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Glória

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Com um misto de humor e ironia quase machadianos, Glória narra a saga da família Costa e Oliveira e as aventuras e desventuras dos irmãos Abel, Daniel e Benjamim – um pastor, um burguês e um artista, cuja principal herança paterna foi deixá-los prontos para nunca perder uma piada. O amplo repertório de recursos estilísticos exibidos pelo autor – com algumas piscadelas cúmplices ao leitor mais erudito –, bem como o variado leque de referências mais do que literárias, aqui estão a serviço de uma prosa fluente e saborosa, narrada com o gosto de quem sabe contar uma boa história. Nessa ponte entre o século XIX e o XXI, a (meta)ficção de Victor Heringer, de Machado à internet, passando pelo café Aleph e suas figuras virtuais, vem trazer um vigoroso sopro de renovação à literatura brasileira atual. Quem ler verá.

296 pages, Paperback

First published January 1, 2012

16 people are currently reading
545 people want to read

About the author

Victor Heringer

19 books90 followers
Victor Doblas Heringer (Rio de Janeiro, 27 de março de 1988 – Rio de Janeiro, 7 de março de 2018) foi um escritor brasileiro. Recebeu o Prêmio Jabuti em 2013, pelo romance Glória, e foi finalista do Prêmio Oceanos 2017, por O Amor dos Homens Avulsos.

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Community Reviews

5 stars
146 (38%)
4 stars
133 (35%)
3 stars
75 (19%)
2 stars
18 (4%)
1 star
6 (1%)
Displaying 1 - 30 of 53 reviews
Profile Image for Felipe.
Author 9 books64 followers
January 7, 2019
É muito interessante reler o Victor em ordem inversa e num espaço de tempo tão curto. Dá pra notar bem as chaves, as arestas, os cacos da voz dele. Homens Avulsos, se era um livro-poema-performance, apinhado de citações visuais e composições concretistas, soa como um caminho natural a se tomar depois de Glória, texto mais tradicional mas ainda agraciado com uma anarquia aqui e ali, talvez por medo, por falta de certezas para com a própria voz. Aberto e fechado por chistes metalinguísticos, inteiramente pontuado por epígrafes e notas de rodapé espirituosas, é notável que a brincadeira moderada, limitada somente ao campo da palavra escrita, unidade histórica, não comportava completamente a visão do Victor, nesse sentido ele certamente amadurecia, mas aí o adendo de que Glória não é um livro imaturo. Claramente trabalhado numa frequência diferente daquela composta pela geração de Galeras, Pelizzaris e Cuencas, Victor encontrava um muito melhor balanço entre o farsesco, o fantástico e o puramente sentimental, e se safava por completo (ou tentava) da macholiteratura dominante no Brasil nos anos 00. Seu narrador, voz responsável por radiografar a trágica vida dos irmãos Costa e Oliveira, repete incessantemente o desejo de "Paz na terra para todos os seres" enquanto descreve o drama familiar incrustado num Brasil que adentrava os 2010 com algum resquício de fé e já um punhado de dúvidas. Quase tudo mudou mas é um desejo que permanece válido até hoje.
Profile Image for Ana Paula.
1 review7 followers
May 23, 2020
Eu, que nunca faço “review” de nada, preciso dizer que poucas vezes na vida me apaixonei por um livro como me apaixonei por este.
Author 10 books13 followers
September 8, 2018
Às vezes, na leitura se descobre afinidades com um autor. Uma vontade de tê-lo conhecido pessoalmente. Um livro com tiradas inteligentes, divertidas, etc e etc. Lê-se com pausas para contemplar o mundo, para rir de si mesmo e perceber o quanto somos formigas.

Paz na terra para todos os seres.

Profile Image for Eduardo Peretto Scapini.
201 reviews4 followers
January 18, 2019
Não consigo nem iniciar esta resenha de um modo digno de tanto amor que desenvolvi por esse livro. O livro trama uma jornada familiar, uma grande epopeia tragicômica brasileira, que trespassa por duas (ou três a depender do ponto de vista) gerações da família Costa e Oliveira e é simplesmente maravilhoso, uma grande obra-prima do humor brasileiro contemporâneo. Me apaixonei por Benjamim, D. Noemi, D. Letícia; desenvolvi um certo ranço por Abel, religioso demais mas bem construído, me identifiquei com Daniel e quis ser Hecateu. Tudo em Glória foi posto no lugar certo e não consigo pensar em uma falha agora após a leitura. Só consigo querer masi e que a leitura se prolongue de modo infinito. Acho que é isso, Glória fez com que o ano que se abriu tivesse uma maravilhosa estória fincada em seu princípio.
Profile Image for Paul Fulcher.
Author 2 books1,956 followers
July 17, 2024
I turned off the TV and went to bed like someone leaving the cinema without understanding what’s funny about the comedy he’s just seen⁴¹.

Footnote 41: I hope the reader is emerging from this novel with the same sensation.


Glória is Sophie Lewis and James Young’s translation of the 2012 novel of the same name by Victor Heringer, written when he was in his early 20s, but which was to win the prestigious Prêmio Jabuti in Brazil in 2013 (other recent winners include the books translated as Out of Earth, Dark Side of the Skin, Resistance and Crooked Plow).

His second novel, O Amor dos Homens Avulsos (2016) was previously translated by James Young as The Love of Singular Men (my review). Heringer then died in 2018 just before his 30th birthday (see here for a tribute)

John Self’s take on Glória in the Telegraph, comparing it to The Love of Singular Men comments "as it turns out, it’s twice as long and half as good. These two points are connected", which I would say is a truism of most novels, but does also hit on a particular issue with this novel - it's both an impressive work for such a young writer, but also a less mature work in that it's packed with ideas, which didn't entirely come together for me. Self goes on to say - and it's hard to disagree:
"All the extraneous material – witty footnotes, 60 epigraphs, a framing device that tops and tails the novel – convey a writer with lots of ideas but in need of greater control. That would come, later, with The Love of Singular Men. Glória is less fully achieved; yet it’s so full of life that it’s hard not to like it anyway."


And indeed the framing device is an example of the issue. The novel - or rather the introduction to the novel, written by a fictional version of Heringer (rather poignantly, given his later death, writing, he imagined, from 2027) - begins:

That Ambrosio Silva Costa e Oliveira, a sworn Madalenist, wrote a novel composed solely of epigraphs will scandalize no one even slightly familiar with Brazil's literary history. Nor is it rare to come across people who know, despite not having read Second-Hand Oedipus (2010), that the revered book — perhaps the only example of its kind — opens with a Heraclitus fragment and closes with these celebrated words from Renan's prayer: `Thou art the only true God, O Abyss!' However, the fact that Silva Costa sought a writer of lesser calibre to write his second book was as shocking to me as it will be to the reader, when they learn that mine was the calibre chosen and that this book, despite bearing my name on the cover, is in fact the second novel by this singular author from the state of Rio de Janeiro.

The underlying idea is fascinating, Borgesian even - an author whose first novel was entirely composed of epigraphs, such that the only words of his own were the title of the work - and whose second novel he commissioned from another writer (and more than just ghost written, the novel appears under the other writer's name). But that then doesn't appear to have any real influence on what follows.

The novel inside the framing device is the story of the Alencar Costa e Oliveira family - whose motto "God is a stammerer" is taken from (an I suspect deliberate misreading of) Isaiah 28:11 “For with stammering lips and another tongue will he speak to this people” (KJV) [although rendered 'he will speak' in the text). They are at the same time a family that refuse to take things seriously, full of inside jokes (the motto one of them, said when anything goes wrong) and sarcastic rejoinders, but - and the first is an attempted curse for the second - a family whose long history and indeed curse, as captured by a great aunt, is that every one of them dies from one cause - heartbreak.

The novel in particular focuses on three brothers, the last of the male heirs in the extended family, Benjamin, an artist; Daniel, who goes into business; and Abel, a priest.

Abel becomes first a Christian missionary and then leader of a cult-like church, relating the teachings of the aforementioned Great Aunt to scripture (which is extensively quoted throughout the novel), while Benjamin finds himself part of an online forum of (rather pretentious) art aficionados and philosophers, while amorously pursuing both online and in real-life a woman called Paula.

It was no coincidence that the Cafe Aleph regulars invented personas to live their lives for them in an imaginary safe, copied from cafes of the past. There was nothing extraordinary about turning yourself into a reiteration of another person or character. The world itself, like the scenery outside the window, was composed of quotations - from films, books, songs, paintings, bits of gossip, newspaper articles. He, Benjamin was also a counterfeit - of Sisyphus, according to Natalia; of historical humourists, according to the cafe society; of artists of his generation, according to Reis. This scene he was starring in, looking out at Gloria, for example, was nothing more than a poor copy of a Manuel Bandeira poem. His marriage to Natalia, as unusual as it had seemed, was also a portrait of all the marriages in the world: ruined because of a misunderstood joke. His paintings were simulacra of the works of the great masters. Even Pastor Abel's messiah of the Messiah was a quote, a second-hand saviour. There was nothing new under the sun.

Of Daniel we here little - which struck me as odd while reading but which is 'explained' in the afterword of the framing device as 2027-Heringer claims Daniel was the source of his story.

Hard to argue with Self's conclusion - flawed but fun. 3.5 stars.
Profile Image for Luiz R.
55 reviews15 followers
December 12, 2020
Uma agradável surpresa de um dos escritores mais talentosos e promissores da minha geração. É triste demais que o Victor tenha partido de uma forma tão trágica.
Profile Image for Beatriz Baes.
12 reviews
March 23, 2025
Acho que 3,5 seria o ideal. Gostei muito mais de o amor dos homens avulsos, talvez por ser mais melancólico, poético, etc. De fato, gosto muito da escrita do Victor, o que me prendeu até certo ponto, mas no terço final eu já estava cansada e os devaneios do Benjamim e do pastor Abel (insuportável) não me interessavam mais. Mas gostei. Fico chocada com o brilhantismo do Victor, que infelizmente se foi, porque realmente é bizarro ele ter escrito esse livro com 24 anos. Também acho que algumas notas de rodapé poderiam ser facilmente cortadas
31 reviews
April 11, 2020
Tinha altas expectativas, porque gostei muito de O Amor dos Homens Avulsos. Mas este me agradou menos. Acho que Victor brilha mais quando escreve de forma melancólica e poética, quando a ironia é mais sutil (como no trecho abaixo). Em alguns momentos há certo exagero nos gracejos e alegorias. As notas de rodapé, conquanto engraçadas às vezes, me parecem um recurso dispensável. A trama de Abel e do madalenismo infelizmente não me envolveu e preferi muito os momentos de Benjamin. Gostei mais do terceiro ato do livro.


“O Ano-Bom nunca chega na Glória. Não há queima de fogos, não há shows, ninguém pula as sete ondas ou oferece barquinhos de madeira a Iemanjá, porque o bairro aterrou suas águas para desafogar o trânsito da cidade e acabou se tornando apenas mais um lugar de passagem. Não se permanece na Glória, não se vai a ela, não há volta; passa-se pela Glória em direção a Botafogo, Ipanema ou Leblon. Na noite do 31 de dezembro, a rua da Lapa, que depois se transforma na da Glória, parecia não notar que um novo ano estava às portas. Prostitutas esperavam seus clientes, como se nada. Os bares estavam abertos, e seus bêbados usuais não percebiam coisa alguma. Os poucos moradores que não debandaram para os bairros praianos caminhavam para cá e para lá, calmos, com cara de feriado, mas não de Dia da Fraternidade Universal, porque a Glória não é irmã de ninguém. Está muito bem sozinha. Está satisfeita com seu calendário particular, que quase não avança. Não se importa em não ouvir a barulheira dos fogos de artifício; não quer festa. Tem seu próprio ritmo, quer ser deixada em paz. A Glória não enxerga nada de especial em ritos de passagem.”
7 reviews1 follower
November 24, 2018
Acabo de ler a última página de Glória. Não sei bem o que me fez escolher esse livro. Acho que um dia escutei alguém recitando uma poesia do Victor Heringer. A poesia era muito delicada, mas me chamou mais a atenção o fato da pessoa estar tão consternada e emocionada. Quis saber mais sobre o jovem autor. Descobri que já havia morrido (a poesia recitada era uma homenagem ao aniversário de um ano de sua morte, por isso a consternação) e que se foi muito jovem. Suicídio. Jogou-se de um prédio, suponho, nenhum notícia diz isso claramente. Corri para a internet e comprei dois livros dele. O Amor dos Homens Avulsos e Glória. De fato, a escrita é leve, inusitada, criativa, deliciosa.
O enredo de Gloria é inusitado. Histórias singelas sobre uma família comum, que meio uma comicidade sofisticada, revela dores triviais de todos nós. O talento não reconhecido, a frustração com o trabalho, a solidão, a ambição, o tédio, a vaidade. Para mim tudo isso poderia ser chamado de desgosto, a grande epidemia que está por vir. Afinal todos vamos morrer de algum desgosto. Todo mundo é um Costa e Oliveira.
Realizando o desejo (ou profecia) do narrador, saio desse livro sem entender direito a graça da comédia que acabei de ler, mas com uma simpatia profunda pela história.
Profile Image for Luis Capelo.
Author 3 books5 followers
February 16, 2015
Glória é ótimo. Um livro bizarro, cheio de narrativas confusas que se cruzam, mas não. É um livro sobre uma família que tem um problema particular -- bem particular! -- como todas as famílias Brasileiras. O desfecho da história condiz com o todo do livro. E é por isso mesmo que o desfecho decepcionou um pouco. Muito bom livro; recomendo.
Profile Image for Sarah.
118 reviews2 followers
April 9, 2025
Self-aware and hilarious, felt like it lost its way towards the end.
Profile Image for vini.
103 reviews1 follower
January 11, 2022
Rolou pra mim não. Gostei e muito do outro livro que li do autor, e esse aqui tb tem algumas passagens e reflexões interessantes, mas fiquei agoniado que às vezes a história passava 10, 20 anos, falando de membros dessa família sendo que temos capítulos dedicados a alguns (tipo o pastor) que são bem menos interessantes do que outros (tipo a dona letícia)
Eu sempre gosto de ler livros que se passam no rio, novamente as passagens que falam sobre a cidade são bem pensadas e engraçadas, mas aqui não fazem tão parte da história. É curto, tem um ritmo rápido de ler mas mesmo assim a história as vezes desanima bastante.
Profile Image for Fernanda Lacerda.
29 reviews
June 15, 2025
Uma formiga extremamente disposta poderia vagar pelo apartamento de Paula em busca de comida e só encontrar o corpo da mulher, nu, deitado na cama. A formiga, com as mãos de Benjamin nas patas, poderia subir pelos pés da cama e ir direto aos braços dela, e dos braços aos seios, dos seios ao ventre, do ventre aos pelos, dos pelos às coxas, das coxas aos pés, até cansar. E a mão dele, de alguma forma, iria junto. Portanto, um surto de formigas não era tão mau. Visto de um ângulo determinado, é a única coisa capaz de ligar um homem à mulher que ele pensa que ama. Por amor, Benjamin passou a tomar nas mãos o máximo de formigas que conseguia encontrar e capturar.

Profile Image for Isabelle Sim.
106 reviews1 follower
September 26, 2024
big fan. never had to turn back the pages to check what is going on, never got bored or annoyed with an overly pretentious style or whatever. i like books which closely track the lives of families, so the premise alone already got me. also the instant blasphemy in the first few pages of the book seals the deal for me lol
Profile Image for Arnon Thalenberg.
27 reviews2 followers
September 17, 2020
Mais uma obra laureada que eu termino sem conseguir apreciar como deveria. Sinto-me um analfabeto funcional literário.
Profile Image for Mei.
61 reviews12 followers
January 13, 2021
Queria que fosse possivel dizer ao Victor como esse livro é sensacional. Já sinto vontade de relê-lo .
Profile Image for Yuri Deliberalli.
40 reviews
May 25, 2024
A saga familiar dos Alencar Costa e Oliveira é narrada por meio da comédia de costumes, em que cada componente da família carrega consigo o trágico destino de morrer de desgosto (ou desaparecer). A prosa de Victor Heringer dosa a ironia, vai da metaficção à linguagem erudita, para tratar dessa gente chata bancada a inteligente. É uma crônica deliciosamente bagunçada, cujo experimentalismo com as linguagens por vezes causa uma má estranheza, por vezes acentua o ridículo das pequenas ações cotidianas de seus personagens.
Profile Image for Solange Cunha.
278 reviews44 followers
January 16, 2022
Eu estava enrolando para ler esse livro só para ter um romance inédito (para mim) do Victor Heringer.

O livro é uma graça (literalmente), um exercício de metalinguagem, de polissemia, com um jogo sobre quem narra, quem é o autor.

Eu ri demais com as histórias, mesmo com o grande tema ser a morte pelo desgosto/a falta de originalidade de tudo e todos.

Deus é, era, gago!
Profile Image for Renata De Menezes.
23 reviews1 follower
October 18, 2020
Ainda confusa com o soco no estômago seguido de uma gargalhada que esta obra me deixou como sensação. Só lendo para entender o que quero falar. Cômico, triste e, diria, louco. Sem a pretensão de entendê-lo, ele será mais prazeroso.
Profile Image for Mario Soares.
220 reviews6 followers
August 26, 2019
Bobagem maquiada de literatura, nada mais que isso: pura bobagem!
Profile Image for Vinícius de Sousa.
95 reviews8 followers
July 28, 2022
Eu adoro Machado de Assis e recebi esse livro de presente de aniversário de um amigo, em razão de uma recomendação de um amigo dele, motivada pelo fato de eu gostar de Machado. De início, vi as semelhanças da forma da escrita. Os capítulos são curtos e lembram o estilo. O capítulo 47 imediatamente me fez lembrar do capítulo "Como não me tornei Ministro de Estado" de Memórias Póstumas de Brás Cubas, já que ambos não têm nenhum conteúdo.

Além disso, o texto possui um tom de literatura universal, ao mesmo tempo que constitui um retrato histórico e social do lapso temporal da narrativa. Um exemplo que chamou minha atenção foi o uso da internet. Eu já havia lido livros contemporâneos em que redes sociais eram mencionadas na narrativa como meros enfeites na narrativa, que poderiam ser subtraídos sem qualquer perda de conteúdo. Todavia, aqui, o uso da internet para acesso de fóruns na internet no fim da primeira década do século XXI é um pilar da narrativa. O personagem Benjamin fica até tarde morando com sua mãe, não possui um trabalho relevante e toda a sua vida soa um tanto medíocre e sem propósito. Ele vive sem grandes preocupações graças ao legado de seus pais e em dado momento acaba se refugiando em uma vida "fake" na internet, participando de um fórum onde todos fingem ser personalidades históricas. Na internet, ele vive uma realidade em que sua vida social e amorosa são satisfatórias, mascarando a sua realidade, onde, apesar de todas as benesses da vida, ele não consegue se realizar em nada, é um homem medíocre e até mesmo covarde, que não tem coragem de encarar seus desejos. Ele me lembrou bastante de Brás Cubas, um fracassado que não fez ou construiu nada na vida, apesar de ter tido tudo o que precisava para isso.

O recorte geográfico (Rio de Janeiro, grande semelhança com Machado) e temporal é reduzido (se a história ocorresse cinco anos depois as redes sociais já estariam completamente transformadas) e está sendo bem representado. Mas Glória continua sendo um livro relevante após dez anos de sua publicação e acredito que, assim como Memórias Póstumas de Brás Cubas, continuará valendo ser lido após séculos. Primeiro porque esse retrato de um contexto histórico é valioso, segundo porque, além disso, os temas abordados no livro são valiosos e universais, assim como há obras escritas há séculos (e até milênios) que continuam sendo atuais.

A história tem como tema principal o desgosto, causa de morte de todos os membros da família Costa e Silva: “Os Alencar Costa e Oliveira não são uma família comum. Descritos como 'doentes imaginários', eles se comunicam com chistes e diálogos zombeteiros. Além do humor idiossincrático, outra característica os une: ninguém da linhagem morre de doença ou de acidente. A melancolia aguda, fatalidade que se repete de geração em geração, é a maldição que ronda o sobrenome. Esta talvez seja a única tradição da família – a causa do óbito, invariavelmente é o desgosto”.

A escrita é deliciosa. Tem ironia, humor, com uma melancolia de fundo. Não é um texto floreado, mas demonstra a erudição do autor. Fiquei impressionado como, em alguns trechos, ele prende a atenção do leitor em momentos de tensão, ou consegue retratar situações em que o personagem está "com a cabeça em outro lugar", dividindo a atenção com seus pensamentos e a realidade.

Além do tema principal do enredo, aborda diversos outros. Achei interessante a empregada doméstica que não falava (e nem adiantaria falar). Ao comparar com Machado dá pra ver que "mudaram as estações, nada mudou".

Excelente livro. Penso em revisitá-lo outra vez com mais calma, bem como conhecer o resto da obra do Victor Heringer. Uma pena que morreu jovem, aparentemente "de desgosto"...
Profile Image for Maira M. Moura.
Author 9 books14 followers
November 25, 2022
O sonho mais alto do homem, a glória da nação
Mishima Yukio

Não acho que tenha lido uma ficção que melhor enquadrasse a minha realidade dos anos 2010 (minha como em "moradora do Rio de Janeiro", "jovem adulta" e um pouco de "estudante de Letras"). As referências, citações e epígrafes, praticamente todas fictícias, remetem sim a um curso de graduação em Letras, mas o cânone mundial da Literatura não se limita à Academia. O livro é erudito não simplesmente pelo carnaval de figurões das Literaturas, Artes, Filosofia, etc. e etcétera. A formulação do Madalenismo e qualquer parágrafo dissecador da tristeza ("desgosto") humano é uma pequena glória deste Glória escrito por Victor Heringer.
Não muito acostumada a celebrar a produção brasileira contemporânea como tomos ocupantes da minha estante de favoritos (não por preconceito, por gosto mesmo), eu não poderia estar mais satisfeita em encontrar um romance experimental, de embrulho da ficção com a realidade (que prólogo e epílogo charmosos), guiada por um diálogo literário com os mestres passados e ainda assim de narrativa independente dessa comunicação. É questão de gosto, pago pau para intertextualidade com mestres passados e qualquer coisa escrita até 1895.

Como disse no início desse review, tive uma identificação de lugar, tempo e geração ao ler o romance do Victor (deveria ter lido antes, etc e etcétera). A verdade é que frequentamos a mesma Faculdade e compartilhamos a mesma orientadora (em um Instituto outro que essa Faculdade), embora nunca tenhamos nos encontrado. É claro que lamentamos a falta dos livros não-escritos por Victor. Mas suspiramos, no meio desse desgosto, e rimos, rimos sem parar.
Profile Image for Gabriel Mota.
25 reviews
June 18, 2024
Então... eu conheci o Victor Heringer como poeta, mais especificamente com o poema 'Eu Não Sou Poeta', e me apaixonei instantaneamente. Li o livro 'Vida Desinteressante' e adorei, e decidi ler um romance dele enquanto a coletânea de poesias dele não sai. Escolhi esse. Acho todas as comparações com Machado válidas, acho as críticas que o livro faz interessantes até, e gosto muito do estilo da prosa do autor, e das epígrafes, da narração muitas vezes jocosa, do paz para todos os homens e dos etc e etcéteras. Dito isso, eu não consegui me interessar pelos personagens. Os Costa e Oliveira são tão desinteressantes que não é nem um pouco estranho que eles morram de desgosto. Mas acho que serve bem como uma crítica ao Brasil, talvez aos homens do Brasil (?). Enfim, o último capítulo do livro tem uma epígrafe de Quincas Borba, que é meu livro preferido do Machado. Talvez eu tenha jogado muitas expectativas por ter gostado muito dos primeiros capítulos do livro. De novo, a prosa é impecável, as repetições são bem colocadas pra nunca saturarem e as notas de rodapé são muito divertidas. Mas o elenco de personagens é tão sem sal (imagino que propositalmente) e tão mesquinho (idem) que, no fim das contas, eu que ia acabar morrendo de desgosto se o livro não acabasse logo.
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