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O Ódio como Política: A Reinvenção das Direitas no Brasil

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O ódio como política, organizado por Esther Solano, chega às livrarias durante o período eleitoral, no momento em que o campo progressista assiste perplexo à reorganização e ao fortalecimento político das direitas. “Direitas”, “novas direitas”, “onda conservadora”, “fascismo”, “reacionarismo”, “neoconservadorismo” são algumas expressões que tentam conceituar e dar sentido a um fenômeno que é indiscutível protagonista nos cenários nacional e internacional de hoje, após seguidas vitórias dessas forças dentro do processo democrático. Trump, Brexit e a popularidade de Bolsonaro integram as complexas dinâmicas das direitas que a coletânea busca aprofundar a partir de ensaios escritos por grandes pensadores da atualidade. Tendo como foco central o avanço dos movimentos de direita, os textos analisam sob as mais diversas perspectivas o surgimento e a manutenção do regime de ódio dentro do campo político.

Luis Felipe Miguel abre o livro apresentando os três eixos da extrema-direita brasileira: o libertarianismo, o fundamentalismo religioso e o revival do anticomunismo. Silvio Almeida continua o raciocínio discorrendo sobre a distinção entre o conservadorismo clássico e o neoconservadorismo atual, para o qual a democracia não passa de um detalhe incômodo. Carapanã tenta responder à pergunta de como chegamos a este cenário de recessão democrática analisando os ataques ao Estado na América Latina e no Brasil. Flávio Henrique Calheiros Casimiro trabalha a cronologia da reorganização do pensamento e da ação política das direitas brasileiras, buscando suas raízes nos anos 1980. Camila Rocha questiona a caracterização das novas direitas brasileiras como militância ou como resultado do financiamento de organizações que articulam think tanks globalmente.

Rosana Pinheiro-Machado e Lucia Mury Scalco analisam as transformações da juventude periférica, que migrou da esperança frustrada para o ódio bolsonarista na última década. Ferréz também traça um retrato das periferias e do reacionarismo contido nelas, com uma linguagem forte e poética. Rubens Casara escreve sobre a direita jurídica de tradição antidemocrática, marcada por uma herança colonial e escravocrata. Edson Teles reflete sobre a militarização da política e da vida, e sobre a dinâmica da dualidade “inimigo interno” versus “cidadão de bem”.

Na economia, Pedro Rossi e Esther Dweck analisam alguns mitos do discurso da austeridade, enquanto Márcio Moretto conduz-nos a uma dimensão de vital importância para as direitas na atualidade: as redes sociais e como estas organizam o debate político. Já o pastor Henrique Vieira aborda o fundamentalismo religioso e como este se traduz em ações truculentas e em projetos de poder, como a Frente Parlamentar Evangélica. Ainda sobre os perigos do discurso da moral e dos bons costumes, Lucas Bulgarelli analisa a oposição aos direitos LGBTI nos últimos anos, e Stephanie Ribeiro apresenta as ameaças da retórica antifeminista no ideal da mulher submissa, “bela, recatada e do lar”. Por fim, Fernando Penna reflete sobre o caráter reacionário do projeto Escola sem Partido, que fomenta um clima de perseguição inquisitorial em muitas escolas brasileiras sob o lema de um suposto pensamento neutro.

122 pages, Kindle Edition

First published September 1, 2018

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Esther Solano

12 books3 followers

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Displaying 1 - 26 of 26 reviews
Profile Image for Adriana Scarpin.
1,735 reviews
October 25, 2018
Primeiramente parabenizo quem está conseguindo ler no presente erigir das trevas, eu, outrora uma leitora compulsiva, estou à beira da indigência, sem conseguir focar em nada, excluindo coisas necessárias ao momento como este livro O ódio como política, uma junção de artigos organizada por Esther Solano, que é uma leitura fundamental sobre como a movimentação política da última década chegou nesse ponto tenebroso em que estamos hoje.
Apesar de ter sido amplamente difundido como ebook gratuito, também vale a pena comprá-lo, especialmente tendo em vista a campanha de levarmos um livro na votação de domingo - acho-o especialmente adequado para o momento.
Aliás, qualquer livro publicado pela editora Boitempo seria bem vindo no domingo, já que ontem mesmo a Ivana Jinkings declarou que a editora sofreu ameaças por telefone de um bolsominion raivoso dizendo que a editora veria quando o cramulhão tomasse o poder. Portanto, levar um livro da editora é uma afronta dupla.
Profile Image for Giuliana Gramani.
336 reviews16 followers
March 11, 2019
Peguei esse livro de graça na Amazon graças a uma iniciativa muito legal da Boitempo. Gostei da proposta do livro de falar sobre temas importantes para o atual momento do Brasil, como feminismo, a ascensão da direita, o movimento LGBT e a onda conservadora que nos assola. É muito difícil falarmos de um panorama que não conseguimos enxergar por inteiro, por estar em curso, mas senti falta de mais profundidade nos textos e de um senso de conclusão maior. A maioria dos artigos expõe um estado de coisas muitas vezes óbvio e me deixou no final com uma sensação de "OK, isso eu sei, e o que podemos fazer com essa informação?". Claro que não é papel de nenhuma obra oferecer soluções para os problemas, e seria até leviano do livro achar que poderia fazer isso, mas acho que é chegada a hora de irmos além de uma mera descrição do status quo (por mais precisa e embasada que seja essa descrição) e pensarmos que rumos tomaremos e quais serão as consequências deles.
Profile Image for Rodrigo.
613 reviews20 followers
October 12, 2018
Estamos nos desacostumando a dialogar. A balança esquerda/direita é real e está sempre pendendo para um lado ou outro. Nossa missão é manter a sanidade em meio a essa dinâmica e buscar nos tornarmos melhores. E, como consequência, tornar a sociedade algo melhor. Desistir de dialogar é desistir da sociedade.

Eu distingo análise política de discurso político. A análise é desapegada, ponderada, inteligente, abrangente e rica. O discurso é direcionado, parcial, limitado, quer me convencer (muitas vezes fingindo que não). Eu não quero ser convencido, mas estou disposto a me convencer, contanto que meu interlocutor me respeite e me ajude a pensar ao invés de me empurrar ideias. Infelizmente, foi isto o que senti ao ler este livro.

A direita, que é facilmente extrema-direita a depender da falta de sofisticação retórica, é alvo de uma análise que poderia ser também bem direcionada à esquerda. Este livro faz o desserviço de construir caricaturas de opiniões políticas e colaborar para um discurso de divisão ignorante. Enquanto isso, certamente alguém do outro lado está fazendo o mesmo: chamando o adversário político de bobo. E sendo bobo ele próprio. É inegável a sofisticação do discurso usado no livro. Assim como a empáfia de considerar o outro lado menos inteligente e desumano.

A crítica de Carapanã à obsessão [da direita] por questões culturais é de uma ironia desconcertante. E, mais uma vez, o outro lado é nazifascista, unindo tudo que pode haver de ruim. A análise de Silvio Luiz de Almeida é ponderada até a conclusão, onde se perde no “nós versus eles”.

A habilidade de classificar qualquer revés político da esquerda como fim do mundo é admirável. Rosana Pinheiro-Machado e Lucia Muri Scalco constróem a previsível dicotomia “Esperança, substantivo feminino X Ódio, substantivo masculino”. Sério?

Ferréz é talvez o que melhor consegue realizar uma análise ponderada em sua visão sobre a heterogeneidade da periferia. Rubens Casara e seu “óbice hermenêutico” consideram o direito ainda mais à direita do que a visão política da esquerda já normalmente considera. A utilidade de um argumento desses? É preciso aumentar a luta política. Claro.

Pedro Rossi e Esther Dweck citam Paul Krugman no questionamento da austeridade e me fazem lembrar do Skin in the Game de Nassim Taleb.

Márcio Moretto Ribeiro fala sobre antipetismo na internet sem falar sobre o PT. Henrique Vieira pondera sobre religião e fundamentalismo, diferenciando ambos. Ponto pra ele. Lucas Bulgarelli ao menos lembra que durante governos de esquerda a causa LGBTI seguiu sendo desprestigiada. O mesmo constata Stephanie Ribeiro ao falar sobre feminismo.

Fernando Penna preocupa-se com a superficialidade da Escola sem Partido. Mas pelo menos até o professor de seu filho exercer seu direito democrático de começar a dizer que, por exemplo, não houve ditadura no Brasil. A crítica à verdadeira superficialidade do argumento do Escola sem Partido é feita também de forma superficial. Não há saída fácil aqui.

A professora Esther Solano Gallego até tentou construir uma visão ponderada: “Durante minha pesquisa com simpatizantes de Bolsonaro, lembro-me de um jovem bolsonarista que, depois de várias horas de conversa, disse em tom de crítica: ‘Professora, vocês da academia estudam tanto e parece que ainda não entenderam muitas coisas. Tratam a gente como se fôssemos todos burros. Não somos. Deveriam escutar mais, porque vocês não sabem de tudo’. Esse jovem estava errado? Se quisermos de fato lutar contra as direitas, com frequência antidemocráticas e retrógradas, devemos primeiro observar, escutar, enxergar a realidade e entendê-la, para depois combatê-la. Não sabemos tudo. Aprendamos juntos.”

Se o resultado desta análise foi este livro, falharam.
Profile Image for Carolina.
82 reviews20 followers
November 11, 2018
Bom resumo dos nossos tempos.
Alguns textos são melhores do que os outros, mas, em geral, a leitura é muito proveitosa.
Profile Image for Ricardo Santos.
Author 12 books25 followers
October 21, 2018
Nesses tempos de ameaça à democracia (e mesmo que o sempre afiado Vladimir Safatle diga que vivemos, na verdade, numa república oligárquica), O Ódio como Política é um livro que convida para uma reflexão urgente. Composto de textos curtos, introdutórios para obras de maior fôlego, o livro serve muito bem como um alerta sobre quem comanda de fato o destino do país. A esquerda errou, o PT errou. Mas o que os neoliberais e protofascistas sempre pretenderam foi criar uma manada de consumidores ávidos e eleitores confusos. Em nome da ordem e do progresso investem numa visão de mundo excludente e rasa, na qual o livre pensamento tem limite e os preconceitos são combustível para a prática de barbaridades institucionais, psicológicas e físicas. O Ódio como Política não trata os conservadores de maneira simplista. A simplicação apenas joga uma cortina de fumaça que retarda uma melhor compreensão de quem são os eleitores de Bolsonaro, por exemplo. Há os extremistas que estão fechados com seu líder, dispostos a derramar sangue nas ruas por uma ideologia nefasta. Há os oportunistas, que buscam ganhar dinheiro, cargos em empresas e eleitores. Mas há também muita gente frustrada com os rumos da política tradicional, que perdeu o emprego, o poder de compra, o status social, inclusive petistas de carteirinha, convertidos ao bolsonarismo. O eleitor protofascista do Coiso é coerente em seu discurso do ódio. O eleitor médio dele, não, tornando-se uma contradição ambulante. Há gay, negros e mulheres que o apoiam. Porém há evangélicos que o desprezam. Bolsonaro é um avatar de forças econômicas maiores. Institutos neoliberais com um verniz democrático, de livre mercado, como Mises e Ethos, promovem sistematicamente uma doutrina falaciosa, enaltecendo a meritocracia e o esforço individual, contrários à organização coletiva da sociedade. Ao mesmo tempo, políticas governamentais de austeridade fragilizam os serviços públicos, levando a população, acuada, a recorrer às alternativas oferecidas pela iniciativa privada. As estruturas judiciárias mantêm, desde a escravidão, seu ranço histórico de “naturalização da desigualdade e da hierarquização das pessoas”, produzindo decisões midiáticas e populistas, geralmente, contra o direito do cidadão “comum”. O problema não é só Bolsonaro. Ele é um sintoma de nossas injustiças e mazelas jogadas para debaixo do tapete por décadas e que agora veio cobrar o preço pelo o que não fizemos, não corrigimos, sob a forma de uma espécie de “ditadura voluntária”.
Profile Image for Guilherme Smee.
Author 27 books189 followers
January 21, 2023
Este livro, que roubei num sneak attack da estante do meu irmão é um belo compilado de textos para entender o momento atual que vivemos e tentar desvendar as intenções do povo brasileiro nas eleições de 2018. O livro mistura textos acadêmicos com textos mais informais, e é ilustrado por charges de grandes nomes dos quadrinhos como a Laerte e o Luiz Gê. Afinal, os quadrinhos no Brasil, sempre foram a arte suprema de contracultura e luta contra o establishment. Entre os temas abordados nos livro estão as condições LGBTQI+, feministas, das redes sociais, da educação e da periferia. O livro enxerga a reinvenção das direitas no Brasil através das manifestações, das militâncias, da violência, do fascismo, das classes dominantes, do financiamento, do fundamentalismo religioso e, por último, mas não menos premente, do bolsonarismo. Um livro extremamente atual que contém, inclusive uma charge da Laerte sobre um fato característico do nosso tempo, que foi o incêndio do Museu Nacional. O povo brasileiro, na colocação de terceiro lugar de povo que vive com menos noção da realidade, está cagando para sua História, quando acredita que não se deve dar importância para o incêndio de um dos seus maiores acervos de patrimônio histórico e cultural do país. A ignorância brasileira, mais que tudo, explica a ascensão do ódio, da intolerância e como eles, as neodireitas neonazistas neofascistas e bolsonaristas. O velho vestido de novo para um povo que desconhece seu passado.
Profile Image for DeboraS..
62 reviews
June 13, 2021
A primeira vez que li esse livro faz uns 2/3 anos, e eu não lembrava de não ter gostado de alguns textos, vamos lá. Enquanto existem textos maravilhosos e bem fundamentados (a maioria, ainda bem), outros textos que tentam fazer um resgaste histórico muito grande para poucas páginas, porém continuam sendo bons, há também eu não me dei muito bem com a temática, mas ainda sim são bons e ok tudo bem.

PORÉM existem textos (dois ou três entre os 15) que fazem uma sopa de assuntos diversos que não tem qualquer estrutura ou fundamentação aprofundada e isso me deixou abismada. Acredito que um dos mais mal estruturados é o da Stephanie Ribeiro, eu não se o intuito era fazer estilo artigo de opinião, mas não era o que eu esperava da proposta do livro.

Então fica aqui as minhas considerações, os meus preferidos foram do Luís Felipe Miguel; Silvio Almeida; Pedro Rossi e Esther Dweck; e o da Camila Rocha. No mais, eu gosto muito da Esther Solano (organizadora do livro), e até hoje os ensinamentos da palestra dela em Belém (2019) ecoa na minha mente devido à pesquisa relacionada à nova direita.
Profile Image for Marcelo Renhe.
31 reviews3 followers
May 28, 2019
Finalmente terminei esse livro que estava há séculos agarrado no meu Kindle. Achei o livro bem fraquinho. Muito artigo mais do mesmo, nada de muito diferente do que a gente já lê no dia-a-dia. Alguns artigos beiravam a pregação política, com frases feitas que são repetidas a esmo por parte da militância. Boa parte do livro soa mais como a esquerda conversando com ela mesma. Nesse sentido, acho o livro desnecessário. Mais útil ler jornal e postagem de blog. Há algumas exceções, naturalmente, que se destacam, como os artigos do Ferréz e do teólogo Henrique Vieira. O texto do Prof. Márcio Moretto, que é uma análise com dados sobre o conservadorismo no Facebook, é em essência interessantíssimo, mas a meu ver peca na apresentação, com uso frequente de termos computacionais, como "grafo" e "cluster", que a maioria desconhece. Mesmo entendendo o vocabulário, a forma como os dados são apresentados é maçante. Eu que sou da área e compreendo os termos achei o texto cansativo.

De maneira geral, pra quem se considera um pouco alheio ao que acontece na política e pretende ter uma visão, sob o ponto de vista da esquerda, das principais pautas em discussão hoje em dia, vale a pena ler o livro. Mas pra quem já acompanha as discussões há algum tempo, acho perda de tempo.
Profile Image for Juliana Leão.
97 reviews12 followers
October 25, 2020
O livro organizado pela Esther Solano trás consigo uma reflexão acerca das complexas dinâmicas das diretas desde diversos pontos de vista e análise. Publicado no ano de 2018, o livro tem como objetivo se aprofundar das discussões do novo governo brasileiro e das forças que circunscrevem a sociedade brasileira, auxiliando na construção de pensamentos críticos antagônicos as forças antidemocráticas.
O inicio do livro foca em uma abordagem mais didática de termos relacionado a direita brasileira e sua historicidade. Ao meu ver, alguns autores foram capaz de abordar o debate de forma fluida e compreensível, outros, no entanto, a fizeram de forma mais árdua, o que tornou a leitura um pouco mais cansativa. A capacidade que a obra tem em me manter presa influência muito em minha avaliação.
Apesar dos pesares, o que me encanta no livro são as diferentes abordagens sobre um mesmo período, não perdendo a essência de um sistema complexo e vinculado.
Em suma, O Ódio como Política é uma ótima e rápida leitura para situar a atual realidade política brasileira e fomentar reflexões a respeito da definição de democracia.
Profile Image for Gabriel Lucena.
24 reviews1 follower
November 19, 2021
Bacana. Bem diverso em temas e bem panfletário sem muito aprofundamento nas questões, o que não é um problema já que acredito ser esse o objetivo dessa série da Boitempo. Mas por vezes achei que ficava estranho terem textos mais acadêmicos e textos mais manifesto, achei pouco coeso. Também me incomodou não ter as referências, principalmente caso alguém quisesse se aprofundar nas questões trabalhadas.
Profile Image for Marcus Vinicius.
242 reviews11 followers
October 27, 2018
Esforço para Compreender
A apologia do preconceito e do obscurantismo que invadiu de forma mais intensa o discurso político brasileiro, com evidente viabilidade eleitoral, é objeto dos diversos textos que compõem o livro. São textos curtos, objetivos e críticos. Avaliam as diversas questões que compõem a cena política contemporânea e, em sua grande maioria, constituem um esforço para compreender como chegamos até aqui. A conclusão, para além de apontar para a resistência, ato próprio de quem persevera, indica que a adversidade constitui uma oportunidade para qualificar a ação política comprometida com os direitos humanos, o combate à desigualdade e a democracia. Uma leitura proveitosa!
Profile Image for Amanda.
15 reviews2 followers
May 6, 2020
O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil | Esther Solano Gallego

Esther Solano Gallego, socióloga, organiza essa coletânea de ensaios tão necessária nos dias atuais. Além dos textos, essa edição da Boitempo vem com Prólogo de Gregório Duvivier e com charges de Gilberto Maringoni, Laerte e Luiz Gê. Para tornar o livro ainda mais acessível a todos, os autores abriram mão de receber remuneração pela publicação de seus textos e artes. Abaixo, encontram-se comentário sobre cada um dos ensaios.

Miguel pinta um retrato da direita e como está radicalizou seu discurso no Brasil com base no liberalismo, no fundamentalismo religioso e no anticomunismo.

Almeida expõe a relação do neoconservadorismo e do liberalismo como duas faces da mesma moeda, ambos buscando a manutenção da sociedade capitalista, uma menor intervenção do estado (principalmente da sua faceta de assistência social) e a conservação de valores tradicionais.

Carapanã expõe como o fantasma atualmente propagado pela extrema direita, o “Marxismo Cultural”, se assemelha ao “bolchevismo cultural”, o qual era amplamente propagado pelo Partido Nazista ao denunciar movimentos modernistas nas artes. O autor chama a atenção para o quão perigoso é promover a normalização dessa teoria da conspiração pois ela costuma trazer consigo outras teorias herdadas de governos nazifascistas: a teoria da degeneração cultural e/ou racial, por exemplo.

Casimiro destrincha a série de aparelhos privados que servem de base para a chamada nova direita e demonstra que o crescimento e que a radicalização desse movimento tem origem ainda nas décadas de 80 e 90 com a fundação de organizações liberais e o estreitamento de laços entre membros da burguesia brasileira.

Rocha mostra que a militância da direita no Brasil tem certa organicidade e não pode ser explicada somente pela maior disponibilidade de recursos financeiros e organizacionais.

Pinheiro-Machado e Scalco estudam a maior periferia de Porto Alegre desde o auge do lulismo e acompanharam sua queda e o surgimento da onda bolsonarista. As autoras haviam identificado nos rolezinhos, fenômeno dos anos de 2011 e 2012, uma semente de insurgência e em 2016 se surpreenderam ao ver essa juventude pender para o lado conservador, especialmente os meninos que temiam a desestabilização da masculinidade hegemônica.

Ferréz divaga sobre as facetas e as vivências da periferia numa prosa poderosa e clara.

Teles descrevem como o Estado promove a militarização da política e da vida cotidiana (ação em favelas, políticas de controle, escolar públicas “militarizadas”) através da criação de subjetividades “de risco” as quais permitem o uso de ações ilícitas dentro do cenário democrática.

Casara discute como a norma, resultado do texto jurídico e da ação do intérprete, pode ser aplicada de formas autoritárias mesmo partindo de textos com tendências democráticas. Afinal, tudo depende da tradição em que o interprete está inserido, geralmente conservadora, e que máscara essas intenções através de um discurso de neutralidade das das agências do sistema de justiça. O autor também demonstra como as tendências conservadoras dos atores jurídicos se transformam em práticas explicitamente ligadas a chamada “nova direita”, com a adesao do Poder Jurídico à racionalidade neoliberal.

Rossi e Dweck ressaltam que o discurso de austeridade na economia é carregado de moralidade a fim de tentar justificar uma série de sacrifícios que, na realidade, são altamente seletivos e contraproducentes.

Ribeiro investiga a direita através de páginas conservadoras e liberais no Facebook, analisando as interações que os leitores têm entre si, identificando assim alguns clusters (nós com altos números de ligações): páginas de apoio policial, páginas patriotas, páginas defensoras do liberalismo econômico e páginas conservadores em termos morais. O autor destacou também os pontos em comum entre a visão dos clusters, como a ideia da esquerda, do comunismo e do Partido dos Trabalhadores como os principais inimigos a serem combatidos.

Vieira como o fundamentalismo religiosa é um olhar que não se reconhece como tal, que confunde-se com uma ideia de verdade absoluta e, a partir disso, impossibilita o diálogo e invisibiliza outras formas de viver a religião. O autor olha também para o extremismo religioso, que é quando o fundamentalismo se radicaliza em “ações truculentas e em projetos de poder” como vem acontecendo no Brasil com certos grupos católicos e evangélicos. Vieira nos mostra que a saída não se trata de uma atitude antirreligiosa, mas na defesa do Estado laico e no apoio a grupos que olham para o texto religioso a partir da perspectiva dos oprimidos.

Bulgarelli faz um relato de como a direita especialmente a bancada evangélica, tem resistindo aos avanços dos direitos da população LGBTI. O autor também discorre sobre como a chamada “ideologia de gênero” se trata de uma redução de uma complexa discussão ao nível de uma doutrinação ideológica.

Ribeiro destaca a importância de lutar pela cidadania da mulher em um país que parece sentir saudades de seu tempo colonial e que interrompe violentamente a trajetória política de mulheres como Dilma e Marielle. Além disso, a autora faz uma crítica ao feminismo “pop” que se dobra ao capital e se mostra mais como estilo de vida do que uma luta coletiva e emancipatória.

Penna comenta o projeto de lei “Escola Sem Partido”, mesmo tendo sido provada a sua inconstitucionalidade, este continua a causar impacto na vida de professores que sofrem com a perseguição daqueles que acreditam que somente a família e a religião poderiam educar as crianças e jovens. Porém, com consta na nossa Constituição, é dever tanto da escola quanto da família educar para o exercício da cidadania, e a única forma de fazer isso é através de uma educação democrática.
Profile Image for alienticia.
277 reviews9 followers
May 30, 2021
é muito curioso pensar em 2018 porque ao mesmo tempo que parece ter sido uma vida atrás, também parece que foi ontem. foi uma experiência interessante revisitar a mentalidade em que A Esquerda™ estava nessa época e as coisas que estavam acontecendo (tem um artigo que fala até que a gente estava voltando pro mapa da fome!!! olha a situação agora etc). então é muito bom revisitar isso como uma espécie de hindsight e perceber quais foram as forças que atuaram pra gerar o apocalipse.
quanto ao texto em si, ele tem seus momentos. são bem informativos e trazem alguns panoramas históricos e análises bem interessantes, mas boa parte dos artigos parecem meio incompletos ou inacabados. como se você estivesse lendo um artigo pela metade. sei lá, talvez eu esteja atrás de leituras mais profundas? mas as charges do final são boas, Laerte nunca falha etc.
Profile Image for Jadson Albuquerque.
8 reviews
November 3, 2018
Textos breves, com certa densidade sobre as temáticas, muito úteis para entendermos o contexto atual de elevação do ódio e da polarização no interior de questões tão caras para o campo progressista.
O esforço de síntese de cada autor/a é notável, talvez tenham tido a intenção de entregar um conjunto de textos o mais rápido possível para que os leitores se municiem de argumentos diante da rapidez dos discursos chulos que andam pipocando, seja nas conversas ou nos monólogos online. Por isso, estão de parabéns.
Profile Image for L7od.
137 reviews3 followers
July 27, 2019
No momento atual do Brasil vale a pena ler, a edição parece ter sido muito rápida, então apesar de apresentar um espectro generoso do local das direitas na política e em relação aos movimentos por direitos, alguns dos autores conseguiram usar melhor o espaço. O livro é muito desigual e vai perder seu local de fala logo. Alguns dos artigos são muito bons e com proposições melhor desenhadas, e em nenhum momento a discussão tenta parecer neutra.
Profile Image for Sami Eerola.
952 reviews108 followers
June 30, 2022
Good overview of the different right wing movements that created the power shift that ousted the left wing governement of Dilma Russef in 2016 and eventualy in 2018 elected the far-right Bolsonaro as the president of Brazil

The only problem with this book is its leftist point of view that blames the Brazilian right of almost all of Brazil's problems. There was plenty of errors that the PT governement made that created the right wing surge
Profile Image for André Azevedo da Fonseca.
Author 7 books13 followers
December 23, 2018
Boa leitura para compreender um panorama amplo de discussões que a esquerda formula para analisar e combater a direita. Como são muitos autores, os textos são diversificados e irregulares. Há análises inovadoras ao lado de textos que realçam argumentos já conhecidos. Mas de todo modo é uma leitura muito interessante neste momento.
Profile Image for Caroline Delfino Coelho.
51 reviews1 follower
January 17, 2021
É uma compilação boa de textos alinhados à esquerda para entender o que aconteceu ao redor do ano de 2018. Não se aprofunda muito nos temas, o que é compreensível já que estávamos todos no meio dos desenvolvimentos. É interessante justamente para entender como estavam os ânimos no momento a partir de um panorama geral dos temas mais discutidos.
Profile Image for João Victor.
82 reviews1 follower
February 7, 2022
experiência pertubadora revisitar o cenário de 2017/18, quando pensávamos que aquele seria o fundo do poço, e olha o quão fundo chegamos

minha única crítica é a sensação de que alguns artigos me pareceram muito enxutos e outros incompletos, fora isso, a seleção feita pro livro foi incrível, destaco os artigos de Luis Felipe Miguel, Carapanã, Rubens Casara, Stéphanie Ribeiro e Fernando Penna
Profile Image for Breno Coelho.
74 reviews2 followers
April 23, 2020
Raso e sem discussão empirica. Mesmo para publico fora da academia não acho que justifica. O único texto que vale a pena ler no livro inteiro é aquele sobre atitudes políticas na periferia de Porto Alegre.
Profile Image for Danielle Gilaberte.
74 reviews
October 28, 2018
Um excelente recorte das conjunturas históricas relevantes para um olhar holístico do momento político atual.
Profile Image for Max Wolosker.
10 reviews1 follower
November 19, 2018
Essencial para se entender o movimento que culminou com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência da república.
Profile Image for Fábio de Oliveira Martins Martins.
23 reviews2 followers
January 7, 2019
Um livro 8/80: ótimos artigos sobre uma nova perspectiva da política brasileira, mas de vez em quando encontramos certos textos que nos fazem perguntar "como isso veio parar aqui?"
Displaying 1 - 26 of 26 reviews

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