Vencedor do Prémio Nobel da Literatura - o primeiro (e único até à data) a distinguir não só Portugal como a língua portuguesa -, o escritor José Saramago (1922-2010), autor de romances fundamentais como Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis ou Ensaio sobre a Cegueira, conquistou, por esse motivo, um estatuto de primordial relevo na nossa História recente.
Trilhou, porém, um caminho árduo até atingir a consagração: originário de uma família de trabalhadores rurais ribatejanos, estudou apenas para serralheiro mecânico e fez toda a sua formação intelectual como autodidata. Manteve-se na obscuridade durante a maior parte da sua carreira, fosse como funcionário de escritório, responsável por uma editora ou até enquanto editorialista, que não assinava os seus textos, e já só por volta dos 60 anos ganhou notoriedade como romancista.
Viu-se envolvido em polémicas que mobilizaram as atenções nacionais: acusado de praticar censura e de afastar jornalistas como diretor-adjunto do Diário de Notícias, ele próprio viria a queixar-se, anos depois, de o governo lhe censurar um livro, afirmando que por tal motivo se afastava do país. Esta biografia traça o percurso de uma personalidade única da cultura portuguesa, debruçando-se tanto sobre a sua intensa atividade criativa como sobre a sua atribulada vida privada.
Comecei a ler os livros de José Saramago há cerca de 30 anos. Li quase todos os seus romances e, quando ganhou o Prémio Nobel, celebrei, não apenas como portuguesa, mas também por ser um dos meus escritores preferidos.
Mesmo quando gosto muito da obra de um escritor, não procuro com frequência aprofundar o conhecimento relativamente ao escritor como pessoa. Tento separar a pessoa daquilo que escreve. Naturalmente, acredito que a vida de um escritor influencia a sua obra e, por isso, as biografias podem ter interesse como meio de aprofundar o conhecimento sobre os livros. Foi por esse motivo que decidi ler esta biografia de José Saramago.
São mais de 700 páginas em que, com muito detalhe e através de inúmeras fontes, Joaquim Vieira percorre a vida do autor. Das suas origens rurais, ao percurso escolar e profissional, aos relacionamentos amorosos, às convicções políticas e à escrita dos seus livros. Através da vida de Saramago olhamos também para a história recente de Portugal, em termos políticos e culturais.
Gostei muito de ler esta biografia, embora considere que, em determinados momentos, existe demasiado detalhe e um excessivo desenvolvimento. Para mim, foi muito interessante conhecer ou relembrar o contexto e a forma como foram escritos os romances mais destacados e relevantes da sua obra e da literatura portuguesa.
Depois desta leitura fiquei com muita vontade de reler alguns dos meus livros preferidos de Saramago e de ler um ou outro que ainda não li. Em 2025 planeio regressar a José Saramago. Como será que a leitora que sou agora olhará para os livros que leu com vinte e poucos anos?
Gosto muito do nosso Saramago! Tem alguns livros maravilhosos (outros nem tanto) e é uma personalidade fascinante! Nesta biografia a jornalista Joaquim Vieira dá-nos a conhecer a sua vida. Este é um livro muito completo, muito factual. Mostra uma pesquisa cuidada e um profundo conhecimento da vida no nosso vencedor de prémio Nobel mais recente. Mostra-nos não só o escritor mas também o homem e mostra que José Saramago era uma pessoa real, com muitas qualidades mas também com muitos defeitos. Gostei imenso de conhecer melhor este que é um dos meus escritores preferidos!
✨“Talvez eu tenha um sentido fatalista da vida. […] Não tenho de ir à procura, é só estar atento. Se há alguma sabedoria na minha vida, é saber esperar.”✨
Ora aí está um desafio supremo. Narrar, contar sem nuances a verdade, ir às fontes, relacionar tudo o que Saramago viveu com provas existenciais, testemunhos de quem conviveu e partilhou momentos (in)significativos da vida do nosso Nobel.
A data desta partilha pareceu-me apropriada para referir a biografia de Joaquim Vieira, que já tinha na minha whislist há muito tempo. Se o centenário do Mestre foi a desculpa perfeita para conhecer (um) pouco mais da sua vida? Claaaro 😜
Este ano fui à Azinhaga, visitei o Casalinho, respirei a humildade da aldeia, das 100 oliveiras, da estátua que ele não queria porque os pombos cagariam em cima dele, mas que no fim até gostou, estive perto da filha Violante, trouxe sem falta “Pequenas Memórias” para fazer companhia ao “Ano da Morte de Ricardo Reis” que estava a ler na altura. Podia era ter lido a biografia do Vieira antes de saber que da estação de Mato da Miranda até Azinhaga são 45 minutos a pé, como o jovem Saramago fazia aquando das visitas aos avós 😂
Tal como deparei na biografia de Tolstoy, Saramago não era um homem perfeito. Longe disso. Arrogante, teimoso, nem sempre fiel às mulheres que lhe dedicaram tanto. A Ilda, a Isabel e a Pilar foram , para mim, pilares cruciais da carreira e da personalidade do Saramago. Assim, como desde pequenino, o avô Jerónimo e a avó Josefa lhe foram fundamentais, os bairros lisboetas, a passagem pelo liceu e pela escola de serralharia.
Saramago não se considerava um jornalista. E disse que dois momentos lhe foram marcantes na sua vida. Uma delas foi conhecer Pilar, em que renasceu enquanto homem, e a outra a polémica do Diário de Notícias, após o 25 de Abril , em que por motivos políticos, Saramago foi despedido e desta vez se dedicaria à carreira de escritor.
Não foi A Viúva ( ou a “Terra do Pecado”), ou Claraboia que foram escritos numa fase mais jovem, que o reconheceram enquanto escritor. Embora a sua poesia fosse já reconhecida, seria “Levantado do Chão” que marcaria a estreia do seu estilo e “Memorial do Convento” aquele que o suplantaria na literatura nacional. E seriam muitas outras obras a criar o seu caminho para o Nobel, imortalizando-o nas nossas letras ❤️
Esta é uma biografia muitíssimo interessante, 738 páginas que se devoram num ápice, extremamente detalhada, mas muito fluida e agradável de ler. Através dela, ficamos a conhecer a rota da vida de Saramago, a sua visão perante o mundo, a perceção que os outros tinham dele, a sua relação pessoal com o Universo. É leitura obrigatória para qualquer admirador de Saramago. Eu não conseguia parar de sublinhar o livro, emocionar-me com o que ele disse enquanto vivo e ter a perceção que tenho tanto a aprender com ele. Nunca é tarde para chegar aonde nos esperam❤️
✨“As suas vontades, próprias do criador e ser humano que era, estão expressas nos seus diários, na declaração de princípios da Fundação, em cada linha que escrevia e na sua forma de estar na vida. Seria às letras de expressão portuguesa que José Saramago deixaria o seu maior legado.”✨
O autor do livro não é nenhum Saramago... o que não desmerece o seu trabalho (já que poucos conseguem se igualar a este grande escritor). Fez um excelente trabalho de pesquisa, meticuloso e abrangente, contando não poucas vezes com o relato do próprio Saramago, ou de pessoas próximas a ele. O livro ensina muito sobre a trajetória deste escritor, fala sobre seu processo de escrita, e de sua vida amorosa que era,inesperadamente para mim, muito movimentada! Recomendo imensamente, em especial se você adora Saramago como eu!
Uma biografia desassombrada, capaz de traçar o retrato de uma das maiores figuras da cultura nacional. Numa escrita escorreita e de fácil leitura, sempre suportada por variadas fontes e entrevistas, o autor consegue fugir à mitificação que normalmente rodeia Saramago, salientando-lhe tanto as qualidades como os defeitos. Rico em pormenores da vida literária, política e privada do escritor, o livro torna-se uma leitura interessante para qualquer leitor de Saramago, na medida em que todas as suas obras são reflexo, mais ou menos explicito, do seu pensamento e experiencia pessoal.
julgo que dou 5 estrelas pelo valor sentimental, pela viagem feita nestas 700 páginas; pois mesmo não sendo especialista em biografias, achei alguns problemas na escolha dos tópicos a elaborar e nos que se ficaram pelas leves menções. fica a vontade de ler todas as obras do Saramago, sim, e também quantas mais biografias dele conseguir
Tal como em outros dos seus trabalhos (designadamente na biografia de F. Pinto Balsemão), correspondeu inteiramente às minhas expectativas. Realço alguns aspetos que me pareceram muito bem conseguidos: i) a estrutura do livro permite ir para além da cronologia de JS, vai também entrando nos seus livros e deles dando os aspetos inerentes a sua elaboração;
ii) boa transição de um livro para outro , ex.: do memorial do convento para o ano da morte de ricardo reis (pag. 439), mas acontece na generalidade dos livros;
iii) em simultâneo com o aspeto anterior, realça com a merecida atenção e desenvolvimento as sucessivas fases da vida de JS. Ora, em termos literários ora em termos da vida pessoal.
iv) em relação a cada um dos livros de JS apresenta sempre a ideia principal de cada livro à medida que vai fluindo o curso do tempo, de forma bem documentada, com textos e opiniões diversas.
v) no texto tem o cuidado de apresentar visões contraditórias sobre certos aspetos da vida de JS, documentadas com depoimentos de todas as partes, algumas de fontes não identificadas, o que denota boa investigação e abrangência de fontes;
vi) fontes muito atualizadas, muito recentes, sendo algumas mesmo datadas do final de 2018.
Em suma, ao longo do livro sentimo-nos a viajar no tempo, percorrendo a vida de JS.
"O que eu quero é que se note nos meus livros que passou por este mundo [...] um homem que se chamou José Saramago"
Uma excelente biografia, 738 páginas que se devoram num ápice. Detalhada, mas muito fluida e agradável de ler. Através dela, ficamos a conhecer as circunstância da vida que moldaram o homem e o autor ao longo das décadas, estabelecendo-se literalmente uma "Rota de Vida". Oferece igualmente um olhar sobre a política, a cultura, a história e o mundo editorial e jornalístico do século XX português. Leitura obrigatória para qualquer admirador de Saramago.