No livro de contos Um Exu em Nova York, Cidinha da Silva apresenta uma perspectiva contemporânea e ficcional do cotidiano, sobre temas como política, crise ética, racismo religioso, perda generalizada de direitos (principalmente por parte das mulheres), negros e grupos LGBT. A autora considera que esses são marcadores importantes do século XXI e classifica a obra como um livro-dínamo.
Cidinha parte das tensões provocadas pela percepção das religiões de matrizes africanas para desmistificar ideias negativas que são difundidas sem critérios na sociedade. Através dos personagens, traz ainda outros temas contemporâneos, como por exemplo a nova masculinidade.
Cidinha da Silva - nasceu em Belo Horizonte, em 1967, onde se graduou em História, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Transferiu-se em seguida para São Paulo, com brilhante atuação no GELEDÉS - Instituto da Mulher Negra, organização não-governamental que chegou a presidir. A escritora possui forte engajamento com a causa negra e com questões ligadas às relações de gênero. Suas publicações encontram-se, assim, alinhadas a tais temáticas, no intuito de promover maior espaço de reflexão sobre as identidades tidas como subalternas. Em fevereiro de 2005, fundou o Instituto Kuanza, que tem por objetivos desenvolver projetos e ações nos campos da educação, ações afirmativas, pesquisa, comunicação, juventude e articulação comunitária. Todos encontram-se vinculados à discussão sobre as assimetrias racial e de gênero e subsidiam a formulação de políticas públicas nessas áreas. Como dirigente cultural, concebeu e executou projetos inovadores como o "Geração XXI", em inéditas parcerias com empresas e organizações não-governamentais. Nessa linha, atuou também como gestora de cultura na Fundação Cultural Palmares, onde se destacou pela organização da publicação Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil (2014).
Sua estreia na Literatura Afro-brasileira se dá com a coletânea em prosa Cada Tridente em seu lugar, publicado em 2006 e reeditado no ano seguinte. A obra foi pré-selecionada pela Fundação Biblioteca Nacional para integrar o projeto de expansão de bibliotecas públicas por cidades do interior do Brasil. E as narrativas “Domingas e a Cunhada”, “Pessoas trans” e “Angu à baiana”, presentes no livro, tiveram os direitos de filmagem adquiridos pela produtora Lúmen Vídeos, de Vitória, Espírito Santo. Composto em sua maioria de textos curtos, Cada Tridente em seu lugar explicita o permanente diálogo com a realidade contemporânea e, no plano formal, o contínuo entrelaçamento da crônica com o conto. Desde então, foram nada menos que onze títulos publicados entre 2006 e 2016, abarcando crônicas, poemas e narrativas infantojuvenis. Já o volume Você me deixe, viu? Eu vou bater meu tambor!, lançado em 2008, confirma sua atuação na literatura relacionada à alteridade e inclui escritos voltados para o universo da homoafetividade.
No prefácio do volume Sobre-viventes (2016), a pesquisadora e poeta Lívia Natália afirma: "vi-me muitas vezes retratada em situações e personagens. Vi minha mãe, minha avó vivendo nas páginas de Cidinha da Silva como as negras ali representadas com uma dignidade belíssima. Andei com estes textos entre fatos que todos nós, brancos ou negros, vivemos em nossa travessia racial pelo mundo, já que nossa roupa, por excelência, é a nossa pele que, como texto que é, fala logo e antes de nossa boca." (NATÁLIA, 2016, P. 12).
Cidinha da Silva é autora ainda das peças teatrais Engravidei, pari cavalos e aprendi a voar sem asas, encenada pelo grupo "Os Crespos" em 2013, e Os coloridos, também encenada pelo grupo em 2015.
Além das obras referidas, autora tem presença constante nas redes sociais e na imprensa alternativa publicada na internet. É editora da Fanpage cidinhadasilvaescritora e colunista dos portais Forum, Geledés e Diário do Centro do Mundo.
"Cê não acredita, não é? Mas batida de tambor mineiro tem de quatro jeitos. Ele geme a dor, o lamento, a agonia. Tem batida de festa, de louvação, de alegria. Tem a batida de fé. E tem o aviso de perigo."
Eu conheci a Cidinha numa das "exuzilhadas" da vida. Na Flipop, ela participou de uma mesa mediada pelo Lucas Rocha e, confesso, eu só tinha ido por causa dele. Felizmente, a Cidinha estava lá e acabei conhecendo um pouco de sua história. Esse livro de contos é maravilhoso. Cada conto tem uma reflexão muito incrível. Aliás, não só uma reflexão! Também há aquela contação de história com causos da vida real. E, se você tem um pouco de noção da religião dos Orixás, vai ser melhor ainda. Um Exu em Nova York só me fez querer ter Um Exu não só lá em Nova York, mas, também, perto de mim pra contar histórias tão boas assim. Laroyê, Exu. Laroyê, Cidinha!
Alguns dos contos foram quase livros inteiros em três páginas. Ela criou um mundo, desenhou personagens com profundidade, fez poesia na prosa e me encantou.
Outros, se eu vi sentido em duas frases seguidas, foi muito. O que de forma alguma significa que não foram bons. (Oi Simas meu velho amigo)
que livro delicioso! a escrita de cidinha é ímpar. os contos são curtinhos e prendem sua atenção, tanto que eu li o livro numa tacada só.
conheci esse livro ano passado mas definitivamente a melhor escolha que pude fazer foi lê-lo apenas agora. como o próprio título já denuncia, os contos estão emaranhados (melhor dizendo, exuzilhados) com o candomblé. mesmo que o livro possua sim um glossário com os termos que cidinha usa que não são comuns pra pessoas que não vivenciam, muitas situações e descrições só são sentidas se fizer sentido pro leitor ou leitura.
mas mesmo pra quem não saca, recomendo! a escrita é boa demais e os contos importantes demais pra se deixar passar por falta de contato com a religião. as vezes é até um livro desses que falta pra o início de um novo caminho, né não?
definitivamente meus contos favoritos são "o velho e a moça", "kotinha" e "no balanço do teu mar". outros (vários) são geniais, mas esses três foram dentro de mim e me rebuliçaram toda.
penso que escrever contos é condensar, às vezes em apenas uma página e meia, todo sentimento de uma história. sempre fico admirada com quem faz isso muito bem, e cidinha é uma dessas admirações. já escrevi sobre ela por aqui e classifico as três obras que li como “a mais grata surpresa de 2019” (obrigada por esse presente, toni e yuri). recentemente, um Exu em nova york ganhou o prêmio biblioteca nacional 2019, levando o segundo lugar na categoria contos. muito merecido, já que o livro é incrível. que os caminhos se abram cada vez mais para as palavras de cidinha passarem. e que os nossos caminhos se encontrem novamente. Laroiê, Exu! parabéns, cidinha!
Os contos de Um Exu em Nova York são curtos, mas sucintos, extrapolam as linhas para criar universos em uma ou duas páginas. As linhas são carregadas, pela temática, pela forma, como se um tambor estivesse sendo tocado, evidenciando as temáticas escolhidas pela Cidinha da Silva. Um livro que pode parecer rápido, mas exige leitura cuidadosa, retorno ao glossário e assimilações.
Uma ode aos ancestrais através de uma escrita contemporânea e brasileira que me deixou passada com tamanha inventividade e beleza. O velho e o novo abordados em conjunto. Obrigada Cidinha. E obrigada Vô e Vó por terem me apresentado ao mundo dos orixás.
Um livro muito gostoso de ler, principalmente os contos mais longos, nos quais é possível desfrutar ainda mais da beleza da escrita da autora. Por vezes me senti perdida pela minha falta de conhecimento sobre alguns vocabulários e contextos mas ler o glossário deu uma ajuda na compreensão.
Não sou muito de livros de contos, mas esse me deixou de boca aberta, histórias lindas, simples e necessárias. Pena que tem só 80 páginas... leria mais 200.
Eu e minhas questões com contos breves. A sensação é que eu deixei de captar muitas coisas por não conhecer as subjetividades das religiões de matrizes africanas que estão presentes ao longo dos textos. Nos contos maiores, consegui aproveitar a escrita de Cidinha da Silva. Ela percorre por vários temas (ancestralidade, sexualidade, amores, violência, medo, traição entre outros) de maneira interessante.
Meus contos preferidos foram:
- Válvulas; - No balanço do teu mar; - Lua cheia; - O mandachuva; - Jangada é pau que boia; - Akiro Oba Ye!; - Dona Zezé; - Sá Rainha.
4,5 pra mim. É necessário um conhecimento básico de religiões africanas e me mostrou que eu conheço pouquíssimo. Os contos são rápidos, muito bem escritos e cheios de sentimento. Entre os meus favoritos, "Sábado" se destaca.
Assumo que adquiri o livro por amar o título, os contos são todos curtos porém muito interessantes. Como característica geral tem finais mais abertos à interpretação. Li na praia, ao som de Yemanjá, uma delícia
Ainda um universo novo pra mim, mas saio dessa leitura impactado pelo poder dos orixás e da escrita de Cidinha. Muitos encontros, cruzamentos, símbolos, forças. Alguns contos, ou até mesmo micro contos, me impactaram como um romance.
devorei esse livro que tem muito axé e mesmo sendo curto traz dimensão e pulsão em todos os contos. glossário muito bem colocado, contos poéticos que são lindos de conteúdo e forma.
Li para a aula de Teoria da Narrativa. Eu preciso ler mais contos. A discussão que tivemos na aula foi um momento precioso demais. "Acreditar que é possível é o primeiro passo do feitiço."