No momento em que narra os fatos de 'Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios', o fotógrafo Cauby está convalescendo de um trauma numa pensão barata, numa cidade do Pará que algum tempo antes fora palco de uma corrida do ouro. Sua voz se propõe a ser impregnada da experiência de quem aprendeu as regras de sobrevivência no submundo - mas não é do ambiente hostil ao seu redor que ele está falando. O motivo de sua descida ao inferno é Lavínia, a misteriosa e sedutora mulher de Ernani, um pastor evangélico. A trajetória do fotógrafo vai sendo explicada por meio de pistas - a história de Chang, morto num escândalo de pedofilia; o mistério de Viktor Laurence, jornalista local que prepara uma vingança silenciosa; a vida de Ernani, que no passado tirou Lavínia das ruas e das drogas. Mesmo diante dos riscos, Cauby decide cumprir seu destino com o fatalismo dos personagens trágicos.
Marçal Aquino nasceu em Amparo, no interior paulista. É jornalista, escritor e roteirista de cinema e de televisão. Publicou, entre outros livros, o volume de contos O amor e outros objetos pontiagudos, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti, e o romance Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Atuou como roteirista de filmes, como Os matadores, O invasor e O cheiro do ralo. Seu trabalho está publicado na Alemanha, Espanha, França, México, Portugal e Suíça. É autor do conto “Balaio” na coletânea Eu sou favela, título inaugural da Editora Nós.
"Falamos, falamos, falamos. E mesmo assim faltou dizer tanta coisa. E escutar também. Ela nunca disse que me amava. Jamais ouvi de seus lindos lábios a sentença que pronunciei algumas vezes."
Este é daqueles livros que uma pessoa tem vontade de citar a cada frase lida. Se no ano passado, o livro que mais me marcou foi "A Chuva antes de Cair", penso que este "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios" será um dos fortes candidatos de 2013 a preferido no meu coração. O mais curioso é que ambos os livros foram recomendados pela mesma pessoa. Um livro para ser sorvido, pensado, sentido. Um livro de muitas intensidades. Houve um momento em que tive de fazer uma paragem na leitura tal era a intensidade dos sentimentos. Mas que não se pense que é um livro cor-de-rosa, com uma história de amor limpa e cândida. Não. Sobretudo, o livro trata do relato de um amor doído, difícil, visceral e que nos traga completamente para dentro de sua complexidade. Uma história que abrange todas as profundezas a que um ser humano pode mergulhar e afundar; na sua porção agonia, desespero, amor, desejo, esperança e paixão. Cauby e Lavínia serão, para mim, personagens inesquecíveis - pela sua natureza tão humana, tão falha e tão corruptível.
Decidi fazer uma resenha desse livro porque as que encontrei aqui não conseguiram exprimir o que senti lendo ele. O livro de Marçal Aquino é muito bem escrito, mas a história me deixou extremamente desconfortável.. Talvez se eu tivesse lido esse livro há 5 anos eu o veria de outra forma, talvez até achasse realmente se tratar de uma história de amor. Mas hoje, vejo uma narrativa extremamente misógina, uma história de um mulher silenciada, abusada e tratada como objeto por todos os homens que passaram pela sua vida.
Lavínia, a mocinha, é casada com um pastor e ao longo do livro vamos conhecendo sua história trágica, desde o caso de abuso na infância, até o vício em drogas e remédios. E aí surge o pastor, o primeiro homem na trama que vem “salvar” Lavínia mas que na realidade tem interesse somente na sua beleza e corpo. A história real, o que ela sente e pensa não interessa a ninguém (ou pelo menos é ignorada no livro). A narrativa é cheia de clichês que justificam a loucura de Lavínia - e essa loucura a deixa sexy aos olhos do protagonista (o fotógrafo Cauby). Cauby diz que existem duas Lavínias, a recatada e a louca, e seu interesse obviamente é apenas pela segunda. Não há amor, há a atração sexual e uma vontade de todos os homens ao redor de Lavínia de a sugarem e tentarem salvá-la.
Tudo isso, que para autor é tido como poético e romântico acaba sendo apenas mais um exemplo do fetiche masculino pela loucura feminina - e isso não é uma história de amor. Acredito que seja importante ler o livro observando todas essas questões, que talvez passem batido principalmente pelos leitores homens.
É um livro de linguagem que flui, mas não é um livro que te marca. As citações que Cauby faz do autor de um livro sobre amor (eu fui pesquisar, ele não existe) são de longe as melhores partes - tanto que fiquei mais curiosa pra ler o autor fictício do que pra terminar esse livro.
O primeiro encontro entre os personagens principais do romance me fez revirar os olhos de tão clichê. As descrições que Cauby faz de Lavínia são extremamente superficiais e a dicotomia da personagem entre puta e santa é por demais simplificada - qualquer um que conheça o mínimo de feminismo sabe que as mulheres são geralmente resumidas a uma ou outra. Esperava mais do que a fórmula de juntar as duas numa mesma mulher (também não é algo novo).
Rolaram algumas surpresas: a história do careca foi interessante, o final de Chang e até o encontro do Chico Chagas, a história antiga de Cauby, de como começou a se interessar por fotografia, foi legal. Simpatizei com o tatu Zacarias.
Tive pena de Lavínia, não só pela sua história ser muleta do desenvolvimento do protagonista, mas também por sentir que não a conhecemos de verdade. Eu leria um livro sobre a história dela.
Uma boa história, muito bem contada, que se lê num ápice. Cauby é realmente um machista de quinta categoria e Lavínia é uma mulher sexualizada. Como é que desta combinação pode nascer poesia e um amor redentor? A verdade é que sai.
Este romance foi publicado em 2005 e, se não fosse pela sua retirada da lista de leituras para o vestibular (2023) da Universidade de Rio Verde (UniRV), em Goiás, talvez nunca tivesse ouvido falar dele. Ao que parece, O Avesso da Pele e Outono de Carne Estranha (próxima leitura) foram censurados este ano de 2024 numa escola estadual do Rio Grande do Sul.
Num livro pequeno, com pouco mais de 200 páginas, somos transportados para o interior do estado do Pará, aquele Brasil profundo, pouco visto e conhecido.
A história centra-se no amor e nas suas consequências, narrando a vida de Cauby, um fotógrafo paulista que recebe financiamento para documentar a vida das mulheres que se prostituem na cidade. É na loja de um chinês pedófilo que ele conhece Lavínia, uma jovem mulher como tantas outras em todo o Brasil, proveniente de um lar desestruturado, vítima de toda a violência possível, mas que ainda alimenta esperanças de encontrar o amor.
Alguns amores levam à ruína. Eu soube disso desde a primeira vez em que Lavínia entrou na minha casa.
Lavínia é casada com Ernani, pastor de uma igreja evangélica, que divide o seu tempo entre a construção de templos, pregações e tentativas de salvar as almas perdidas.
O romance é narrado por dois protagonistas: Altino, um bancário que viveu em função do seu amor platónico por Marinês, sua colega de trabalho, já falecida, e Cauby, que através das memórias de Altino nos relata a vida de Lavínia e Ernani.
É uma leitura que começa de forma lenta, mas que se torna avassaladora ao longo das páginas, não só pela intensidade das histórias e pelas personagens muito bem desenvolvidas, mas também pela escrita e pela forma como o autor cria uma atmosfera densa e envolvente.
Acho que, como todos os livros, existem diversas formas de ler esse aqui e que nenhuma delas está errada.
A escrita do autor é um ponto alto e que me cativou desde o início, a forma como ele parece estar, sutilmente, fazendo uma crítica e a forma que ele posiciona a história e as perspectivas temporais conseguindo faze-las funcionarem foi incrível
Sobre o desenvolvimento, acho que o livro apresenta marcas do tempo e que essas devem ser levadas em consideração, frases e palavras ditas são difíceis de engolir e incomodam durante a leitura. O fato do livro ser caracterizado por uma narrativa através do olhar masculino onde coloca a dualidade de um personagem até então complexo como a Lavínia, manifestada (quase que apenas) a partir da expressão de sua sexualidade foi algo que ficou me catucando durante toda a história e senti falta de um algo mais.
Eu acho que é um livro que vale a leitura, pelo seu final e pela forma como a escrita vai se construindo, senti coisas com ele que não esperava sentir, muitas vezes positivamente. E por fim, me permito dizer que o personagem principal me impediu de ter uma experiência melhor por que homem obcecado por uma mulher me deixa nervosa.
Esse livro sequestra sua mente! É escrito numa dinâmica muito bem articulada, com personagens interessantíssimos! Muito bem construídos, humanos, com suas sujeiras e suas belezas. Uma obra de arte realmente! Recomendadíssimo!!
O livro tem momentos muito bons, mas outros que não conseguiram dialogar comigo de jeito nenhum. Não sei explicar qual foi a minha sensação lendo, porque tive sentimentos muito conflitantes.
Estou simplesmente destruída. Que livro, meu Deus.
Há muito tempo não me deparava com história que me deixasse completamente imersa.
Que escrita maravilhosa. Durante todo o livro existe uma mistura entre passado, presente e futuro. Essa alternância não é delimitada, porém não há dificuldade em se situar. É tudo muito bem construído. Que livro incrível.
É muito difícil não entrar nessa história, não viver essa história. Os personagens são MUITO bem construídos, parece até que eles existem realmente. Com certeza, se eu conhecer alguém com determinadas características, facilmente irei associar à Lavínia ou ao Cauby.
Um trecho que descreve bem meus sentimentos em relação a esse livro é: "Uma felicidade sem futuro, como qualquer felicidade que se preze.". Fui muito feliz ao ler, mesmo sabendo que ele chegaria ao fim (desejando que não chegasse). Gostaria de mais 200 páginas para poder (ou ter capacidade) de me despedir direito. Ainda mais pq esse livro terminou exatamente como o título do último capítulo: "Poema escrito com bile".
[4.7/5] “Estava imerso no feitiço de Lavínia, envolvido numa espécie de neblina doce e dolorosa. Uma felicidade sem futuro, como qualquer felicidade que se preze.” - que livrinho cruel. narra a história turbulenta da vida do fotógrafo cauby após o encontro com lavínia, dois espíritos hostis que vivem, por mais de um ano, um romance febril. os fatos, em sua maioria, são narrados pelo próprio cauby, que repousa de traumas terríveis em uma pensão no pará, através de lapsos de memória que nos transportam para diferentes lugares no tempo, porém, muitas vezes, a voz é transmitida para terceira pessoa, e, assim, passamos a conhecer os outros personagens envolvidos na trama, suas histórias, angústias e dores. - é maravilhoso o jeito com que o autor “espalha” os elementos que desencadeam um caos terrível, o auge de todo o sofrimento causado aos personagens. - é simplesmente visceral, não há nada minimamente admirável nessa história. os personagens são todos pessoas transtornadas e sensíveis, marcadas pelo vício e pela obsessão, pelos traumas e feridas, pelos sentimentos incorrespondidos, pelo abandono e crueldade de um mundo selvagem que apedreja sem dó. [em outras palavras = são todos doidinhos de pedra e sem sorte que dure] - e o que mais me marcou foi o estado decrépito do corpo e da vida do cauby depois de tudo o que aconteceu, eu quis GRITAR LOUCAMENTE que tava tudo errado, que não era justo, que ninguém deveria sofrer tanto assim por alguém. eu sei (e ele também soube) que não foi falta de aviso, mas MINHA NOSSA, CAUBY, te faltou ódio. [em outras palavras = um romance INCRÍVEL, fiz muitas marcações enquanto lia]
Esse livro é péssimo e eu me senti extremamente desconfortável na maior parte da leitura.
Lavínia é uma mulher que foi abusada, viveu em lar abusivo, foi garota de programa, ex dependente química e com um transtorno psiquiátrico. E então surge o pastor que a "salva" tirando-a rua e casando com ela - mesmo sendo muito, MUITO, mais velho (por que quase ninguém fala sobre isso?). O protagonista, o fotógrafo Cauby, vive uma "história de amor" como amante de Lavínia, que ele descreve como amor a primeira vista. Ele também diz que existem duas Lavínias - a recatada e a louca. Ao ser contada sua história com o pastor, percebe-se que ele também conhecia essas "duas Lavínias". O problema era que Lavínia recatada era uma pessoa extremamente triste, deprimida e "alheia" a tudo. Enquanto Lavínia louca era uma mulher que amava sexo e fazia loucuras na cama. E, é claro, qual das Lavínias ambos esses homens gostavam? Qual Lavínia era a que Cauby sequer se importava? O passado dela não é nem um pouco explorado e todo o desenvolvimento do relacionamento tanto com o pastor quanto com o Cauby é focado no tanto que Lavínia era uma mulher sensual e doida na cama.
Achei triste e desconfortável uma história de amor que é focada na objetificação de uma mulher quebrada e abusada. Pro autor, a existência de duas Lavínias é algo poético. Aliás, o livro inteiro é uma tentativa desesperada de ser profundo demais. A loucura feminina aqui é um fetiche enquanto é misteriosa, até que ela explode e então vira histeria. No final, quando Lavínia é internada e então Cauby - que já teve o resto de sua vida inteira arruinada - resolve esperar que ela melhore, se vê o único resquício de amor que ele sente de verdade por ela, amor além do sexo. Mas aí já é tarde demais pra Lavínia.
E para não parecer que eu odiei esse livro só pela forma que interpretei o "romance", também achei os plots secundários chatos e pareciam que estavam ali só pra preencher página. Não acrescentaram em nada pra história principal e achei desinteressantes e pretensiosos.
Enfim, isso não é uma história de amor. Isso não merece uma média de +4 estrelas em lugar nenhum. É um show de misoginia e objetificação da mulher.
fiquei grandes 80% do livro completamente neutra com a história e amando a escrita que intercala eventos e linhas temporais sem uma demarcação, mas fui sentir algo com o livro em duas situações: uma foi muito rápida e a outra foi na última linha
O envolvimento com esse amor dilacerante hipnotiza, a delicadeza que Marçal narra a animalização carnal do protagonista é vício; tragédia com o ápice de poesia que se pode existir. Um lirismo pesado e sincero, causou naúseas e prazeres físicos por aqui. Descreve a energia elétrica existente do amor beirando ao real... atento as miudezas e delírios corporéos que ele trás. Escancara a raridade desse sentimento e por isso faz Cauby atravessar a morte e mesmo assim não se arrepender. Lavínia, Shirley e Lúcia... trípice tão bem construída e (uma) das personagens mais sedutoras que já esbarrei, de deixar ofegante qualquer leitor desavisado; é de pensar nelas com constância entre as pausas de leitura... me deixou bastante aérea por todo percusso. Mais uma ode ao amor romântico, que para existir precisa de muito sacrifício, dores, loucura e total desapego ao que há de material nesse mundo. Cauby e o psicanalista já avisa, quem nasce pra amar é gente esquisita, que vive alheia nas frestas da realidade...É uma reserva de sonho contra tudo que não é doce, sutil ou sereno nesse mundo. Construído nos detalhes, sem qualquer lógica consiente, puro fetiche. Avalanche sinestesico, têm cor, cheiro, musicalidade oscilante, texturas ínfimas... inagualáveis. Tamanho vício, dádiva, mal, zen, guru, fumo, ruína inevitável...única visão permitida quando encontrado. Marçal nos descreve a raridade de alguns encontros de alma entre alguns e sua avalanche em uma vida. Não dar pra esquecer o que esse livro nos faz sentir.
"Conhecê-la fez do passado um mero ensaio, um treino antes de ser exposto à sua incandescência."
Com um estilo que me lembrou o incrível “As travessuras da menina má”, de Vargas Llosa, Marçal Aquino constrói a história de uma relação intensa entre Cauby e Lavínia, uma personagem com um passado repleto de traumas. E o interessante da obra é que o autor foge da ideia do amor romântico e idealizado que costumamos ver em filmes e livros, passando a retratar de um amor mais real. O amor mais carnal, íntimo e cru.
Quem nos conduz pela obra é Cauby, narrador personagem, que vai alternando entre um presente de pouca importância com o passado marcante como Lavínia. O início pode até parecer um pouco confuso, já que as distinções dos tempos acontecem do nada, como se a mudança de cena acontecesse igual na televisão. Mas aos poucos passamos a entender esse vai e vem dos acontecimentos. E quando pensamos em um livro escrito em primeira pessoal, temos sempre que lembrar que a visão do narrador sobre os demais personagens e das situações descritas é parcial. E no caso desse livro, essa parcialidade pode ate gerar um certo incômodo no leitor, já que Cauby descreve Lavínia de uma maneira mais estereotipada, como uma mulher que sofre duas personalidades: a Lavínia mais contida, esposa do pastor local; e a outra mulher, sensual e sem pudores, que aparece apenas para o próprio narrador. E por que essas duas características não podem fazer parte de uma mesma pessoa?
Os demais personagens que fazem parte da narrativa apresentam sempre uma característica patológica, que os marca como à margem da sociedade. E o próprio ambiente também me passou uma sensação de marginalidade: uma cidade de garimpo do Pará, terra repleta de homicídios em que os interesses pessoais dos mais poderosos conduzem a vida dos seus moradores.
Quando a gente se propõe a incluir mais autores brasileiros contemporâneos nas nossas leituras, a gente percebe que tem muita coisa boa por aqui e que ainda não conseguiu o destaque que merece. A obra de Marçal Aquino me deixou com essa sensação... Terminei a leitura com vontade de conhecer mais!
Ok, 2,5 estrelas. Esse livro pra mim é tipo uma fic de esquerdomacho.
Olha, eu me esforcei muito pra de fato GOSTAR do livro porque ele me foi recomendado por uma pessoa muito especial; infelizmente, algumas coisas me incomodaram durante a leitura e eu acabei não gostando tanto assim.
Primeiro: belíssima escrita do Marçal Aquino. Ele realmente escreve muito bem, o livro tem passagens belíssimas e é fácil de ler mantendo esse tom mais poético de escrita. Outra coisa que eu gosto muito é quando o autor brinca com a temporalidade e eu adorei que ele vai e volta no presente e no passado e você precisa estar atento pra acompanhar essas passagens.
O livro conta a história de Cauby (na verdade, Cauby conta sua própria história) de amor com Lavínia, uma mulher linda e casada com Ernani. Isso já torna a leitura complicada, porque Cauby é intragável pelo amor de Deus. É o puro suco do esquerdomacho mesmo: fotógrafo de “mulheres reais” que fotografa “nus artísticos”, fica o dia inteiro fumando maconha que ele mesmo planta e ouvindo música clássica, menciona um filósofo fictício (de outra obra do Aquino), Benjamin Schianberg, a cada literalmente 2 frases com citações bem clichês sobre “amor” - juro por Deus que mais uma vez que eu lesse o nome desse Schianberg eu ia coringar, ele é citado pelo Cauby o tempo INTEIRO!!! Não aguentava mais!!!!!
Cauby além de tudo é desrespeitoso (várias passagens em que ele menciona estar com alguém que estabelece um limite e que ele deliberadamente desrespeita, como com Lavínia ou com Viktor, que um dia tem um episódio convulsivo e, ao invés de ajudar, Cauby acha super ArTiStIcO e decide fotografar - mereceu o que Viktor fez no final honestamente) e, honestamente, sexualiza TUDO o tempo TODO (até a própria mãe vei aquela passagem me deu vontade de vomitar juro).
Mas o que mais me incomodou mesmo, além do Cauby como um todo, é a construção da Lavínia. Típica “personagem feminina escrita por homem”. A personagem dela é uma mistura de estereótipos femininos num geral: femme fatale com manic pixie dream girl com a coitada sofredora que precisa de salvação. Ela não tem um único traço de personalidade; se resume em uma mulher instável, misteriosa, que ama transar das formas mais criativas o tempo inteiro e que provavelmente é sofrida e precisa de ajuda. É tão estereotipada pra homem que literalmente o que ela faz na PRIMEIRA VEZ que ela vai na casa do Cauby é LAVAR AS VASILHAS DELE E LEVAR ELE PRO QUARTO PRA TRANSAR. A PRIMEIRA coisa que ela fez na PRIMEIRA VEZ que ela vai visita-lo depois de eles só terem se cruzado brevemente na loja do personagem pedófilo (que inclusive tem seu pano passado por Cauby o tempo todo). Em nenhum momento ela tem alguma conversa; em nenhum momento tem algum diálogo mais profundo entre ela e Cauby que de pra gente apreender um pouco sobre a personalidade ou o desenvolvimento dela; em nenhum momento a gente acompanha ela pra saber o que que ela tá sentindo ou pensando. Ela não vai pra lugar nenhum, não se desenvolve de forma alguma, é apenas uma ex-prostituta (claro que é) que AMA transar com o Cauby (claro que ama) e fumar um. Só. Essa é a Lavínia. E pra mim, se você tem uma mensagem a transmitir e você quer que as pessoas recebam essa mensagem, você não pode deixar TUDO pra subjetividade desse jeito; subjetividade obviamente tem lugar na literatura, mas se você não dá nada pra ela ser trabalhada, você não sabe que mensagem tá passando, e Lavínia é esvaziada no livro. Inclusive, quando ela tem um surto depressivo, a reação do Cauby (e do Ernani, em momentos diferentes) é ficar triste que não vai ter como transar com ela. Nenhum dos dois pergunta o que aconteceu, oferece consolo, se mostra acolhedor ou demonstra interesse em saber o que está se passando com ela mesmo. A gente até sabe que em algum momento ela conta essas coisas pra eles, porque no final do livro eles demonstram saber, mas a gente nunca vê isso acontecendo e a única coisa que é entregue ao leitor pra se interessar pelo relacionamento dos personagens é cena de sexo bem leite com açúcar.
Me decepcionei muito com a Lavínia; ainda mais com o final dela. Resumiram ela a ser alguém simplesmente “doido”, sendo que o próprio transtorno dela fica mal descrito e é estereotipado pelos próprios personagens: ela intercala momentos de depressão com normalidade? É transtorno bipolar? Porque se a característica ali é ela ter fases de depressão, por que então eles tratam como se ela tivesse várias personalidades? O que que acontece com ela de verdade? Não esperei um diagnóstico, não, não entendam mal; só esperava que pelo menos esse aspecto dela fosse ser trabalhado, já que ser “instável” era seu grande traço - ainda assim, a instabilidade parecia surgir só pra gerar alguns pontos de conflito e pra dar a ela um final um pouco mais trágico, e como ela passou por tudo isso fica de lado de novo.
Enfim, acho que eu poderia falar muito mais, mas aqui já tá suficiente né. Gostei da parte do Ernani e na verdade gostei da sequência final de acontecimentos, mas alguns estereótipos me incomodaram muito (inclusive de personagens secundários) e acabei não curtindo a leitura 🥺 espero que meu amigo me perdoe! Rs
História muito interessante e que te prende no livro, você imagina um filme, no bom sentido. A forma que a trama é retratada não é linear, isso torna mais intrigante o livro, permite o paralelismo, deixando o livro mais irresistível. Os personagens não caem no comum, até os que não falam tem um papel importante quando você imagina tudo, vide o menino que escuta a história do Careca. Quantas vezes já não vi isso! Outro ponto é a história do Careca, é sensacional. Agora como ponto negativo há a pouco contextualização real com o Sul do Pará. Há vários furos, pra quem conhece um pouco fica difícil ligar com a realidade. Também acho que a linguagem padronizada no caso de todos os personagens deveria ser ao menos justificada. Afasta também do real. Difícil imaginar algumas das pessoas falando do jeito que está no livro. Mesmo assim o livro vale muito e tem um ótimo ritmo. Você compreende perfeitamente o porquê de já ter virado um filme.
Degustei o livro como nenhum antes. Profundamente intenso. Uma estória de amor, nua, crua e extremamente real. Definitivamente, me marcou. Faça um favor a si mesmo e deixe-se ser marcado também.