Úrsula, pode ser considerado o primeiro romance de autoria negra e feminina do Brasil, além de ser o primeiro de cunho antiescravista, foi publicado em 1859 na cidade de São Luís. É, também, o romance inaugural da chamada literatura afro-brasileira – entendida, aqui, como a produção literária afrodescendente que tematiza a negritude a partir de uma perspectiva própria. Organizado em vinte capítulos, pode ser dividido em quatro momentos distintos. Mas é na quarta parte, que se nota a riqueza do romance de cunho antiescravista, através de uma solidariedade particular de Maria Firmina dos Reis para com os oprimidos, em especial as mulheres e os africanos e afrodescendentes escravizados. Inclui textos de: Rafael Balseiro Zin - Sociólogo e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Neamp/PUC-SP). Rita Terezinha Schmidt - Professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Eliane Marques - Poeta, ensaísta, editora e roteirista. Coordenadora da Escola de Poesia; coordenadora editorial da revista de poesia Ovo da Ema.
Maria Firmina dos Reis was born in São Luís do Maranhão, on October 11, 1825, "natural daughter" of the freed slave Leonor Felippa dos Reis, having as her grandmother the also freed slave Engrácia Romana da Paixão and, as her uncle, the teacher, grammarian and philologist Sotero dos Reis, belonging to the white branch of the family and with a strong presence in the literate circles of the capital of Maranhão. In 1847, she was approved in a public competition for the Chair of Primary Instruction in the village of São José de Guimarães, in the municipality of Viamão, located on the mainland and separated from the capital by São Marcos Bay, as recorded by her biographers Nascimento Morais Filho (1975) and Agenor Gomes (2022). According to Morais Filho, upon retiring in the early 1880s, the author founded, in the town of Maçaricó, the first free mixed school in Maranhão and one of the first in the country. The feat caused great repercussion at the time and that is why the teacher was forced to suspend her activities after two and a half years. The teacher was a constant presence in the local press, publishing poetry, fiction, chronicles and even riddles and riddles. According to Zahidé Muzart (2000, p. 264), “Maria Firmina dos Reis collaborated assiduously with several literary newspapers, such as A Verdadeira Marmota, Semanário Maranhense, O Domingo, O País, Pacotilha, O Federalista and others”. Furthermore, she had a relevant participation as a citizen and intellectual throughout her ninety-two years of a life dedicated to reading, writing, researching and teaching. She worked as a folklorist, collecting and preserving cultural texts and oral literature, and also as a composer, being responsible for composing a hymn in praise of the abolition of slavery. Firmina is the author of Úrsula, published in 1859, but only published in the following year. A revolutionary book for its time, it is the first abolitionist novel written by women in the Portuguese language; and, possibly, the first novel published by a black woman in all of Latin America. The narrative addresses the problem of the slave trade and the regime as a whole from the point of view of the subject enslaved and transformed into "human merchandise". The author brings Africa to the emerging Brazilian fiction as a space of civilization and freedom. And she denounces European traffickers as "barbarians", thus opposing Hegelian thought aimed at justifying slave colonization as a civilizing enterprise. And well before Castro Alves' "Navio Negreiro", she denounces the mistreatment to which enslaved people were subjected in the "tumbeiros", true tombs for many who could not resist.
In 1861, the author released Gupeva in serial form, a short narrative with an Indian theme, published in chapters in the local press, and with new reissues throughout the 1860s.
Her volume of poems Cantos à Beira-mar, whose first edition is from 1871, brings texts marked by strong restlessness and a female subjectivity that is sometimes melancholic in the face of the 19th century reality marked by the dictates of slave patriarchy and also represented as a problem in the face of sensitivity. of the author.
Defender of abolition, in 1887 she published the short story "The Slave" in the press, an abolitionist text committed to inserting itself as a piece of rhetoric in the debate then taking place in the country surrounding the abolition of the servile regime.
Maria Firmina dos Reis died in 1917, poor and blind, in the municipality of Guimarães. Unfortunately, many of her personal archive documents have been lost and to date there is no news of any photos of her from that time. By the way, a portrait of the Rio Grande do Sul writer Maria Benedita Borman, pseudonym "Délia", circulates on the internet, as if it were the author from Maranhão.
Starting in 2017, on the occasion of the centenary of Firmina's death, her books have been re-released: Úrsula, now with around thirty reis
Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem; com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo. - Maria Firmina dos Reis
De Maria Firmina dos Reis, aquela que é considerada a primeira romancista negra do Brasil, já tinha lido e apreciado bastante o conto “A Escrava”. Talvez por ser mais contido e por se centrar no tema do abolicionismo, achei-o mais bem conseguido do que “Úrsula”, que apesar de ser apelidado de primeiro romance abolicionista, é sobretudo um exemplo perfeito da literatura romântica no seu grau mais exacerbado, escrito com muitas interjeições, exclamações e repetições que testaram um pouco a minha paciência.
A vingança, filho, é um prazer amargo, e seu fruto, é o requeimar do remorso em toda a existência, e até o último extremo, até a sepultura! Fernando P. escutou-o; mas em suas veias agitava-se o sangue, que lhe queimava o coração. Rangia os dentes, e os lábios lívidos e trêmulos exprimiam a impaciência e o furor, até que por último prorrompeu irado: – Mentes, padre maldito! A vossa doutrina não a escutarei nunca. A vingança, desejo-a com ardor, afago-a. Não sabes que é a única esperança que me resta? Amor! Ventura!... Tudo, tudo caiu no abismo... eles o quiseram... oh, não os hei de poupar. O inferno? Haverá pior de que o que trago no coração?! O inferno?! O inferno me restituirá Úrsula pura da nódoa do amor de outrem, porque será lavado no sangue do homem por quem desprezou-me.
O jovem Tadeu sofre um acidente de cavalo, é salvo por um escravo chamado Túlio, que o leva para se restabelecer na casa da moribunda Luísa B., mãe de uma encantadora donzela chamada Úrsula. O que acontece a seguir é fácil de deduzir, e nesta história de amor impossível surgem todos os chavões que se espera: vilões, paralíticas, desmaios, vinganças, fugas, amor à primeira vista e inúmeras mortes, mais do que me lembro de ler noutro livro deste período literário.
Quero que dobre hoje o serão destes marotos. Ah! Esta cáfila de negros, só surrados, e... – Mas, senhor comendador – interrompeu o feitor com acento apesar seu repreensivo, e indignado –, é já meia-noite, os desgraçados ainda trabalham por cabar o serão, como pois é possível dobrar-se-lhes a tarefa? – Oh, lá!... – bradou Fernando e sorriu-se com horrível sarcasmo. – Que tal? Quem manda nesta casa? – Fartai-vos de atrocidades, já que sois um monstro – retrucou fora de si o feitor, fixando-o com um olhar de desprezo, que ele suportou –, banhai-vos no sangue dos vossos semelhantes, juntai crimes horrendos a crimes imperdoáveis; mas não conteis mais doravante comigo para instrumento dessas ações, que revoltam ainda a um coração viciado, e que só no vosso pode achar morada. Desde já contai-me despedido do vosso serviço. – Miserável! – rugiu Fernando sufocado pela cólera.
Entendo totalmente a fama que esta obra tem alcançando nos últimos anos. Não saberia dizer se no Brasil todo, mas ao menos no meu estado, isto é, Maranhão -Estado de nascimento da autora-, Maria Firmina dos Reis tem alcançado uma grande notoriedade, sendo Úrsula sua criação mais conhecida.
Aqui se encontra um pouco do que o romantismo brasileiro tem dado, é dizer, drama desmedido, hipérboles reacionárias, personagens estereotipados, e tudo isso que vocês já sabem, contudo, Úrsula possui um pontinho positivo a mais que tudo isso. Não tanto pela estória em si, mas pela narração tão afinada da autora, e, claro, a intenção. Percebe-se que Firmina dos Reis realmente desejava impactar aos eruditos da época, pois lança de maneira pudica, temas que incomodavam um pouco (bastante) aos senhores da alta nobreza. Não que a escravidão, por exemplo, não fosse tratado em obras da mesma era literária - como "A escrava Isaura" -, mas não desta forma tão sumamente direta e mordaz.
Isto posto, resta-me dizer que só tenho a agradecer aos leitores de bem do Maranhão, por terem difundido e recomendado pelos quatro ventos a vida e obra de uma das nossas artistas mais importantes. Longa vida a Maria Firmina dos Reis!
Olha, não vou mentir, foi difícil pegar no tranco desse porque sou bem seletiva com a prosa do romantismo, seja do brasileiro ou do europeu, mas assim que peguei o estilo da autora a leitura finalmente fluiu. É bem cria do romantismo mesmo, altamente fatalista, mas o pulo do gato recai em sua diferença: o teor abolicionista. Por ser escrito por uma mulher negra essa questão da violência da escravatura fica bem pronunciado, como também uma grande crítica de classe conjurando o poderoso comendador como o aspecto mais vil da riqueza. Gosto também como sobra um pouco para a Igreja, lugar de refúgio de psicopatas desde tempos imemoriais. Dá pra dizer que é incontornável sim, como documento histórico e como peça do romantismo.
Quando falamos em romantismo abolicionista, o primeiro nome que nos vem à cabeça é Castro Alves; porém, antes da poesia de Castro Alves, tivemos Úrsula, o primeiro romance escrito por uma mulher preta no Brasil e precursor da literatura afro-brasileira. É através desse livro que vemos a perspectiva do que era ser negro no Brasil do século XIX. Maria Firmina dos Reis faz diversas críticas à escravidão e à forma desumana que pessoas pretas eram raptadas de seus países de origem, destituídas de suas identidades e obrigadas a trabalhar de forma brutal e violenta. Por mais que o livro foque no amor entre Úrsula e Tancredo, é perceptível que a preocupação do romance é não apenas resolver a história de amor do casal, mas também denunciar o sofrimento do povo preto e vocalizar as angústias da própria autora e de milhões de escravizados. É um romance marcado por tragédias, mas que reflete a realidade da época. Assim como as demais obras do Romantismo, é cheio de descrições longas e tem um vocabulário rebuscado, mas a escrita de Maria Firmina dos Reis é incrível. É uma pena que esse livro tenha demorado mais de um século para ter uma segunda edição e que só agora mais estudos sobre ele estejam sendo popularizados, mas espero que as salas de aula, das escolas e das universidades, do presente e do futuro, passem a valorizar mais a diversidade de autores e de obras literárias que a literatura brasileira possui.
Maria Firmina dos Reis é considerada a primeira romancista brasileira. Nascida no Maranhão, era filha ilegítima de um pai negro, e viveu uma vida de privações. Tornou-se professora e depois escritora. Publicado em 1859, Úrsula é uma obra fruto do romantismo e considerado o primeiro romance abolicionista nacional. O que este livro tem de vantagem sobre seus contemporâneos é o de abordar questões sociais – sobre mulher e escravos/as – a partir de uma experiência de uma autora (que assinou o livro como Uma Maranhense. A oposição dela ao maior expoente do romantismo nacional, José de Alencar, é evidente. Enquanto ele investigava a alta sociedade, Maria Firmina escancarava as bases silenciosas que mantinham essa sociedade de pé.
A importância histórica dessa obra já é, por si só, suficiente para que você a leia: publicado em 1859, “Úrsula” é considerar o primeiro romance de autoria negra e feminina publicado no Brasil. E para a felicidades de nós, leitores, a obra foi recentemente republicada por algumas editoras, trazendo o trabalho da autora maranhense para o público de fora do mundo das Letras. Na verdade, me causa espanto que essa obra não seja ensinada nas escolas como um marco da nossa literatura.
O enredo de “Úrsula” é bem característico de um “romance romântico”, já que envolve um triângulo amoroso e os sofrimentos causados por uma grande paixão. E confesso que, apesar de ser uma leitura agradável e envolvente, essa parte da narrativa não me encantou. A princípio, acabou me deixando com a sensação de ser uma história pouco original. E talvez se a gente só focar no enredo, a obra pode não agradar alguns leitores. Mas quando a gente para e pensa sobre o contexto histórico em que a obra foi escrita, a sua originalidade está no simples fato de ela ter sido publicada em um ambiente tão hostil para Maria Firmina.
Além disso, em paralelo a esse foco narrativo, também somos apresentados a três outros personagens: Túlio, Suzana e Antero. Três escravos, personagens criados por uma autora negra que vivia em uma época em que a escravidão ainda estava longe de ser proibida no Brasil. Esses aspecto do livro me impressionou bastante e revelou a coragem da autora em tratar – ainda que de forma sútil - uma temática muito complicada para a época. E isso também explica o motivo pelo qual o romance foi inicialmente publicado com um pseudônimo: “uma maranhense”. E no decorrer da leitura, há passagens que retratam os horrores da escravidão. Dentre elas, está a cena que mais me impressionou: a descrição da captura e viagem de uma escrava para o Brasil, brutalmente separada de sua família e seus filhos.
Ah, e se prepare para encontrar algumas palavras pouco conhecidas, reflexo da época em que a história foi construída. Mas fique tranquilo que isso não chega a prejudicar o ritmo da leitura.
É preciso ler com o distanciamento e consciência de pertencer a uma outra escola (no meu caso, uma de que não gosto). O estilo cansa, mas achei impressionantes alguns eventos inesperados na trama, que trazem uma originalidade muito maior que outros clássicos mais incensados do Romantismo. Depois do começo meio arrastado, a história é bem ágil, vale para conhecer a primeira romancista brasileira diante de tantos outros livros que são exigidos na escola.
Como literatura não vi muitos elementos que particularmente me interessassem. Tem os motivos, as figuras e o temas do romantismo brasileiro, no caso, um casal de jovens – Tancredo e Úrsula – que por razões diversas tem dificuldades de concretizar o amor. É aquilo que a gente encontra nos principais representantes da literatura de meados do século XIX – penso em Alencar: amor idealizado, dificuldades em sua concretização, subjetivismo, imagens bucólicas da natureza, adjetivação das longas descrições e por aí vai. Um exemplo: “Rogo-vos, pois, que não tomeis a minha narração, quando tenha de ser apaixonada, como desejo do passado e saudades dele. Podeis amar-me sem receio de que ele perturbe o nosso mútuo afeto. Ressentimento, ódio, maldição, tudo hei sacrificado ao vosso amor”. A novidade e o que verdadeiramente a diferencia dos seus contemporâneos é a inclusão da escravidão como tema social. É o caso dos escravos Túlio e Susana que não são apenas elementos de fundo, mas tem personalidade e autonomia como personagens. Eis como aparece Túlio: “O sangue africano refervia-lhe nas veias; o mísero ligava-se à odiosa cadeia da escravidão; e embalde o sangue ardente que herdara de seus pais, e que o nosso clima e a servidão não puderam, resfriar, embalde – dissemos – se revoltava; porque se lhe erguia como barreira – o poder do forte contra o fraco!...” Ou a seguinte reflexão a respeito da escravidão: “Senhor Deus! Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima – ama a teu próximo como a ti mesmo –, e deixará de oprimir como tão repreensível injustiça ao seu semelhante!...” Inegável o valor do livro como registro de uma época, publicado em um país que a escravidão não era questionada. Muita valentia dela e as reflexões sobre a perversidade da escravidão – que destrói as suas vítimas e perverte os algozes – é algo digno de nota para aquele país de metade do século XIX. Mas o romantismo, com os seus excessos melodramáticos, pesa e torna a leitura bastante arrastada em muitos momentos.
uma combinação entre romantismo com um pingo de realismo. das primeiras obras escritas por uma mulher no Brasil, ainda por cima falando de temas como a escravatura e o patriarcado, dando voz a personagens negras e escravizadas (o livro é considerado o primeiro romance abolicionista brasileiro, e dos primeiros de ficção afro-brasileira!)
tudo isto escrito por uma mulher negra, que viveu a maior parte da sua vida enquanto a escravatura era legal no Brasil - e que, por isso, tinha uma vivência nada-distanciado dessa realidade.
Úrsula é um "clássico" da literatura brasileira que ficou desconhecido até à década de 1960, quando um exemplar foi achado num sebo. A partir desse achado, e com alguns mistérios sobre a origem da escritora, chegou-se ao consenso de que este seria não apenas o primeiro romance abolicionista brasileiro, mas também o primeiro publicado por uma pessoa negra, o que mostra o pioneirismo da maranhense Maria Firmina dos Reis, que não escapou, tal como outros pioneiros da literatura negra, das tentativas de branqueamento de sua figura: o retrato que durante décadas ilustrou textos sobre Maria Firmina pertencia a uma outra escritora... branca.
O reconhecimento da importância da literatura afrobrasileira nos últimos anos levou Úrsula a um novo patamar e à sua inclusão em vestibulares de várias universidades federais.
Quanto ao romance, ele é fiel ao estilo romântico, popularizado em língua portuguesa por Camilo Castelo Branco: tem amores impossíveis, mortes, loucuras, conventos, déspotas que ameaçam jovens virginais e heroicos mancebos. Mas tem também duas personagens negras, Túlio e Suzana, que se destacam no panorama da literatura do séc. XIX com histórias próprias no romance, e um discurso abolicionista bem mais radical que o da Cabana do pai Tomás, que pela mesma época foi considerado "responsável" por ter iniciado a guerra civil estadounidense por conta do seu discurso anti-escravidão.
A versão em áudio livro inclui algumas músicas da época e efeitos sonoros que acompanham muito bem a leitura dramatizada.
Olha, espero que consigamos fazer justiça à Maria Firmina no futuro... Este livro, lançado em 1854, foi o primeiro de uma autora brasileira e o primeiro de teor abolicionista. Ela foi grandona pra caralho
Uma pena que o livro tenha ficado quase 100 anos em esquecimento, até que uma cópia foi achada em um sebo na década de 60 e a obra enfim recebeu um pouco de reconhecimento.
Porra, ela conseguiu em um único romance tratar de tantos temas importantes. Escravidão, relacionamentos abusivos, críticas à religião, fome no sertão e entre outros...
A história, em si, é classica e bastante romântica. Por outro lado, a narrativa tem sofríveis relatos de tortura contra escravizados, além de inúmeras e firmes críticas à escravidão.
O que é mais significativo e incrível, no entanto, é o fato deste ser um dos primeiros livros de autoria feminina no Brasil (1859), escrito por uma mulher negra, pobre e maranhense (e professora!).
Vale a pena conhecer. Me senti mais brasileiro após a leitura
Grande experiência ler a obra mais conhecida da primeira romancista brasileira. Apesar do vocabulário distinto da atualidade e enredo melado de romantismo é bacana e tem momentos muito sensíveis sobre a realidade brasileira da época e a necessidade da abolição. Li a edição que tem o conto "A escrava" junto, obra que gostei ainda mais.
Likely the first Brazilian female author, Maria Firmina dos Reis breaks ground as she develops black characters who are openly anti slavery in a time where slavery was sadly still legal in here. Not only that, but they are also masters of their own fate and able to decide things for themselves. A very impressive feat for 1860, it's also coupled with a less important, but still very interesting plot concerning a white woman (the title character) as she tries to escape her violent abuser. A very surprising read!
O texto de Maria Firmina dos Reis é Magnífico. Além de ser do ponto de vista de uma mulher, em pleno século XIX dá voz a uma mulher negra, que relata como foi o seu rapto da Africa e eventual escravidão, assim como o tratamento e o assédio sexual sofrido nas mãos do senhor.
É uma obra de arte de autoria feminina, sendo o primeiro texto de autoria feminina negra brasileira. Deveria ser leitura obrigatória em todos as escolas!!!
Tinha muito potencial mas me decepcionou, em algumas partes ele me prendou ou me despertou a atenção mas em geral sinto que a história não foi bem trabalhada. Algumas coisas eram artificiais e sem muito aprofundamento. A obra tinha a oportunidade de retratar muito mais a realidade dos escravos da época e o ponto de vistas destes ( o que eu acreditava q iria acontecer) mas não o fez.
Bom pro primeiro romance. Tive sorte. Ótimo entretenimento. Livro pra sofrer se sentir empatia pelos personagens, coisa que não foi lá o meu caso! (mas quase aaa)
“Úrsula” já estava na minha estante faz tempo, mas passou à frente quando o Laurentino Gomes comentou sobre ele no volume 2 da trilogia Escravidão. Livro cheio de marcos importantes. A autora é a primeira mulher brasileira a ter um romance publicado. O livro é considerado o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira e também a primeira obra produzida por uma autora afrodescendente. Publicado em 1859, o livro em si é chatinho de ler, com aquela linguagem bem rebuscada do Romantismo, mas ao contrário daquela idealização dos personagens, como por exemplo dos indígenas de Iracema ou o Guarani do José de Alencar, em Úrsula os personagens negros são bem reais e, mais ainda, conscientes da sua condição de escravizados. Neste ponto o livro é um achado! Assim como a Jane Austen “esconde” suas ideias “revolucionárias” na narrativa, a Maria Firmina dos Reis, autora do Úrsula, que era filha ilegítima de pai negro, aborda questões sociais debaixo do romance de amor e tragédias de Úrsula. Pensem que, em vários momentos no livro, os personagens negros que narram parte da história protestam contra a vida de escravizados e de repente, no meio do livro, do nada, aparece a negra Suzana, à qual a autora dedica um capítulo inteiro para contar sua história, desde quando estava na África até aquele momento em que está já velha, passando pela travessia no navio negreiro, pelos maus tratos, pelas privações. Pesquisando sobre o livro, achei um texto incrível do escritor Alex Castro (https://alexcastro.com.br/ursula-de-m...) que resume muito bem esta questão: “Esse romance, no Brasil de 1859, era absolutamente revolucionário e subversivo, e teria sido impossível de publicar, se não estivesse literalmente escondido sob dezenas e mais dezenas de páginas da narrativa romântica mais convencional que se poderia conceber. É como se todo esse romance romântico fosse somente um subterfúgio para comunicar um conto, transmitir uma noveleta sobre a escravidão. Como se os lugares-comuns de Úrsula e Tancredo fossem o preço que tivéssemos que pagar, quase que um ritual de passagem, para termos acesso às verdades profundas sobre o Brasil, sobre a escravidão, sobre nós mesmas, que Susana e Túlio nos ensinam, nos demonstram. Um romance-camuflagem, um romance-desafio”. Bem interessante!
É uma experiência enriquecedora voltar a livros do Romantismo brasileiro em tempos de aprofundamento psicanalítico (mesmo que muitos de nós não sejamos psicólogos ou psicanalistas, vivemos numa época em que a informação, a velocidade com a qual ela nos chega, a qualidade e a reflexão crítica, nos deixa mais complexos na aventura humana, mas não menos sensíveis ao que ela nos provoca). O leitor mais desavisado pode considerar um enredo bobo, datado, um tanto irreal. No entanto, há nos livros românticos algo de primitivo que nos une a todos na construção sentimental de nossa formação enquanto indivíduos. Neste, em específico, escrito por uma mulher negra nos horríficos anos da escravatura brasileira, nos traz uma camada extra de contexto que, ainda hoje, é sensível na essência da existência de nossa cultura, aquilo que nos faz povo. Por mais fruto de seu tempo que o livro possa ser, mantém-se uma leitura que abre espaços para a subjetivação de seus personagens, por mais estereótipos que tragam em sua representação. Tais estereótipos, neste caso, ainda encontram espelhos nos dias de hoje. A autora foi muito feliz ao sopesar as inserções potentes de personagens secundários para dar a eles a dissonância do tipo de literatura que o Romantismo produziu, porque é pelo reforço da futilidade do enredo amoroso que reforça o protagonismo deles, sem deixar de apresentar, ainda assim, para além do racismo e do regime de tortura que se empregava à época (e ainda hoje), outras misérias de nossa formação, como o machismo, o elitismo, a conivência religiosa. Recomendo a leitura.
Nascida no século XIX, Maria Firmina ficou conhecida como a primeira autora brasileira com ideias abolicionistas. "Ursula" foi seu primeiro romance, publicado inicialmente em uma revista, sem identificação da autora (publicado pelo pseudônimo de "uma maranhense"), foi marcado por sua ideologia de humanização do escravo, algo bastante incomum na época. Minha opinião é que a autora certamente foi inovadora em sua abordagem, contudo ainda a considero bastante conservadora nesse romance, mostrando o negro da época como uma alma bondosa ainda dependente do homem branco para autentificar sua humanidade. Sendo as ideias abolicionistas ainda apenas um pano de fundo bem discreto, mas como se diz: "para um bom entendedor, meia palavra basta". Imagino o impacto que a obra teve na época, chocando com o uso do termo "bárbaro" para a descrição do tráfico de seres humanos, que naquela época acontecia. Enfim, surpreendi-me com a genialidade de Maria Firmina, e sou grata pela liberdade atual de criticar mais aberta e duramente o preconceito e a monstruosidade da "colonização" do continente Africano por bárbaros europeus. Admiro a autora e professora acima pela influência exercida entre os séculos e pela coragem de expor o que tinha de começar a ser dito.
Edição Tag-Vozes Negras: A edição traz várias informações sobre a autora e sobre a época em que está viveu. O quanto a pesquisa agrega para a experiência da leitura é absurda. Puder ler Úrsula com muito contexto e entendimento de tudo o que foi retratado. Quanto ao romance, definitivamente não é algo que pegaria para ler, tanto pela época e estilo, mas me comoveu muito a estória. O sofrimento de luto que cada um dos personagens passam, seja por perder o filho, a mãe, o amor ou a própria liberdade. Cada um dos personagens tem complexidade e estória. Podemos ver Ursula, Tancredo, Suzana e Túlio de forma íntima, seus pesares e alegrias. A forma como é construído e apresentado cada um dos personagens engrandece a obra.
Definitivamente não funciona para todos, mas acredito que é um livro que deve ser apresentado nas escolas. Traz muito sobre a escravidão no Brasil, e muitos outros assuntos abordados como impunidade da lei, violência doméstica, física e emocional.