida, a dificuldade é adaptação uma realidade de outro século.
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A escrita do Lima Barreto agrada, mas a história não. As partes que ele descreve uma região do Rio ou conta uma parte da história de vida de um personagem formam retratos sociais bem interessantes, mas as partes de "pessoas fazendo coisas" não convencem. Todos os personagens são meio caricatos no sentido de "veja bem, era IMPOSSÍVEL tal pessoa ter avisado a Clara por esse e esse motivo", e soa como uma série de coincidências absurdas e desculpinhas. Talvez seja intencional, talvez seja pra dizer que a sociedade só não se importa o suficiente com uma moça negra e pobre, mas que todo mundo arranja uma desculpa pra poder conviver com a própria consciência... mas o resultado acaba sendo uma história que você sabe o que vai acontecer a partir da página 4 e que o caminho para chegar lá é chato. Eu tinha pelo menos a esperança de alguma coisa turbulenta e trágica no final, mas nem isso. A única tragédia foi a anunciada, e considerando o quanto os personagens são caricatamente burros e inertes, eu não consigo nem ter dó.
O livro é muito bom e não tem como se emocionar com o último capítulo, a frase: "agora é que tinha noção exata da sua situação na sociedade. [...] ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos." Essa frase me deixou com os olhos cheios de lágrimas e me tocou profundamente, principalmente se você for uma mulher negra, em alguns aspectos, você consegue sentir o que é ser uma Clara.
O livro pode ser entendido como um relato da sociedade brasileira da época, mas a estrutura dessa sociedade pode ser observando hoje em dia. Infelizmente você consegue observar os personagens andando pelas ruas...
Um outro questionamento que me veio lendo Clara Dos Anjos é sobre o local onde os personagens moram, parece que por viverem em um subúrbio os personagens são doentes, seja na moral, seja psicologicamente ou no corpo.
Coloquei 4, mas considero 5. Incrível a forma como o escritor, mesmo com sua condição social precária, foi capaz de criticar e descrever sua realidade de forma tão precisa e fiel, com o uso excepcional da íngua portuguesa e com muito estilo. Percebe-se suas próprias opiniões, reflexões e dores, e sentimos na pele o sofrimento de muitos, de minorias tão distintas, que são desconsideradas e desclassificadas pela sociedade, pessoas únicas que acabam sendo a mesma coisa: “Não somos nada.” Será? será que cada indivíduo, tão complexo e perfeito, cheio de potencial, com suas particularidades, pode ser nada? Fica a crítica do autor, e a minha reflexão.